segunda-feira, janeiro 20, 2020

A Sopa

(Ano 19, Número 10)

Histórias de supermercado.

Os supermercados são uma representação da vida. De verdade. Ali reunidas, pessoas de diferentes origens, classes sociais, objetivos e histórias prévias convivem temporariamente, compartilham o mesmo – às vezes não muito grande – espaço por um curto período de tempo. Trajetórias de vida que se cruzam enquanto compras são feitas. Temos de tudo, inclusive os implicantes.

Como eu, por exemplo.

Já contei isso antes, mas tenho diversas implicâncias, como com quem bebe cerveja enquanto faz compras. Acho lamentável, de última, mais ainda quando vão sair do local dirigindo seus carros e pondo em risco a vida de pessoas. Mas essa é só uma, dentre várias implicâncias...

Como com quem vai comprar pão.

Falo desses supermercados com padarias, em que se faz fila e pede-se o pão que se quer (normalmente o pãozinho de 50g). A funcionária te olha e já dizemos o número de pãezinhos que queremos. Se é de outro tipo, especificamos. Caso contrário, o padrão é o de 50g. 

Acontece, e já faz tempo, que virtualmente sempre que alguém antes de mim, ou em paralelo (quando são duas ou três atendentes), além de pedir o número de pães que quer, especifica: “bem branquinhos”, ou “bem morenos”. Sempre me irritei com isso. Afinal, que diferença faz? Pão é pão.

Inferno.

E eram recorrentes, o pedido específico e a minha irritação.

Até sexta-feira que passou.

Rápida passada pelo supermercado, nos dividimos (a Jacque e eu) no que pegar e fui para a fila comprar o pão. Chegou minha vez, e pedi seis pãezinhos. Nisso, a atendente perguntou: “Branquinhos ou mais escuros?”. “Tanto faz”, respondi, e percebi que os pães estavam divididos pela cor, num tipo de apartheid de padaria(?!). Pães separados pela cor, como se todos não fossem feitos da mesma farinha. Quanto preconceito, pensei. Disse a ela não entender a razão, no que ela disse que nem ela, mas os clientes pediam. Fiquei pensando o que significava isso. Provavelmente nada, concluí. E segui adiante para a próxima seção, resoluto, mas sem olhar para o pior tipo de cliente de supermercado.

O que compra arroz branco cozido.

Até.

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