Nova York - O Natal, como crescemos vendo nos filmes, é americano. Disso não se tem dúvidas, assim como a noção de que são os Estados Unidos quem mais sabem fazer espetáculos no mundo.
Tudo aqui é um show de luzes e cores, e músicas e sons. Para o show de Natal ficar completo, só ficou faltando a neve, que não apareceu nem na noite do dia 24 nem no dia 25. Muito frio, temperatura negativa, mas sem neve. Hoje, enquanto almoçávamos no Junior’s, no Brooklyn, a neve chegou. Pouca, mas presente. Caminhamos até o Brooklyn Heights, um belvedere de onde vemos a ponte do Brooklyn e Manhattan, com o seu famoso skyline agora sem as torres do World Trade Center.
Na televisão, além dos programas típicos de Natal – vimos uma parte da Noviça Rebelde ontem à noite, depois da janta – e dos jogos de futebol americano, as propagandas são basicamente de carros e de remédios. Liquidações de final de ano de tudo que é loja, sem falar nas árvores de Natal vendidas com 70% de desconto na manhã do dia 26…
Esta é a última Sopa de 2004. A próxima, semana que vem, vai ser escrita de casa novamente. Da minha casa em Toronto. O engraçado é que saí de casa em Porto Alegre para ir para casa em Toronto.
Normalmente, a última Sopa do ano seria uma retrospectiva do ano que termina e a primeira do ano seguinte seria com as perspectivas. Como foi um ano cheio de acontecimentos e histórias, preciso de mais tempo para escrever, o que só vou conseguir na metade do mês de janeiro, quando – infelizmente – vou voltar a morar sozinho, já que a Jacque volta para Porto Alegre e viro um marido virtual de novo.
Tudo bem, logo nos reencontraremos.
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
domingo, dezembro 26, 2004
sexta-feira, dezembro 24, 2004
Natal
Um Feliz Natal e um Espetacular 2005 a todos os amigos que me acompanham neste exílio d'A Sopa. Até ano que vem...
domingo, dezembro 19, 2004
A Sopa 04/22
Foi uma viagem de trabalho, essencialmente.
Ainda bem antes de vir para o Brasil para passar doze dias, eu imaginava que teria muito tempo para reencontrar muitas pessoas, rever os amigos todos, participar de muitas confraternizações, muitas e longas conversas e tal. Ledo engano. Era uma viagem de trabalho, mesmo.
Já tinha percebido isso antes das vinte e quatro horas de trânsito entre Toronto e Porto Alegre. Queríamos reunir a banda, tocar - quem sabe um "showzinho" - ou mesmo gravar um segundo CD. Impossível, não haveria tempo. Mal tivemos tempo de nos encontrar. Ao menos sentamos e conversamos, até alguns planos fizemos. Teve outras pessoas com quem nem isso consegui.
Peço desculpas aqueles a quem não pude encontrar, e nem ao menos telefonar. Não foi uma viagem de férias, vim a trabalho e já estou indo embora de novo. Quando volto? Possivelmente em abril, se tudo correr bem, para o meu aniversário, mas não posso prometer. Talvez não consiga, e aí não tenho idéia de quando farei uma visita de verdade, com tempo de encontrar todos, alguns chopes, algumas conversas, cafés, se for inverno, churrascos e chimarrão com certeza.
Embarcamos - a Jacque vai comigo - nesta segunda à noite em direção à Nova York, onde vamos encontrar com os meus pais - que já estão lá desde sábado - para o Natal e o Ano Novo na casa do Neni, meu irmão, que mora lá há quase dois anos (ou mais, já não tenho certeza).
Toronto, dia 02 de janeiro. A Jacque fica comigo lá até dia 14. Vai dar um toque feminino ao apartamento, torná-lo menos acampamento. Vou estar trabalhando neste período, mas tudo bem. Muito trabalho é o que me espera, e tenho a obrigação moral de produzir muito, porque vou me cobrar como nunca. Vou ter espaço, contudo, para os meus projetos paralelos. Com o tempo, vou dividindo com todos os meus planos e novos objetivos.
Está terminando o ano e também um ciclo na minha vida. Dia dezessete, sexta-feira passada, completei dez anos de formado, um bom momento para parar e reavaliar a trajetória, saber se estou onde planejava e visualizar onde quero chegar.
Como quase sempre na vida, as coisas aconteceram de forma que não imaginava, mas de uma maneira positiva. E, melhor de tudo, sem que eu abdicasse de minhas convicções. A estrada pode ter sido mais longa e sinuosa, mas não foi preciso vender a minha alma ao diabo. Nem migrar para o lado negro da força.
Acho que até aqui valeu.
Ainda bem antes de vir para o Brasil para passar doze dias, eu imaginava que teria muito tempo para reencontrar muitas pessoas, rever os amigos todos, participar de muitas confraternizações, muitas e longas conversas e tal. Ledo engano. Era uma viagem de trabalho, mesmo.
Já tinha percebido isso antes das vinte e quatro horas de trânsito entre Toronto e Porto Alegre. Queríamos reunir a banda, tocar - quem sabe um "showzinho" - ou mesmo gravar um segundo CD. Impossível, não haveria tempo. Mal tivemos tempo de nos encontrar. Ao menos sentamos e conversamos, até alguns planos fizemos. Teve outras pessoas com quem nem isso consegui.
Peço desculpas aqueles a quem não pude encontrar, e nem ao menos telefonar. Não foi uma viagem de férias, vim a trabalho e já estou indo embora de novo. Quando volto? Possivelmente em abril, se tudo correr bem, para o meu aniversário, mas não posso prometer. Talvez não consiga, e aí não tenho idéia de quando farei uma visita de verdade, com tempo de encontrar todos, alguns chopes, algumas conversas, cafés, se for inverno, churrascos e chimarrão com certeza.
Embarcamos - a Jacque vai comigo - nesta segunda à noite em direção à Nova York, onde vamos encontrar com os meus pais - que já estão lá desde sábado - para o Natal e o Ano Novo na casa do Neni, meu irmão, que mora lá há quase dois anos (ou mais, já não tenho certeza).
Toronto, dia 02 de janeiro. A Jacque fica comigo lá até dia 14. Vai dar um toque feminino ao apartamento, torná-lo menos acampamento. Vou estar trabalhando neste período, mas tudo bem. Muito trabalho é o que me espera, e tenho a obrigação moral de produzir muito, porque vou me cobrar como nunca. Vou ter espaço, contudo, para os meus projetos paralelos. Com o tempo, vou dividindo com todos os meus planos e novos objetivos.
Está terminando o ano e também um ciclo na minha vida. Dia dezessete, sexta-feira passada, completei dez anos de formado, um bom momento para parar e reavaliar a trajetória, saber se estou onde planejava e visualizar onde quero chegar.
Como quase sempre na vida, as coisas aconteceram de forma que não imaginava, mas de uma maneira positiva. E, melhor de tudo, sem que eu abdicasse de minhas convicções. A estrada pode ter sido mais longa e sinuosa, mas não foi preciso vender a minha alma ao diabo. Nem migrar para o lado negro da força.
Acho que até aqui valeu.
quinta-feira, dezembro 16, 2004
Edição Extraordinária
Mudança de estágio de vida profissional em três letras: PhD.
Foi hoje de manhã, e foi tudo bem.
Segunda-feira de indo de volta ao norte do mundo, mas Toronto só ano que vem, dia 02/01.
Até domingo, n'A Sopa.
Foi hoje de manhã, e foi tudo bem.
Segunda-feira de indo de volta ao norte do mundo, mas Toronto só ano que vem, dia 02/01.
Até domingo, n'A Sopa.
domingo, dezembro 12, 2004
A Sopa 04/21
Não sou mais criança. Nem marinheiro de primeira viagem.
Por esta razão, já não tenho mais aquele espírito pequeno de quem sai do Brasil e, quando volta, acha tudo o que é daqui coisa de terceiro mundo e tudo o que vem de fora é que é bom. Achar que brasileiro é um povo menor, mal educado, etc.
Claro que nunca tinha ficado tanto tempo longe de casa. Foram três meses e meio de ausência até voltar para uma visita de duas semanas. Quando falo casa, refiro-me também ao país como um todo, não apenas Porto Alegre ou o bairro ou mesmo a casa onde moro ("minha caaaasa").
Desde o aeroporto em Miami, por vezes tentei me policiar (com sucesso) de dizer "isso é coisa de brasileiro", atitude preconceituosa e algo como um tiro no próprio pé. Nem mesmo quando, uma hora antes do embarque, começaram a fazer fila para embarcar primeiro. Várias pessoas sentadas no chão, jogando cartas, como se tivessem pernoitado ali para garantir o melhor lugar no vôo. Eu sei, todos sabemos, que os assentos são pré-marcados e todos vão embarcar (talvez caso haja um overbooking com upgrade de classe, mas comigo isso nunca vai acontecer). Mas procurei ver isso como ansiedade para chegar em casa.
Agora depois de uma semana de correria entre muito trabalho e alguns eventos sociais, já me sinto totalmente à vontade para poder dizer o que vou dizer, sem o risco de parecer deslumbrado ou metido à besta: como nós brasileiros somos mal-educados no trânsito! Vejam que me incluí na categoria dos mal-educados. Desde a volta (mas não sei por quanto tempo) tenho sido mais tranqüilo e educado que antes, mas eu também era (ou sou, mas agora desacostumado) imprudente no trânsito.
Já não tem como se surpreender com todos os mortos nas estradas ou mesmo no trânsito das cidades. Não respeitamos pedestres, sinalizações, não paramos em semáforos (ou sinaleiras), tudo de errado em matéria de etiqueta em trânsito é - para nós, brasileiros - o habitual.
Somos, sim, subdesenvolvidos. Pelo menos atrás de um volante...
Por esta razão, já não tenho mais aquele espírito pequeno de quem sai do Brasil e, quando volta, acha tudo o que é daqui coisa de terceiro mundo e tudo o que vem de fora é que é bom. Achar que brasileiro é um povo menor, mal educado, etc.
Claro que nunca tinha ficado tanto tempo longe de casa. Foram três meses e meio de ausência até voltar para uma visita de duas semanas. Quando falo casa, refiro-me também ao país como um todo, não apenas Porto Alegre ou o bairro ou mesmo a casa onde moro ("minha caaaasa").
Desde o aeroporto em Miami, por vezes tentei me policiar (com sucesso) de dizer "isso é coisa de brasileiro", atitude preconceituosa e algo como um tiro no próprio pé. Nem mesmo quando, uma hora antes do embarque, começaram a fazer fila para embarcar primeiro. Várias pessoas sentadas no chão, jogando cartas, como se tivessem pernoitado ali para garantir o melhor lugar no vôo. Eu sei, todos sabemos, que os assentos são pré-marcados e todos vão embarcar (talvez caso haja um overbooking com upgrade de classe, mas comigo isso nunca vai acontecer). Mas procurei ver isso como ansiedade para chegar em casa.
Agora depois de uma semana de correria entre muito trabalho e alguns eventos sociais, já me sinto totalmente à vontade para poder dizer o que vou dizer, sem o risco de parecer deslumbrado ou metido à besta: como nós brasileiros somos mal-educados no trânsito! Vejam que me incluí na categoria dos mal-educados. Desde a volta (mas não sei por quanto tempo) tenho sido mais tranqüilo e educado que antes, mas eu também era (ou sou, mas agora desacostumado) imprudente no trânsito.
Já não tem como se surpreender com todos os mortos nas estradas ou mesmo no trânsito das cidades. Não respeitamos pedestres, sinalizações, não paramos em semáforos (ou sinaleiras), tudo de errado em matéria de etiqueta em trânsito é - para nós, brasileiros - o habitual.
Somos, sim, subdesenvolvidos. Pelo menos atrás de um volante...
domingo, dezembro 05, 2004
A Sopa 04/20
Em casa.
Foi longa a viagem até aqui. Saí de Toronto na sexta-feira às 7h15 (hora local) e fui chegar em Porto Alegre no sábado às 10h15, horário de Brasília. Acertando o fuso, foram 24 horas em trânsito.
Depois que consegui embarcar em Toronto, foi tranqüilo. Para tal, foi necessária uma longa espera numa muito longa fila para passar pela imigração. Parecia que todo mundo estava deixando a cidade em busca de temperaturas das mais amenas do sul. Havia chegado duas horas antes do horário no aeroporto, mas faltando cinco (!) minutos para a hora de saída eu ainda estava na fila para mostrar meu passaporte ao oficial da imigração e ter que explicar que eu iria parar em Miami apenas para esperar meu vôo seguinte e o que eu ia fazer no Brasil.
Após passar pela imigração, saí rapidamente em direção à próxima etapa, passar minha mochila pelo RX e ter que tirar as botas para passar no detector de metais. Passei, coloquei-as de volta e, sem amarrá-las, saí correndo em direção ao portão de embarque. No caminho, para não cair, parei para amarrar os cadarços. Neste momento, ouvi nos alto-falantes chamarem vários nomes, o meu incluído, como última chamada para embarque... Tudo certo, me acomodei, e ouvimos o recado do piloto dizendo que iríamos atrasar por culpa da imigração americana.
Vôo tranqüilo até Miami e, chegando lá, cerca de cinco ou seis horas de espera até o vôo para São Paulo. Não tive dúvidas: deixei minha mochila num depósito, peguei um táxi, e fui para Miami Beach.
Lá, dei umas voltas, observei o movimento de pessoas circulando com pouca roupa, sentadas nos restaurantes na Ocean Drive, tomando drinks coloridos, comendo lagostas e fumando charutos. Parece um chavão, ou um código de postura. Sexta-feira à tarde, de folga em Miami Beach, comer lagosta e fumar charuto. Tirei algumas fotografias, tomei um suco. Parecia um alienígena, carregando o meu casacão que dava calor só de olhá-lo, em contraste com os "locais" em trajes de verão bem mais compatíveis com os 26ºC de temperatura. Mas serviu para readaptar o olhar para o mundo latino, bem mais sensual do que o do norte da américa...
De volta ao aeroporto, mais uma pequena espera para o vôo até São Paulo, que foi tranqüilo e, de certa forma rápido. Depois da espera em São Paulo, já no sábado de manhã, uma hora e quinze até Porto Alegre, passada relâmpago no free-shop a mala que demorou a sair do avião e passagem direta pela alfândega, sem nenhuma inspeção.
Ao sair, cartazes, balões, festa, fotos e sorrisos me esperando. Uma recepção muito melhor do que sequer imaginava, e a boa sensação de estar em casa, de onde parecia que nunca tinha saído.
Esse, um pensamento recorrente durante toda a viagem: de que o tempo, quando visto retrospectivamente, passa muito rápido. A estranha sensação de que nunca saí de casa, a impressão de que tudo - os últimos três meses e meio - não foi real.
Foi por isso que passei o dia ontem com uma camiseta comprada em Toronto. Para lembrar que isso tudo (e muito mais, o que vem pela frente) é bem real. E a certeza de que - não importa para onde a vida me leve, nem por quanto tempo - eu tenho um lugar para voltar. Eu tenho referências e uma história.
E nada pode ser maior que isso.
Foi longa a viagem até aqui. Saí de Toronto na sexta-feira às 7h15 (hora local) e fui chegar em Porto Alegre no sábado às 10h15, horário de Brasília. Acertando o fuso, foram 24 horas em trânsito.
Depois que consegui embarcar em Toronto, foi tranqüilo. Para tal, foi necessária uma longa espera numa muito longa fila para passar pela imigração. Parecia que todo mundo estava deixando a cidade em busca de temperaturas das mais amenas do sul. Havia chegado duas horas antes do horário no aeroporto, mas faltando cinco (!) minutos para a hora de saída eu ainda estava na fila para mostrar meu passaporte ao oficial da imigração e ter que explicar que eu iria parar em Miami apenas para esperar meu vôo seguinte e o que eu ia fazer no Brasil.
Após passar pela imigração, saí rapidamente em direção à próxima etapa, passar minha mochila pelo RX e ter que tirar as botas para passar no detector de metais. Passei, coloquei-as de volta e, sem amarrá-las, saí correndo em direção ao portão de embarque. No caminho, para não cair, parei para amarrar os cadarços. Neste momento, ouvi nos alto-falantes chamarem vários nomes, o meu incluído, como última chamada para embarque... Tudo certo, me acomodei, e ouvimos o recado do piloto dizendo que iríamos atrasar por culpa da imigração americana.
Vôo tranqüilo até Miami e, chegando lá, cerca de cinco ou seis horas de espera até o vôo para São Paulo. Não tive dúvidas: deixei minha mochila num depósito, peguei um táxi, e fui para Miami Beach.
Lá, dei umas voltas, observei o movimento de pessoas circulando com pouca roupa, sentadas nos restaurantes na Ocean Drive, tomando drinks coloridos, comendo lagostas e fumando charutos. Parece um chavão, ou um código de postura. Sexta-feira à tarde, de folga em Miami Beach, comer lagosta e fumar charuto. Tirei algumas fotografias, tomei um suco. Parecia um alienígena, carregando o meu casacão que dava calor só de olhá-lo, em contraste com os "locais" em trajes de verão bem mais compatíveis com os 26ºC de temperatura. Mas serviu para readaptar o olhar para o mundo latino, bem mais sensual do que o do norte da américa...
De volta ao aeroporto, mais uma pequena espera para o vôo até São Paulo, que foi tranqüilo e, de certa forma rápido. Depois da espera em São Paulo, já no sábado de manhã, uma hora e quinze até Porto Alegre, passada relâmpago no free-shop a mala que demorou a sair do avião e passagem direta pela alfândega, sem nenhuma inspeção.
Ao sair, cartazes, balões, festa, fotos e sorrisos me esperando. Uma recepção muito melhor do que sequer imaginava, e a boa sensação de estar em casa, de onde parecia que nunca tinha saído.
Esse, um pensamento recorrente durante toda a viagem: de que o tempo, quando visto retrospectivamente, passa muito rápido. A estranha sensação de que nunca saí de casa, a impressão de que tudo - os últimos três meses e meio - não foi real.
Foi por isso que passei o dia ontem com uma camiseta comprada em Toronto. Para lembrar que isso tudo (e muito mais, o que vem pela frente) é bem real. E a certeza de que - não importa para onde a vida me leve, nem por quanto tempo - eu tenho um lugar para voltar. Eu tenho referências e uma história.
E nada pode ser maior que isso.
sexta-feira, dezembro 03, 2004
A caminho
Estou em trânsito.
Serão vinte e quatro horas entre – depois de tirar o lixo, dar a última revisada na casa, conferir documentos, passagem, passaporte, apagar as luzes, conferir tudo de novo, sair do apartamento, chavear a porta, conferir se está fechada, chamar o elevador, entrar no elevador, sair de novo e conferir de novo se está mesmo trancada, voltar ao elevador – sair do apartamento e chegar no meu destino final. Serão cerca de sete horas de espera em Miami, talvez com uma rápida passada para um café ou um suco em Miami Beach, antes de embarcar no vôo de oito horas até São Paulo e depois mais hora e meia até chegar em casa.
Normalmente, seria um massacre.
Dessa vez, não estou incomodado pelo tempo de viagem. Chegar, isso é o que importa. Ao contrário da vida – onde o que importa é o caminho que trilhamos – agora é o destino final só o que conta: Porto Alegre.
Do Quintana.
O MAPA
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse o meu corpo!)
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
Do Vitor Ramil.
RAMILONGA
Chove na tarde fria de Porto Alegre
Trago sozinho o verde do chimarrão
Olho o cotidiano, sei que vou embora
Nunca mais, nunca mais
Chega em ondas a música da cidade
Também eu me transformo em canção
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
O trânsito em transe intenso antecipa
A noite
Riscando estrelas no bronze do temporal
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
O tango dos guarda-chuvas na Praça XV
Confere elegância ao passo da multidão
Triste lambe-lambe, aquém e além do tempo
Nunca mais, nunca mais
Do alto da torre a água do rio é limpa
Guaíba deserto, barcos que não estão
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Ruas molhadas, ruas da flor lilás
Ruas de um anarquista noturno
Ruas do Armando, ruas do Quintana
Nunca mais, nunca mais
Do Alto do Bronze eu vou pra
Cidade Baixa
Depois as estradas, praias e morros
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Vaga visão viajo e antevejo a inveja
De quem descobrir a forma com que me fui
Ares de milonga sobre Porto Alegre
Nada mais, nada mais
Serão vinte e quatro horas entre – depois de tirar o lixo, dar a última revisada na casa, conferir documentos, passagem, passaporte, apagar as luzes, conferir tudo de novo, sair do apartamento, chavear a porta, conferir se está fechada, chamar o elevador, entrar no elevador, sair de novo e conferir de novo se está mesmo trancada, voltar ao elevador – sair do apartamento e chegar no meu destino final. Serão cerca de sete horas de espera em Miami, talvez com uma rápida passada para um café ou um suco em Miami Beach, antes de embarcar no vôo de oito horas até São Paulo e depois mais hora e meia até chegar em casa.
Normalmente, seria um massacre.
Dessa vez, não estou incomodado pelo tempo de viagem. Chegar, isso é o que importa. Ao contrário da vida – onde o que importa é o caminho que trilhamos – agora é o destino final só o que conta: Porto Alegre.
Do Quintana.
O MAPA
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse o meu corpo!)
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
Do Vitor Ramil.
RAMILONGA
Chove na tarde fria de Porto Alegre
Trago sozinho o verde do chimarrão
Olho o cotidiano, sei que vou embora
Nunca mais, nunca mais
Chega em ondas a música da cidade
Também eu me transformo em canção
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
O trânsito em transe intenso antecipa
A noite
Riscando estrelas no bronze do temporal
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
O tango dos guarda-chuvas na Praça XV
Confere elegância ao passo da multidão
Triste lambe-lambe, aquém e além do tempo
Nunca mais, nunca mais
Do alto da torre a água do rio é limpa
Guaíba deserto, barcos que não estão
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Ruas molhadas, ruas da flor lilás
Ruas de um anarquista noturno
Ruas do Armando, ruas do Quintana
Nunca mais, nunca mais
Do Alto do Bronze eu vou pra
Cidade Baixa
Depois as estradas, praias e morros
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Vaga visão viajo e antevejo a inveja
De quem descobrir a forma com que me fui
Ares de milonga sobre Porto Alegre
Nada mais, nada mais
quinta-feira, dezembro 02, 2004
A Utilidade das Palavras
Um velho amigo meu, que eu inventei agora, me alertou para – já que eu queria ser um contador de histórias – que eu tivesse muito cuidado com as palavras. “Elas são traiçoeiras, por mais que nos dediquemos a elas, algumas vezes nos traem”.
Desde então, tenho muito cuidado com o que escrevo. Mesmo assim, vez que outra acabo botando os pés pelas mãos e me “indispondo” com alguém. Mesmo sem querer.
