terça-feira, janeiro 28, 2020

Sobre armas e homens

Polêmica.

Defendo a liberdade individual.

Cada um de nós tem o direito de viver conforme suas próprias escolhas, conforme suas convicções, e ninguém tem nada a ver com isso. Crenças religiosas, opção sexual, estilo de vida, estado civil, entre outras, devem ser determinações pessoais, e livres. E ninguém tem o direito de interferir nisso. Dói falar, mas até os vegetarianos tem direito a viver sua opção, sem interferências externas. Estão errados, mas temos que respeitar...

Enquanto são opções individuais, nem a Igreja, nem o estado (e ninguém mais) tem direito de se meter. Se minha escolha não interfere objetivamente com a vida de ninguém, não estimula o crime (como no caso das drogas), deixem-me em paz. Simples assim. Quando é algo que diz respeito à vida em comunidade, aí temos que nos enquadrar. Em outras palavras, respeitar a lei, ou arcar com as consequências.

Como no caso das armas de fogo.

Digo, para deixar clara minha posição, que provavelmente eu não teria/terei uma arma de fogo. O que não está em contradição com o que vou dizer agora.

Se, eventualmente, eu quiser ter uma arma de fogo em casa, para a minha defesa e da minha família, o estado não tem o direito de opinar sobre isso. Em minha casa, enquanto eu não causar mal a ninguém, mando eu, e o estado fica de fora. Se um criminoso entrar em minha casa, ameaçar a minha família, eu tenho o direito de me defender, pois o estado não é capaz disso. Agora, se eu tiver uma arma, legalizada ou não, sair de casa, brigar no trânsito e matar alguém por isso, eu tenho que ser punido exemplarmente pelo crime cometido. 

Pois aconteceu em Porto Alegre exatamente isso.

Numa briga de trânsito besta, um homem de 24 anos pegou uma arma e matou três pessoas de uma mesma família. Uma tragédia. Gigante. Inominável.

Mas que não ocorreu porque ele tinha porte de arma, o que ele não tinha. Nem porque o governo do Brasil quer liberar a posse de armas. Não podemos ser desonestos e assumir que – caso a posse de armas seja facilitada – as pessoas vão sair por aí se matando por bobagem (mesmo que seja o que tenha ocorrido nesse caso). Temos, isso sim, que punir exemplarmente que comete esse tipo de crime. 

Não somos crianças que precisamos de um estado tutor. Somos (temos que ser, ao menos) adultos que arcam com as consequências de seus atos.

Até.

domingo, janeiro 26, 2020

A Sopa


(Ano 19, Número 11)

Histórias de aeroporto (4).

Não sou mais um viajante frequente. Circunstâncias da vida. Em pouco tempo, para confirmar isso, perderei meu status de Smiles Diamante, o que facilitava um pouco a vida nas estadas por aeroportos.  Não lamento, contudo. O maior tempo em casa não tem preço. 

Ano passado viajei pouco, mais para férias do que para trabalho (que sorte, que sorte). Esse ano, devo viajar ainda menos, ao menos de avião. 

Final de semana que ora se encerra foi de viagem. 

Curta distância, pouco tempo.

Fomos à Curitiba na sexta para um casamento e voltamos sábado final de tarde, ainda em tempo de um volta de bike ao pôr-do-sol. Voo curto, Porto Alegre – Curitiba. LATAM. A Jacque havia comprado assentos conforto (ou seja lá o nome que a LATAM dá a esse tipo de assento) e então tivemos embarque prioritário, o que sempre é uma vantagem, afinal estávamos apenas com bagagem de mão.

Assento na segunda fila, tudo OK, o voo decola. Assim que partimos, o piloto começa a conversa dizendo que a LATAM é a companhia aérea mais pontual do Brasil. Lembro que nos voos da GOL se diz(ia) o mesmo, que era a companhia aérea que dava mais valor ao seu tempo (ou algo assim). Então ele diz que nosso voo, que saiu à 8h35, vai chegar às 10h no destino. 

Como assim?, penso na hora. Não íamos para Curitiba?

Não faz sentido.

Espero para ver. Enquanto isso, servem refrigerante e biscoitos, diferente da última vez que havia voado LATAM, em que apenas tinham oferecido água...

Voo tranquilo, chegamos no destino às 9h35. O capitão comenta, então, sobre a pontualidade, e a Jacque mata a charada: eles dão uma previsão pior para poderem dizer que chegaram antes do previsto!

