domingo, maio 26, 2024

A Sopa

Tudo isso. 

O quê falar?

 

Dia vinte e sete de abril de manhã, quando embarcamos em Porto Alegre em direção à Miami/USA, com uma conexão em Lima, no Peru, a previsão do tempo para a capital do Rio Grande do Sul era de chuva toda a semana seguinte. Seria uma semana cinza e úmida, imaginava. Em absolutamente nenhum cenário, em minha ingenuidade leiga, o que aconteceu no estado se encaixaria como possível.

 

Estávamos em Nashville, Tenesse, quando o mundo desabou sobre o RS. E, à medida que a gravidade da situação foi sendo entendida, a sensação de angústia, impotência e (uma irracional) culpa por não estar em casa foi crescendo. Quando, da volta, perguntado sobre como havia sido a viagem, respondi que muito boa, mas muito ruim também. Por tudo o que aconteceu, está acontecendo, e ainda vai acontecer. Vamos longe nisso.

 

Antes, a viagem.

 

Como eu dizia, saímos de Porto Alegre em um sábado de manhã rumo à Lima e depois Miami, em dois voos de cerca de 5 horas cada com aproximadamente duas horas e pouco de tempo espera em Lima. Chegamos em Miami por volta das 20h de sábado, hora local. Peguei o carro reservado na locadora, e fomos para um hotel próximo ao aeroporto, onde ficamos essa primeira noite de viagem.

 

Domingo pela manhã, tomamos café em Miami, na La Boulangerie Boul'Mich, antes de pegar a estrada e seguirmos por entre os Everglades até Naples, a 200km de distância, onde fomos visitar as nossas queridas amigas Dani e Lu Casagrande e famílias, que moram lá, e passar o dia juntos. Certamente foi um dos melhores momentos da viagem. Fomos recebidos com muito carinho, fomos “mimados” (desde o churrasco de almoço até os presentes recebidos), praticamente “carregados no colo”. Foi um momento feliz, de se sentir em casa. Reforçou (uma vez mais) uma forte conexão que existe entre nós. Queriam que ficássemos mais tempo, mas não podíamos, infelizmente. A viagem tinha um propósito de trabalho, e a visita a elas foi um presente que nos demos. 

 

Nosso destino era Nashville, no Tenesse, onde ocorreria a convenção da School of Rock, franquia de escola de música com sedes em diversos países do mundo, incluindo o Brasil, e que sou um dos sócios da unidade de Porto Alegre, como quem me lê já sabe. Estávamos indo os dois sócios e nossas respectivas acompanhantes, mas com logísticas e roteiros diferentes. O Thiago e a Bianca haviam saído dois dias antes e ido para a Costa Oeste, Los Angeles e San Diego, de onde pegariam um voo para Nashville. A Jacque e eu, por outro lado – literalmente – havíamos ido pela Costa Leste, Miami e – de carro – Naples e então até Nashville, onde todos nos encontraríamos na terça-feira, 30 de abril, porque as atividades iniciariam em 1º de maio.

 

Segunda-feira, 29 de abril, saímos de Naples e começamos nossa jornada de 1.525km até Nashville, a ser feita em dois dias. Fomos de Naples a Clearwater, onde paramos para almoçar, e depois pequena parada em um shopping próximo a Gainsville, antes de nosso destino do primeiro dia, Albany, já na Georgia, aonde chegamos no final do dia.

 

Parecia uma cidade deserta, com poucas opções (ao menos na região por onde circulávamos, claro) e – ao parar o carro e pesquisar opções no Booking.com – e escolhemos o Hilton Garden Inn, de preço razoável e, por coincidência, exatamente em frente ao Ray Charles Memorial, um parque em homenagem ao músico. Muito legal! Jantamos no hotel, e fomos descansar, porque ainda faltavam quase 700km de estrada.

 

O dia seguinte foi novamente de estrada, passando por Atlanta e seu trânsito complicado, saindo da Georgia e entrando no Tenesse. Estradas boas, foi tranquilo, inclusive com uma parada em um outlet na Georgia para almoçar e umas pequenas compras...

 

Chegamos em Nashville por volta das 19h30 de terça-feira dia 30/04 e, após deixar as malas no apartamento (Airbnb) em que ficaríamos juntos com o Thiago e a Bianca, fomos encontrá-los em um sports bar bem próximo de onde estávamos. No dia seguinte, pela manhã visitamos o Country Music Hall of Fame and Museum e, também, o RCA Studio B, estúdio histórico do qual falo outro dia. Quinta e sexta-feira foram de trabalho, como congressista. 


Enquanto estávamos em Nashville, acompanhávamos de longe as notícias sobre as chuvas e a enchente que começavam a se agravar no Rio Grande do Sul. Quando fecharam o aeroporto temporariamente por alguns dias, ainda tínhamos a convicção/esperança de que até a nossa volta as águas já teriam baixado. A distância, naquele momento, não nos permitia ter uma visão completa do que estava acontecendo.

 

Terminada a convenção, sexta à noite, havíamos programado para sábado de manhã o início da volta para Miami, de onde embarcaríamos originalmente na terça-feira seguinte para um voo que sairia de Miami, fariam conexões em Bogotá e Guarulhos e estava previsto para chegar em Porto Alegre na quarta-feira dia 08 de maio próximo ao meio-dia. Nos despedimos do Thiago e da Bianca ao deixá-los no hotel onde ocorrera a convenção e iniciamos nossa viagem de retorno.

 

Tínhamos três dias inteiros para chegar no aeroporto de Miami para devolver o carro e embarcar. E, no meio do caminho, entre nós e Miami, estava Orlando. O pensamento era – originalmente – e se desse tempo, obviamente, parar em Orlando ao menos uma noite. Saímos de Nashville, paramos para tomar café, e começamos a viagem.

 

Eu estava preocupado com o fato de dirigir por muitas horas porque estava, desde o trajeto de ida, após a parada em Albany, com dor na perna direita ao caminhar e conforme o movimento que fizesse. Em silêncio, estava preocupado com minha história de hérnia de disco operada há pouco mais de um ano. E teria que dirigir mais de 1500km para devolver o carro antes do voo de volta. Poderia ser uma viagem difícil, pelas muitas horas de direção, afinal a Jacque não dirige.

 

O carro, um sedã Dodge Charger vermelho (a Jacque – que não gosta de sedãs - implicou com ele desde o início), se revelou, após ajeitar a inclinação do banco e a posição para trás, praticamente um assento de classe executiva. Confortável, e com estradas ótimas, revelei para a Jacque uma ideia que havia tido na noite anterior e ela topou: faríamos Nashville a Orlando direto, com pequenas paradas no trajeto. De onde estávamos, ainda faltavam 840km, dos 1100 totais. Seria um longo dia de estrada, mas ganharíamos um dia e poderíamos aproveitar Orlando no domingo. 

 

Tudo ia bem até recebermos uma mensagem da LATAM cancelando nosso voo de volta para casa. Isso no final do dia de sábado. Naquele momento não havia nada a ser feito de onde estávamos, na estrada, entre a Geórgia e a Flórida. Tudo começaria a ser resolvido no dia seguinte.

 

Estava recém começando toda a função de retornarmos para casa em meio à maior tragédia climática da história do Brasil.

  

Na sequência.

 

Até.

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