Aconteceu esta semana, depois do texto que publiquei sob o título “Comentário sobre um post”. Espera um pouco…pronto. Fui reler o que escrevi para ter certeza do que devo dizer agora. Como vocês podem notar se decidirem ler o texto, em nenhum momento eu faço alguma crítica ao blog ou a quem “postou” o texto. E nem cito o nome do blog. Bom deixa eu contar a história toda para vocês entenderem (mas não vou citar o nome porque não há razão para isso).
Do início. O blog é de uma brasileira que está aqui no Canadá, mas que no momento está de férias no Brasil, e pediu para que uma amiga continuasse escrevendo no seu blog para que ele não ficasse “parado”. Pois é, foi ela quem botou o texto. Quando eu li – como contei no meu texto – tinha certeza que não era do Drummond, e decidi escrever um comentário para colocar lá no blog, mas o comentário ficou tão grande, e eu me empolguei com a minha descoberta (sempre é bom “descobrir” um poeta novo [no caso, novo para mim] ) que acabei decidindo publicar apenas no meu blog e deixar como comentário apenas um nota dizendo que eu falava sobre o assunto no meu blog.
Tanto não tinha intenção de criticá-la que não “dei nome aos bois”, porque não era uma crítica, eu estava apenas contando de forma empolgada até onde minhas pesquisas me haviam me levado.
Mas ela ficou chateada porque imaginou que eu estivesse criticando o blog. Não... Eu não estava criticando ninguém! Se pareceu uma crítica, me expressei mal.
Se alguém mais entendeu como uma crítica minha, peço desculpas públicas.
Desde então, tenho muito cuidado com o que escrevo. Mesmo assim, vez que outra acabo botando os pés pelas mãos e me “indispondo” com alguém. Mesmo sem querer.
Aconteceu esta semana, depois do texto que publiquei sob o título “Comentário sobre um post”. Espera um pouco…pronto. Fui reler o que escrevi para ter certeza do que devo dizer agora. Como vocês podem notar se decidirem ler o texto, em nenhum momento eu faço alguma crítica ao blog ou a quem “postou” o texto. E nem cito o nome do blog. Bom deixa eu contar a história toda para vocês entenderem (mas não vou citar o nome porque não há razão para isso).
Do início. O blog é de uma brasileira que está aqui no Canadá, mas que no momento está de férias no Brasil, e pediu para que uma amiga continuasse escrevendo no seu blog para que ele não ficasse “parado”. Pois é, foi ela quem botou o texto. Quando eu li – como contei no meu texto – tinha certeza que não era do Drummond, e decidi escrever um comentário para colocar lá no blog, mas o comentário ficou tão grande, e eu me empolguei com a minha descoberta (sempre é bom “descobrir” um poeta novo [no caso, novo para mim] ) que acabei decidindo publicar apenas no meu blog e deixar como comentário apenas um nota dizendo que eu falava sobre o assunto no meu blog.
Tanto não tinha intenção de criticá-la que não “dei nome aos bois”, porque não era uma crítica, eu estava apenas contando de forma empolgada até onde minhas pesquisas me haviam me levado.
Mas ela ficou chateada porque imaginou que eu estivesse criticando o blog. Não... Eu não estava criticando ninguém! Se pareceu uma crítica, me expressei mal.
Se alguém mais entendeu como uma crítica minha, peço desculpas públicas.
Maré Vermelha
Nunca estive tão perto de casa como agora. Quase posso ouvir o ruído ensurdecedor...
Mas não vou escrever muito, ao menos por enquanto. Minhas atenções estão voltadas para a Av Padre Cacique, em Porto Alegre. Para o Gigante da Beira-Rio, a esta altura já lotado por ansiosos torcedores colorados à espera de Inter X Boca Juniors, segunda partida da semifinal da Copa Sulamericana.
Se estivesse em Porto Alegre, estaria no estádio.
Mesmo tendo perdido o primeiro jogo por 4 X 2 em Buenos Aires (para onde eu também teria ido assistir à partida), há a expectitiva de que seja possível reverter a vantagem do time argentino e terminar a noite classificado.
Em mais uma ode à maravilha que é a tecnologia, e a internet em especial, só posso dizer que vou ouvir o jogo aqui de Toronto. Pena que não consigo também assistir, mas aí seria demais...
Nao importa muito - no final das contas - se vai ganhar ou vai perder. Nossas vidas não mudarão por causa disso, é certo e sabido. Também não sei até onde pode um estádio lotado de torcedores cantando e incentivando ajudar um time vencer e, no caso de hoje, por dois (aí vão para os pênaltis) ou três gols de diferença (classificação).
Mas que um estádio lotado é um dos espetáculos mais bonitos e emocionantes que existem, disso podem estar certos.
Dá-lhe Inter!
UPDATE: Terminou o jogo e foi empate e o Inter está fora da final. Como eu disse antes, é do jogo. Paciência. Lutou e não conseguiu. Valeu. O lado "positivo" é que se passasse para a final, o segundo jogo seria no Beira-Rio e na véspera da minha defesa de tese. E eu seria obrigado a ir ao jogo. Ia ser meio complicado. ..
Até amanhã.
Mas não vou escrever muito, ao menos por enquanto. Minhas atenções estão voltadas para a Av Padre Cacique, em Porto Alegre. Para o Gigante da Beira-Rio, a esta altura já lotado por ansiosos torcedores colorados à espera de Inter X Boca Juniors, segunda partida da semifinal da Copa Sulamericana.
Se estivesse em Porto Alegre, estaria no estádio.
Mesmo tendo perdido o primeiro jogo por 4 X 2 em Buenos Aires (para onde eu também teria ido assistir à partida), há a expectitiva de que seja possível reverter a vantagem do time argentino e terminar a noite classificado.
Em mais uma ode à maravilha que é a tecnologia, e a internet em especial, só posso dizer que vou ouvir o jogo aqui de Toronto. Pena que não consigo também assistir, mas aí seria demais...
Nao importa muito - no final das contas - se vai ganhar ou vai perder. Nossas vidas não mudarão por causa disso, é certo e sabido. Também não sei até onde pode um estádio lotado de torcedores cantando e incentivando ajudar um time vencer e, no caso de hoje, por dois (aí vão para os pênaltis) ou três gols de diferença (classificação).
Mas que um estádio lotado é um dos espetáculos mais bonitos e emocionantes que existem, disso podem estar certos.
Dá-lhe Inter!
UPDATE: Terminou o jogo e foi empate e o Inter está fora da final. Como eu disse antes, é do jogo. Paciência. Lutou e não conseguiu. Valeu. O lado "positivo" é que se passasse para a final, o segundo jogo seria no Beira-Rio e na véspera da minha defesa de tese. E eu seria obrigado a ir ao jogo. Ia ser meio complicado. ..
Até amanhã.
quarta-feira, dezembro 01, 2004
Comentário sobre um post
Detesto fazer o papel do chato, mas algumas vezes não consigo me controlar…
Entrei agora há pouco num dos blogs que visito diariamente e havia um post novo, com um texto chamado “Viver não dói” com a autoria do mesmo atribuída ao nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade. Muito bonito o texto, mas quando li achei improvável que fosse do Drummond. Sei lá, mas, olhando bem, não parecia o estilo dele. Tinha - na minha opinião - coisas ditas de uma maneira que ele não faria (repito: minha opinião e posso estar enganado). Daí fui para a internet pesquisar.
No google, tem 1720 links para "Viver não dói", a maioria para blogs ou fotologs, acho que a maioria dando a autoria a ele. Mas, olhando um pouco melhor, aparecia um tal de Emílio Moura (nunca tinha ouvido falar).
Então, pesquisei "Emilio Moura' e o resultado foi 46300 links para o nome dele!! Clicando no primeiro link, Emílio Moura aparece a seguinte biografia dele:
"Um ser perplexo, vagando pelo mundo com sua "música secreta", em permanente estado de poesia. Emílio Moura - para os amigos, "poeta Emílio" - nasceu em Minas, em 1902. Ao lado de Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava, fez parte da célebre geração que renovou a literatura na Belo Horizonte dos anos 20 e 30. Embora pouco lido e conhecido ("poeta ainda não bastante admirado", na expressão de Otto Maria Carpeaux), é um dos nomes importantes do modernismo brasileiro".
Entre suas poesias, encontro uma que se chama Canção:
“Viver não dói. O que dói
é a vida que se não vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.
Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.
Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.
Viver não dói. O que dói,
ferindo fundo, ferindo,
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido.
Que tudo o mais é perdido.”
O texto no blog (é bem legal o blog, diga-se de passagem) não é do Drummond, e nem é o poema do Emilio Moura. É uma adaptação deste que foi atribuída ao primeiro poeta. De qualquer forma, é a mesma mensagem, que é certa.
Emílio Moura, nasceu em 1902 em Dores do Indaiá, oeste de Minas Gerais. Em 1920, transferiu-se para Belo Horizonte, passando a integrar o brilhante grupo de jovens intelectuais que logo iriam participar do "movimento modernista". Desse grupo faziam parte, entre outros, Carlos Drummond de Andrade, Milton Campos, Aníbal M. Machado, Abgar Renault, Pedro Nava, Gustavo Capanema, Mário Casassanta, Martins de Almeida, João Alphonsus, Gabriel Passos, Euryalo Canabrava.
Em 1925, com Drummond e Martins de Almeida, fundou "A Revista", primeiro órgão literário do movimento modernista em Minas Gerais. Faleceu em 28 de setembro de 1971.
Como eu disse, nunca tinha ouvido falar nele. Foi bem legal aprender...
E quem disse que a internet não pode ser uma fonte de conhecimento?
Entrei agora há pouco num dos blogs que visito diariamente e havia um post novo, com um texto chamado “Viver não dói” com a autoria do mesmo atribuída ao nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade. Muito bonito o texto, mas quando li achei improvável que fosse do Drummond. Sei lá, mas, olhando bem, não parecia o estilo dele. Tinha - na minha opinião - coisas ditas de uma maneira que ele não faria (repito: minha opinião e posso estar enganado). Daí fui para a internet pesquisar.
No google, tem 1720 links para "Viver não dói", a maioria para blogs ou fotologs, acho que a maioria dando a autoria a ele. Mas, olhando um pouco melhor, aparecia um tal de Emílio Moura (nunca tinha ouvido falar).
Então, pesquisei "Emilio Moura' e o resultado foi 46300 links para o nome dele!! Clicando no primeiro link, Emílio Moura aparece a seguinte biografia dele:
"Um ser perplexo, vagando pelo mundo com sua "música secreta", em permanente estado de poesia. Emílio Moura - para os amigos, "poeta Emílio" - nasceu em Minas, em 1902. Ao lado de Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava, fez parte da célebre geração que renovou a literatura na Belo Horizonte dos anos 20 e 30. Embora pouco lido e conhecido ("poeta ainda não bastante admirado", na expressão de Otto Maria Carpeaux), é um dos nomes importantes do modernismo brasileiro".
Entre suas poesias, encontro uma que se chama Canção:
“Viver não dói. O que dói
é a vida que se não vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.
Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.
Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.
Viver não dói. O que dói,
ferindo fundo, ferindo,
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido.
Que tudo o mais é perdido.”
O texto no blog (é bem legal o blog, diga-se de passagem) não é do Drummond, e nem é o poema do Emilio Moura. É uma adaptação deste que foi atribuída ao primeiro poeta. De qualquer forma, é a mesma mensagem, que é certa.
Emílio Moura, nasceu em 1902 em Dores do Indaiá, oeste de Minas Gerais. Em 1920, transferiu-se para Belo Horizonte, passando a integrar o brilhante grupo de jovens intelectuais que logo iriam participar do "movimento modernista". Desse grupo faziam parte, entre outros, Carlos Drummond de Andrade, Milton Campos, Aníbal M. Machado, Abgar Renault, Pedro Nava, Gustavo Capanema, Mário Casassanta, Martins de Almeida, João Alphonsus, Gabriel Passos, Euryalo Canabrava.
Em 1925, com Drummond e Martins de Almeida, fundou "A Revista", primeiro órgão literário do movimento modernista em Minas Gerais. Faleceu em 28 de setembro de 1971.
Como eu disse, nunca tinha ouvido falar nele. Foi bem legal aprender...
E quem disse que a internet não pode ser uma fonte de conhecimento?
terça-feira, novembro 30, 2004
Chimarrão
No sábado à noite, o Gean e eu saímos para dar uma volta e assistir ao Cavalcade of Lights, em frente à prefeitura nova aqui de Toronto. Depois, fomos tomar uma cerveja num pub. Conversa vai, conversa vem, acabamos falando sobre diferenças de cultura entre as diferentes regiões do Brasil, e em como é mais fácil acabar convivendo com brasileiros de outros estados quando fora do nosso país, por exemplo, aqui no Canadá.
Ele cearense e eu gaúcho, conversamos sobre as diferenças de vocabulário e hábitos nos diferentes estados do Brasil, e acabou por perguntar sobre o chimarrão. Que gosto tem o chimarrão, uma das dúvidas. Amargo, respondi, e contei também que tomar chimarrão é um ritual.
Pensando nisso, e já que agora ‘A Sopa no Exílio’ também é visitada por pessoas de diferentes lugares do Brasil e até do mundo, porque não, resolvi divulgar um pouco nossas tradições… Vou falar um pouco do chimarrão, começando pela lenda do seu surgimento (Fonte: Chimarrao.com ).
O Chimarrão dos Nativos
Conta a lenda da Erva–Mate que um velho guerreiro guarani vivia triste em sua cabana pois já não podia mais sair para as guerras, nem mesmo para caçar e pescar, vivendo só com sua linda filha yari, que o tratava com muito carinho, conservando-se solteira para melhor dedicar-se ao pai.
Um dia, Yari e seu pai receberam a visita de um viajante que pernoitou na cabana recebendo seus melhores tratos. A jovem cantou para que o visitante adormecesse e tivesse um sono tranqüilo, entoando um canto suave e triste.
Ao amanhecer, o viajante confessando ser enviado de Tupã, quis retribuir-lhes a hospitalidade dizendo que atenderia a qualquer desejo, mesmo o mais remoto. O velho guerreiro, sabendo que sua jovem filha não se casara para não abandoná-lo, pediu que lhe fosse devolvidas as forças, para que yari se tornasse livre.
O mensageiro de Tupã entregou ao velho um galho de árvore de Caá, ensinando-lhe a preparar uma infusão que lhe devolveria todo o vigor. Transformou ainda Yari, em deusa dos ervais e protetora da raça Guarani, sendo chamada de Caá-Yari, a deusa da erva-mate. E assim, a erva foi usada por todos os guerreiros da tribo, tornando-os mais fortes e valentes.
Quando os espanhóis por aqui chegaram, encontraram os índios guaranis dóceis e receptivos, já então utilizando uma bebida que sorviam em cabaças por meio de um canudo, preparada, com folhas de uma árvore nativa da região – chamada cáa – dizendo que esta lhes havia sido dada pelo deus Tupã. De imediato os espanhóis adquiriram este hábito e passaram a tomar o chimarrão, desde os soldados até oficiais, sem distinção de classes sociais.
O chimarrão, tradicional e salutar hábito do Rio Grande do Sul, é um símbolo da hospitalidade do gaúcho, que oferece sempre a qualquer visitante. Atualmente, é bebido em uma cuia onde depositamos um pouco de erva-mate já moída e de onde sorvemos o líquido (água quente sem ferver), através de uma bomba de metal.
O costume de tomar chimarrão está bastante difundido, tanto no meio rural como no urbano e faz parte da vida do gaúcho desde o amanhecer até a noite, quando encerra suas tarefas do dia.
Os 10 Mandamentos do Chimarrão
Apesar de simples e informal, a roda de chimarrão tem suas regras. Verdadeiros mandamentos, que devem ser respeitados por todos. Se você é iniciante ou está redescobrindo o costume, observe esses pontos relacionados com boa dose de humor:
1- NÃO PEÇAS AÇÚCAR NO MATE
O gaúcho aprende desde piazito o porquê o chimarrão se chama também mate amargo ou, mais intimamente, amargo apenas. Mas se tu és de outros pagos, mesmo sabendo, poderá achar que é amargo demais e cometer o maior sacrilégio que alguém pode imaginar nesse pedaço do Brasil: pedir açúcar. Pode-se por água, ervas exóticas, cana, frutas, cocaína, feldspato, dollar, etc… mas jamais açúcar. O gaúcho pode ter todos os defeitos do mundo, mas não merece ouvir um pedido desses. Portanto, tchê, se o chimarrão te parece amargo demais, não hesites, pede uma coca-cola com canudinho. Tu vais te sentir bem melhor.
2- NÃO DIGAS QUE O CHIMARRÃO É ANTI-HIGIÊNICO
Tu podes achar que é anti-higiênico por a boca onde todo mundo põe. Claro que é. Só que tu não tens o direito de proferir tamanha blasfêmia em se tratando de chimarrão. Repito: pede uma coca-cola de canudinho. O canudo é puro como a água de sanga (pode haver coliformes fecais e estafilococos dentro da garrafa, não nele).
3- NÃO DIGAS QUE O MATE ESTÁ QUENTE DEMAIS
Se todos estão chimarreando sem reclamar da temperatura da água, é porque ela é perfeitamente suportável por pessoas normais. Se tu não és uma pessoa normal, assume tuas frescuras (caso desejes te curar, recomendamos uma visita ao analista de Bagé). Se, porém, te julgas perfeitamente igual aos demais, faze o seguinte: vai para o Paraguai. Tu vai adorar o chimarrão de lá.
4- NÃO DEIXES UM MATE PELA METADE
Apesar da grande semelhança que existe entre o chimarrão e o cachimbo da paz, há diferenças fundamentais. Como o cachimbo da paz, cada um dá uma tragada e passa-o adiante, já o chimarrão não. Tu deves tomar toda a água servida até ouvir o ronco da cuia vazia. A propósito, leia logo o mandamento abaixo.
5- NÃO TE ENVERGONHES DO "RONCO" NO FIM DO MATE
Se, ao acabar o mate, sem querer fizer a bomba "roncar", não te envergonhes. Está tudo bem, ninguém vai te julgar mal-educado. Esse negócio de chupar sem fazer barulho vale para a coca-cola com canudinho que tu podes até tomar com o dedinho levantado (fazendo pose de assumida).
6- NÃO MEXAS NA BOMBA
A bomba de chimarrão pode muito bem entupir, seja por culpa dela mesma, da erva ou de quem preparou o mate. Se isso acontecer, tens todo o direito de reclamar. Mas por favor, não mexas na bomba. Fale com quem te passou o mate ou com quem lhe passou a cuia. Mas não mexas na bomba, não mexas na bomba e, sobretudo, não mexas na bomba.
7- NÃO ALTERE A ORDEM EM QUE O MATE É SERVIDO
Roda de chimarrão funciona como cavalo de leiteiro. A cuia passa de mão em mão, sempre na mesma ordem. Para entrar na roda, qualquer hora serve, mas depois de entrar, espera sempre a tua vez e não queiras favorecer ninguém, mesmo que seja a mais prendada prenda do estado.
8- NÃO CONDENES O DONO DA CASA POR TOMAR O PRIMEIRO MATE
Se tu julgas o dono da casa um grosso por preparar o chimarrão e tomar ele próprio o primeiro mate, saibas que o grosso és tu. O pior mate é o primeiro, e quem toma está te prestando um favor.
9- NÃO DURMAS COM A CUIA NA MÃO
Tomar mate solito é um excelente meio de meditar sobre as coisas da vida. Tu mateias sem pressa, matutando… E às vezes te surpreendes até imaginando que a cuia não é cuia, mas o quente seio moreno daquela chinoca faceira que apareceu no baile do Gaudêncio… Agora, tomar chimarrão numa roda é muito diferente. Aí o fundamental não é meditar, mas sim integrar-se à roda. Numa roda de chimarrão, tu falas, discutes, ris, xingas, enfim, tu participas de uma comunidade em confraternização. Só que essa tua participação não pode ser levada ao extremo de te fazer esquecer a cuia que está na tua mão. Fala quanto quizeres mas não esqueças de tomar o teu mate que a moçada tá esperando.
10- NÃO DIGAS QUE O CHIMARRÃO DÁ CÂNCER NA GARGANTA
Pode até dar. Mas não vai ser tu, que pela primeira vez pega na cuia, que irás dizer, com ar de entendido, que o chimarrão é cancerígeno. Se aceitaste o mate que te ofereceram, toma e esqueces o câncer. Se não der para esquecer, faz o seguinte: pede uma coca-cola com canudinho que ela… etc… etc…
Ele cearense e eu gaúcho, conversamos sobre as diferenças de vocabulário e hábitos nos diferentes estados do Brasil, e acabou por perguntar sobre o chimarrão. Que gosto tem o chimarrão, uma das dúvidas. Amargo, respondi, e contei também que tomar chimarrão é um ritual.
Pensando nisso, e já que agora ‘A Sopa no Exílio’ também é visitada por pessoas de diferentes lugares do Brasil e até do mundo, porque não, resolvi divulgar um pouco nossas tradições… Vou falar um pouco do chimarrão, começando pela lenda do seu surgimento (Fonte: Chimarrao.com ).
O Chimarrão dos Nativos
Conta a lenda da Erva–Mate que um velho guerreiro guarani vivia triste em sua cabana pois já não podia mais sair para as guerras, nem mesmo para caçar e pescar, vivendo só com sua linda filha yari, que o tratava com muito carinho, conservando-se solteira para melhor dedicar-se ao pai.
Um dia, Yari e seu pai receberam a visita de um viajante que pernoitou na cabana recebendo seus melhores tratos. A jovem cantou para que o visitante adormecesse e tivesse um sono tranqüilo, entoando um canto suave e triste.
Ao amanhecer, o viajante confessando ser enviado de Tupã, quis retribuir-lhes a hospitalidade dizendo que atenderia a qualquer desejo, mesmo o mais remoto. O velho guerreiro, sabendo que sua jovem filha não se casara para não abandoná-lo, pediu que lhe fosse devolvidas as forças, para que yari se tornasse livre.
O mensageiro de Tupã entregou ao velho um galho de árvore de Caá, ensinando-lhe a preparar uma infusão que lhe devolveria todo o vigor. Transformou ainda Yari, em deusa dos ervais e protetora da raça Guarani, sendo chamada de Caá-Yari, a deusa da erva-mate. E assim, a erva foi usada por todos os guerreiros da tribo, tornando-os mais fortes e valentes.
Quando os espanhóis por aqui chegaram, encontraram os índios guaranis dóceis e receptivos, já então utilizando uma bebida que sorviam em cabaças por meio de um canudo, preparada, com folhas de uma árvore nativa da região – chamada cáa – dizendo que esta lhes havia sido dada pelo deus Tupã. De imediato os espanhóis adquiriram este hábito e passaram a tomar o chimarrão, desde os soldados até oficiais, sem distinção de classes sociais.
