Sou um espírito primitivo, confesso.
Ainda tenho muito que evoluir
para poder aceitar algumas das inevitabilidades da vida.
A morte, por exemplo.
A ideia da morte ainda me perturba, por ser um desperdício. Quanta história,
quanta experiência, quanta – obviedade - vida se perde quando da morte de
alguém, seja lá quem for. Sei, contudo, que essa inconformidade é como ser
contra a lei da gravidade ou negar a evolução: inútil, infantil até. Paciência.
Pode me chamar de espírito infantil, então.
Essa característica ajuda a
definir quem sou, e é a base de diversas outras características que me definem.
Como acreditar nas pessoas. Como regra, eu acredito nas pessoas, e procuro as
valorizar. Todos – até prova em contrário – merecem meu respeito e
consideração. A sua história pessoal, e a nossa história em comum.
Falo, então dos meus amigos, do
presente e do passado, os que são e os que foram e não são mais. Todos tem sua devida
importância porque fazem parte do que me tornei e do que continuo me tornando. Falo até daqueles de quem eu queria ser amigo (ou mais amigo), mas a vida não permitiu. Falo também daqueles a quem tenho a pretensão de ensinar alguma coisa, me sentindo como um irmão mais velho, apesar de já ter idade para ser pai de muitos, sempre torcendo por eles e querendo ser mais próximo. Muitos são os amigos, claro que uns mais e outros menos. Muitos, mas alguns poucos. Sabem como é, sabem quem são.
E então entra a relação, às vezes
tranquila e outras vezes conflituosa que tenho com o tempo, melhor, com o
passar do tempo. Mais uma batalha inútil que volta e meia travo, como Quixote lutando
com moinhos de vento, ou como quando me sinto empurrado para o corner e fico a me
defender de um inimigo imaginário num improvável luta de boxe. O tempo às vezes
se confunde, e volto no tempo ao ouvir uma música antiga e lembro de pessoas e
chego a pensar que devo voltar – não para refazer caminhos ou mudar o que
passou – mas para reencontrar pessoas e lembrar, recontar histórias, agradecer
por terem sido importantes naquele momento que passou.
Mas o tempo não volta, avança.
E novas referências são criadas,
novas estórias são vividas e contadas (a vida não é muito mais que isso mesmo, estórias
para contar). E os amigos estão aí, e é disso que falo. São eles essa conexão
com o passado e com o futuro.
Eles são a referência.
O norte.
Até.
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