quinta-feira, julho 16, 2015

Histórias Aleatórias

 Macondo, às vezes, é ali em casa.

Uma antiga ideia, de que a literatura está em todo o lado, com o que etérea, esperando que a reconheçamos e decidamos escrevê-la, tem sido recorrente nos últimos dias. Talvez porque eu esteja mais sensível ao mundo, voltando a conviver com o ofício e tentando recuperar o hábito de escrever. Ou não. Sei lá. Não importa.

O fato é que lembrei do final de Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marquez, que termina de forma sensacional, tanto é que não esqueço, mesmo fazendo mais de vinte anos que li, ainda no início dos anos noventa. Termina dizendo “que as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra”. Nos trechos finais do livro, ainda escreve sobre Aureliano Buendia: “... Não porque estivesse paralisado pelo horror, mas porque naquele instante prodigioso revelaram-se as chaves definitivas de Melquíades e viu a epígrafe dos pergaminhos perfeitamente ordenada no tempo e no espaço dos homens: O primeiro da estirpe está amarrado a uma árvore e o último está sendo comido pelas formigas...”.

Formigas. Pois é.

Lembrei do livro ontem enquanto esperava ser chamado para atendimento numa assistência da Apple aqui em Porto Alegre. Quando o número da senha que eu tinha foi anunciado, fui até o atendente e, quando ele perguntou qual era o motivo da visita ao local, comentei – entre constrangido e divertido – “formigas saem da minha Apple TV...”. Ele me olhou, incrédulo, e eu entreguei a ele o aparelho da Apple, de onde ainda saiam algumas daquelas formigas diminutas, clarinhas, que parecem pequenas aranhas. Como assim?, perguntou.

Respondi a ele que – não tenho a menor ideia de como nem por quê – ocorrera uma infestação desses pequenos animais justamente junto ao DVD e ao aparelho da Apple. Isso que eu moro no sétimo andar! Eliminei-as da cozinha, foram se vingar na sala...

Foi conversar com os técnicos e após alguns minutos voltou com o veredito: não há o que fazer. “Nada?”, perguntei eu. Não... nada, respondeu.  Não tem como abrir o aparelho. As formigas devem ter feito um ninho dentro... Talvez com aqueles venenos em fumaça... O aparelho funciona? Sim, respondi. Então é isso.

Voltei para casa entre frustrado e conformado.

Ao chegar, as formigas ainda saíam da minha Apple TV. Peguei um jornal, estendi no chão da área de serviço do apartamento, depositei o aparelho ali e – com um spray de inseticida – dei um banho de veneno nele. Horas depois, testei: continuava funcionando (mas não sei até quando será assim). Poucos cadáveres de formiga eventualmente ainda aparecem em sua volta, mas estou em vigília quase permanente para o aparecimento de novas.

Ou que elas ataquem em outro local da casa.

Até. 

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