O chimarrão, tradicional e salutar hábito do Rio Grande do Sul, é um símbolo da hospitalidade do gaúcho, que oferece sempre a qualquer visitante. Atualmente, é bebido em uma cuia onde depositamos um pouco de erva-mate já moída e de onde sorvemos o líquido (água quente sem ferver), através de uma bomba de metal.
O costume de tomar chimarrão está bastante difundido, tanto no meio rural como no urbano e faz parte da vida do gaúcho desde o amanhecer até a noite, quando encerra suas tarefas do dia.
Os 10 Mandamentos do Chimarrão
Apesar de simples e informal, a roda de chimarrão tem suas regras. Verdadeiros mandamentos, que devem ser respeitados por todos. Se você é iniciante ou está redescobrindo o costume, observe esses pontos relacionados com boa dose de humor:
1- NÃO PEÇAS AÇÚCAR NO MATE
O gaúcho aprende desde piazito o porquê o chimarrão se chama também mate amargo ou, mais intimamente, amargo apenas. Mas se tu és de outros pagos, mesmo sabendo, poderá achar que é amargo demais e cometer o maior sacrilégio que alguém pode imaginar nesse pedaço do Brasil: pedir açúcar. Pode-se por água, ervas exóticas, cana, frutas, cocaína, feldspato, dollar, etc… mas jamais açúcar. O gaúcho pode ter todos os defeitos do mundo, mas não merece ouvir um pedido desses. Portanto, tchê, se o chimarrão te parece amargo demais, não hesites, pede uma coca-cola com canudinho. Tu vais te sentir bem melhor.
2- NÃO DIGAS QUE O CHIMARRÃO É ANTI-HIGIÊNICO
Tu podes achar que é anti-higiênico por a boca onde todo mundo põe. Claro que é. Só que tu não tens o direito de proferir tamanha blasfêmia em se tratando de chimarrão. Repito: pede uma coca-cola de canudinho. O canudo é puro como a água de sanga (pode haver coliformes fecais e estafilococos dentro da garrafa, não nele).
3- NÃO DIGAS QUE O MATE ESTÁ QUENTE DEMAIS
Se todos estão chimarreando sem reclamar da temperatura da água, é porque ela é perfeitamente suportável por pessoas normais. Se tu não és uma pessoa normal, assume tuas frescuras (caso desejes te curar, recomendamos uma visita ao analista de Bagé). Se, porém, te julgas perfeitamente igual aos demais, faze o seguinte: vai para o Paraguai. Tu vai adorar o chimarrão de lá.
4- NÃO DEIXES UM MATE PELA METADE
Apesar da grande semelhança que existe entre o chimarrão e o cachimbo da paz, há diferenças fundamentais. Como o cachimbo da paz, cada um dá uma tragada e passa-o adiante, já o chimarrão não. Tu deves tomar toda a água servida até ouvir o ronco da cuia vazia. A propósito, leia logo o mandamento abaixo.
5- NÃO TE ENVERGONHES DO "RONCO" NO FIM DO MATE
Se, ao acabar o mate, sem querer fizer a bomba "roncar", não te envergonhes. Está tudo bem, ninguém vai te julgar mal-educado. Esse negócio de chupar sem fazer barulho vale para a coca-cola com canudinho que tu podes até tomar com o dedinho levantado (fazendo pose de assumida).
6- NÃO MEXAS NA BOMBA
A bomba de chimarrão pode muito bem entupir, seja por culpa dela mesma, da erva ou de quem preparou o mate. Se isso acontecer, tens todo o direito de reclamar. Mas por favor, não mexas na bomba. Fale com quem te passou o mate ou com quem lhe passou a cuia. Mas não mexas na bomba, não mexas na bomba e, sobretudo, não mexas na bomba.
7- NÃO ALTERE A ORDEM EM QUE O MATE É SERVIDO
Roda de chimarrão funciona como cavalo de leiteiro. A cuia passa de mão em mão, sempre na mesma ordem. Para entrar na roda, qualquer hora serve, mas depois de entrar, espera sempre a tua vez e não queiras favorecer ninguém, mesmo que seja a mais prendada prenda do estado.
8- NÃO CONDENES O DONO DA CASA POR TOMAR O PRIMEIRO MATE
Se tu julgas o dono da casa um grosso por preparar o chimarrão e tomar ele próprio o primeiro mate, saibas que o grosso és tu. O pior mate é o primeiro, e quem toma está te prestando um favor.
9- NÃO DURMAS COM A CUIA NA MÃO
Tomar mate solito é um excelente meio de meditar sobre as coisas da vida. Tu mateias sem pressa, matutando… E às vezes te surpreendes até imaginando que a cuia não é cuia, mas o quente seio moreno daquela chinoca faceira que apareceu no baile do Gaudêncio… Agora, tomar chimarrão numa roda é muito diferente. Aí o fundamental não é meditar, mas sim integrar-se à roda. Numa roda de chimarrão, tu falas, discutes, ris, xingas, enfim, tu participas de uma comunidade em confraternização. Só que essa tua participação não pode ser levada ao extremo de te fazer esquecer a cuia que está na tua mão. Fala quanto quizeres mas não esqueças de tomar o teu mate que a moçada tá esperando.
10- NÃO DIGAS QUE O CHIMARRÃO DÁ CÂNCER NA GARGANTA
Pode até dar. Mas não vai ser tu, que pela primeira vez pega na cuia, que irás dizer, com ar de entendido, que o chimarrão é cancerígeno. Se aceitaste o mate que te ofereceram, toma e esqueces o câncer. Se não der para esquecer, faz o seguinte: pede uma coca-cola com canudinho que ela… etc… etc…
domingo, novembro 28, 2004
A Sopa 04/19
Noite de sexta-feira (quando comecei a escrever). A única luz que brilha na casa é a da tela do computador onde ora escrevo. Ao meu lado, envolta pela escuridão, está a caneca de chá quente. A cortina aberta desvenda um mar de luzes, amarelas, brancas e vermelhas. Toronto à noite, vista do vigésimo-primeiro andar. Olho para o norte, leste e oeste: a cidade parece não ter fim. O céu é nublado, sem estrelas a iluminar as ruas que hoje cedo eram brancas da primeira neve, débil e fugaz.
A música que ouço vem de terras distantes, do sul do mundo.
“Sei que não tenho idade
Sei que não tenho nome
Só minha juventude
O que não é nada mal”
Estou voltando.
Não para ficar, não em definitivo.
Volto para um ritual de passagem, o final de um ciclo.
E para reencontrar a mulher que é tudo para mim, e muito mais.
#
Por estes dias, tenho ouvido sons que me remetem ao passado.
É sempre interessante o efeito “máquina do tempo” que alguns lugares, algumas situações e, principalmente, algumas músicas, tem em mim. Não é uma sensação nova, claro. Nem exclusiva. Todos somos assim.
Tenho muitas canções, muitas referências, muitas estórias para contar. Aqui em Toronto, estou escrevendo mais um dos capítulos.
Três discos têm rodado com certa freqüência aqui. Todos fundamentais.
O primeiro é ‘Tango’, do Vítor Ramil. ‘Loucos de Cara’, música que encerra este disco de 1987, é praticamente um hino, uma mensagem para não ser esquecida: “Se um dia qualquer tudo pulsar num imenso vazio, coisas saindo do nada, indo pro nada / Se mais nada existir, mesmo o que sempre chamamos real / E isso pra ti for tão claro, que nem percebas / Se um dia qualquer, ter lucidez for o mesmo que andar e não notares que andas, o tempo inteiro / É sinal que valeu, pega carona no carro que vem, e se ele é azul / Não importa, fica na tua”. Fica na tua. Esquece o que os outros vão pensar ou dizer, segue teu caminho. Ele não me transporta à nenhuma época em especial, mas a um tempo – como diz a citação no começo deste texto – em que não tínhamos muito mais que nossa juventude.
O segundo, chama-se ‘Ideologia’, do Cazuza, de 1988, e me transporta justamente ao ano de seu lançamento. A música que dá título ao disco, ‘Ideologia’, fala justamente de alguns questionamentos que me fiz naquela época e – uma vez e outra – ainda me faço. ‘Faz Parte do Meu Show’ me leva a uma noite de julho, numa quase deserta cidade do litoral norte do Rio Grande do Sul, frio, um bar, um grupo de amigos e uma menina. ‘Obrigado (por ter se mandado)’ lembra o final da história com essa menina… ‘Boas Novas’ me transporta à 1990, quando “vi a cara da morte e ela estava viva”. E, finalmente, ‘Minha flor,meu bebê’, que é uma das mais lindas canções de amor que conheço.
O terceiro disco que tenho ouvido e que me faz voltar a um tempo que passou, e que é bom de lembrar, é o ‘Dois’, do Legião Urbana, de 1986. Esse foi um disco que definiu muita coisa em muitas vidas, com letras que diziam de forma poética aquilo que precisávamos dizer. Foi um marco para mim, e para aqueles com quem cresci e que, juntos, continuamos mantendo muitos pontos de intersecção em nossos caminho pela vida. Todas as músicas têm algum significado, mas vou destacar só Andrea Doria, que fala sobre isso mesmo, sobre ter “alguém com quem conversar, alguém que depois não use o que eu disse contra mim”. Quando encontramos pessoas assim, não podemos perdê-las de vista…
E você, quais são as músicas que te levam de volta ao passado? Por quê?
A música que ouço vem de terras distantes, do sul do mundo.
“Sei que não tenho idade
Sei que não tenho nome
Só minha juventude
O que não é nada mal”
Estou voltando.
Não para ficar, não em definitivo.
Volto para um ritual de passagem, o final de um ciclo.
E para reencontrar a mulher que é tudo para mim, e muito mais.
#
Por estes dias, tenho ouvido sons que me remetem ao passado.
É sempre interessante o efeito “máquina do tempo” que alguns lugares, algumas situações e, principalmente, algumas músicas, tem em mim. Não é uma sensação nova, claro. Nem exclusiva. Todos somos assim.
Tenho muitas canções, muitas referências, muitas estórias para contar. Aqui em Toronto, estou escrevendo mais um dos capítulos.
Três discos têm rodado com certa freqüência aqui. Todos fundamentais.
O primeiro é ‘Tango’, do Vítor Ramil. ‘Loucos de Cara’, música que encerra este disco de 1987, é praticamente um hino, uma mensagem para não ser esquecida: “Se um dia qualquer tudo pulsar num imenso vazio, coisas saindo do nada, indo pro nada / Se mais nada existir, mesmo o que sempre chamamos real / E isso pra ti for tão claro, que nem percebas / Se um dia qualquer, ter lucidez for o mesmo que andar e não notares que andas, o tempo inteiro / É sinal que valeu, pega carona no carro que vem, e se ele é azul / Não importa, fica na tua”. Fica na tua. Esquece o que os outros vão pensar ou dizer, segue teu caminho. Ele não me transporta à nenhuma época em especial, mas a um tempo – como diz a citação no começo deste texto – em que não tínhamos muito mais que nossa juventude.
O segundo, chama-se ‘Ideologia’, do Cazuza, de 1988, e me transporta justamente ao ano de seu lançamento. A música que dá título ao disco, ‘Ideologia’, fala justamente de alguns questionamentos que me fiz naquela época e – uma vez e outra – ainda me faço. ‘Faz Parte do Meu Show’ me leva a uma noite de julho, numa quase deserta cidade do litoral norte do Rio Grande do Sul, frio, um bar, um grupo de amigos e uma menina. ‘Obrigado (por ter se mandado)’ lembra o final da história com essa menina… ‘Boas Novas’ me transporta à 1990, quando “vi a cara da morte e ela estava viva”. E, finalmente, ‘Minha flor,meu bebê’, que é uma das mais lindas canções de amor que conheço.
O terceiro disco que tenho ouvido e que me faz voltar a um tempo que passou, e que é bom de lembrar, é o ‘Dois’, do Legião Urbana, de 1986. Esse foi um disco que definiu muita coisa em muitas vidas, com letras que diziam de forma poética aquilo que precisávamos dizer. Foi um marco para mim, e para aqueles com quem cresci e que, juntos, continuamos mantendo muitos pontos de intersecção em nossos caminho pela vida. Todas as músicas têm algum significado, mas vou destacar só Andrea Doria, que fala sobre isso mesmo, sobre ter “alguém com quem conversar, alguém que depois não use o que eu disse contra mim”. Quando encontramos pessoas assim, não podemos perdê-las de vista…
E você, quais são as músicas que te levam de volta ao passado? Por quê?
sábado, novembro 27, 2004
Crônicas de UTI - Parte 3
Depois de treze dias em coma na UTI do Hospital São Lucas da PUCRS, eu havia acordado, num sábado de manhã. Entre a hora da visita da tarde de sábado e domingo, quando recebi alta para o quarto, não posso precisar bem o que aconteceu. Lembro de tentar tomar água (ou suco) de um copo e virar tudo sobre mim.
Saí da UTI no domingo à tarde, para um quarto do oitavo andar, e minha mãe ficou para passar a noite comigo. Tenho uma lembrança muito ruim da janta daquela noite: a dieta era pastosa, vários “creminhos” com cores diversas cuja única diferença era essa, a cor. Foi isso o que tornou a minha primeira noite fora da UTI uma tortura, para mim e para a mãe: FOME.
Depois de dormir mais de dez dias, eu tinha fome, muita fome. Como a janta tinha sido ‘pastosa’, passei toda a noite esperando o amanhecer e, com ele, o café. De tempos em tempos, eu acordava e perguntava: “Já está na hora do café?”. Minha mãe dizia que não e eu me queixava de fome. Mesmo sem autorização médica, me deu maçã para comer, na tentativa de aplacar o meu ímpeto por comida. Foi uma noite bem longa.
Quando finalmente amanheceu e trouxeram o café, foi uma visão do paraíso. No afã de comer logo, enquanto a mãe tentava preparar um pão com manteiga para eu comer, eu comia o que estava à disposição, inclusive a manteiga que ela tinha aberto para passar no pão. Junto com o café, chegou o colega de faculdade Maurício Rieger, trazendo um pedaço da torta de morango que comprara para a comemoração do seu aniversário: comi tudo, rapidamente.
Passado esse episódio inicial, fiquei mais tranqüilo. Foi quando começaram as visitas. Ao contrário de quando estava na UTI, onde só podia entrar uma pessoa por vez, o meu quarto virou uma grande festa. Além das pessoas que vinham de fora me visitar (eram muitas), os meus colegas de faculdade (não todos, óbvio) saíam das poucas aulas que estavam tendo (lembrem-se: a PUC estava em greve desde a tarde anterior ao acidente) e se reuniam no meu quarto. Tornava-se uma balbúrdia só, todos falando ao mesmo tempo, uma gritaria. Eu só olhava, sem dizer quase nada.
O que todos logo notaram foi que, além de falar pouco, eu também não ria. Bem estranho para quem estava acostumado comigo. Não sei explicar o por quê desse fenômeno. Talvez ainda meio sem saber bem o que tinha se passado, a magnitude da coisa, não sei. Não era falta de humor, isso eu sei. Lembro que, na primeira vez que o Márcio e o Radica – amigos desde o segundo grau e até hoje – foram me visitar depois que eu acordei, uma das primeiras coisas que disseram foi que tinham ficado sabendo que depois do acidente, eu ficaria “inútil” da cintura para baixo. Sem nenhum vacilo, respondi que as funções “da cintura para baixo” foram as primeiras que descobri que estavam em ordem. Mesmo assim, não ria muito nestes dias.
Comecei a rir bem depois quando já estava em casa, mas isso é motivo para outra crônica numa outra Sopa. Acabei ficando, depois de ter alta da UTI, mais doze dias no hospital por conta de uma febre que os médicos não sabiam localizar. Coletaram hemoculturas e fui submetido até a uma punção lombar, para coletar líquido cefalorraquidiano, na suspeita até de meningite. Mas era apenas uma amigdalite. Tive alta do hospital no dia seis de setembro de mil novecentos e noventa, véspera do feriado da independência.
Saí da UTI no domingo à tarde, para um quarto do oitavo andar, e minha mãe ficou para passar a noite comigo. Tenho uma lembrança muito ruim da janta daquela noite: a dieta era pastosa, vários “creminhos” com cores diversas cuja única diferença era essa, a cor. Foi isso o que tornou a minha primeira noite fora da UTI uma tortura, para mim e para a mãe: FOME.
Depois de dormir mais de dez dias, eu tinha fome, muita fome. Como a janta tinha sido ‘pastosa’, passei toda a noite esperando o amanhecer e, com ele, o café. De tempos em tempos, eu acordava e perguntava: “Já está na hora do café?”. Minha mãe dizia que não e eu me queixava de fome. Mesmo sem autorização médica, me deu maçã para comer, na tentativa de aplacar o meu ímpeto por comida. Foi uma noite bem longa.
Quando finalmente amanheceu e trouxeram o café, foi uma visão do paraíso. No afã de comer logo, enquanto a mãe tentava preparar um pão com manteiga para eu comer, eu comia o que estava à disposição, inclusive a manteiga que ela tinha aberto para passar no pão. Junto com o café, chegou o colega de faculdade Maurício Rieger, trazendo um pedaço da torta de morango que comprara para a comemoração do seu aniversário: comi tudo, rapidamente.
Passado esse episódio inicial, fiquei mais tranqüilo. Foi quando começaram as visitas. Ao contrário de quando estava na UTI, onde só podia entrar uma pessoa por vez, o meu quarto virou uma grande festa. Além das pessoas que vinham de fora me visitar (eram muitas), os meus colegas de faculdade (não todos, óbvio) saíam das poucas aulas que estavam tendo (lembrem-se: a PUC estava em greve desde a tarde anterior ao acidente) e se reuniam no meu quarto. Tornava-se uma balbúrdia só, todos falando ao mesmo tempo, uma gritaria. Eu só olhava, sem dizer quase nada.
O que todos logo notaram foi que, além de falar pouco, eu também não ria. Bem estranho para quem estava acostumado comigo. Não sei explicar o por quê desse fenômeno. Talvez ainda meio sem saber bem o que tinha se passado, a magnitude da coisa, não sei. Não era falta de humor, isso eu sei. Lembro que, na primeira vez que o Márcio e o Radica – amigos desde o segundo grau e até hoje – foram me visitar depois que eu acordei, uma das primeiras coisas que disseram foi que tinham ficado sabendo que depois do acidente, eu ficaria “inútil” da cintura para baixo. Sem nenhum vacilo, respondi que as funções “da cintura para baixo” foram as primeiras que descobri que estavam em ordem. Mesmo assim, não ria muito nestes dias.
Comecei a rir bem depois quando já estava em casa, mas isso é motivo para outra crônica numa outra Sopa. Acabei ficando, depois de ter alta da UTI, mais doze dias no hospital por conta de uma febre que os médicos não sabiam localizar. Coletaram hemoculturas e fui submetido até a uma punção lombar, para coletar líquido cefalorraquidiano, na suspeita até de meningite. Mas era apenas uma amigdalite. Tive alta do hospital no dia seis de setembro de mil novecentos e noventa, véspera do feriado da independência.
sexta-feira, novembro 26, 2004
Crônicas de UTI - Parte 2
Recordando: na madrugada de 12 de agosto de 1990, após uma noite de festa com amigos, eu vinha de carona com um colega de faculdade e acho que nós dois pegamos no sono. Como ele estava dirigindo, as conseqüências foram ruins. Batemos com o carro em outro que estava estacionado, bem do meu lado. Resultado, traumatismo craniano em mim e treze dias em coma na UTI do hospital da PUC. Agora, em frente.
Desde que entrei na faculdade de medicina, e tive contato com o ambiente hospitalar, um das situações que mais me causava mal estar era assistir às enfermeiras passarem sondas nos pacientes. A pior delas, na minha curta experiência de estudante que acompanhava as aulas práticas de cuidados gerais com pacientes, era a sonda nasogástrica, que entrava pelo nariz e ia até o estômago. Tinha uma variante, mais fina, que ia até logo após o estômago, no duodeno, que servia para alimentar os pacientes.
Por isso, logo após acordar e me inteirar de onde eu estava (sim, era um hospital e, não, não era o Ernesto Dornelles) e ainda sem saber bem o que tinha acontecido, veio a primeira boa notícia: eu estava em uma UTI e não tinha nenhuma sonda em mim. Eu respirava com tranqüilidade, urinava em um recipiente chamado de ‘papagaio’ e – apesar de ficar com os pés para fora da cama – parecia inteiro. Internado na UTI do Hospital da PUC, o que teria acontecido? A única sensação que eu tinha era a de ter dormido muito, ainda sem saber que o muito significam 13 dias inteiros, do dia 12 ao dia 25 de agosto de 1990. Esperava um café na cama ou algo assim. Aliás, onde estava a minha mãe?
Ao acordar daquilo que – ficaria sabendo mais tarde – havia sido um período de treze dias em coma, as primeiras pessoas que eu vi era conhecidas: Alexandre Magno e Luciano Ery, colegas da faculdade de medicina. Estavam em um sábado de manhã no hospital, em um estágio na traumatologia, e resolveram ir dar uma “olhada” no colega na UTI. Por coincidência, me viram acordar. Acho que isso deveria ser por voltas das 10h30min da manhã, e ainda tive de esperar até à 13h para o horário da visita. Estava bem sonolento ainda, lembro de pouca coisa dessas 2h30 até começarem a entrar pessoas para me ver acordado, novamente. Não sabia, mas havia uma vigília na sala de espera da UTI, no terceiro andar do Hospital São Lucas, que tinha iniciado no dia do acidente e tinha sido permanente nestes longos (principalmente para quem não estava dormindo, como eu) dias em que se perguntavam se eu iria acordar e, se acordasse, como eu estaria. Mas isso é história para outra crônica. Voltemos ao sábado, 25 de agosto de 1990, logo após sair do coma.
A hora da visita foi uma festa, até porque o Luciano e o Magno já haviam contado a todos que eu acordara. Na meia hora regulamentar do horário de visitas, entraram para me ver talvez uma dezena de pessoas conhecidas, entre os meus pais, irmão, tios, e amigos. Como tinham pouco tempo, falavam pouco e rápido e tinham que sair para o próximo poder entrar. Todos sorridentes e felizes de me verem novamente acordado.
Eu estava de volta ao jogo, mas a recuperação de verdade recém iria iniciar.
Desde que entrei na faculdade de medicina, e tive contato com o ambiente hospitalar, um das situações que mais me causava mal estar era assistir às enfermeiras passarem sondas nos pacientes. A pior delas, na minha curta experiência de estudante que acompanhava as aulas práticas de cuidados gerais com pacientes, era a sonda nasogástrica, que entrava pelo nariz e ia até o estômago. Tinha uma variante, mais fina, que ia até logo após o estômago, no duodeno, que servia para alimentar os pacientes.
