quinta-feira, maio 24, 2007

Stranger than fiction

Tem situações na vida que a literatura dificilmente bate.

Ontem, por exemplo.

Por volta do meio-dia, veio a falecer uma das avós da Jacque, de nome Teresina Loner Rizzolli, mas conhecida por Nona. Ela já tinha 95 anos e estava bem doente nos últimos meses. Estava internada no Hospital da PUCRS, e esse era um desfecho já esperado. O velório começou no final da tarde, o enterro foi às 21h, e aí começa o insólito: o cemitério, daqueles que os mortos ficam em gavetas, não enterrados, está localizado num morro logo acima do estádio do time tricolor co-irmão.

E ontem tinha o segundo jogo das quartas-de-final da libertadores da América, ali embaixo do cemitério, que começou às 19h15. O que significa que desde as 18h, na capela onde velávamos o corpo da Nona, nos sentíamos dentro do estádio do Grêmio, tamanho era o volume dos gritos e do cantos. Muito estranho.

Mais estranho (e bizarro, por que não?) foi na hora em que o padre estava fazendo as orações tradicionais desse momento. Justamente em meio ao silêncio que era só quebrado pela oração recitada (a porta da capela havia sido fechada), justamente nessa hora, houve o primeiro gol do Grêmio. Foi como se estivéssemos dentro do campo. Gritaria na rua, foguetes.

Todos continuamos em silêncio ouvindo o padre. De repente, o meu celular faz o som de quando recebo uma mensagem, confirmando o que já sabíamos: gol dos azuizinhos.

O que poderia ser pior que estar num velório de alguém querido?

Certamente estar num velório de alguém querido ouvindo a torcida cantar vitória do co-irmão. E de noite.

E frio.

Estava muito frio ontem à noite em Porto Alegre, e lá onde estávamos ventava ainda mais.

Saímos de lá durante a cobrança de pênaltis, que o Grêmio ganhou. Fomos jantar e escolhemos - para azar meu, que sou colorado - um restaurante para onde foram QUASE TODOS os gremistas comemorar o vitória.

Que dia, que dia...

Por outro lado, posso de dizer que a Nona realmente descansou em paz: ela era gremista...

Até.

Nenhum comentário: