domingo, fevereiro 21, 2010

A Sopa 09/28

Uma polêmica.

Tenho a impressão de que gaúcho, quando não tem mais nada a fazer, resolve criar uma polêmica. Está lá, de bobeira, na paz, e pensa: “Está tudo muito calmo, acho que vou me indispor com alguém...”. E, geralmente, compra briga com um vizinho ou outro conterrâneo qualquer. Não faz muito sentido, mas talvez se explique pelo nosso passado belicoso, tendo que defender fronteiras, essas coisas. E como agora não há mais inimigos externos contra os quais lutar, como não precisamos diuturnamente defender nosso território, voltamos nossas energias a discussões muitas vezes bobas e inúteis.

Pois domingo passado, ao abrir o jornal, me deparei com uma “polêmica” que se enquadra na categoria do “ninguém tem mais nada de importante a fazer?”. Faz todo o sentido, isso de tentar criar uma controvérsia no jornal de domingo de carnaval, afinal é uma época em que não existe outra pauta que não as pessoas atrás de trios elétricos, desfiles de escolas de samba, pessoas ditas “celebridades” freqüentando camarotes de cervejarias nos diferentes lugares do Brasil. Nada acontece. Sem falar que o jornal de domingo, principalmente os cadernos acessórios (não a parte principal) são fechados na quarta ou quinta-feira anterior ao domingo em que serão publicados.

Dessa forma, imagino um editor de um caderno de variedades tendo que encontrar um assunto que motive o leitor em pleno feriadão dos festejos carnavalescos. Não deve ser fácil. Até que algum gênio se sai com a idéia de publicar sobre uma polêmica que deve tirar o sono de muita gente (ironia, ironia): usar sunga ou bermudão na beira da praia? Convidam alguns autores a se posicionarem sobre o assunto e está feita a matéria.

Confesso que me senti atingido.

Por que sou um usuário de sunga.

Isso mesmo, estimado leitor, sou daquele grupo que usa sunga, caracterizado (com bom humor) pelos que opinaram como “o macho tenso e nervosinho”, “deselegante pra cacete”, “sujeito seguro, ainda que, muitas vezes, não tenha nenhuma razão para isso”, “se enquadra em uma das três categorias em que a sunga sempre cai bem: senhores de mais idade, gays ou o Paulo Zulu”, “passam protetor solar com aloe vera”, “geralmente mais chatos”, e “pessoal de pênis pequeno prefere sunga”.

De repente, me senti no mais baixo nível da escala social, quase a escória da sociedade. Eu, que achava que a praia era o lugar mais democrático possível, onde todos eram iguais (excluindo-se, claro, as praias privadas e os beach clubs), estava enganado. Há um código de postura, um traje adequado para ir ao mar, e eu estava assassinando impiedosamente o bom senso e as noções de estética e bom gosto. Eu era um pária.

Por isso, resolvi mudar.

Decidi nunca mais, na vida, usar sunga. A partir de agora, só bermudão, de preferência expondo ao sol apenas o meu tornozelo. Para o bem de todos e a felicidade geral da nação, decidi me vestir ao máximo quando for à praia. Pronto, superei essa polêmica, me rendi aos fatos, abandonei a liberdade de fazer o que tenho vontade em nome de um bem maior. Mas isso não é tudo, vou além. Começo aqui uma nova polêmica (não disse que gaúcho não vive sem polêmica?).

Biquíni ou camisetão?

Digo que em respeito ao bom gosto e ao senso de estética de quem frequenta praias, piscinas e locais de exposição ao sol, em geral, que não deveriam ser permitidas usar biquínis aquelas mulheres com medidas que fogem do padrão de beleza vigente. Essas iriam para a praia de camisetão. Tudo, claro, em nome da beleza e do bem geral. As afastaríamos do convívio geral assim como aqueles que usam sunga (deixando bem claro que abandonei o seu uso).

Que tal?

(ainda bem que a temporada de praia no sul do Brasil está no seu final, caso contrário eu seria hostilizado nas ruas e diria – enquanto apanhava e prestes a perder a consciência – “se não gostaram da mensagem, não matem o mensageiro”)

Até.

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