Por isso, logo após acordar e me inteirar de onde eu estava (sim, era um hospital e, não, não era o Ernesto Dornelles) e ainda sem saber bem o que tinha acontecido, veio a primeira boa notícia: eu estava em uma UTI e não tinha nenhuma sonda em mim. Eu respirava com tranqüilidade, urinava em um recipiente chamado de ‘papagaio’ e – apesar de ficar com os pés para fora da cama – parecia inteiro. Internado na UTI do Hospital da PUC, o que teria acontecido? A única sensação que eu tinha era a de ter dormido muito, ainda sem saber que o muito significam 13 dias inteiros, do dia 12 ao dia 25 de agosto de 1990. Esperava um café na cama ou algo assim. Aliás, onde estava a minha mãe?
Ao acordar daquilo que – ficaria sabendo mais tarde – havia sido um período de treze dias em coma, as primeiras pessoas que eu vi era conhecidas: Alexandre Magno e Luciano Ery, colegas da faculdade de medicina. Estavam em um sábado de manhã no hospital, em um estágio na traumatologia, e resolveram ir dar uma “olhada” no colega na UTI. Por coincidência, me viram acordar. Acho que isso deveria ser por voltas das 10h30min da manhã, e ainda tive de esperar até à 13h para o horário da visita. Estava bem sonolento ainda, lembro de pouca coisa dessas 2h30 até começarem a entrar pessoas para me ver acordado, novamente. Não sabia, mas havia uma vigília na sala de espera da UTI, no terceiro andar do Hospital São Lucas, que tinha iniciado no dia do acidente e tinha sido permanente nestes longos (principalmente para quem não estava dormindo, como eu) dias em que se perguntavam se eu iria acordar e, se acordasse, como eu estaria. Mas isso é história para outra crônica. Voltemos ao sábado, 25 de agosto de 1990, logo após sair do coma.
A hora da visita foi uma festa, até porque o Luciano e o Magno já haviam contado a todos que eu acordara. Na meia hora regulamentar do horário de visitas, entraram para me ver talvez uma dezena de pessoas conhecidas, entre os meus pais, irmão, tios, e amigos. Como tinham pouco tempo, falavam pouco e rápido e tinham que sair para o próximo poder entrar. Todos sorridentes e felizes de me verem novamente acordado.
Eu estava de volta ao jogo, mas a recuperação de verdade recém iria iniciar.
quinta-feira, novembro 25, 2004
Crônicas de UTI – Parte I
Em 1990, o dia 12 de agosto caiu num domingo, dia dos pais. Pena que meu pai não tem lembranças agradáveis daquele dia dos pais, quando foi acordado por volta das seis horas da manhã com o telefone tocando e a notícia de que seu filho mais velho – eu – com dezoito anos, estava internado no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre vítima de um acidente automobilístico. Um péssimo dia dos pais aquele 12 de agosto de 1990.
Tudo começara na noite anterior, quando eu tinha saído de casa para fazer festa com uma turma. O meu colega de faculdade que tinha carro à disposição me pegara em casa e fôramos em direção ao bairro Moinhos de Vento onde haveria a festa em questão. Paralelamente a isso, eu sabia que uma parte da minha turma da praia estaria nesta mesma festa e havíamos combinado de sair todos juntos. Chegando ao local, por alguma razão que o tempo já tornou um mistério, decidimos – todos – ir a um bar na Av Vinte e Quatro de Outubro, de nome “Bat-Bat”.
Lá chegando, houve um mal-entendido e acabamos – eu, o colega que havia me dado carona e uma colega (e ex-namorada minha) – ficando em mesas separadas, eu junto com a minha turma da praia e os dois sozinhos. Achei estranho eles dois não sentarem junto comigo e o resto do pessoal conhecido, mas como era festa, deixei para lá. Algumas vezes fiz sinal para que eles dois se juntassem a nós, mas preferiram não fazê-lo. Isso durou toda a noite, até a hora de ir embora.
Como eu estava de carona com este meu colega, certamente que eu iria voltar para casa com ele, e também a colega e ex-namorada e dois dos meus companheiros da turma da praia, conforme previamente combinado. Quando fomos sair, notei que o colega dono do carro havia bebido um pouco além do recomendado, e me ofereci para ir dirigindo, proposta recusada pelo dono do carro. Parênteses. Eu também havia bebido, claro, mas infinitamente menos que ele, pois eu não tinha o hábito de beber muito, com exceção de alguns carnavais do bloco Perversa, mas isso é história para outro dia. Fecha parênteses. Nosso roteiro de volta para a zona sul e deixando os caroneiros em casa iniciava pela zona norte, lá perto do estádio do São José, próximo à Av Assis Brasil e ao viaduto Obirici, onde morava a nossa colega (e minha ex-namorada). Depois, parava na Av Schiller, paralela à Goethe e, antes de seguir para a zona sul (Cristal e Ipanema) parava nos altos da Casemiro de Abreu.
Logo na primeira parte, notamos que o motorista estava com sua percepção alterada pelo álcool, e quando paramos para largar a primeira passageira, decidi que eu iria dirigir de qualquer jeito. Ele desceu do carro para acompanhá-la até em casa e eu assumi o volante. Ele havia levado a chave e disse que ele é quem dirigiria. Então eu resolvi que iria de ônibus. Detalhe: 5h15 da madrugada, Av Assis Brasil tendo que ir até o Cristal (atravessar Porto Alegre de norte a sul) de ônibus ou a pé. Saí caminhando pela rua em direção a um ponto de ônibus.
Ele veio atrás de carro e se comprometeu a dirigir com cuidado. Aceitei a proposta e seguimos. Largamos o segundo e fomos até a frente da casa do último antes de ir para o Cristal: o Rafael Bender, parceiro de muitos anos até hoje. Quando ele desceu do carro, deu a dica: colocar o cinto de segurança. Acho que fiz isso, não lembro bem. O que aconteceu depois, me contaram: na Av Ipiranga, quase na esquina com a Múcio Teixeira, provavelmente após pegarmos no sono, ele bateu com o carro num outro estacionado, no lado direito da rua, e justamente no lado em que eu estava dormindo, tranqüilo.
Retirado das ferragens pelos bombeiros, traumatismo crânio-encefálico, coma Glasgow 4 (bem ruim). Internação no HPS com posterior transferência para o Hospital São Lucas da PUCRS, onde eu estudava medicina e trabalhava até vir para o Canadá. Treze dias em coma e quatorze na UTI. No quarto, após sair da UTI, fiquei mais dez dias, com febre e uma maldita amigdalite. Não perdi o semestre na faculdade porque – providencialmente – naquele mesmo sábado, véspera do dia dos pais, os professores da PUCRS tinham entrado em greve, que durou até bem depois de eu voltar a assistir aula, cambaleante e sem firmeza ao andar.
Não lembro muita coisa daqueles dias do coma, apenas a sensação, quando acordei, de que havia dormido mais do que deveria. O engraçado é que eu sabia que estava num hospital, achava que era o Ernesto Dornelles, outro hospital de Porto Alegre, e tinha a impressão de que estava num quarto com uma grande janela de vidro que dava para um campo com uma colina ao fundo, um grande gramado verde e dias de sol intenso. Não tive vontade de caminhar por este campo nem seguir em direção à luz nenhuma. Acordei com uma vontade enorme de ver minha mãe.
Em 12 de agosto de 1990, morri. Mas como acho que não era minha hora, voltei. Colocar a cabeça em ordem depois disso não foi fácil, levou tempo, mas tudo terminou bem.
Tudo começara na noite anterior, quando eu tinha saído de casa para fazer festa com uma turma. O meu colega de faculdade que tinha carro à disposição me pegara em casa e fôramos em direção ao bairro Moinhos de Vento onde haveria a festa em questão. Paralelamente a isso, eu sabia que uma parte da minha turma da praia estaria nesta mesma festa e havíamos combinado de sair todos juntos. Chegando ao local, por alguma razão que o tempo já tornou um mistério, decidimos – todos – ir a um bar na Av Vinte e Quatro de Outubro, de nome “Bat-Bat”.
Lá chegando, houve um mal-entendido e acabamos – eu, o colega que havia me dado carona e uma colega (e ex-namorada minha) – ficando em mesas separadas, eu junto com a minha turma da praia e os dois sozinhos. Achei estranho eles dois não sentarem junto comigo e o resto do pessoal conhecido, mas como era festa, deixei para lá. Algumas vezes fiz sinal para que eles dois se juntassem a nós, mas preferiram não fazê-lo. Isso durou toda a noite, até a hora de ir embora.
Como eu estava de carona com este meu colega, certamente que eu iria voltar para casa com ele, e também a colega e ex-namorada e dois dos meus companheiros da turma da praia, conforme previamente combinado. Quando fomos sair, notei que o colega dono do carro havia bebido um pouco além do recomendado, e me ofereci para ir dirigindo, proposta recusada pelo dono do carro. Parênteses. Eu também havia bebido, claro, mas infinitamente menos que ele, pois eu não tinha o hábito de beber muito, com exceção de alguns carnavais do bloco Perversa, mas isso é história para outro dia. Fecha parênteses. Nosso roteiro de volta para a zona sul e deixando os caroneiros em casa iniciava pela zona norte, lá perto do estádio do São José, próximo à Av Assis Brasil e ao viaduto Obirici, onde morava a nossa colega (e minha ex-namorada). Depois, parava na Av Schiller, paralela à Goethe e, antes de seguir para a zona sul (Cristal e Ipanema) parava nos altos da Casemiro de Abreu.
Logo na primeira parte, notamos que o motorista estava com sua percepção alterada pelo álcool, e quando paramos para largar a primeira passageira, decidi que eu iria dirigir de qualquer jeito. Ele desceu do carro para acompanhá-la até em casa e eu assumi o volante. Ele havia levado a chave e disse que ele é quem dirigiria. Então eu resolvi que iria de ônibus. Detalhe: 5h15 da madrugada, Av Assis Brasil tendo que ir até o Cristal (atravessar Porto Alegre de norte a sul) de ônibus ou a pé. Saí caminhando pela rua em direção a um ponto de ônibus.
Ele veio atrás de carro e se comprometeu a dirigir com cuidado. Aceitei a proposta e seguimos. Largamos o segundo e fomos até a frente da casa do último antes de ir para o Cristal: o Rafael Bender, parceiro de muitos anos até hoje. Quando ele desceu do carro, deu a dica: colocar o cinto de segurança. Acho que fiz isso, não lembro bem. O que aconteceu depois, me contaram: na Av Ipiranga, quase na esquina com a Múcio Teixeira, provavelmente após pegarmos no sono, ele bateu com o carro num outro estacionado, no lado direito da rua, e justamente no lado em que eu estava dormindo, tranqüilo.
Retirado das ferragens pelos bombeiros, traumatismo crânio-encefálico, coma Glasgow 4 (bem ruim). Internação no HPS com posterior transferência para o Hospital São Lucas da PUCRS, onde eu estudava medicina e trabalhava até vir para o Canadá. Treze dias em coma e quatorze na UTI. No quarto, após sair da UTI, fiquei mais dez dias, com febre e uma maldita amigdalite. Não perdi o semestre na faculdade porque – providencialmente – naquele mesmo sábado, véspera do dia dos pais, os professores da PUCRS tinham entrado em greve, que durou até bem depois de eu voltar a assistir aula, cambaleante e sem firmeza ao andar.
Não lembro muita coisa daqueles dias do coma, apenas a sensação, quando acordei, de que havia dormido mais do que deveria. O engraçado é que eu sabia que estava num hospital, achava que era o Ernesto Dornelles, outro hospital de Porto Alegre, e tinha a impressão de que estava num quarto com uma grande janela de vidro que dava para um campo com uma colina ao fundo, um grande gramado verde e dias de sol intenso. Não tive vontade de caminhar por este campo nem seguir em direção à luz nenhuma. Acordei com uma vontade enorme de ver minha mãe.
Em 12 de agosto de 1990, morri. Mas como acho que não era minha hora, voltei. Colocar a cabeça em ordem depois disso não foi fácil, levou tempo, mas tudo terminou bem.
quarta-feira, novembro 24, 2004
O Início
A Sopa nasceu muito antes de vir para o Exílio.
Foi no dia 30 de julho do ano 2001, logo após a realização da 5ª Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo. Até hoje, ela é enviada por e-mail aos assinantes (quem quiser receber, é só solicitar) além de, desde junho, também aqui no blog. Além dos meus textos, regularmente publico textos de colaboradores. Abaixo, reproduzo a primeira edição:
"Hoje é segunda-feira, no sábado foi a 5ª Sopa e você deve estar se perguntando se eu não tenho mais o que fazer do que ficar brincando de escrever um jornalzinho na internet. Talvez não tenha, ou considere esta uma das coisas que DEVO fazer. O importante é que a idéia é transformar o antes denominado "SopaNews" neste A Sopa, um semanário eletrônico que servirá para atualizar as pessoas sobre a Banda da Sopa, e também sobre os Perdidos na Espace.
Falando um pouco da 5ª Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, que se realizou sábado, dia 28/07, no Veleiros do Sul. É possível dizer que deu tudo certo: a preparação, a sopa em si, e o show da Banda. Novamente, e como sempre, não teria conseguido fazer tudo sem a ajuda fundamental da Jacque, grande parceira e co-autora do evento, apesar de o seu nome não constar nos créditos. Agradeço sua colaboração publicamente neste espaço que não é tão público quanto eu gostaria...
Em termos de público presente, foi o maior evento desde a sua criação, em 1996, quando oito pessoas serviram de cobaia para a primeira vez que eu fazia uma sopa de ervilhas. Contabilizamos, sem contar as crianças abaixo de cinco anos, 44 pessoas, o público por mim esperado, apesar de terem sido convidadas mais de 80 pessoas. Esta diferença entre os convidados (com antecipação e confirmação de cerca de 60 pessoas) e os presentes leva a uma pergunta: é o frio, o sábado de noite, o desconhecimento do evento, outros compromissos ou a pouca consideração pelo anfitrião o motivo das faltas? Talvez um pouco de tudo, talvez existam outras razões, não importa nem um pouco. O que importa são aqueles que saíram de casa num sábado à noite de muito frio para sentarem em torno de uma mesa entre amigos, conversar, rir e se esquentar com uma sopa quente.
Porque a Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo é para ser isso: uma grande confraternização de amigos que, se por alguma razão não se encontram mais vezes, pelo menos na Sopa se reúnem. E se alguém precisa tomar a iniciativa de fazer esta reunião, ótimo que seja eu. A satisfação de ver todos reunidos na Sopa compensa todo o desgaste físico da sua preparação, que começa meses antes e incluiu a definição do lugar, número de convidados, ensaios da Banda, convites, confirmações, compra dos ingredientes e bebidas e a preparação. A preparação da sopa em si começa na véspera, cozinhando as carnes, picando salsinha e os ovos e, no dia, quando chegamos lá 6 horas antes dos primeiros convidados para terminar de fazer a sopa, arrumar as mesas, montar a estrutura do show e passar o som.
Pode ter sido esta a última, e sempre é assim, porque esta é outra das marcas da Sopa: o importante é a de hoje, sei lá se vai haver de novo no próximo ano. Se não houver, o que ficará será a ótima impressão que esta deixou. Por isso que a cada ano está melhor, maior e mais divertida.
E devemos tudo isso aos amigos, que são o que há de mais importante no mundo, junto com a tradição, a família e a propriedade :-)
Valeu mesmo e quem sabe ano que vem tem de novo."
Foi no dia 30 de julho do ano 2001, logo após a realização da 5ª Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo. Até hoje, ela é enviada por e-mail aos assinantes (quem quiser receber, é só solicitar) além de, desde junho, também aqui no blog. Além dos meus textos, regularmente publico textos de colaboradores. Abaixo, reproduzo a primeira edição:
"Hoje é segunda-feira, no sábado foi a 5ª Sopa e você deve estar se perguntando se eu não tenho mais o que fazer do que ficar brincando de escrever um jornalzinho na internet. Talvez não tenha, ou considere esta uma das coisas que DEVO fazer. O importante é que a idéia é transformar o antes denominado "SopaNews" neste A Sopa, um semanário eletrônico que servirá para atualizar as pessoas sobre a Banda da Sopa, e também sobre os Perdidos na Espace.
Falando um pouco da 5ª Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, que se realizou sábado, dia 28/07, no Veleiros do Sul. É possível dizer que deu tudo certo: a preparação, a sopa em si, e o show da Banda. Novamente, e como sempre, não teria conseguido fazer tudo sem a ajuda fundamental da Jacque, grande parceira e co-autora do evento, apesar de o seu nome não constar nos créditos. Agradeço sua colaboração publicamente neste espaço que não é tão público quanto eu gostaria...
Em termos de público presente, foi o maior evento desde a sua criação, em 1996, quando oito pessoas serviram de cobaia para a primeira vez que eu fazia uma sopa de ervilhas. Contabilizamos, sem contar as crianças abaixo de cinco anos, 44 pessoas, o público por mim esperado, apesar de terem sido convidadas mais de 80 pessoas. Esta diferença entre os convidados (com antecipação e confirmação de cerca de 60 pessoas) e os presentes leva a uma pergunta: é o frio, o sábado de noite, o desconhecimento do evento, outros compromissos ou a pouca consideração pelo anfitrião o motivo das faltas? Talvez um pouco de tudo, talvez existam outras razões, não importa nem um pouco. O que importa são aqueles que saíram de casa num sábado à noite de muito frio para sentarem em torno de uma mesa entre amigos, conversar, rir e se esquentar com uma sopa quente.
Porque a Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo é para ser isso: uma grande confraternização de amigos que, se por alguma razão não se encontram mais vezes, pelo menos na Sopa se reúnem. E se alguém precisa tomar a iniciativa de fazer esta reunião, ótimo que seja eu. A satisfação de ver todos reunidos na Sopa compensa todo o desgaste físico da sua preparação, que começa meses antes e incluiu a definição do lugar, número de convidados, ensaios da Banda, convites, confirmações, compra dos ingredientes e bebidas e a preparação. A preparação da sopa em si começa na véspera, cozinhando as carnes, picando salsinha e os ovos e, no dia, quando chegamos lá 6 horas antes dos primeiros convidados para terminar de fazer a sopa, arrumar as mesas, montar a estrutura do show e passar o som.
Pode ter sido esta a última, e sempre é assim, porque esta é outra das marcas da Sopa: o importante é a de hoje, sei lá se vai haver de novo no próximo ano. Se não houver, o que ficará será a ótima impressão que esta deixou. Por isso que a cada ano está melhor, maior e mais divertida.
E devemos tudo isso aos amigos, que são o que há de mais importante no mundo, junto com a tradição, a família e a propriedade :-)
Valeu mesmo e quem sabe ano que vem tem de novo."
terça-feira, novembro 23, 2004
Basta estar vivo…
Eu sempre tive vontade de passar férias num resort. Ou num cruzeiro.
O que todos diziam era que, para aproveitar melhor a estada num resort, deveria ir com uma turma, e cruzeiro era coisa “de velho”. Tudo bem, cruzeiro ficaria para outra vez, mas ainda sim queria ir a um resort.
A oportunidade surgiu em fevereiro de 2004. Nem íamos – a Jacque e eu – tirar férias, afinal estivéramos na Europa em outubro de 2003, mas o convite partiu de nossos mais antigos parceiros de viagem: o Paulo e a Karina. Os dois, junto com a Beta (nossa afilhada) e o Bibi (nosso sobrinho), iam tirar duas semanas de férias e iriam de carro para o litoral do Rio de Janeiro. Depois de intensas pesquisas e discussões a cerca de roteiro, nos convidaram, então, para nos encontrarmos com eles na sua segunda semana de férias em Mangaratiba, mais especificamente no Club Med Rio das Pedras, onde ficaríamos uma semana juntos lá. Como a Jacque tinha milhas Smiles, pagamos só pela estada de sete dias, tudo incluído. O único gasto que teríamos lá seria se quiséssemos consumir algo no bar entre as refeições.
O pacote era de domingo a domingo. Dessa forma, saímos de Porto Alegre num vôo bem cedo da manhã. Chegamos ao Rio de Janeiro com chuva, e imaginávamos que teríamos que esperar outros passageiros para o translado até o Club Med. Engano, tinha um carro nos esperando e só levou nós dois. Saindo do Rio, é mais cerca de uma hora e meia de carro até o Village (que é como eles chamam as várias unidades do Club Med espalhadas pelo mundo). Viagem tranqüila até lá.
Como chegamos cedo, por volta dez e meia – o check in era a partir das duas da tarde - ficamos um tempo na beira da piscina “matando tempo”, enquanto os nossos companheiros de viagem não chegavam. Ficamos ali observando o movimento, que era tipo um final de festa, afinal no domingo é que “trocam” os hóspedes, quando a maioria dos pacotes termina e novos começam.
A primeira pista de que seria uma grande semana foi quando fomos almoçar. Como estávamos fazendo um “early check in”, pagamos extra pelo almoço. Ao chegar no restaurante, quase não acreditamos. O ambiente era muito agradável, super-tropical, mesas grandes, para oito pessoas (para proporcionar integração entre os hóspedes). Mas o que chamava mais à atenção era a comida. Uma loucura! Várias ilhas com tipos diferentes de comidas, desde pizza até pratos super-elaborados, sobremesas maravilhosas, bebidas (refrigerantes, chope e vinhos). Uma grande tentação, e a associação direta: obesidade. Impossível não engordar muito com tanta comida boa junta. Engano, descobri depois.
Uma das marcas do Club Med, o seu diferencial, são os GOs (Gentis Organizadores). Os hóspedes são os GM (Gentis Membros). Quando compra-se um pacote para o resort Club Med, faz-se junto a inscrição no “clube” Med, daí a designação GM. Bom, os GOs são – digamos assim – os recreacionistas, e a sua função é fazer com que os GMs integrem-se e aproveitem ao máximo a sua estada ali, basicamente através do esporte. As crianças também têm os seus GOs e local específico para elas, o Mini-Club, e os pais podem deixá-las o dia todo no Mini-Club, só as encontrando na hora do banho e na hora de dormir, se quiserem. Férias duplas, para pais e filhos.
E o legal é entrar no espírito. As atividades – organizadas e coordenadas pelos GOs – duram o dia todo, desde tênis, vôlei de quadra e de praia, futebol, ginástica, aeróbica, vela, arco e flecha, esqui aquático, À noite, após a janta, sempre tem um show que acontece num auditório para onde vão todos os hóspedes. Depois do show, para quem quiser, ainda há a opção de ir para o nightclub. Os shows, com exceção de uma das noites, são sempre apresentados pelos GOs. E eles vão para o nightclub. E no outro dia estão cedo de pé para começarem as atividades do dia. Isso que eu nem falei dos “crazy signs”.
