Volto a falar sobre viagens, assunto recorrente deste semanário e uma das minhas paixões na vida. Não só paixão, na verdade. Podemos incluir viajar na categoria dos vícios e das obsessões. Mas não é esse o enfoque de hoje.
Viajar é, antes de tudo, uma experiência sensorial. As principais viagens são as de férias, em que estamos despidos das diversas camadas de aparências que os nossos papéis sociais nos impõem. Em férias, você é simplesmente você e seus chinelos (que dizem muito sobre nossa personalidade, mas é assunto para outro dia) ou suas ceroulas, depende em que estação do ano você tira férias ou para que estação você viaja nas férias. Ficamos muito sensíveis ao nosso mundo interior e ao mundo à nossa volta. Imagine o estrago que um camarão mal preparado pode causar a um verão. Ou mesmo um chope mal tirado...
Assim é com a nossa impressão com relação a cidades que conhecemos. Ninguém simplesmente vai a uma cidade. Se fosse tão simples assim, não valeira a pena ser turista. Aliás, ninguém que ser taxado de turista, já perceberam? Queremos sempre passar por locais, por nativos. Uma grande e boa sensação foi uma manhã, em Pordenone, no norte da Itália, em que caminhávamos e alguém que participava de uma rústica ou algo do gênero me perguntou para que lado ficava a igreja principal. Para mim! E eu sabia! É uma ótima sensação.
Voltando ao que eu falava, quando visitamos um lugar novo, queremos senti-lo, vivê-lo. Assim teremos as melhores lembranças de viagens. Por isso olhar fotos das viagens de outros para locais que não conhecemos não é nem de perto a emoção de olhar para fotos de lugares em que já estivemos e, claro, as nossas fotos. Toda foto vem com uma história anexa, e isso é o melhor. Também por acreditar que visitar um lugar e senti-lo é uma experiência quase solitária (que pode ser feita com mais pessoas, mas não com muitas) que não sou adepto de excursões. A não ser que se tenha quinze anos e se viaje num ônibus cheio de colegas de aula...
É importante saber, também, que essa experiência de conhecer lugares novos é completamente dependente de quem está junto com você. A influência do outro é decisiva, principalmente se ele já conhece o lugar e você não. Sem querer, participei de um estudo de caso-controle sobre “a influência do guia na percepção sensorial de um lugar novo”. Fui o controle. Aconteceu assim: escolheu-se aleatoriamente um casal gaúcho de idade na faixa-etária entre 25 e 35 anos e um indivíduo para ser o controle, de mesma idade. Escolheu-se, aleatoriamente, uma cidade: Florença.
Os dois grupos (o casal e eu) foram separados e levados à Florença na mesma época do ano, com diferença de um dia, e guiados por dois guias. O primeiro grupo, o casal, tinha um guia que já tinha estado na cidade uma vez, sozinho, e não tinha gostado. O outro grupo (eu), teve uma guia que tinha estado duas outras vezes em Florença e que havia ficado encantada com a cidade. Visitamos (eu e a guia) os pontos turísticos principais, ficamos num hotel turístico, cheio de japoneses fumantes e com um café aguado. Resultados: o casal que foi com o guia que não gostou da cidade também não gostou de Florença, e eu, que fui com uma guia que adorava Florença, adorei a cidade.
Conclusão do estudo: a pessoa que te apresenta um lugar é, em boa parte, responsável pela forma que sentes esse lugar.
Pergunta sem resposta:
Como alguém pode não gostar de Florença?
Até.
2 comentários:
Viajar e conhecer outras culturas realmente é fascinante, assim como o seu blog, gostei de tudo aqui e por isso me tornarei um leitor assíduo.
Um abraço!
Resposta à sua pergunta sem resposta:
Sei lá!
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