domingo, julho 08, 2007

A Sopa 06/51

Esses últimos dias foram de pouco sono, tensão e medo. Mas já está tudo bem, graças a Deus.

Desde quinta à noite envolvido com o hospital, como familiar de paciente. Poucas horas dormidas de quinta para sexta-feira, quando o pai internou, e praticamente sem comer nada até vermos o exame que mostrou que o bicho não era tão feio quando poderia ser. Ficou na UTI até hoje de manhã e já está no quarto, lépido e fagueiro.

Minha cabeça, evidentemente, esteve fora do ar por esses dias, então deixo para A Sopa de hoje um texto de 2002, que escrevi quando o meu tio, irmão do pai, faleceu, e reflito um pouco sobre o que penso do mundo. Logo volto com a força triplicada.

Até.

“Longo final de semana de descanso, despedida e reflexões.

Tenho trinta anos e, há doze, morri. E voltei. O processo de me readaptar ao mundo terreno não foi muito fácil como podem pensar alguns. “Morrer é fácil, difícil é voltar a viver”, diz a máxima que talvez seja de minha autoria.

Estes fatos – ter ‘morrido’ e toda a carga emocional que o acontecimento traz consigo – com certeza moldaram muito do que sou e da forma com que vejo a vida e o mundo hoje. Tolerância é a palavra que sintetiza o quadro todo, provavelmente.

Antes de tudo, temos que ser tolerantes com nossos próprios defeitos e as pequenas mesquinharias que certamente poluem nossas mentes com alguma freqüência. É humano ter pensamentos mesquinhos de vez em quando, mas eles devem ficar apenas no nosso íntimo, sem deixar que os outros percebam, até que a cabeça “esfrie” e os afastemos. Quantas vezes não perdemos ótimas oportunidades de ficar em silêncio e dissemos coisas de que nos arrependemos depois? Muitas, com certeza, mas elas devem servir de aprendizado. Pensar primeiro, medir conseqüências e, se preciso, dizer o que precisa ser dito, por mais duro e difícil que possa parecer. No fundo, somos todos tolerantes com as nossas idiossincrasias, às vezes até demais.

Por outro lado, ser tolerante para com os outros é muito difícil, e alguns dirão ser impossível. Eu acho que é um longo e, muitas vezes, difícil aprendizado, mas não impossível de se alcançar. Convicções políticas e religiosas, entre outras, geram discussões apaixonadas e muitas vezes violentas. Aceitar o que nos é estranho é muito complicado. Pessoas que pensam diferente, que vêem o mundo de outra maneira, que têm valores diversos dos nossos assustam, porque nos fazem questionar quem somos e, afinal, o que estamos fazendo no mundo. O mais simples, nestes casos, é não pensar, e, por isso, afastamos esses “perigos” de nós, essas ameaças ao nosso mundinho pronto e seguro em que só temos que, mecanicamente, viver.

Existe um dito popular que muitas vezes ouvi, e que fala sobre as nossas atitudes e a repercussão delas sobre nós. É o que diz que “o inferno é aqui”, na mesma linha do “aqui se faz, aqui se paga”. Sempre acreditei nestas afirmações porque elas mostram um certo senso de justiça, pois o mal que fizermos voltará para nós. Já sabia, mas nunca tinha tornado consciente para mim que existe o outro lado da moeda: se o inferno é aqui, o céu também é aqui. Se formos justos e corretos, receberemos de volta justiça e correção, mas também respeito e admiração.

O evento que motivou o início desta série de reflexões do final de semana foi um fato terrível que envolveu a minha família na quinta-feira antes do feriado: um dos meus tios, irmão do meu pai, morreu num acidente de carro. Na quinta à noite, fui até o velório, em Belém Novo, e na sexta-feira de manhã voltei ao bucólico bairro para o enterro. Foi padre quem falou sobre aquilo de o céu ser aqui. A tristeza das minhas primas, filhas dele, os meus sentimentos com relação à morte, tudo me fez pensar sobre a vida em geral, e reforçou minha convicção de que não há nada que justifique a manutenção de ressentimentos ou mágoas com relação a outras pessoas. Definitivamente, não vale a pena. É muita energia gasta com sentimentos negativos.

Envelhecemos muito rapidamente se cultivamos rancores.

E a vida já é muito curta para perdemos tempo com sentimentos que nos diminuem.”

Um comentário:

Anônimo disse...

Muita forca para vc !