Evidentemente eu enlouqueci lá. Participei de todos os esportes que consegui, desde aula de tênis de manhã cedo, vôlei de praia no final da manhã, futebol de campo ou de salão de tarde, vôlei de quadra e, apesar da falta de ventos, vela num dos dias. Desde os meus dezoito anos não fazia tanta atividade física de forma tão intensa e contínua assim. Claro que uma hora ia acontecer alguma coisa. E aconteceu numa hora bem imprópria: fizeram uma competição de duatlon, natação no mar e corrida na areia. Na metade do trajeto de natação no mar (que nem era muito grande) tive cãibra nas duas pernas e não consegui ir adiante. Passei pela constrangedora situação de ser “rebocado” de volta à praia numa prancha de surfe…
Voltando ao Club Med, foi uma semana espetacular, mesmo que o tempo não tenha colaborado. Choveu em boa parte dos dias, mas isso não diminuia o ritmo de atividades nem um pouco. E tudo funcionava como se fosse uma Disneylândia. Além das atividades todas, ainda interagíamos com os GOs nos intervalos, eles almoçavam nas mesas dos hóspedes, contavam histórias. No final da semana (e é assim todos os finais de semana) a despedida sempre é triste, porque acaba parecendo uma grande família, hóspedes e GOs. Nos últimos dias, na hora das refeições, todos já são conhecidos, estamos em casa.
A vida de GO, por outro lado, não é feita só de flores. Eles passam longos períodos sem ver os familiares, só dentro do Village, os salários parecem que não são tão bons assim (claro que eles tem casa, comida e roupa lavada enquanto estão lá). Mas eles estão sempre de alto astral, com um sorriso no rosto. Nem todos são fixos. Alguns trabalham só na alta temporada, e nem sempre ficam sempre no mesmo Village. Quase todos que conhecemos lá já tinham passado por outros Villages, como o de Itaparica (o mais antigo do Brasil, com 25 anos) ou de Trancoso (o mais novo), além é claro dos do exterior.
A possibilidade de ascensão dentro da hierarquia dos GOs existe, e o grau mais alto é tornar-se Chefe de Villlage, que é quem o coordena o mesmo. Quando estávamos lá, o Chefe de Village era um marroquino, de nome Said. Grande figura! Super-simpático, conversava com os hóspedes, contava histórias. E sempre nos pagava caipirinhas, que eram o prêmio para aqueles que ganhavam os jogos que inventavam para aqueles períodos pós-almoço, do happy hour antes da janta. Bom, alguns meses depois que estivemos lá, ele foi promovido a chefe (ou corrdenador) dos dois Villages da Bahia: Itaparica e Trancoso.
Ontem fiquei sabendo que, na madrugada de sábado para domingo, houve um acidente com um táxi aéreo e no acidente morreu o “gerente dos hotéis Club Med da Ilha de Itaparica e Praia de Troncoso em Porto Seguro, Said Benaji, 33 anos”.
Ficamos bem chateados. Como disse o Paulo, “é meu, basta estar vivo…”.
Basta.
O que todos diziam era que, para aproveitar melhor a estada num resort, deveria ir com uma turma, e cruzeiro era coisa “de velho”. Tudo bem, cruzeiro ficaria para outra vez, mas ainda sim queria ir a um resort.
A oportunidade surgiu em fevereiro de 2004. Nem íamos – a Jacque e eu – tirar férias, afinal estivéramos na Europa em outubro de 2003, mas o convite partiu de nossos mais antigos parceiros de viagem: o Paulo e a Karina. Os dois, junto com a Beta (nossa afilhada) e o Bibi (nosso sobrinho), iam tirar duas semanas de férias e iriam de carro para o litoral do Rio de Janeiro. Depois de intensas pesquisas e discussões a cerca de roteiro, nos convidaram, então, para nos encontrarmos com eles na sua segunda semana de férias em Mangaratiba, mais especificamente no Club Med Rio das Pedras, onde ficaríamos uma semana juntos lá. Como a Jacque tinha milhas Smiles, pagamos só pela estada de sete dias, tudo incluído. O único gasto que teríamos lá seria se quiséssemos consumir algo no bar entre as refeições.
O pacote era de domingo a domingo. Dessa forma, saímos de Porto Alegre num vôo bem cedo da manhã. Chegamos ao Rio de Janeiro com chuva, e imaginávamos que teríamos que esperar outros passageiros para o translado até o Club Med. Engano, tinha um carro nos esperando e só levou nós dois. Saindo do Rio, é mais cerca de uma hora e meia de carro até o Village (que é como eles chamam as várias unidades do Club Med espalhadas pelo mundo). Viagem tranqüila até lá.
Como chegamos cedo, por volta dez e meia – o check in era a partir das duas da tarde - ficamos um tempo na beira da piscina “matando tempo”, enquanto os nossos companheiros de viagem não chegavam. Ficamos ali observando o movimento, que era tipo um final de festa, afinal no domingo é que “trocam” os hóspedes, quando a maioria dos pacotes termina e novos começam.
A primeira pista de que seria uma grande semana foi quando fomos almoçar. Como estávamos fazendo um “early check in”, pagamos extra pelo almoço. Ao chegar no restaurante, quase não acreditamos. O ambiente era muito agradável, super-tropical, mesas grandes, para oito pessoas (para proporcionar integração entre os hóspedes). Mas o que chamava mais à atenção era a comida. Uma loucura! Várias ilhas com tipos diferentes de comidas, desde pizza até pratos super-elaborados, sobremesas maravilhosas, bebidas (refrigerantes, chope e vinhos). Uma grande tentação, e a associação direta: obesidade. Impossível não engordar muito com tanta comida boa junta. Engano, descobri depois.
Uma das marcas do Club Med, o seu diferencial, são os GOs (Gentis Organizadores). Os hóspedes são os GM (Gentis Membros). Quando compra-se um pacote para o resort Club Med, faz-se junto a inscrição no “clube” Med, daí a designação GM. Bom, os GOs são – digamos assim – os recreacionistas, e a sua função é fazer com que os GMs integrem-se e aproveitem ao máximo a sua estada ali, basicamente através do esporte. As crianças também têm os seus GOs e local específico para elas, o Mini-Club, e os pais podem deixá-las o dia todo no Mini-Club, só as encontrando na hora do banho e na hora de dormir, se quiserem. Férias duplas, para pais e filhos.
E o legal é entrar no espírito. As atividades – organizadas e coordenadas pelos GOs – duram o dia todo, desde tênis, vôlei de quadra e de praia, futebol, ginástica, aeróbica, vela, arco e flecha, esqui aquático, À noite, após a janta, sempre tem um show que acontece num auditório para onde vão todos os hóspedes. Depois do show, para quem quiser, ainda há a opção de ir para o nightclub. Os shows, com exceção de uma das noites, são sempre apresentados pelos GOs. E eles vão para o nightclub. E no outro dia estão cedo de pé para começarem as atividades do dia. Isso que eu nem falei dos “crazy signs”.
Evidentemente eu enlouqueci lá. Participei de todos os esportes que consegui, desde aula de tênis de manhã cedo, vôlei de praia no final da manhã, futebol de campo ou de salão de tarde, vôlei de quadra e, apesar da falta de ventos, vela num dos dias. Desde os meus dezoito anos não fazia tanta atividade física de forma tão intensa e contínua assim. Claro que uma hora ia acontecer alguma coisa. E aconteceu numa hora bem imprópria: fizeram uma competição de duatlon, natação no mar e corrida na areia. Na metade do trajeto de natação no mar (que nem era muito grande) tive cãibra nas duas pernas e não consegui ir adiante. Passei pela constrangedora situação de ser “rebocado” de volta à praia numa prancha de surfe…
Voltando ao Club Med, foi uma semana espetacular, mesmo que o tempo não tenha colaborado. Choveu em boa parte dos dias, mas isso não diminuia o ritmo de atividades nem um pouco. E tudo funcionava como se fosse uma Disneylândia. Além das atividades todas, ainda interagíamos com os GOs nos intervalos, eles almoçavam nas mesas dos hóspedes, contavam histórias. No final da semana (e é assim todos os finais de semana) a despedida sempre é triste, porque acaba parecendo uma grande família, hóspedes e GOs. Nos últimos dias, na hora das refeições, todos já são conhecidos, estamos em casa.
A vida de GO, por outro lado, não é feita só de flores. Eles passam longos períodos sem ver os familiares, só dentro do Village, os salários parecem que não são tão bons assim (claro que eles tem casa, comida e roupa lavada enquanto estão lá). Mas eles estão sempre de alto astral, com um sorriso no rosto. Nem todos são fixos. Alguns trabalham só na alta temporada, e nem sempre ficam sempre no mesmo Village. Quase todos que conhecemos lá já tinham passado por outros Villages, como o de Itaparica (o mais antigo do Brasil, com 25 anos) ou de Trancoso (o mais novo), além é claro dos do exterior.
A possibilidade de ascensão dentro da hierarquia dos GOs existe, e o grau mais alto é tornar-se Chefe de Villlage, que é quem o coordena o mesmo. Quando estávamos lá, o Chefe de Village era um marroquino, de nome Said. Grande figura! Super-simpático, conversava com os hóspedes, contava histórias. E sempre nos pagava caipirinhas, que eram o prêmio para aqueles que ganhavam os jogos que inventavam para aqueles períodos pós-almoço, do happy hour antes da janta. Bom, alguns meses depois que estivemos lá, ele foi promovido a chefe (ou corrdenador) dos dois Villages da Bahia: Itaparica e Trancoso.
Ontem fiquei sabendo que, na madrugada de sábado para domingo, houve um acidente com um táxi aéreo e no acidente morreu o “gerente dos hotéis Club Med da Ilha de Itaparica e Praia de Troncoso em Porto Seguro, Said Benaji, 33 anos”.
Ficamos bem chateados. Como disse o Paulo, “é meu, basta estar vivo…”.
Basta.
segunda-feira, novembro 22, 2004
Histórias
A música é parte fundamental da minha vida.
Desde antes de termos a banda – ah, não vamos fazer show em Porto Alegre em dezembro, lamento – eu já respirava música. E durante um certo período, muitos anos atrás, o que escrevi foi diretamente influenciado pelo que eu estava ouvindo. Muitas vezes começava um texto citando a música que o havia inspirado. Principalmente em fases de desilusões amorosas, ou o que acreditávamos ser desilusões amorosas aos dezesseis anos…
Também as minhas paixões, inicialmente todas platônicas e depois nos primeiros passos no campo dos relacionamentos, tinham sua música, a famosa trilha sonora do nossos amores, mesmo que tenham sido etéreos e sumido assim como surgiram, do nada. Algumas histórias tiveram mais de uma música. E há quase dez anos só há uma história a que tenho (temos) acrescentado músicas e mais músicas.
Ainda hoje, contudo, quando escuto determinadas canções, lembro de histórias passadas. Pessoas, situações, lugares. E fico feliz, afinal a vida não é feita – e isso venho afirmando há tempos – de muito mais que isso, histórias para contar. Triste de quem não tem boas histórias para lembrar.
Também é por isso que escrevo, para registrar as histórias que ouvi e que vivi. Para não esquecer, para que elas não se percam nos labirintos da minha memória. Sou um contador de histórias (por isso falo muito, me extendo, conto detalhes, sou prolixo) e um escriba. Como escriba, contudo, consigo ser conciso, muitas vezes até demais para o meu gosto.
Mas eu falava da conexão entre as músicas e histórias, e as de amor, em especial. Tenho um projeto de voltar a escrever histórias com trilha sonora. Agora por exemplo, está tocando “Tanto Cara”, na voz de Guido Renzi:
TANTO CARA
(Marigliano / Mancinotti)
Cara
Ringrazio il cielo che mi ha datto te
Questa mia vita, ora è vita sai
Cercavo il sole, ora è qui con me
E nei tui occhi...
Grazie
Grazie di tutto quello che mi dai
La comprenzione il bene che mi vuoi
La tenerezza che io trovo in te
Mi fa gritare al mondo che sei
Cara...
Tanto cara è la mia bambina
Cerco...
Con un'altra mai la cambieri i
Ora...
Ora che non ti ero nulla
Solo...
Prego il Dio tenerti accanto me
Accanto me, accanto me, accanto me
Cara
Grazie di tutto quelo che mi dai
La comprenzione il bene che mi vuoi
La tenerezza che io trovo in te
Mi fa gritare al mondo che sei
Cara...
Tanto cara è la mia bambina
Cerco...
Bom, para essa música não vai ter história, porque ela não teria fim…
Não é, Jacque?
Desde antes de termos a banda – ah, não vamos fazer show em Porto Alegre em dezembro, lamento – eu já respirava música. E durante um certo período, muitos anos atrás, o que escrevi foi diretamente influenciado pelo que eu estava ouvindo. Muitas vezes começava um texto citando a música que o havia inspirado. Principalmente em fases de desilusões amorosas, ou o que acreditávamos ser desilusões amorosas aos dezesseis anos…
Também as minhas paixões, inicialmente todas platônicas e depois nos primeiros passos no campo dos relacionamentos, tinham sua música, a famosa trilha sonora do nossos amores, mesmo que tenham sido etéreos e sumido assim como surgiram, do nada. Algumas histórias tiveram mais de uma música. E há quase dez anos só há uma história a que tenho (temos) acrescentado músicas e mais músicas.
Ainda hoje, contudo, quando escuto determinadas canções, lembro de histórias passadas. Pessoas, situações, lugares. E fico feliz, afinal a vida não é feita – e isso venho afirmando há tempos – de muito mais que isso, histórias para contar. Triste de quem não tem boas histórias para lembrar.
Também é por isso que escrevo, para registrar as histórias que ouvi e que vivi. Para não esquecer, para que elas não se percam nos labirintos da minha memória. Sou um contador de histórias (por isso falo muito, me extendo, conto detalhes, sou prolixo) e um escriba. Como escriba, contudo, consigo ser conciso, muitas vezes até demais para o meu gosto.
Mas eu falava da conexão entre as músicas e histórias, e as de amor, em especial. Tenho um projeto de voltar a escrever histórias com trilha sonora. Agora por exemplo, está tocando “Tanto Cara”, na voz de Guido Renzi:
TANTO CARA
(Marigliano / Mancinotti)
Cara
Ringrazio il cielo che mi ha datto te
Questa mia vita, ora è vita sai
Cercavo il sole, ora è qui con me
E nei tui occhi...
Grazie
Grazie di tutto quello che mi dai
La comprenzione il bene che mi vuoi
La tenerezza che io trovo in te
Mi fa gritare al mondo che sei
Cara...
Tanto cara è la mia bambina
Cerco...
Con un'altra mai la cambieri i
Ora...
Ora che non ti ero nulla
Solo...
Prego il Dio tenerti accanto me
Accanto me, accanto me, accanto me
Cara
Grazie di tutto quelo che mi dai
La comprenzione il bene che mi vuoi
La tenerezza che io trovo in te
Mi fa gritare al mondo che sei
Cara...
Tanto cara è la mia bambina
Cerco...
Bom, para essa música não vai ter história, porque ela não teria fim…
Não é, Jacque?
domingo, novembro 21, 2004
A Sopa 04/18
Outras Dimensões.
Estava eu a surfar pela “blogosfera”, lendo blogs encontrados ao acaso, quando me deparei com a seguinte frase, em meio a um texto: “Perdeu-se no universo paralelo para onde vão as ex-paixões platônicas da puberdade”. Parei, pensei, e sorri. Boa frase, boa idéia.
Percebi que não se aplicava ao meu caso. Não de forma direta, ao menos. As grandes paixões platônicas da minha puberdade não se perderam em nenhuma outra dimensão. Tá, posso dizer que as duas principais (únicas?) paixões platônicas que eu tive, não se perderam. Uma foi desmistificada ainda enquanto éramos púberes, quando ela me disse que também havia gostado de mim na mesma época que eu gostara dela, e, depois de bater a cabeça na parede várias vezes por ter sido tão tímido de não falar o que sentia, fui obrigado a me conformar porque ela já não era o foco de meus sonhos juvenis (além, é claro, de ela estar namorando um carinha do segundo grau…).
Esse, por sinal, foi um dos grandes mistérios da minha juventude, que já vejo longe no retrovisor: por que nunca era a nossa hora? Vocês sabem do que estou falando, certo? Quando estávamos no primeiro grau, as meninas eram encantadas pelos do segundo. Quando chegamos ao segundo, o que elas queriam – de verdade – eram os que estavam na faculdade… Tudo bem, um dia ia chegar nossa hora…
Mas eu falava das minhas paixões platônicas, ou das duas que foram significativas. A outra foi a menina mais linda do mundo. Era o que eu achava na época, claro, e mesmo depois, após outras namoradas e casos, ela era a referência de máxima beleza. O tempo passou, e a referência ficou fraca e distante. Deixou de ser a referência. Ela virou uma mulher, e a menina ficou no passado. Hoje é minha amiga. Distante, mas amiga.
Claro, não foram só essas duas histórias. Tenho uma mão cheia de histórias para contar, como quando passei anos tentando retomar uma relação com uma mulher que não existia no plano real, e – claro – nunca consegui. Mas, no fundo, não é de paixões platônicas do passado que quero falar. É das ex-namoradas, que – estas sim – são mandadas para universos paralelos.
Sim, universos. Tenho certeza de que existe mais de um universo paralelo, para onde vão as ex-namoradas. É até uma questão de lógica: não consigo imaginar todas as minhas ex-namoradas reunidas num mesmo ambiente, tramando contra mim, destilando mágoas. Não sei, pode ser que esteja passando uma imagem ruim das minhas ex-namoradas para você, estimado leitor. Não é minha intenção, mas é inevitável que haja mágoa no final de qualquer relacionamento.
Por que relacionamentos de verdade, intensos, terminam mal. Algumas vezes com sangue, até. Pratos quebrados, choros. Palavras duras, cruéis, é o mínimo que se espera de um bom final de relação. Aquela coisa de “terminaram e continuaram amigos” é eufemismo para dizer “nunca se envolveram de verdade” ou “era tudo sexo e amizade”. Não venham com aquele papo de seres civilizados. Civilizados… aqui ó!
Paixão e civilização, apesar de rimarem, nunca estão juntas. São antípodas (é a segunda vez que uso “antípodas” num texto nos últimos dias, agora esgotei a cota). Quando nos apaixonamos, perdemos o senso e a razão. Somos ridículos, com muito orgulho ( e como bom é ser ridículo – eu sou até hoje, e feliz).
Até esqueci do que falava… ah, das ex-namoradas que vão para universos paralelos. Pois é, tenho certeza que sim. Pelo menos as minhas, as suas você manda para onde quiser. Nunca mais as encontro, mas se por ventura eu vejo uma delas em qualquer lugar que seja, um restaurante, por exemplo, sei que só pode ser um clone. A original está presa em alguma dimensão diferente.
Será que elas pensam o mesmo de mim? Será que, na verdade, eu vivo num universo paralelo? Será que a realidade é como eu vejo?
Matrix, matrix…
Estava eu a surfar pela “blogosfera”, lendo blogs encontrados ao acaso, quando me deparei com a seguinte frase, em meio a um texto: “Perdeu-se no universo paralelo para onde vão as ex-paixões platônicas da puberdade”. Parei, pensei, e sorri. Boa frase, boa idéia.
Percebi que não se aplicava ao meu caso. Não de forma direta, ao menos. As grandes paixões platônicas da minha puberdade não se perderam em nenhuma outra dimensão. Tá, posso dizer que as duas principais (únicas?) paixões platônicas que eu tive, não se perderam. Uma foi desmistificada ainda enquanto éramos púberes, quando ela me disse que também havia gostado de mim na mesma época que eu gostara dela, e, depois de bater a cabeça na parede várias vezes por ter sido tão tímido de não falar o que sentia, fui obrigado a me conformar porque ela já não era o foco de meus sonhos juvenis (além, é claro, de ela estar namorando um carinha do segundo grau…).
Esse, por sinal, foi um dos grandes mistérios da minha juventude, que já vejo longe no retrovisor: por que nunca era a nossa hora? Vocês sabem do que estou falando, certo? Quando estávamos no primeiro grau, as meninas eram encantadas pelos do segundo. Quando chegamos ao segundo, o que elas queriam – de verdade – eram os que estavam na faculdade… Tudo bem, um dia ia chegar nossa hora…
Mas eu falava das minhas paixões platônicas, ou das duas que foram significativas. A outra foi a menina mais linda do mundo. Era o que eu achava na época, claro, e mesmo depois, após outras namoradas e casos, ela era a referência de máxima beleza. O tempo passou, e a referência ficou fraca e distante. Deixou de ser a referência. Ela virou uma mulher, e a menina ficou no passado. Hoje é minha amiga. Distante, mas amiga.
Claro, não foram só essas duas histórias. Tenho uma mão cheia de histórias para contar, como quando passei anos tentando retomar uma relação com uma mulher que não existia no plano real, e – claro – nunca consegui. Mas, no fundo, não é de paixões platônicas do passado que quero falar. É das ex-namoradas, que – estas sim – são mandadas para universos paralelos.
Sim, universos. Tenho certeza de que existe mais de um universo paralelo, para onde vão as ex-namoradas. É até uma questão de lógica: não consigo imaginar todas as minhas ex-namoradas reunidas num mesmo ambiente, tramando contra mim, destilando mágoas. Não sei, pode ser que esteja passando uma imagem ruim das minhas ex-namoradas para você, estimado leitor. Não é minha intenção, mas é inevitável que haja mágoa no final de qualquer relacionamento.
Por que relacionamentos de verdade, intensos, terminam mal. Algumas vezes com sangue, até. Pratos quebrados, choros. Palavras duras, cruéis, é o mínimo que se espera de um bom final de relação. Aquela coisa de “terminaram e continuaram amigos” é eufemismo para dizer “nunca se envolveram de verdade” ou “era tudo sexo e amizade”. Não venham com aquele papo de seres civilizados. Civilizados… aqui ó!
Paixão e civilização, apesar de rimarem, nunca estão juntas. São antípodas (é a segunda vez que uso “antípodas” num texto nos últimos dias, agora esgotei a cota). Quando nos apaixonamos, perdemos o senso e a razão. Somos ridículos, com muito orgulho ( e como bom é ser ridículo – eu sou até hoje, e feliz).
Até esqueci do que falava… ah, das ex-namoradas que vão para universos paralelos. Pois é, tenho certeza que sim. Pelo menos as minhas, as suas você manda para onde quiser. Nunca mais as encontro, mas se por ventura eu vejo uma delas em qualquer lugar que seja, um restaurante, por exemplo, sei que só pode ser um clone. A original está presa em alguma dimensão diferente.
Será que elas pensam o mesmo de mim? Será que, na verdade, eu vivo num universo paralelo? Será que a realidade é como eu vejo?
Matrix, matrix…
sábado, novembro 20, 2004
Sábado (12)
Chove em Toronto. Dia adequado para as lides domésticas. Então, vamos à faxina…
Continuo esperando O Frio, aquele de que todos falam, que deve ser escrito assim, com maiúsculas e tudo. Quando comento que vou ao Brasil em duas (duas!!) semanas, à trabalho (uma meia verdade, mas não vem ao caso), me perguntam porque não fico lá até terminar o inverno aqui… brincadeira, claro.