Marketing, tudo marketing.

Interessante. Curioso. E bom.

Que continue assim, o que é muito melhor que atrasos...

A volta foi da mesma forma, o que é ótimo.

O pior é quando viajamos toda hora, o que significa que estatisticamente que em algum momento vamos ter problemas de atrasos, aeroportos fechados, e outros (o que muito aconteceu comigo quando era viajante frequente). 

Até.

sábado, janeiro 25, 2020

Sábado (e um lugar para morar - 7)

                      Evora, Alentejo
                      Portugal, Fevereiro/2018


segunda-feira, janeiro 20, 2020

A Sopa

(Ano 19, Número 10)

Histórias de supermercado.

Os supermercados são uma representação da vida. De verdade. Ali reunidas, pessoas de diferentes origens, classes sociais, objetivos e histórias prévias convivem temporariamente, compartilham o mesmo – às vezes não muito grande – espaço por um curto período de tempo. Trajetórias de vida que se cruzam enquanto compras são feitas. Temos de tudo, inclusive os implicantes.

Como eu, por exemplo.

Já contei isso antes, mas tenho diversas implicâncias, como com quem bebe cerveja enquanto faz compras. Acho lamentável, de última, mais ainda quando vão sair do local dirigindo seus carros e pondo em risco a vida de pessoas. Mas essa é só uma, dentre várias implicâncias...

Como com quem vai comprar pão.

Falo desses supermercados com padarias, em que se faz fila e pede-se o pão que se quer (normalmente o pãozinho de 50g). A funcionária te olha e já dizemos o número de pãezinhos que queremos. Se é de outro tipo, especificamos. Caso contrário, o padrão é o de 50g. 

Acontece, e já faz tempo, que virtualmente sempre que alguém antes de mim, ou em paralelo (quando são duas ou três atendentes), além de pedir o número de pães que quer, especifica: “bem branquinhos”, ou “bem morenos”. Sempre me irritei com isso. Afinal, que diferença faz? Pão é pão.

Inferno.

E eram recorrentes, o pedido específico e a minha irritação.

Até sexta-feira que passou.

Rápida passada pelo supermercado, nos dividimos (a Jacque e eu) no que pegar e fui para a fila comprar o pão. Chegou minha vez, e pedi seis pãezinhos. Nisso, a atendente perguntou: “Branquinhos ou mais escuros?”. “Tanto faz”, respondi, e percebi que os pães estavam divididos pela cor, num tipo de apartheid de padaria(?!). Pães separados pela cor, como se todos não fossem feitos da mesma farinha. Quanto preconceito, pensei. Disse a ela não entender a razão, no que ela disse que nem ela, mas os clientes pediam. Fiquei pensando o que significava isso. Provavelmente nada, concluí. E segui adiante para a próxima seção, resoluto, mas sem olhar para o pior tipo de cliente de supermercado.

O que compra arroz branco cozido.

Até.

domingo, janeiro 12, 2020

A Sopa

(Ano 19, Número 9)

Polêmica.

Não assisti e não faz diferença.

Lembro de alguns anos atrás, quando - no já póstumo programa CQC da Bandeirantes - o Rafinha Bastos fez uma piada sobre determinada cantora. Imagino que de improviso, ao vivo. A piada não vem ao caso, mas sim sua repercussão: processo na justiça, demissão do autor da mesma. Tudo por uma piada que era, na pior das hipóteses, ruim, mas que ganhou uma importância quase sobrenatural. Sobre o ocorrido, lembro de dizer, que a pior consequência de uma piada ruim deveria ser o esquecimento, e que a polêmica a tornou maior do que realmente deveria ter sido.

Transportemo-nos para o presente.

Como dizia, não assisti o episódio de Natal do grupo Porta do Fundos, mas nada do que vou dizer seria diferente se eu tivesse visto. Parênteses. Eu vi o do ano passado, que foi premiado, e gostei muito. Aliás, sou fã do Porta dos Fundos. Divirjo radicalmente do pensamento politico de determinados integrantes do grupo, mas isso não tem nada a ver com a qualidade do grupo, do humor. Fecha parênteses.

Então, independente de ter visto ou não, de ter gostado ou não, sou totalmente favorável a ele, ou seja, que ele não sofra nenhum tipo de restrição ou censura. Porque quem tem julgar se ele deve ser visto ou não são os potenciais espectadores. Ele está em uma plataforma que não obriga ninguém a assisti-lo. Simples assim. Acha que não vai gostar? Não assista. E não vem encher o saco.

