Mesmo os Viajantes Frequentes experientes são passíveis de erros relacionados às suas viagens. Eu, que começo a ser considerado um Viajante Frequente, previsivelmente sou ainda mais propenso a cometê-los.
Quinta-feira, ontem.
Após ter viajado para Belo Horizonte, onde daria uma aula na quarta à noite, acordei às 4h30 da manhã de quinta-feira porque meu voo para São Paulo, onde daria outra aula, ao meio-dia, sairia às 7h10 e o aeroporto de Confins, como o nome já antecipa, fica nos confins do mundo. Longe. Cerca de uma hora ou mais do centro de BH, me avisaram.
Tudo tranquilo, estava eu no aeroporto tomando café às 6h10.
Após, dirigi-me para as proximidades do portão de embarque, onde cheguei ainda meio cedo – ao meu ver – para fazer fila para o embarque que começaria às 6h30. Sentei, então, na área de um sushi que fica ao lado do portão e que – obviamente – estava fechada aquela hora. Abri o notebook para aproveitar os poucos minutos que tinha, mas estava sem bateria. Fiquei conferindo o celular, quando aconteceu.
Um viajante frequente.
Rapidamente, antes de eu sequer fazer menção de me movimentar, um cidadão iniciou a fila de embarque das prioridades premium. No mesmo instante, levantei e parti em direção à fila. Mas não fui ágil o suficiente: quando cheguei, já era algo como o oitavo ou nono da fila. Vacilei, pensei, mas o voo das 7h10 de Belo Horizonte para São Paulo é um voo de viajantes frequentes. Mais experientes e/ou ágeis que eu.
Tudo bem, foi um voo tranquilo.
Desde cedo em São Paulo, fiquei esperando no aeroporto para encontrar a colega com que eu iria dar a aula ao meio-dia. Ela chegaria vinda do Rio de Janeiro cerca de uma hora após a minha chegada. Aproveitei para carregar a bateria do notebook e escrever o relatório sobre a aula da noite anterior.
Chegou e decidimos pegar um Uber e sair, ao invés de ficar no aeroporto fazendo tempo antes de ir para o local da aula conjunta que daríamos. Boa ideia, pois o trânsito de São Paulo estava pior que o normal, e levamos cerca uma hora para chegar no local. Ainda tínhamos cerca de uma hora até o horário marcado. Aproveitamos para alinhar nossa apresentação e fazer um lanche.
Pouco antes do meio-dia, chegamos onde seria a aula, momento em que descobrimos que o horário real era 12h30. Com o “tempo de tolerância”, iniciei a aula às 12h40. Ambos falamos, houve um momento de discussão e perguntas e respostas, e terminamos às 13h40. Tudo bem, fomos direto para o Uber para voltarmos ao aeroporto. Assim que entramos no carro, voltamos a falar – havíamos comentado na ida – em antecipar nossos voos. O dela, das 18h para às 16h, e o meu, veja bem, das 16h para às 14h55.
Foi nesse momento que a história tomou ares de drama.
A previsão de chegada no aeroporto pelo aplicativo era 14h15, momento em que começaria – em tese – o embarque. Como estava sem bagagem despachada, era só chegar e embarcar. Chegaria em cima da hora no aeroporto, mas chegaria em casa uma hora antes do previsto (o que vale ouro para quem passa tempo viajando).
Valia correr o risco.
O carro tentava avançar pelo trânsito de São Paulo, e decidi tentar antecipar o voo pelo aplicativo da companhia aérea. Testei, apareceu a opção do voo que queria como disponível, confirmei a troca, passei para a escolha do assento, havia apenas um assento disponível, pagando por ser conforto. Aceitei, fui marcar... e disse que já havia sido escolhido. E não havia mais nenhum disponível! Nenhum mesmo!
Não conseguia fazer o checkin por não haver assentos disponíveis e não estava mais no meu voo original! Tentei ligar para a companhia aérea e a mensagem era de que devia ir ao balcão no aeroporto.
Sabia que – como chegaria em cima da hora – ir ao balcão da companhia significava não pegar o voo das 14h55, mas aquela altura só queria garantir o voo original. Tensão. Ao mesmo tempo, o trânsito não fluía, e o motorista do Uber, solidário, dava força e tentava chegar logo. O que me restava, nesse momento?
Culpar alguém, claro...
Olhei para a Gabriela, colega com quem dividia o Uber, e disse:
- A culpa é tua!
- Minha? Eu não fiz nada!
- Claro que fez, quem começou com a ideia de antecipar voos?
- Mas era o meu voo, das 18h para às 16h!
- Não importa, alguém tem que ser culpado caso eu perca o meu voo...
Nisso o motorista do Uber explodiu rindo.
Todos rimos... rir é o melhor nesses momentos...
Ao nos aproximar de Congonhas, combinamos que eu desceria e não a esperaria para poder correr até o balcão e tentar salvar o meu voo original. Assim foi. Saí do Uber e saí em desabalada carreira pelo aeroporto até a loja da Gol. Fila enorme.
Cheguei no balcão, me desculpei com quem estava sendo atendido, e pedi informação de como proceder. Tinha que ir até o checkin, para tentar – veja bem – tentar me recolocar no voo original. Fui até o checkin, mesmo procedimento, envergonhado por atrapalhar o atendimento em ocorrência, e expliquei o caso. Disse que voo estava fechado. Estou sem bagagem, argumentei com cara de cachorro carente.
Perguntou para o supervisor.
Que disse sim!
Me deu o cartão de embarque, saída de emergência meio, e disse para eu correr, porque era embarque imediato. Nova corrida, inspeção de segurança, painel de voos dizendo “Embarque próximo”. Havia conseguido!
Caminhei até o portão – o mais distante da entrada do embarque – e ainda não havia iniciado. Fila das prioridades, penúltimo lugar da fila, mas – muito mais importante que isso – chegando em casa mais cedo. Embarcado, até o último momento com o assento do corredor vago.
Estavam quase fechando as portas quando entrou o último passageiro que, ao chegar olhou para mim e disse “estava pensando que ia ficar vago, não? Lamento, mas vai alguém ao teu lado ”.
Olhei para ele e disse que se ele soubesse da minha história, saberia que eu iria sentado no chão, no fundo, de tão feliz por estar indo à aquela hora. E contei a minha história. E éramos os três, na mesma fila, janela, meio e corredor, passageiros que haviam antecipado seu voo e quase não conseguido embarcar.
Ainda antes de colocar o celular no modo avião ainda tive tempo de enviar uma mensagem para a Gabriela, só para agradecer pela ideia de antecipar o voo...
Somos gratos, também, nós os viajantes frequentes.
Até.
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