Faz frio aqui, tanto quanto faz em Quebec e Montreal, mas parece que não neva tanto, o que é meio decepcionante, afinal eu vim para cá, no fundo, foi para pegar muita neve… Tinha pensado em ir para a Finlândia, mas o idioma ia atrapalhar um pouco…
De qualquer forma, me disseram que o local mais frio de todo o Canadá é a esquina da College St com a University Ave, onde "encana" o vento que vem do lago, bem ali, onde saio do metrô para chegar ao hospital e é o caminho que faço entre o hospital e o GAGE, que é um laboratório onde analisamos as amostras que coleto no nosso laboratório no Respiratory Research Lab. Pois é, eu coleto as amostras no hospital e vou caminhando até o GAGE, onde elas são analisadas. É bom, no meio ou final da manhã, dar uma caminhada na rua. Vamos ver quando chegar O Frio…
Outro dia conto a vocês no que exatamente estou trabalhando. Por agora quero comentar apenas que ontem tive o meu primeiro acidente no laboratório. Calma, não incendiei nada. Foi comigo mesmo, e uma agulha. Ia fazer uma coleta, me preparei, uma mão segurando a seringa e outra o objeto de minha coleta. Introduzi a agulha, que transfixou o objeto de coleta e entrou fundo no polegar da minha mão esquerda. Sem demonstrar o menor sinal de dor, retirei a agulha que estava inserida fundo no meu dedo e, instintivamente, levei o dedo à boca, porque sangrava. Nesse momento me dei conta do que estava fazendo.
Várias coisa passaram pela minha cabeça numa fração de segundos, AIDS, hepatite B, outras infecções. Mas só por um instante, porque depois me dei conta que estava sozinho usando material estéril (que não pode ter filhos…) para coletar soro fisiológico para preparar uma nebulização. Sem stress…
Agora, depois da faxina, hora de encarar um chuvinha, almoçar e passar no supermercado.
Até.
Continuo esperando O Frio, aquele de que todos falam, que deve ser escrito assim, com maiúsculas e tudo. Quando comento que vou ao Brasil em duas (duas!!) semanas, à trabalho (uma meia verdade, mas não vem ao caso), me perguntam porque não fico lá até terminar o inverno aqui… brincadeira, claro.
Faz frio aqui, tanto quanto faz em Quebec e Montreal, mas parece que não neva tanto, o que é meio decepcionante, afinal eu vim para cá, no fundo, foi para pegar muita neve… Tinha pensado em ir para a Finlândia, mas o idioma ia atrapalhar um pouco…
De qualquer forma, me disseram que o local mais frio de todo o Canadá é a esquina da College St com a University Ave, onde "encana" o vento que vem do lago, bem ali, onde saio do metrô para chegar ao hospital e é o caminho que faço entre o hospital e o GAGE, que é um laboratório onde analisamos as amostras que coleto no nosso laboratório no Respiratory Research Lab. Pois é, eu coleto as amostras no hospital e vou caminhando até o GAGE, onde elas são analisadas. É bom, no meio ou final da manhã, dar uma caminhada na rua. Vamos ver quando chegar O Frio…
Outro dia conto a vocês no que exatamente estou trabalhando. Por agora quero comentar apenas que ontem tive o meu primeiro acidente no laboratório. Calma, não incendiei nada. Foi comigo mesmo, e uma agulha. Ia fazer uma coleta, me preparei, uma mão segurando a seringa e outra o objeto de minha coleta. Introduzi a agulha, que transfixou o objeto de coleta e entrou fundo no polegar da minha mão esquerda. Sem demonstrar o menor sinal de dor, retirei a agulha que estava inserida fundo no meu dedo e, instintivamente, levei o dedo à boca, porque sangrava. Nesse momento me dei conta do que estava fazendo.
Várias coisa passaram pela minha cabeça numa fração de segundos, AIDS, hepatite B, outras infecções. Mas só por um instante, porque depois me dei conta que estava sozinho usando material estéril (que não pode ter filhos…) para coletar soro fisiológico para preparar uma nebulização. Sem stress…
Agora, depois da faxina, hora de encarar um chuvinha, almoçar e passar no supermercado.
Até.
sexta-feira, novembro 19, 2004
O dia de hoje
Quase eu perco a data...
Hoje, 19 de novembro, é o Dia da Bandeira
Entre os hino brasileiros, o que acho mais bonito é justamente o da Bandeira, que reproduzo abaixo:
HINO DA BANDEIRA
Letra de Olavo Bilac
Música de Francisco Braga
I
Salve, lindo pendão da esperança,
Salve, símbolo augusto da paz !
Tua nobre presença lembrança
A grandeza da Pátria nos traz
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil !
II
Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul;
A verdura sem par destas matas
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil !
III
Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever;
E o Brasil por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil !
IV
Sobre a imensa Nação Brasileira,
Nos momento de festa ou de dor,
Paira sempre a sagrada Bandeira,
Pavilhão da justiça e do amor.
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil !
Hoje, 19 de novembro, é o Dia da Bandeira
Entre os hino brasileiros, o que acho mais bonito é justamente o da Bandeira, que reproduzo abaixo:
HINO DA BANDEIRA
Letra de Olavo Bilac
Música de Francisco Braga
I
Salve, lindo pendão da esperança,
Salve, símbolo augusto da paz !
Tua nobre presença lembrança
A grandeza da Pátria nos traz
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil !
II
Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul;
A verdura sem par destas matas
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil !
III
Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever;
E o Brasil por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil !
IV
Sobre a imensa Nação Brasileira,
Nos momento de festa ou de dor,
Paira sempre a sagrada Bandeira,
Pavilhão da justiça e do amor.
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil !
Mudanças
Mesmo estando há pouco tempo morando fora do Brazil, já mudei. Por exemplo, a partir de agora, só escrevo Brazil com “z”, nunca mais com “s”. Porque assim, vocês sabem, aqui todos escrevem com zê, e não posso ser diferente. Outra coisa, já começo a ter dificuldades em lembrar certas, como é mesmo, ahn… ah, palavras, em português. É incrível as mudanças que se passam com a gente por morarmos fora de nosso país. Hoje, por exemplo, estava me olhando no espelho e juro que vi algumas escamas verdes…
Mas eu não falava de mudanças corporais, físicas. Certo, certo, estou mais magro, mas não é disso que quero falar. Quanto? Bem mais magro, não tinha falado para vocês? Não? Muito mais magro. Estou até preocupado com a minha magreza, acho que vou fazer alguns exames, agora que recebi minha carteirinha do plano de saúde. De qualquer forma, para estancar essa magreza toda fui no supermercado e comprei um pote de dois litros de sorvete de chocolate e um pote de Nutella, just in case.
Mas voltando às mudanças que se processam em mim desde que me mudei para o Canadá, devo dizer que elas são muito mais profundas. E olhe que nem todas ainda apareceram. Só para dar um idéia, decidi que a partir de agora, quando falar em português, só vou falar por metáforas. E todas as histórias que eu contar serão parábolas. E as frases sempre terminarão com proparoxítonas. Não é o máximo?
Mais! Quando alguém me perguntar alguma coisa, qualquer que seja, uma indicação de direção, uma rua, que ônibus pegar, as horas, antes de responder vou olhar para o céu, permanecer algum tempo em silêncio, suspirar profundamente com ar de desesperança, e sempre começar a resposta com”Isso me lembra uma tarde de outono em Paris…”, outro silêncio, suspirar novamente e dizer “Você não ia entender mesmo…mas passamos um pouco das quinze para as três…”.
Idéias, idéias.
Acho que tenho que aproveitar melhor meu tempo livre…
Mas eu não falava de mudanças corporais, físicas. Certo, certo, estou mais magro, mas não é disso que quero falar. Quanto? Bem mais magro, não tinha falado para vocês? Não? Muito mais magro. Estou até preocupado com a minha magreza, acho que vou fazer alguns exames, agora que recebi minha carteirinha do plano de saúde. De qualquer forma, para estancar essa magreza toda fui no supermercado e comprei um pote de dois litros de sorvete de chocolate e um pote de Nutella, just in case.
Mas voltando às mudanças que se processam em mim desde que me mudei para o Canadá, devo dizer que elas são muito mais profundas. E olhe que nem todas ainda apareceram. Só para dar um idéia, decidi que a partir de agora, quando falar em português, só vou falar por metáforas. E todas as histórias que eu contar serão parábolas. E as frases sempre terminarão com proparoxítonas. Não é o máximo?
Mais! Quando alguém me perguntar alguma coisa, qualquer que seja, uma indicação de direção, uma rua, que ônibus pegar, as horas, antes de responder vou olhar para o céu, permanecer algum tempo em silêncio, suspirar profundamente com ar de desesperança, e sempre começar a resposta com”Isso me lembra uma tarde de outono em Paris…”, outro silêncio, suspirar novamente e dizer “Você não ia entender mesmo…mas passamos um pouco das quinze para as três…”.
Idéias, idéias.
Acho que tenho que aproveitar melhor meu tempo livre…
quinta-feira, novembro 18, 2004
O Bonde
Gosto de andar de bonde.
Aqui eles chamam de ‘street car’, para diferenciar dos ônibus. Quando vou para um dos hospitais, tenho a opção de pegar o metrô, descer duas estações depois e pegar o bonde que vai me largar na frente do Toronto Western. Quando os dias estão bonitos – e tivemos vários assim na semana que passou – gosto de ir olhando a paisagem. As lojas, as casas estreitas de dois andares, passando pela bairro português, o café Bota Fogo, a casa de carnes Nosso Talho, e por assim vai.
Vinha eu, absorto em pensamentos paralelos e ouvindo música gauchesca no meu discman, olhando para fora, quando presenciei uma cena diferente.
Pela calçada, ia um daquelas máquinas de limpar a rua, que é um misto de aspirador de pó gigante com um carrinho de golfe, com o funcionário dirigindo-a e dando direção à grande “tromba” que sai do alto do carrinho e que aspira as folhas. Ao olhar, notei que a calçada estava vazia, sem pessoas, exceto por uma transeunte de traços orientais que corria à frente da máquina, atrasada por certo. Mas parecia que ela estava fugindo da máquina, que agora me parecia um monstro perseguindo-a.
“Enquanto isso, em Tóquio…” foi a primeira coisa que me veio à cabeça. De repente eu estava em um filme japonês e um monstro perseguia uma indefesa vítima. Olho para os outros passageiros: impassíveis, como se nada estivesse acontecendo. Viro e miro o céu, aguardando o surgimento do, sei lá, ultraman. Nada. Já imagino o seguimento do drama: a menina correndo, cai no chão, o monstro chega e com sua grande tromba a pega pelo pé, ela grita de horror e dor, alguém tenta ajudá-la, mas é em vão. Só resta, na calçada, sangue e o iPod que ela vinha escutando.
Nisso, chega o ponto em que devo descer. Por um instante, esqueço da tragédia que se desenrolava na rua. Desço e me dirijo até a esquina, onde vou atravessar a rua para chegar ao hospital. Aguardando abrir o sinal para os pedestres, de repente viro para o lado, e a máquina, o monstro, está chegando em mim. Por um instante, cogito levantar os braços e sair correndo e gritando por socorro.
O sinal abre. Atravesso a rua.
Começa mais um dia de trabalho.
Aqui eles chamam de ‘street car’, para diferenciar dos ônibus. Quando vou para um dos hospitais, tenho a opção de pegar o metrô, descer duas estações depois e pegar o bonde que vai me largar na frente do Toronto Western. Quando os dias estão bonitos – e tivemos vários assim na semana que passou – gosto de ir olhando a paisagem. As lojas, as casas estreitas de dois andares, passando pela bairro português, o café Bota Fogo, a casa de carnes Nosso Talho, e por assim vai.
Vinha eu, absorto em pensamentos paralelos e ouvindo música gauchesca no meu discman, olhando para fora, quando presenciei uma cena diferente.
Pela calçada, ia um daquelas máquinas de limpar a rua, que é um misto de aspirador de pó gigante com um carrinho de golfe, com o funcionário dirigindo-a e dando direção à grande “tromba” que sai do alto do carrinho e que aspira as folhas. Ao olhar, notei que a calçada estava vazia, sem pessoas, exceto por uma transeunte de traços orientais que corria à frente da máquina, atrasada por certo. Mas parecia que ela estava fugindo da máquina, que agora me parecia um monstro perseguindo-a.
“Enquanto isso, em Tóquio…” foi a primeira coisa que me veio à cabeça. De repente eu estava em um filme japonês e um monstro perseguia uma indefesa vítima. Olho para os outros passageiros: impassíveis, como se nada estivesse acontecendo. Viro e miro o céu, aguardando o surgimento do, sei lá, ultraman. Nada. Já imagino o seguimento do drama: a menina correndo, cai no chão, o monstro chega e com sua grande tromba a pega pelo pé, ela grita de horror e dor, alguém tenta ajudá-la, mas é em vão. Só resta, na calçada, sangue e o iPod que ela vinha escutando.
Nisso, chega o ponto em que devo descer. Por um instante, esqueço da tragédia que se desenrolava na rua. Desço e me dirijo até a esquina, onde vou atravessar a rua para chegar ao hospital. Aguardando abrir o sinal para os pedestres, de repente viro para o lado, e a máquina, o monstro, está chegando em mim. Por um instante, cogito levantar os braços e sair correndo e gritando por socorro.
O sinal abre. Atravesso a rua.
Começa mais um dia de trabalho.
Um e-mail
Enviei a um casal de amigos.
"Dou bom dia diariamente ao macaco falante (ele grita, na verdade), que está pendurado no lustre que tenho na sala aqui de casa. No início achei que ele fosse parecer enforcado naquela posição, mas não, ele fica apenas suspenso me observando enquanto estou em casa e cuidando da mesma quando não estou. Próximo a ele, na porta da cozinha, estão as bandeiras do Brasil e do Rio Grande do Sul, para lembrar das minha origens. Em cima da geladeira, o E.T., que ganhei momentos antes de ir para o aeroporto no agora distante 19 de agosto, presente das queridas amigas Denise e Cláudia, porque sempre que me davam tchau, diziam "bye martchelo", e eu lembrava que na Disney de Orlando o ET me deu tchau, de verdade...
A internet realmente revolucionou as comunicações, e apenas graças a ela é que tenho conseguido ficar tanto tempo longe da Jacque, apesar das saudades serem imensas. Nos falamos todos os dias via iChat, com a webcam. Há mais ou menos um mês, a Jacque fez uma janta lá em casa para o Magno e a Lúcia (uma linda história de amor que ainda vou contar em livro) e falamos os quatro, em tempo real. Em determinado momento, até parecia que eu estava junto, em Porto Alegre...
Apesar da saudades, já gosto daqui. E como poderia não gostar? Segundo a Jacque, até se eu estivesse morando em Gaza eu ia achar legal... Dizem que aqui é frio, mas ainda não vi nada disso. Um dia estava -4ºC, mas desde uma passagem pelos Alpes italianos num natal há uns anos, só considero frio mesmo quando baixa de -5ºC, e, por enquanto, nem previsão...
Vou pegar frio mesmo em janeiro, quando voltar para cá. Pois é, três meses de trabalho e já vou tirar férias... Dia 03 embarco para um longo vôo que vai parar em Miami para uma escala de três horas, depois um vôo noturno rumo ao sul até Guarulhos e - dia 04, 10h10 - piso em solo rio-grandense de novo. Pensei em descer do avião e beijar o solo, mas o aeroporto é novo e a saida do avião é por plataformas, e salas e esteiras e o primeiro chão de verdade que vou pisar vai ser - provavelmente - atravessando a a passarela para chegar no estacionamento do Salgado Filho. Então, desisti da idéia.
Mas não é bem férias a razão de ir para casa. Dia 16 defendo a minha tese de doutorado, finalmente, quase dez anos depois de me formar, no mais longínquo ainda ano de 94. Sobre isso, uma década de formados, ainda espero a definição da data da festa para celebrar o acontecimento. Grandes fotos aquelas nossas, principalmente aquela na beira da praia,em atlântida, antes da formatura. Dia 20, por fim, embarco novamente rumo ao hemisfério norte, mas para NY, em busca de um white Christmas com a família, Pai, Mãe, Jacque, Neni e Ane (a Nana, antes namorada e agora esposa).
Nesses 16 dias de Brasil, além da tese, vários compromissos, também sociais: festa de final de ano da sociedade de pneumologia, um casamento, um possível show da Banda da Sopa (o Magno chega em Porto Alegre de Ribeirão Preto no dia 12), churrascos, feijoadas, massas, encontros com amigos, quem sabe abbey road, enfim, muitos planos para talvez pouco tempo. Imagino que serão dias intensos, definitivamente não dias comedidos... Aqui come-se muito bem, também, mas refeições solitárias definitivamente não têm o mesmo sabor...
Pra não dizer que não falei de flores:
A derrota do PT era esperada (por mim, ao menos) e desejada (também por mim), ao menos em Porto Alegre. Nos outros lugares, não posso falar, a distância é relamente grande , e não me interessam muito mesmo. Mas estava na hora de "arejar" a administração de Porto Alegre, tirar o pó, varrer certos burocratas que haviam criado raizes e se achavam donos de Porto Alegre. Aliás, a arrogância de certos petistas que realmente acreditavam ser Porto Alegre o seu feudo foi o que determinou - em parte - a derrota nas eleiçôes. Pior ainda foi a arrogância dos que falavam como se Porto Alegre não existisse antes do PT, e que fosse deixar de ser uma cidade boa para se morar com a vitória do Fogaca (acho que eu teria votado nele). Não! Pior foi ouvir que o Fogaça tinha passado os seus anos no senado compondo "musiquinhas" sobre Porto Alegre. O baixo nível de argumentação, junto com as práticas medíocres da política em geral foi o que determinou o lançamento da Carta de Paris, redigida em um guardanapo, nos primeiros dias deste miliênio, num café na esquina dos bulevares St Michel e St Germain, na Rive Gauche, Paris, em que o Magno e eu, com a Jacque como testemunha, decidimos não participar ativamente da política, exceto como pensadores e teóricos...
Quanto às passagens para Toronto, nesta época estão mais caras, pela alta temporada. Se acharem muito frio, planejem para o começo de maio ou junho, final da primavera, onde os dias estão bem longos, há verde por tudo, e o passeio pelo país é muito bonito. Olhando minha agenda, evitem o período entre 20 e 25 de maio, por estarei fora da cidade, na Califórnia, não vivendo a vida sobre as ondas, mas no congresso da American Thoracic Society. Espero vocês - sem falta - aqui ano que vem.
Mas, antes, tem dezembro. E a agenda de vocês? Temos um vinho para tomar, que será substituído por outro e outro e assim por diante...
Saudades,
marcelo"
"Dou bom dia diariamente ao macaco falante (ele grita, na verdade), que está pendurado no lustre que tenho na sala aqui de casa. No início achei que ele fosse parecer enforcado naquela posição, mas não, ele fica apenas suspenso me observando enquanto estou em casa e cuidando da mesma quando não estou. Próximo a ele, na porta da cozinha, estão as bandeiras do Brasil e do Rio Grande do Sul, para lembrar das minha origens. Em cima da geladeira, o E.T., que ganhei momentos antes de ir para o aeroporto no agora distante 19 de agosto, presente das queridas amigas Denise e Cláudia, porque sempre que me davam tchau, diziam "bye martchelo", e eu lembrava que na Disney de Orlando o ET me deu tchau, de verdade...
A internet realmente revolucionou as comunicações, e apenas graças a ela é que tenho conseguido ficar tanto tempo longe da Jacque, apesar das saudades serem imensas. Nos falamos todos os dias via iChat, com a webcam. Há mais ou menos um mês, a Jacque fez uma janta lá em casa para o Magno e a Lúcia (uma linda história de amor que ainda vou contar em livro) e falamos os quatro, em tempo real. Em determinado momento, até parecia que eu estava junto, em Porto Alegre...
Apesar da saudades, já gosto daqui. E como poderia não gostar? Segundo a Jacque, até se eu estivesse morando em Gaza eu ia achar legal... Dizem que aqui é frio, mas ainda não vi nada disso. Um dia estava -4ºC, mas desde uma passagem pelos Alpes italianos num natal há uns anos, só considero frio mesmo quando baixa de -5ºC, e, por enquanto, nem previsão...
Vou pegar frio mesmo em janeiro, quando voltar para cá. Pois é, três meses de trabalho e já vou tirar férias... Dia 03 embarco para um longo vôo que vai parar em Miami para uma escala de três horas, depois um vôo noturno rumo ao sul até Guarulhos e - dia 04, 10h10 - piso em solo rio-grandense de novo. Pensei em descer do avião e beijar o solo, mas o aeroporto é novo e a saida do avião é por plataformas, e salas e esteiras e o primeiro chão de verdade que vou pisar vai ser - provavelmente - atravessando a a passarela para chegar no estacionamento do Salgado Filho. Então, desisti da idéia.
Mas não é bem férias a razão de ir para casa. Dia 16 defendo a minha tese de doutorado, finalmente, quase dez anos depois de me formar, no mais longínquo ainda ano de 94. Sobre isso, uma década de formados, ainda espero a definição da data da festa para celebrar o acontecimento. Grandes fotos aquelas nossas, principalmente aquela na beira da praia,em atlântida, antes da formatura. Dia 20, por fim, embarco novamente rumo ao hemisfério norte, mas para NY, em busca de um white Christmas com a família, Pai, Mãe, Jacque, Neni e Ane (a Nana, antes namorada e agora esposa).
Nesses 16 dias de Brasil, além da tese, vários compromissos, também sociais: festa de final de ano da sociedade de pneumologia, um casamento, um possível show da Banda da Sopa (o Magno chega em Porto Alegre de Ribeirão Preto no dia 12), churrascos, feijoadas, massas, encontros com amigos, quem sabe abbey road, enfim, muitos planos para talvez pouco tempo. Imagino que serão dias intensos, definitivamente não dias comedidos... Aqui come-se muito bem, também, mas refeições solitárias definitivamente não têm o mesmo sabor...
Pra não dizer que não falei de flores:
A derrota do PT era esperada (por mim, ao menos) e desejada (também por mim), ao menos em Porto Alegre. Nos outros lugares, não posso falar, a distância é relamente grande , e não me interessam muito mesmo. Mas estava na hora de "arejar" a administração de Porto Alegre, tirar o pó, varrer certos burocratas que haviam criado raizes e se achavam donos de Porto Alegre. Aliás, a arrogância de certos petistas que realmente acreditavam ser Porto Alegre o seu feudo foi o que determinou - em parte - a derrota nas eleiçôes. Pior ainda foi a arrogância dos que falavam como se Porto Alegre não existisse antes do PT, e que fosse deixar de ser uma cidade boa para se morar com a vitória do Fogaca (acho que eu teria votado nele). Não! Pior foi ouvir que o Fogaça tinha passado os seus anos no senado compondo "musiquinhas" sobre Porto Alegre. O baixo nível de argumentação, junto com as práticas medíocres da política em geral foi o que determinou o lançamento da Carta de Paris, redigida em um guardanapo, nos primeiros dias deste miliênio, num café na esquina dos bulevares St Michel e St Germain, na Rive Gauche, Paris, em que o Magno e eu, com a Jacque como testemunha, decidimos não participar ativamente da política, exceto como pensadores e teóricos...