Mas ele é ofensivo aos católicos, você pode argumentar, religioso leitor.

Com eu disse, ninguém é obrigado a assisti-lo.

“Mas ofende a Deus e aos cristãos”, você pode estar gritando para mim nesse momento.

Então, amigo, esse teu Deus é muito mimimi e tua crença muito fraca, a ponto de ser abalada por um programa de tevê que não és obrigado a ver. Aliás, acho que deverias repensar tua relação com o teu Deus. Se ele te exige mais que ser uma pessoa boa, correta, fazer o bem, não fazer aos outros aquilo que não querias que fizessem contigo, se acreditas que ele está preocupado com tuas roupas, cor de cabelo ou tatuagens, se ele acha que isso é mais importante que ser honesto e fazer o bem, então esse teu Deus tem problemas. Ou, melhor, quem deve ter problemas és tu e deves repensar essa tua relação.

O atentado à sede do grupo Porta dos Fundos por criminosos fanáticos (ou oportunistas, tanto faz)  não passa disso, de crime. Não existe outro nome e nem justificativa para tal evento. E os responsáveis devem ser punidos.

Como eu falei, se não gostou, se acha que não vai gostar, não assiste. Se fosse em televisão aberta, era só trocar de canal. Como nem isso acontece, é só não acessar. Ponto. Se é ruim como você diz ou acha, ou mesmo que seja ofensivo ao católicos, não assiste e não dê audiência com essa gritaria. Melhor ainda, deixa cada um decidir se assiste ou não para tirar suas próprias conclusões.

E não enche o saco.

Até.

domingo, janeiro 05, 2020

A Sopa

(Ano 19, Número 8)

Retrospectiva (Final).

Um momento libertador.

Recapitulando, em fevereiro de 2019, dez meses antes do que eu imaginava, virara profissional liberal. Os fatos atropelaram o que eu havia projetado, mas sabemos que a vida é assim, é aquilo acontece enquanto fazemos planos. O momento do comunicado da demissão, feito pelo meu gestor na empresa (colega médico, conhecido há muitos anos) e pela diretora da área médica (que já havia se tornado uma querida amiga), ambos entre constrangidos e chateados, foi tranquila para mim, como já disse.

Primeiro, porque não fui pego de surpresa, afinal quando chamado para a reunião de maneira formal, sem motivo aparente, já indicava o que aconteceria. Foram vinte e quatro horas entre a convocação e o comunicado, e já havia digerido a ideia. Mas, principalmente, porque era um movimento que eu imaginava fazer, não tão no início do ano, admito. E foi o que disse a eles, que ficassem tranquilos, eu ficaria bem. Mundo corporativo, sem mágoas.

A partir do ocorrido, justamente na semana em que voltara de férias (e lamentei não ter sabido antes, pois poderia ter estendido as mesmas por mais uns dias) decidi que não pensaria em trabalho até o final do mês de fevereiro, e assim o fiz.

Quando março iniciou, após pensar um pouco, decidi que 2019 seria como um ano sabático, mas não exatamente como as pessoas imaginam esse tipo de período: eu – durante o ano – trabalharia apenas no consultório. Me dedicaria apenas ao atendimento de pacientes, e não assumiria nenhuma outra função. Com isso, teria tempo para retomar atividades que estavam relegadas a um segundo plano, por pura falta de tempo, porque corria atrás da cenoura que nunca alcançaria.

A partir dessa decisão, decidi não prestar nenhum concurso para professor universitário (houve dois ou três que poderia me candidatar), não buscar outras funções ou atividades administrativas. Isso ocorreu ao mesmo tempo em que vivi um período de – como chamei – “quarentena informal” no relacionamento com outras empresas da indústria farmacêutica (por motivos óbvios), o que significou não ser chamado para eventos e outras atividades.

E era o que eu queria.

Viajar menos, ficar mais em casa, viver de forma mais tranquila.

Claro que não isento de angústias e ansiedades. O fato de ser profissional liberal implica em rendimento variável, dependente do movimento de pacientes, de convênios, e até da sazonalidade (sou pneumologista). Mas a dúvida é o preço da pureza (como disse Sartre e cantou Humberto Gessinger) e é inútil ter certeza.

