Prioridades.
Esses dias, ao entrar na Associação dos Médicos do Hospital São Lucas da PUCRS, encontrei dois colegas de diferentes especialidades conversando sobre tirar férias. Ouvi a conversa por uns instantes e acabei participando. Lá funciona assim: todos nos conhecemos e trocamos ideias, falamos de futebol, contamos e ouvimos histórias, e temos a oportunidade ímpar de conviver com aqueles que foram (sempre serão, na verdade) nossos mestres e que com o tempo se tornaram nossos amigos. Quando comecei a frequentar a Associação, eu era dos mais novinhos, e agora estou entre os veteranos...
É tipo um ritual. Todos os dias, ao chegar no hospital, ainda antes de ir para o consultório, minha primeira parada é na Associação dos Médicos para o primeiro café expresso do dia, uma olhada rápida nos jornais do dia, e quase que invariavelmente encontrar e conversar com os mesmos colegas e amigos. Conversamos um pouco, amenidades ou não, piadas ou não, e seguimos para nossos consultórios para o dia de trabalho. Após o almoço, que é outra “tradição”, a mesma mesa sempre reservada para nós, e somos um grupo grande que se reveza nos dias da semana, novamente uma parada na Associação para o café antes de começar a tarde de atendimentos. Falava, contudo, que “entrara” em uma conversa sobre férias com dois colegas.
Pois é.
Um deles falava, quando cheguei, que tiraria trinta dias de férias para ficar com a família, provavelmente viajar, e que fazia isso com atraso, que no passado não fizera isso, que se dedicara muito ao trabalho e que de certa forma perdera um tempo precioso que gostaria/deveria ter estado com a família. Que não soubera equilibrar essas duas dimensões da vida: a família e o trabalho. Lamentava isso, e queria compensar.
Enquanto o ouvia, inevitavelmente pensei em mim, em como eu lidara com esse tipo de dilema e se eu mesmo tinha tomado decisões das quais me arrependia. Mais um momento de pensar a vida e a minha trajetória, algo que tenho feito muito nos últimos tempos. Como valorizei o meu tempo, e as pessoas. Para que lado a balança havia pendido?
Confessei a eles que eu, diferente da experiência que ele havia compartilhado, havia agido na direção oposta: diversas vezes num passado que já fica distante, havia me ressentido de que perdera algumas oportunidades profissionais porque havia priorizado o tempo, a vida pessoal, em detrimento da profissional. Talvez portas tivessem se fechado para mim ou, ao menos, demorado a abrir em virtude dessa opção.
Ao escrever isso, essa conversa parece uma não polêmica.
Quem daria mais importância à vida profissional, ao “sucesso” financeiro, do que à vida pessoal? Muita gente, infelizmente, é a impressão que tenho.
Ao parar de caminhar e olhar para trás, ver o caminho percorrido, não consigo de deixar de pensar que fiz as escolhas que eram certas para mim, que me trouxeram até onde eu deveria estar (mesmo que eu não soubesse claramente no passado). Que mesmo que eu tenha percorrido um caminho mais longo e tortuoso (a long and windind road) tinha que realmente ser assim.
E o caminho em frente é bem interessante.
Até.
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