Quanto às passagens para Toronto, nesta época estão mais caras, pela alta temporada. Se acharem muito frio, planejem para o começo de maio ou junho, final da primavera, onde os dias estão bem longos, há verde por tudo, e o passeio pelo país é muito bonito. Olhando minha agenda, evitem o período entre 20 e 25 de maio, por estarei fora da cidade, na Califórnia, não vivendo a vida sobre as ondas, mas no congresso da American Thoracic Society. Espero vocês - sem falta - aqui ano que vem.
Mas, antes, tem dezembro. E a agenda de vocês? Temos um vinho para tomar, que será substituído por outro e outro e assim por diante...
Saudades,
marcelo"
terça-feira, novembro 16, 2004
Eu me tornei um blogueiro
O que significa isso, afinal de contas?
Significa que tenho um blog, óbvio, mas também que faço parte de uma comunidade, e começo a fazer amigos virtuais, que em breve podem se tornar reais. Que a lista de blogs que visito diariamente aumenta a cada dia, e na minha viagem diária pela rede vou descobrindo novas leituras – e leituras de qualidade – novas idéias, pontos de vista, etc.
É impressionante o mundo que é a internet. Já posso contar em quase duas dezenas os blogs que visito todos os dias, atrás de atualizações. Isso cria uma situação nova para mim: me sinto compelido a atualizar o meu blog todos os dias porque imagino que deve haver alguém como eu, que visita outros blogs diariamente em busca de atualizações e fica frustrado quando não as encontra… Então, estou tentando atualizar sempre, o que cria outro problema: devo escrever todos os dias.
Escrever é trabalhoso, todos sabem. É um prazer, sem dúvida, mas exige esforço. Uma vez, falei que escrever uma vez por semana (como era já há três anos, desde antes de A Sopa ir para o Exílio) às vezes era um parto. Escrever diariamente é um parto por dia, imagine só. Uma saída são as pequenas notas, quando não consigo um texto completo. Ainda não me senti à vontade de publicar apenas uma notinha (se bem que transcrever emails ou cartas que recebi é mais ou menos a mesma coisa). Vou tentar, prometo.
#
Passeando pelos blogs nossos de cada dia, hoje descobri um que ainda não conhecia. Não vou revelar qual, nem o endereço. Mas li algo interessante e confirmei algo que já sabia. O autor deste blog comemorava seu retorno ao mesmo, e anunciava que havia se separado depois de estar casado por três meses (mais nove morando junto). Não foi uma surpresa para mim a sua separação. Isso que não o conheço. Por quê não foi uma surpresa?
Porque, antes de abandonar o seu blog, cerca de dez meses, antes ele justificava o fim do mesmo (o blog) dizendo que estava fazendo isso (abandonar o blog) porque sua noiva-quase-esposa tinha ciúmes, e não queria que ele continuasse escrevendo. Ponto. Quer melhor melhor razão para sabermos que uma relação não vai funcionar do que uma das partes “podar’ a outra? Pois é…
Amar também é aceitar que a outra parte não é parte, é inteira assim como também devemos ser. Aceita-se o “pacote” completo – qualidades, manias, defeitos, ect – ou é melhor nem tentar. Porque senão aí vai ser apenas a crônica de uma morte anunciada…
#
Mudando de assunto. Já fiz vários comentários elogiosos à querida amiga (e agora “afilhada”) Lúcia (desde que li um texto em que ela dizia que não gostava ou não queria mais ser chamada de Lucinha, foi isso mesmo?). Dessa vez vai ser o contrário, vou fazer uma queixa.
Só para atualizar que não acompanha A Sopa há mais tempo (quando ainda não estava no Exílio). A Lucinha (se não gostas de ser chamada assim, me desculpa) passou um ano morando na Austrália, por conta do doutorado dela. Durante a estada lá, se tornou colaboradora d`A Sopa e publiquei uma série que ela escreveu chamada “Stories About Australia”, muito bem escrita, um texto leve, agradável de ler, com a sensibilidade de descrever o cotidiano e personagens que viviam ao seu redor.
Pois é, num dos textos, em que ela falava sobre sua adaptação ao idioma, ao inglês, ela nos contou do problema das portas. Pull ou push? O som das duas palavras em inglês lembra as suas traduções para o português, que têm o sentido contrário. Desde que cheguei aqui, lembro dela cada vez que vou me aproximando de uma porta, e esquizofrenicamente começo a mentalizar “pull é puxe, pull é puxe” até chegar na porta. Antes dela escrever sobre isso, nunca tinha me passado pela cabeça essa dificuldade.
Quem mandou ler demais…
Significa que tenho um blog, óbvio, mas também que faço parte de uma comunidade, e começo a fazer amigos virtuais, que em breve podem se tornar reais. Que a lista de blogs que visito diariamente aumenta a cada dia, e na minha viagem diária pela rede vou descobrindo novas leituras – e leituras de qualidade – novas idéias, pontos de vista, etc.
É impressionante o mundo que é a internet. Já posso contar em quase duas dezenas os blogs que visito todos os dias, atrás de atualizações. Isso cria uma situação nova para mim: me sinto compelido a atualizar o meu blog todos os dias porque imagino que deve haver alguém como eu, que visita outros blogs diariamente em busca de atualizações e fica frustrado quando não as encontra… Então, estou tentando atualizar sempre, o que cria outro problema: devo escrever todos os dias.
Escrever é trabalhoso, todos sabem. É um prazer, sem dúvida, mas exige esforço. Uma vez, falei que escrever uma vez por semana (como era já há três anos, desde antes de A Sopa ir para o Exílio) às vezes era um parto. Escrever diariamente é um parto por dia, imagine só. Uma saída são as pequenas notas, quando não consigo um texto completo. Ainda não me senti à vontade de publicar apenas uma notinha (se bem que transcrever emails ou cartas que recebi é mais ou menos a mesma coisa). Vou tentar, prometo.
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Passeando pelos blogs nossos de cada dia, hoje descobri um que ainda não conhecia. Não vou revelar qual, nem o endereço. Mas li algo interessante e confirmei algo que já sabia. O autor deste blog comemorava seu retorno ao mesmo, e anunciava que havia se separado depois de estar casado por três meses (mais nove morando junto). Não foi uma surpresa para mim a sua separação. Isso que não o conheço. Por quê não foi uma surpresa?
Porque, antes de abandonar o seu blog, cerca de dez meses, antes ele justificava o fim do mesmo (o blog) dizendo que estava fazendo isso (abandonar o blog) porque sua noiva-quase-esposa tinha ciúmes, e não queria que ele continuasse escrevendo. Ponto. Quer melhor melhor razão para sabermos que uma relação não vai funcionar do que uma das partes “podar’ a outra? Pois é…
Amar também é aceitar que a outra parte não é parte, é inteira assim como também devemos ser. Aceita-se o “pacote” completo – qualidades, manias, defeitos, ect – ou é melhor nem tentar. Porque senão aí vai ser apenas a crônica de uma morte anunciada…
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Mudando de assunto. Já fiz vários comentários elogiosos à querida amiga (e agora “afilhada”) Lúcia (desde que li um texto em que ela dizia que não gostava ou não queria mais ser chamada de Lucinha, foi isso mesmo?). Dessa vez vai ser o contrário, vou fazer uma queixa.
Só para atualizar que não acompanha A Sopa há mais tempo (quando ainda não estava no Exílio). A Lucinha (se não gostas de ser chamada assim, me desculpa) passou um ano morando na Austrália, por conta do doutorado dela. Durante a estada lá, se tornou colaboradora d`A Sopa e publiquei uma série que ela escreveu chamada “Stories About Australia”, muito bem escrita, um texto leve, agradável de ler, com a sensibilidade de descrever o cotidiano e personagens que viviam ao seu redor.
Pois é, num dos textos, em que ela falava sobre sua adaptação ao idioma, ao inglês, ela nos contou do problema das portas. Pull ou push? O som das duas palavras em inglês lembra as suas traduções para o português, que têm o sentido contrário. Desde que cheguei aqui, lembro dela cada vez que vou me aproximando de uma porta, e esquizofrenicamente começo a mentalizar “pull é puxe, pull é puxe” até chegar na porta. Antes dela escrever sobre isso, nunca tinha me passado pela cabeça essa dificuldade.
Quem mandou ler demais…
segunda-feira, novembro 15, 2004
Porto Alegre
Recebi, agora há pouco, da querida amiga Zeca esse texto que agora publico. É bem legal, e mostra um pouco do que é morar na capital do Rio Grande do Sul...
COMO IDENTIFICAR UM PORTO ALEGRENSE:
1. Divide o domingo entre antes e depois da "passadinha no Brique" ou no "Parcão".
2. A partir de julho, o Porto-alegrense pára de comprar livros para aproveitar os descontos e os balaios da Feira do Livro.
3. Odeia o muro da Mauá.
4. Fala mal das praias gaúchas, mas nunca recusa convite para passar o fim de semana em Imbé ou Atlântida.
5. Desfila, em qualquer rua de qualquer cidade, com cuia e garrafa térmica como se fosse coisa "trinormal".
6. Ama ou odeia o PT. Não tem meio termo.
7. Acredita que a última batalha não será entre o bem e o mal ou entre a luz e as trevas, mas entre gremistas e colorados.
8.Em uma tarde consegue mostrar todos os pontos turísticos da cidade aos amigos que vêm de fora.
9. Acha que Porto Alegre tem quase todos os defeitos de uma cidade grande e mais algumas desvantagens de uma cidade pequena, mas parte para a briga com qualquer estrangeiro que ouse dizer uma "barbaridade" dessas.
10. Acredita piamente que existe uma comprovação científica para o fato de o pôr-do-sol no Guaíba ser o mais bonito no planeta. Talvez pelo fato do paralelo trinta passar na Rua da República...
11.Chama o carinha ali de "bagaceiro";come "negrinho" "branquinho" e ainda compra "cacetinho"!
12. Diminiu metade das palavras e nem se dá mais conta disso: "Findi", "Churras", "Super", "níver", "refri", "ceva" (essa tem o sinônimo "cerva", também)...
13. Quando quer dizer sim, diz "ã rã", com um jeito típico de Porto.
14. Ama Porto Alegre! O Porto-alegrês é uma das línguas mais difíceis do "Ocidente" (que não é o hemisfério, e sim um bar em Porto Alegre ).
Para começar, só existe uma interjeição: "báh!" - que é usada em mais ou menos 462 situações diferentes. Prá complicar, "bah!" tem, também, 497 entonações diferentes: pode ir de um simples "beh!", até um complicado, "pãh!" dependendo do que tu queres dizer.
E tem também as gírias. Porto Alegre é equipada com mais ou menos 15 fábricas de gírias funcionando sem parar. Algumas chegam até a ser exportadas: "viajar na maionese" e "pirar na batatinha", que agora estão na moda no Rio, são faladas há anos, ou em Porto Alegrês, "há horas", que pode ser "há uma data" ou "há uma cara", como em outros lugares.
Outras expressões cruzam a fronteira, mas nunca chegam a ser compreendidas. "Deu prá ti", por exemplo, que é o nome de uma música que fez o maior sucesso no Brasil inteiro. Talvez porque pensaram que "deu prá ti" fosse uma sacanagem quando na verdade só queria dizer "chega!".
Também tem o "trilegal", "há horas ninguém fala trilegal" em Porto Alegre. Se fala "tribom", "triquente", "triafim", "trigente",
"trijóia", "triafu"(muito usado), "tri" o que tu quiseres.
Mas nada é mais porto alegrense quanto falar: "tu vai ir?", que muitas vezes fica "tu vai i?", com o "i" bem pronunciado e longo...
Repita agora, com sotaque: "Báh, mas tu vai i? Bah, mas se tu for, eu também vou i".
É, aqui é o único lugar do mundo onde a gente lava "Os pé" e lava "as mão". E "deu pra ti, viu guri"! Nâo há nada melhor do que poder dizer: "Báh, eu sou de Porto". com sotaque mais cantado possível... e a cara mais orgulhosa do mundo!
Porto Alegre é TRILEGAL!!!! ...e "sirvam nossas façanhas de modelo à toda terra!"...
E é por essas e outras que amo minha Porto Alegre!!!!
COMO IDENTIFICAR UM PORTO ALEGRENSE:
1. Divide o domingo entre antes e depois da "passadinha no Brique" ou no "Parcão".
2. A partir de julho, o Porto-alegrense pára de comprar livros para aproveitar os descontos e os balaios da Feira do Livro.
3. Odeia o muro da Mauá.
4. Fala mal das praias gaúchas, mas nunca recusa convite para passar o fim de semana em Imbé ou Atlântida.
5. Desfila, em qualquer rua de qualquer cidade, com cuia e garrafa térmica como se fosse coisa "trinormal".
6. Ama ou odeia o PT. Não tem meio termo.
7. Acredita que a última batalha não será entre o bem e o mal ou entre a luz e as trevas, mas entre gremistas e colorados.
8.Em uma tarde consegue mostrar todos os pontos turísticos da cidade aos amigos que vêm de fora.
9. Acha que Porto Alegre tem quase todos os defeitos de uma cidade grande e mais algumas desvantagens de uma cidade pequena, mas parte para a briga com qualquer estrangeiro que ouse dizer uma "barbaridade" dessas.
10. Acredita piamente que existe uma comprovação científica para o fato de o pôr-do-sol no Guaíba ser o mais bonito no planeta. Talvez pelo fato do paralelo trinta passar na Rua da República...
11.Chama o carinha ali de "bagaceiro";come "negrinho" "branquinho" e ainda compra "cacetinho"!
12. Diminiu metade das palavras e nem se dá mais conta disso: "Findi", "Churras", "Super", "níver", "refri", "ceva" (essa tem o sinônimo "cerva", também)...
13. Quando quer dizer sim, diz "ã rã", com um jeito típico de Porto.
14. Ama Porto Alegre! O Porto-alegrês é uma das línguas mais difíceis do "Ocidente" (que não é o hemisfério, e sim um bar em Porto Alegre ).
Para começar, só existe uma interjeição: "báh!" - que é usada em mais ou menos 462 situações diferentes. Prá complicar, "bah!" tem, também, 497 entonações diferentes: pode ir de um simples "beh!", até um complicado, "pãh!" dependendo do que tu queres dizer.
E tem também as gírias. Porto Alegre é equipada com mais ou menos 15 fábricas de gírias funcionando sem parar. Algumas chegam até a ser exportadas: "viajar na maionese" e "pirar na batatinha", que agora estão na moda no Rio, são faladas há anos, ou em Porto Alegrês, "há horas", que pode ser "há uma data" ou "há uma cara", como em outros lugares.
Outras expressões cruzam a fronteira, mas nunca chegam a ser compreendidas. "Deu prá ti", por exemplo, que é o nome de uma música que fez o maior sucesso no Brasil inteiro. Talvez porque pensaram que "deu prá ti" fosse uma sacanagem quando na verdade só queria dizer "chega!".
Também tem o "trilegal", "há horas ninguém fala trilegal" em Porto Alegre. Se fala "tribom", "triquente", "triafim", "trigente",
"trijóia", "triafu"(muito usado), "tri" o que tu quiseres.
Mas nada é mais porto alegrense quanto falar: "tu vai ir?", que muitas vezes fica "tu vai i?", com o "i" bem pronunciado e longo...
Repita agora, com sotaque: "Báh, mas tu vai i? Bah, mas se tu for, eu também vou i".
É, aqui é o único lugar do mundo onde a gente lava "Os pé" e lava "as mão". E "deu pra ti, viu guri"! Nâo há nada melhor do que poder dizer: "Báh, eu sou de Porto". com sotaque mais cantado possível... e a cara mais orgulhosa do mundo!
Porto Alegre é TRILEGAL!!!! ...e "sirvam nossas façanhas de modelo à toda terra!"...
E é por essas e outras que amo minha Porto Alegre!!!!
domingo, novembro 14, 2004
A Sopa 04/17
Vivo um “quase-dilema”.
Aproxima-se o verão no hemisfério sul, e seu antípoda, o inverno, aqui no norte do mundo. Existe o risco de haver uma dissonância entre o que escrevo n’A Sopa e o que os leitores – que ainda em sua maioria estão no Brasil – querem ler. Explico.
Ao contrário do verão, tempo de maior informalidade, de textos mais leves, situações de praia, pensamentos amenos, o inverno convida à introspecção, à filosofia, aos pensamentos profundos. O vinho tinto, as sopas, o pão, tudo combina com o frio e com reuniões de amigos, conversas sobre quem somos e para onde vamos, o sentido da vida.
Penso que é difícil ser filósofo nos trópicos. Não tem como pensar na 'finitude do ser diante do nada' na beira da praia, tomando caipirinha, em plenão verão. Por mais que se queira, não é possível buscar a transcedência com protetor solar e areia.
Por outro lado, aqui o tempo de reflexões começa já no outono, quando as temperaturas começam a cair. A mudança das cores, as folhas que ficam amarelas e depois vermelhas, até cairem, tudo nos remete à passagem do tempo, justamente à finitude, ao ciclo da vida. Nos primeiros dias, me encantei com espetáculo das cores, encantamento esse que durou até me dar conta que os tons diferentes que surgiam a cada dia eram apenas a longa agonia das árvores em direção à morte, ao inverno. Ela secam e caem, ficam “mortas” até renascerem, na primavera.
As folhas no chão, podem representar muitas de nossas ilusões, algumas vezes sonhos, que se frustram, caem, e jazem mortos esperando serem recolhidos. Mas que vão renascer em breve, e o ciclo da vida se completa. Nascemos, vivemos, envelhecemos e morremos. O outono aqui não nos deixa ficar longe desta perspectiva. Mas traz consigo um alento, a lição de que algumas vezes, ao sentirmos que algo se perde, devemos lembrar que ali na frente vamos ter a oportunidade de recomeçar.
É tudo uma questão de estar atento ao que acontece ao nosso redor.
Aproxima-se o verão no hemisfério sul, e seu antípoda, o inverno, aqui no norte do mundo. Existe o risco de haver uma dissonância entre o que escrevo n’A Sopa e o que os leitores – que ainda em sua maioria estão no Brasil – querem ler. Explico.
Ao contrário do verão, tempo de maior informalidade, de textos mais leves, situações de praia, pensamentos amenos, o inverno convida à introspecção, à filosofia, aos pensamentos profundos. O vinho tinto, as sopas, o pão, tudo combina com o frio e com reuniões de amigos, conversas sobre quem somos e para onde vamos, o sentido da vida.
Penso que é difícil ser filósofo nos trópicos. Não tem como pensar na 'finitude do ser diante do nada' na beira da praia, tomando caipirinha, em plenão verão. Por mais que se queira, não é possível buscar a transcedência com protetor solar e areia.
Por outro lado, aqui o tempo de reflexões começa já no outono, quando as temperaturas começam a cair. A mudança das cores, as folhas que ficam amarelas e depois vermelhas, até cairem, tudo nos remete à passagem do tempo, justamente à finitude, ao ciclo da vida. Nos primeiros dias, me encantei com espetáculo das cores, encantamento esse que durou até me dar conta que os tons diferentes que surgiam a cada dia eram apenas a longa agonia das árvores em direção à morte, ao inverno. Ela secam e caem, ficam “mortas” até renascerem, na primavera.
As folhas no chão, podem representar muitas de nossas ilusões, algumas vezes sonhos, que se frustram, caem, e jazem mortos esperando serem recolhidos. Mas que vão renascer em breve, e o ciclo da vida se completa. Nascemos, vivemos, envelhecemos e morremos. O outono aqui não nos deixa ficar longe desta perspectiva. Mas traz consigo um alento, a lição de que algumas vezes, ao sentirmos que algo se perde, devemos lembrar que ali na frente vamos ter a oportunidade de recomeçar.
É tudo uma questão de estar atento ao que acontece ao nosso redor.
Sábado (11)
Como mandam as regras de etiqueta e os bons costumes, esse foi um sábado de sol e céu azul. Frio, mas de um jeito bom.
Estes dias, recebi uma carta. Do Brasil.
Eu gosto de receber cartas. São melhores que emails, toda a vida. Não que eu não goste de receber emails – pelo contrário – mas cartas demonstram um esforço verdadeiro de fazer contato. Requerem caneta, papel, envelope, selo e a atividade de levar a mesma até a caixa de correio. Cartas são o resultado de um encontro íntimo entre a folha e o lápis, ou caneta. A palavra escrita à mão, dizem que se pode saber muito da personalidade de alguém apenas estudando sua escrita. Não chego a tanto.
Mas eu contava que recebi uma carta, e vocês imaginam a felicidade que fiquei ao recebê-la. A letra no envelope, conhecida. Dentro, uma propaganda e um guardanapo. Mais nada.
No guardanapo, um dicionário.
“Afeitar: cortar a barba, enfeitar.
Andar pelas caronas: andar mal, em dificuldades.
Baldoso: cavalo manhoso.
Borracho: o mesmo que bêbado.
Bugre: termo genérico para os índios aqui do sul.
Cancheiro: quem é provido de experiência e habilidade em alguma coisa.
Chasque: mensageiro; pessoa que se despacha levando uma mensagem.
Crioulo: o natural de determinado lugar, região, estado, país.
Cupincha: camarada, companheiro, amigo.
De vereda: imediatamente, já.
Engasga-gato: ensopado com pedaços de charque da manta da barrigueira.
Estar com o diabo no corpo: estar furioso, insuportável.
Galpão: trata-se de uma grande construção, rústica, onde os peões do campo vivem, comem e dormem.
Gaudério: termo usado para coisas referentes à arte, costumes e ao que é típico do Rio Grande do Sul, tal como o modo de falar e vestir.
Guampa torta: pessoa mal-humorada.
Mala de garupa: pequeno saco, com abertura no centro, usado como alforges.
Mão-de-leitão: indivíduo avarento, sovina.
Na ponta dos cascos: alguém numa posição excelente, cuidasdosamente pronto para atuar.
Paisano: do mesmo país, amigo, camarada, camponês, não militar.
Piquete: pequeno potreiro, ao lado de casa, onde se põem os animais utilizados diariamente.
Se aprochegar: chegar mais próximo, se acomodar.
Solito: sozinho.
Terneiro: cria de vaca até a idade de 01 ano.
Tropeiro: condutor de tropas, de gado, de cargueiros.
Vivente: criatura viva, pessoa, indivíduo.”
A propaganda, da Churrascaria Galpão Crioulo, “o melhor da tradição do Rio Grande”. Só para garantir que não vou esquecer de onde vim, imagino.
Não tem perigo, podem ficar tranqüilos. Além do mais, logo estarei aí.
Até.
Estes dias, recebi uma carta. Do Brasil.