Ao longo do ano, vivi momentos eventuais de ansiedade pela ausência daquela segurança de que todos os dias quinze e trinta entraria um valor certo, tranquilo, independente do que acontecesse. Como falei antes, era o ônus de não ter emprego de carteira assinada, décimo-terceiro e férias. Foi a primeira vez em que me encontrei nessa situação. Por outro lado, logo eu me dava conta dos benefícios de não ser empregado e nem ter chefe: a liberdade de ser senhor do meu tempo.  

Minha rotina mudou. A ausência das viagens me fez ficar mais tempo em casa e, claro, no consultório. Foi um recomeçar, pois o tempo em que estive ausente certamente me fez perder pacientes ou, no mínimo, não ganhar novos. Como ter novos pacientes se não estava atendendo? Resposta óbvia. Então o ano foi o reinício do consultório, e sabia (sei) que esse é um processo lento, que leva tempo, e que ainda está em andamento.

Mais importante, talvez, foi ter – ao longo do ano – encontrado mais tempo para mim, para estar mais presente. Para escrever (e essa Sopa é justamente o retorno ao exercício da escrita), para ficar mais em casa (e cozinhar alguns dias), ler mais livros e menos telas (desafio que ainda enfrento),  voltar a praticar exercício físicos. Esse último item merece um destaque especial.

Ainda no tempo da adolescência e durante a faculdade de medicina, eu era extremamente ativo, principalmente nos verões na praia. Passava os verões no litoral gaúcho, os meses de janeiro e fevereiro eram de intensas atividades diárias. Acordava cedo, caminhava e jogava vôlei na praia pela manhã, e futebol todos os finais de tarde, de segunda à segunda. Mas isso acabou com o tempo, ou a falta de, derivada das atividades do dia-a-dia.

Virei sedentário.

Quando tentei retornar às atividades, já há algum tempo, tive problemas de menisco nos dois joelhos, e fui submetido a artroscopias em ambos. Voltei a ficar parado. Há uns três anos, comecei a nadar. Durante um ano, mais ou menos, ia nadar ainda antes das seis horas da manhã, e iniciava o dia superbem. Até que cansei. Troquei para musculação, que fiz durante um tempo, mas parei por falta de entusiasmo e pela estrutura da academia que fazia.

Há mais ou menos um ano e meio atrás, fomos comprar uma bicicleta de presente para a Marina, e – no embalo – comprei uma para mim. Ficou aos menos seis meses parada porque tinha algo no freio que não estava bem, e não tinha tempo/animação de ir olhar. Estava acumulando pó na garagem.

Quando ocorreu o evento do meu desligamento da empresa, decidi que era hora de retomar as atividades físicas, de deixar de ser sedentário, de trocar tempo de aeroporto pelo ar livre.  Passei a ser ciclista, digamos assim. Quando a meteorologia permitia, conseguia sair até três ou quatro vezes por semana. Estava legal, mas não era o suficiente.

Primeiro porque moro no sul do Brasil, e o tempo – principalmente no outono e no inverno – não colabora, e – mais importante – porque chega um momento da vida que temos que reforçar a musculatura, porque vamos começar a perder, e isso está associado com a qualidade de vida. Com esse pensamento, de que precisava voltar a musculação, passei quase seis meses procurando uma academia.

Visitei várias, nunca me agradava.

Até que uma amiga me indicou a academia que ela frequentava. Fui visitar e foi sintonia imediata: comecei e tenho sido frequentador regular já há quatro meses, quatro vezes por semana. Nos finais de semana, ainda o ciclismo, agora muito melhor pela bicicleta nova que me dei de presente de Natal.

Mudou muito a vida nesse último ano, e o que eu mais dizia é que ia ser a primeira vez em dez anos que eu ia terminar o ano de trabalho sem precisar entregar nenhum relatório ou projeto. Dia 20/12 fechei o consultório para abrir apenas no dia 02/01/2020 sem precisar prestar contas de nada para ninguém. Como eu havia dito, libertador.

O ano que recém terminou foi, sem dúvida nenhuma, o ano da qualidade de vida. Como sempre, coisas boas, e outras não, aconteceram. Também, como sempre, preocupações e angustias foram inevitáveis. É da vida. O mais importante, no final das contas, é que foi um ano em que pude desacelerar e focar no que é fundamental.

Para 2020, que já começou, espero continuar nesse ritmo, e encontrar mais os amigos, mais churrascos e cafés.

Valeu.

Até.

sábado, janeiro 04, 2020