domingo, junho 12, 2022

A Sopa

Ainda a música.

 

Impossível não falar de música mais uma vez nessa Sopa quente de um domingo frio, em que olho para fora e vejo o sol de domingo, que hoje ilumina mas não aquece como deveria, e lembro do meu primeiro inverno em Toronto, janeiro, manhã de domingo de sol claro, sem nuvens, assim como hoje, mas temperatura de menos vinte e um graus (-21ºC) com sensação térmica de –35ºC, e de como saí para caminhar no High Park, e também que desisti e voltei pouco depois para o apartamento 2105 da 35 High Park Ave, minha casa dos anos de exílio, porque não aguentei o frio nas mãos, com dedos que doíam, como se fossem cair. Nunca mais caí no truque do sol de inverno que – como eu disse – ilumina mas não aquece. Aqui no sul do mundo, de onde saí e para onde voltei, o frio não é tanto como lá e o sol é mais confiável. Ainda assim, gosto muito mais do verão hoje em dia do que antes de viver o inverno de lá... 

 

Mas o plano era falar de música, ainda sob o efeito da última noite do mês de maio, quando o frio do outono foi contraposto pelo calor da confraternização, do congraçamento, da reunião de pessoas em torno de um evento/ideia comum. A música como amálgama, mistura de elementos diferentes ou heterogêneos que formam um todode pessoas diversas com vidas diversas, proporcionando intersecções entre vidas paralelas. O poder da música continua me encantando.

 

Além de tudo, tocando/cantando Beatles.

 

Nada mais simbólico que celebrar algo ouvindo Beatles.

 

Quando me formei em medicina, no milênio passado, a música que escolhi como trilha quando chamassem meu nome e eu fosse receber o diploma foi Penny Lane, lugar que sempre imaginei de um jeito e que, óbvio, não era como eu havia imaginado quando passamos por ela, há dez anos, numa manhã plúmbea em Liverpool, assim como a versão que tocaram na formatura não foi a original, mas uma versão instrumental com piano, mas quem se importa, estávamos lá para celebrar de qualquer jeito. Mas também não era disso que queria falar.

 

Queria dizer que a música coloca o mundo no seu eixo.

 

Falo em sentido estritamente pessoal, claro. Assim é porque assim sinto. E o ano de 2022 tem sido pródigo nesse tipo de acontecimento. Não sei dizer se é porque fiz cinquenta anos e estou sentindo o mundo de modo diferente, por estar vendo significados no que vivo ou se por outra razão, mas tenho vivido momentos de perfeita sintonia com o universo, poderia dizer. De grande paz espiritual e sensação de bem-estar máximo.

 

Aconteceu nas férias de verão, com os Perdiditos no Uruguai, talvez por desligar e conseguir realmente relaxar após dois anos de pandemia, por reencontrar o sentimento de pertecimento, de família, mas voltei das férias leve e feliz, mesmo com uma hérnia de disco cervical que me torturou durante todo o período de férias e além. Seguiu no final de semana depois da volta, quando fomos ao litoral assistir à Marina se apresentar no show de temporada da School of Rock, e me emocionei a ponto de querer fazer parte daquilo (como já contei). Foi um momento de felicidade extrema, de leveza e paz (que foi quebrado pelo encontro com um dementador logo depois, mas é outra história).

 

A música voltou a ser parte importante da vida desde então.

 

As aulas, os ensaios, as práticas em casa. Voltei a respirar música. Canções viraram também tema de casa, ouvi-las virou estudo. Além de tudo, criou-se mais um ponto de conexão com a Marina, pai e filha, filha e pai, compartilhando um (grande) interesse comum, como é o ballet entre ela e a Jacque, fechando o nosso círculo familiar. 

 

E reforçando a convicção de que percepção é tudo, de que o mundo é a forma como o vemos e encaramos, tudo pareceu se encaixar e fluir de uma forma  natural, e as mudanças que estão ocorrendo e ainda vão ocorrer, até do ponto de vista profissional, se mostram – num modo estoico de ver o mundo -  como se estivessem destinadas a ocorrer desde sempre, porque assim era para acontecer. Tudo flui, na verdade.

 

O poder da música em mim continua a me encantar.

 

Até. 

4 comentários:

Anônimo disse...

Marcelo, querido aluno ,amigo ,pai daquela doçura de pessoa , aluna singular ; Imagens das mais variadas me surgem ao longo da leitura. Parabéns. Inspirador e " conectante " ; No aguardo do compilado físico com cheiro de papel e tinta . Tudo na arte .
Tchê , aqui !

Anônimo disse...

Show. E aguardo pra saber do dementador: expecto patronum! Adriano

Anônimo disse...

👊👊

Anônimo disse...

Essa eu não sei se posso publicar…