Eu gosto de receber cartas. São melhores que emails, toda a vida. Não que eu não goste de receber emails – pelo contrário – mas cartas demonstram um esforço verdadeiro de fazer contato. Requerem caneta, papel, envelope, selo e a atividade de levar a mesma até a caixa de correio. Cartas são o resultado de um encontro íntimo entre a folha e o lápis, ou caneta. A palavra escrita à mão, dizem que se pode saber muito da personalidade de alguém apenas estudando sua escrita. Não chego a tanto.
Mas eu contava que recebi uma carta, e vocês imaginam a felicidade que fiquei ao recebê-la. A letra no envelope, conhecida. Dentro, uma propaganda e um guardanapo. Mais nada.
No guardanapo, um dicionário.
“Afeitar: cortar a barba, enfeitar.
Andar pelas caronas: andar mal, em dificuldades.
Baldoso: cavalo manhoso.
Borracho: o mesmo que bêbado.
Bugre: termo genérico para os índios aqui do sul.
Cancheiro: quem é provido de experiência e habilidade em alguma coisa.
Chasque: mensageiro; pessoa que se despacha levando uma mensagem.
Crioulo: o natural de determinado lugar, região, estado, país.
Cupincha: camarada, companheiro, amigo.
De vereda: imediatamente, já.
Engasga-gato: ensopado com pedaços de charque da manta da barrigueira.
Estar com o diabo no corpo: estar furioso, insuportável.
Galpão: trata-se de uma grande construção, rústica, onde os peões do campo vivem, comem e dormem.
Gaudério: termo usado para coisas referentes à arte, costumes e ao que é típico do Rio Grande do Sul, tal como o modo de falar e vestir.
Guampa torta: pessoa mal-humorada.
Mala de garupa: pequeno saco, com abertura no centro, usado como alforges.
Mão-de-leitão: indivíduo avarento, sovina.
Na ponta dos cascos: alguém numa posição excelente, cuidasdosamente pronto para atuar.
Paisano: do mesmo país, amigo, camarada, camponês, não militar.
Piquete: pequeno potreiro, ao lado de casa, onde se põem os animais utilizados diariamente.
Se aprochegar: chegar mais próximo, se acomodar.
Solito: sozinho.
Terneiro: cria de vaca até a idade de 01 ano.
Tropeiro: condutor de tropas, de gado, de cargueiros.
Vivente: criatura viva, pessoa, indivíduo.”
A propaganda, da Churrascaria Galpão Crioulo, “o melhor da tradição do Rio Grande”. Só para garantir que não vou esquecer de onde vim, imagino.
Não tem perigo, podem ficar tranqüilos. Além do mais, logo estarei aí.
Até.
sexta-feira, novembro 12, 2004
Cheguei
Cheguei em Toronto. Finalmente.
E cheguei bem, podem ficar tranqüilos todos aqueles que me viram sair de Porto Alegre. Que se despediram de mim, que foram no aeroporto. Cheguei são e salvo.
Como assim? É verdade, saí do Brasil em agosto e só cheguei aqui – de verdade – agora.
Por onde andei?
No limbo.
No meu apartamento, no metrô de casa para o hospital e do hospital para casa. Na minha tese. Num lugar etéreo entre o Brasil e o Canadá, nem num lado nem em outro. Sozinho e perdido. Não vivendo lá e nem aqui. Preso por amarras que me prendiam a um lugar onde não estava mais.
Vivendo esquizofrenicamente comigo mesmo. Estando num lugar e pensando em outro, quando há pouco eu estava no outro e pensava ‘num’…
Mas eu dizia que cheguei, e é verdade. Mas não vim sozinho. Trouxe comigo toda a minha história, todos que fui antes, inteiro ou em partes, até chegar a quem sou hoje, ou era, até sair de casa. Viemos todos, e vamos ficar aqui até completar o ciclo que se iniciou bem antes de agosto, e do qual vir para cá é apenas uma parte.
O que isso tem a ver com o show do R.E.M., me pergunto.
Tudo. Foi ali que senti que havia chegado aqui de verdade. Foi uma catarse, um show tecnicamente perfeito. A banda tem postura de palco, atitude, e músicas de um lirismo tocante. Desde a entrada da banda no palco, na primeira música, sabia que valeria a pena cada centavo gasto na compra do ingresso. O show é baseado no novo CD, ‘Around the sun’, que eu tinha tomado a precaução de comprar e ouvir para conhecer as músicas.
Uma hora e meia de show e mais cinco músicas no bis. O show termina com “Man on the Moon”, numa apoteose, o público vai à loucura. Inesquecível.
O momento mais significativo, no entanto, foi quando tocaram o clássico ‘Losing my Religion’, do disco Out of Time, de 1991. O teatro quase veio abaixo. Naquele momento, voltei no tempo, aos anos 90, e – como num filme – refiz toda a trajetória que percorri desde aquele longínquo início dos anos noventa até estar morando temporariamente em Toronto, longe da família, dos amigos e da Jacque. Revi todas as decisões que tomei e que resultaram no hoje. E gostei do que vi.
Saí do show ainda sob efeito daquele transe, mas a música que eu estava cantarolando não era mais R.E.M. Era Beatles. The Long and Winding Road.
Cheguei. Estou aqui. E bem.
E cheguei bem, podem ficar tranqüilos todos aqueles que me viram sair de Porto Alegre. Que se despediram de mim, que foram no aeroporto. Cheguei são e salvo.
Como assim? É verdade, saí do Brasil em agosto e só cheguei aqui – de verdade – agora.
Por onde andei?
No limbo.
No meu apartamento, no metrô de casa para o hospital e do hospital para casa. Na minha tese. Num lugar etéreo entre o Brasil e o Canadá, nem num lado nem em outro. Sozinho e perdido. Não vivendo lá e nem aqui. Preso por amarras que me prendiam a um lugar onde não estava mais.
Vivendo esquizofrenicamente comigo mesmo. Estando num lugar e pensando em outro, quando há pouco eu estava no outro e pensava ‘num’…
Mas eu dizia que cheguei, e é verdade. Mas não vim sozinho. Trouxe comigo toda a minha história, todos que fui antes, inteiro ou em partes, até chegar a quem sou hoje, ou era, até sair de casa. Viemos todos, e vamos ficar aqui até completar o ciclo que se iniciou bem antes de agosto, e do qual vir para cá é apenas uma parte.
O que isso tem a ver com o show do R.E.M., me pergunto.
Tudo. Foi ali que senti que havia chegado aqui de verdade. Foi uma catarse, um show tecnicamente perfeito. A banda tem postura de palco, atitude, e músicas de um lirismo tocante. Desde a entrada da banda no palco, na primeira música, sabia que valeria a pena cada centavo gasto na compra do ingresso. O show é baseado no novo CD, ‘Around the sun’, que eu tinha tomado a precaução de comprar e ouvir para conhecer as músicas.
Uma hora e meia de show e mais cinco músicas no bis. O show termina com “Man on the Moon”, numa apoteose, o público vai à loucura. Inesquecível.
O momento mais significativo, no entanto, foi quando tocaram o clássico ‘Losing my Religion’, do disco Out of Time, de 1991. O teatro quase veio abaixo. Naquele momento, voltei no tempo, aos anos 90, e – como num filme – refiz toda a trajetória que percorri desde aquele longínquo início dos anos noventa até estar morando temporariamente em Toronto, longe da família, dos amigos e da Jacque. Revi todas as decisões que tomei e que resultaram no hoje. E gostei do que vi.
Saí do show ainda sob efeito daquele transe, mas a música que eu estava cantarolando não era mais R.E.M. Era Beatles. The Long and Winding Road.
Cheguei. Estou aqui. E bem.
quinta-feira, novembro 11, 2004
Wordless, priceless
Existe uma palavra, uma contração na verdade, em "porto-alegrês", que exprime qualquer coisa, desde a estupefação diante uma maravilha até o desprezo por alguém. E que também nos identifica como gaúchos.
É o 'Bah'. O 'Bah' é todo um repertório de adjetivos contido em apenas três letras. Tudo - eu disse tudo - pode ser qualificado com um 'bah', depende apenas da entonação que se dá.
Sobre o show do R.E.M., que assisti agora há pouco, só tenho uma coisa a dizer, com entonação de extasiamento:
Bah...
Vou dormir e tentar digerir o que presenciei para contar a vocês. Mas posso adiantar que foi uma experiência transcedental, quase mística, eu diria...
É o 'Bah'. O 'Bah' é todo um repertório de adjetivos contido em apenas três letras. Tudo - eu disse tudo - pode ser qualificado com um 'bah', depende apenas da entonação que se dá.
Sobre o show do R.E.M., que assisti agora há pouco, só tenho uma coisa a dizer, com entonação de extasiamento:
Bah...
Vou dormir e tentar digerir o que presenciei para contar a vocês. Mas posso adiantar que foi uma experiência transcedental, quase mística, eu diria...
terça-feira, novembro 09, 2004
Um post
Ontem fui dormir tenso.
Percebi que tinha assuntos pendentes que - como bom procrastinador que sou - estava adiando sua resolução. Apesar disso, dormi bem, ao contrário de algumas noites de insônia que sofri há algumas semanas atrás. Mas sabia que tinha que fazer algo. E logo.
Hoje cedo, -4ºC.
Céu de um profundo azul como vi algumas vezes amanhecer em plena Lagoa dos Patos. Bons tempos aqueles. Todos por aqui dizem - em resposta ao meu comentário de que vim para ver inverno e neve - que o inverno é rigoroso, vou achar demais. Nunca falo, mas sempre penso que eles não me conhecem, eu sou do sul, gaúcho, fui criado passando verões na beira da praia com o "nordestão" levantando areia, e invernos úmidos e frios numa Porto Alegre que não tem estrutura para o frio. Mas claro que provavelmente é exagero meu, mas estou realmente aguardando o frio de verdade, muitos graus negativos, com grande expectativa...
De qualquer forma, estrutura é tudo para resistir ao frio. A temperatura negativa de hoje cedo foi pouco sentida, os trajetos entre o edifício e a estação do metrô e entre a estação e o hospital são curtos. Dentro do hospital, a temperatura é agradável.
Como hoje não era dia de atendimento, pude me dedicar aos assuntos que vinha adiando. Passei toda a manhã na frente do computador, estudando e escrevendo. Rendeu, bem mais que eu esperava. Praticamente terminei com as pendências.
À tarde, pude sair mais cedo do hospital. Passei no banco para tirar dinheiro, e parei na livraria nossa de cada dia. Além de nos finais de semana, agora passo lá também em dias úteis. Para alimentar uma compulsão ou, melhor, duas, comprei uma revista. De viagem. Com ela, parei num café.
Pedi um café normal, creme e açúcar. O primeiro gole sempre é ruim, sem comparação com um café de verdade, mas depois acostuma-se com o gosto, e a constatação: todos aqui pensam que tomam café, quando na verdade isso que tanto apreciam é algo que lembra, de longe, o verdadeiro café. Brasileiro, ou colombiano. Isso que tomamos todos os dias é parente do café. Talvez um primo. De segundo grau.
Tudo certo, tomo mesmo assim, afinal o clima é apropriado. Olho para fora, a noite que se inicia antes das 6:00pm, o céu agora nublado quase escuro, as luzes das ruas já acendendo. Pessoas passam agasalhadas, com frio. Aqui dentro, a temperatura é aconchegante, e a decoração convida a ficar mais tempo. Podia estar em Paris, mas o aviso solicitando que não se permaneça por tempo excessivo ocupando as mesas para dar lugar a outros e que não é respeitado, num dos poucos momentos de "desobediência civil" que vejo por aqui, me lembra que estou na América. O grande letreiro do supermercado em frente, onde faço compras aos sábados, 'No frills - lower prices', também me traz de volta...
Termino meu café e saio para a rua. Luvas, touca, e a boa sensação de caminhar no frio.
As primeiras luzes de Natal aparecem em algumas poucas árvores próximas.
Como diz meu pai, passou agosto, terminou a ano...
Percebi que tinha assuntos pendentes que - como bom procrastinador que sou - estava adiando sua resolução. Apesar disso, dormi bem, ao contrário de algumas noites de insônia que sofri há algumas semanas atrás. Mas sabia que tinha que fazer algo. E logo.
Hoje cedo, -4ºC.
Céu de um profundo azul como vi algumas vezes amanhecer em plena Lagoa dos Patos. Bons tempos aqueles. Todos por aqui dizem - em resposta ao meu comentário de que vim para ver inverno e neve - que o inverno é rigoroso, vou achar demais. Nunca falo, mas sempre penso que eles não me conhecem, eu sou do sul, gaúcho, fui criado passando verões na beira da praia com o "nordestão" levantando areia, e invernos úmidos e frios numa Porto Alegre que não tem estrutura para o frio. Mas claro que provavelmente é exagero meu, mas estou realmente aguardando o frio de verdade, muitos graus negativos, com grande expectativa...
De qualquer forma, estrutura é tudo para resistir ao frio. A temperatura negativa de hoje cedo foi pouco sentida, os trajetos entre o edifício e a estação do metrô e entre a estação e o hospital são curtos. Dentro do hospital, a temperatura é agradável.
Como hoje não era dia de atendimento, pude me dedicar aos assuntos que vinha adiando. Passei toda a manhã na frente do computador, estudando e escrevendo. Rendeu, bem mais que eu esperava. Praticamente terminei com as pendências.
À tarde, pude sair mais cedo do hospital. Passei no banco para tirar dinheiro, e parei na livraria nossa de cada dia. Além de nos finais de semana, agora passo lá também em dias úteis. Para alimentar uma compulsão ou, melhor, duas, comprei uma revista. De viagem. Com ela, parei num café.
Pedi um café normal, creme e açúcar. O primeiro gole sempre é ruim, sem comparação com um café de verdade, mas depois acostuma-se com o gosto, e a constatação: todos aqui pensam que tomam café, quando na verdade isso que tanto apreciam é algo que lembra, de longe, o verdadeiro café. Brasileiro, ou colombiano. Isso que tomamos todos os dias é parente do café. Talvez um primo. De segundo grau.
Tudo certo, tomo mesmo assim, afinal o clima é apropriado. Olho para fora, a noite que se inicia antes das 6:00pm, o céu agora nublado quase escuro, as luzes das ruas já acendendo. Pessoas passam agasalhadas, com frio. Aqui dentro, a temperatura é aconchegante, e a decoração convida a ficar mais tempo. Podia estar em Paris, mas o aviso solicitando que não se permaneça por tempo excessivo ocupando as mesas para dar lugar a outros e que não é respeitado, num dos poucos momentos de "desobediência civil" que vejo por aqui, me lembra que estou na América. O grande letreiro do supermercado em frente, onde faço compras aos sábados, 'No frills - lower prices', também me traz de volta...
Termino meu café e saio para a rua. Luvas, touca, e a boa sensação de caminhar no frio.
As primeiras luzes de Natal aparecem em algumas poucas árvores próximas.
Como diz meu pai, passou agosto, terminou a ano...
segunda-feira, novembro 08, 2004
Cinema
Sexta-feira fui ao cinema pela primeira vez desde que vim para Toronto.
Não tinha ido até agora porque estava me dedicando a terminar minha tese e a outras leituras, além de curtir um silêncio a que não estava habituado. Eu falo muito, vejo televisão com volume alto, e gosto de escutar música e saber que os vizinhos estão escutando a mesma música…
Bom, tinha me proposto só começar a viajar por aqui, ir a cinema e shows, quando estivesse pronta a minha tese. Cumpri. Está (praticamente, faltam mínimos detalhes) pronta, a defesa está marcada, estou com a passagem comprada para ir à Porto Alegre. Já posso relaxar e curtir um pouco viver no Canadá.
As viagens vão ficar para o ano que vem (nem daria tempo agora). Vou no show de lançamento do novo CD do R.E.M, Around the sun, na quarta-feira dia 10. E sexta-feira passada fui no cinema. O filme? The Incredibles.
Os Incríveis, mais novo e último filme de animação da parceira Disney/Pixar, a mesma que fez os estrondosos sucessos Toy Story, Monstos S.A., Vida de Inseto e Procurando Nemo. Com um currículo desses, já dá para imaginar a qualidade do filme… O fato é que decidi ir ver o filme, e só depois fui saber que foi na sexta-feira mesmo, 05/11, sua estréia nos cinemas.
E fui um dos primeiros a ver, afinal tive a tarde de folga naquele dia e fui na sessão das 13h50, a segunda sessão do dia. O cinema, um multiplex chamado Paramount.Muito bom e confortável. Como manda a etiqueta, pipoca e refrigerante. Pedi os menores e, mesmo assim, recebi um caminhão de pipoca (pelo menos eu tinha comido só um sanduíche no almoço) e 500ml de refrigerante. Diet. Entre os trailers, vale registrar o do Episódio III de Star Wars, estréia 19/05/2005, que me deu vontade de assitir ao I e II, e à animação da Dreamworks (que fez Shrek e Shark Tale) ‘Madagascar’, que estréia ano que vem e é sobre alguns animais do zoológico de Nova York que vão parar na África. Além de um grupo de pingüins psicopatas que querem sequestrar um navio para voltar para a Antártida… Vai ser muito legal.
Finalmente, sobre The Incredibles. Muito engraçado mesmo, ri quase o tempo todo. Sabe como é, desenhos feitos para o cinema são para adultos também (e quase principalmente) e esse não foge à regra. Mas não é feito só de momentos engraçados, e funciona muito bem como drama familiar. Segundo um crítico de cinema daqui, o filme mostra “os mais consistentes e realistas personagens já apresentados num filme de animacão”.
Logo no começo do filme, ficamos sabendo que os super-heróis – incluindo o Mr Incrível e sua noiva-quase-esposa Mulher Elástico (“Elastigirl”) – sendo processados por danos à propriedade alheia e às pessoas que salvaram. São, então, colocados num programa de proteção aos super-heróis, e ganham vidas anônimas e comuns. O filme tem, então, um salto no tempo e mostra o casal de super-heróis, com filhos, levando sua vida suburbana e sua crise de meia-idade. E por aí vai, tendo muita ação também até o seu final.
Transitando entre um filme de super-heróis e uma história de relações de família, com todos os seus ingredientes (filha tímida, filho rebelde, briga de irmãos, etc) o filme jamais “perde o rumo”, provando – uma vez mais – que os filmes de animação estão entre o que de melhor se produz atualmente em cinema.
Meteorologia
Domingo, 23h em Toronto, 2h de segunda-feira no Brasil.
Temperatura na rua agora: 3ºC.
Previsão para a noite e para amanhã de manhã: 2ºC, sensação térmica de -3ºC.
Possível queda dos primeiros flocos de neve da temporada.
Previsão para o resto da semana:
Terça: -4 a 2ºC
Quarta: -1 a 9ºC
Quinta: 4 a 12ºC
Sexta: -8 a 2ºC
Sábado: -8 a 3ºC
Domingo: 0 a 3ºC
Sem neve, só o frio começando.
O som que toca agora é Billie Holiday, 'Everything I Have is Yours'...
Hora de ir dormir.
Temperatura na rua agora: 3ºC.
Previsão para a noite e para amanhã de manhã: 2ºC, sensação térmica de -3ºC.
Possível queda dos primeiros flocos de neve da temporada.
Previsão para o resto da semana:
Terça: -4 a 2ºC
Quarta: -1 a 9ºC
Quinta: 4 a 12ºC
Sexta: -8 a 2ºC
Sábado: -8 a 3ºC
Domingo: 0 a 3ºC
Sem neve, só o frio começando.
O som que toca agora é Billie Holiday, 'Everything I Have is Yours'...
Hora de ir dormir.
domingo, novembro 07, 2004
A Sopa 04/16
O tempo passa e a vida continua mesmo eu não estando perto.
Óbvia constatação, e verdadeira. Mas houve um tempo em que não tínhamos essa certeza toda. Lembro de uma carta que o Radica (pra quem não sabe quem é: ele é um gênio, um cara brilhante, de quem tenho a honra de ter sido colega de segundo grau e de ser amigo até hoje) me escreveu há muitos anos que falava sobre isso. Sobre aquela impressão de que tudo era um grande teatro armado para nós e, mesmo que às vezes olhássemos para trás subitamente na tentativa de surpreender e vermos por trás do palco, os atores esperando para entrar em cena, mas nunca éramos rápidos o bastante, e tudo estava lá, todos estavam prontos. Também nunca consegui flagrar a armação, por mais que tenha tentado.
Pois bem, então a vida continua longe do nosso olhar, da nossa atenção. Agora, por estes dias, tenho a impressão de que ocorre o inverso: o tempo, os fatos, acontecem mais e mais rapidamente agora que estou longe. Que talvez a minha presença fosse importante para dar cadência, segurar o passo, puxar os arreios para o mundo não sair em desabalada carreira lomba abaixo. Impressões, apenas.
De qualquer forma, muita coisa tem acontecido. Boas e ruins. Casais que se encontram, outros que se separam, casamentos, nascimentos, pessoas queridas que se vão, outras que estão a caminho. A vida segue seu curso, independente de qualquer coisa.
Antes de eu ir, a certeza de que eu voltaria diferente de quando parti, o que é inevitável que aconteça. Mas uma obviedade que não tinha passado pela minha cabeça: tudo vai estar diferente de quando fui embora. Exceto as pessoas fundamentais. A essas sou ligado por algo imutável. A essência. E essa não muda nunca.
Óbvia constatação, e verdadeira. Mas houve um tempo em que não tínhamos essa certeza toda. Lembro de uma carta que o Radica (pra quem não sabe quem é: ele é um gênio, um cara brilhante, de quem tenho a honra de ter sido colega de segundo grau e de ser amigo até hoje) me escreveu há muitos anos que falava sobre isso. Sobre aquela impressão de que tudo era um grande teatro armado para nós e, mesmo que às vezes olhássemos para trás subitamente na tentativa de surpreender e vermos por trás do palco, os atores esperando para entrar em cena, mas nunca éramos rápidos o bastante, e tudo estava lá, todos estavam prontos. Também nunca consegui flagrar a armação, por mais que tenha tentado.
Pois bem, então a vida continua longe do nosso olhar, da nossa atenção. Agora, por estes dias, tenho a impressão de que ocorre o inverso: o tempo, os fatos, acontecem mais e mais rapidamente agora que estou longe. Que talvez a minha presença fosse importante para dar cadência, segurar o passo, puxar os arreios para o mundo não sair em desabalada carreira lomba abaixo. Impressões, apenas.
De qualquer forma, muita coisa tem acontecido. Boas e ruins. Casais que se encontram, outros que se separam, casamentos, nascimentos, pessoas queridas que se vão, outras que estão a caminho. A vida segue seu curso, independente de qualquer coisa.
Antes de eu ir, a certeza de que eu voltaria diferente de quando parti, o que é inevitável que aconteça. Mas uma obviedade que não tinha passado pela minha cabeça: tudo vai estar diferente de quando fui embora. Exceto as pessoas fundamentais. A essas sou ligado por algo imutável. A essência. E essa não muda nunca.
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