terça-feira, novembro 27, 2018

Histórias de Aeroporto (2)

Os viajantes frequentes são como uma tribo.

Uma irmandade.

Estou ainda aprendendo, mas já reconheço algumas características que indicam que a pessoa que está a sua frente ou atrás de você na fila de embarque é um(a) viajante frequente. 

Antes de mais nada, a fila em que a pessoa está.

O viajante frequente está normalmente na fila da prioridade. Caso seja menor de 60 anos (o que dá direito a ser “prioridade por lei”), estará na fila de prioridade premium (por status no programa de milhagem da companhia aérea ou porque adquiriu o chamado assento conforto, mais à frente e com – em tese – mais espaço para as pernas, e que dá direito ao embarque prioritário). Sabe, principalmente, que – nos dias de hoje – em tempos de bagagem despachada paga e maior peso permitido para a bagagem de mão, embarcar primeiro é importantíssimo. Só dessa forma garante que a sua mala será acomodada no compartimento sobre o seu assento.

Quem – por qualquer razão – deixa para embarcar na última hora, quase que invariavelmente terá que despachar sua bagagem de mão ou colocá-la “onde encontrar espaço”, o que muitas vezes significa estar sentado no assento 3, por exemplo, e deixar a mala no 18. Ao final da viagem, terá que se deslocar contra a corrente para o fundo da aeronave para “resgatar” sua mala. Inconveniente.

Isso porque o viajante frequente quer desembarcar o mais rápido possível assim que o avião chega ao seu destino. Mal a aeronave para, já está em pé, pronto para desembarcar. Até porque muito em breve estará embarcado novamente a caminho de um novo destino.

Outra característica aparente dos viajantes frequentes é que apenas interagem entre si quando há algo errado com o voo. Atraso, por exemplo. Sempre é motivo para contar sua(s) história(s).

Quinta-feira passada, a caminho de Salvador – onde daria aula na sexta-feira pela manhã antes de iniciar a volta que atrasaria e tudo o mais que contei sobre voos turbulentos e arremetidas - estava na fila de embarque quando percebi que o voo ia atrasar. Bem à minha frente, uma viajante frequente (iniciou a fila das prioridades antes de mim) ou uma viajante paranóica, o que – em termos práticos – dá no mesmo...

A notícia do atraso do voo a deixa inquieta, percebo. Estou calmo porque meu tempo de conexão é suficiente para suportar um atraso não muito longo. Ela diz que está preocupada porque o tempo de conexão dela é curto. Inicio uma conversa:

- Vai para onde?

- Recife, para voltar amanhã – diz ela.

- Estou indo para Salvador, também para voltar amanhã – comento – e te entendo, há duas semanas fui até Belém/PA para uma aula e fiquei lá apenas 9h, pegando um voo de volta às 2h da manhã...

- Já eu – diz ela – fui para a Austrália no início do mês...

Respiro fundo. Penso na vida.

Passam-se segundos nesse ínterim.

- Ganhou, admito derrota.

Não dá para competir com um viajante frequente.

Até. 

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