Histórias de vida.
Um exercício interessante que eventualmente deveríamos fazer é analisar nossa própria vida, nossa trajetória, com uma visão de perspectiva. Olhar de fora, de longe.
Uma forma de fazer isso é tentar contar a nossa história de maneira resumida a alguém não a conhece, não a viveu junto conosco. Ordenar os acontecimentos, selecionar o que foi realmente significativo, que é “digno de nota”, nos obriga a tirar os olhos do próximo passo a ser dado, do curto prazo, daquilo que está ao alcance da mão. Olhar para o horizonte, para o oceano, e não apenas a praia em frente. O exercício de criar uma narrativa coerente – mesmo que a vida nem sempre seja ou pareça – conectando acontecimentos, situações e pessoas.
Como eu disse, não é uma situação comum, essa de fazermos isso, fora do consultório de um analista, por exemplo. Principalmente porque quase nunca há tempo, na correria dos dias. E porque em boa parte das vezes as pessoas não querem saber e realmente não tem o tempo necessário para ouvir, não por mal, claro, afinal todos temos com o que nos preocupar, e o que fazer.
Tive essa chance, esses dias.
Num (relativamente) longo trajeto de carro por uma estrada difícil, após um pneu furado, e com o ridículo estepe que não permite rodar rápido, e sem onde parar para consertá-lo por mais de hora, fomos, um amigo e eu, conversando sobre a vida. Em determinado momento, perguntou-me sobre como havia chegado até aqui, e falava da medicina.
Foi quando tive essa oportunidade não comum de contar a minha história, desde antes de escolher a profissão, o processo de escolha, com as dúvidas inerentes, e a caminhada que me trouxe até o presente. Enquanto contava, conectando os fatos, os acontecimentos, contando uma história que – sim – fazia sentido para quem a estava ouvindo e, mais importante, para mim, que estava contando. Não foi, mas poderia ter sido uma experiência de sair do corpo e me olhar de fora.
De certa forma, foi isso mesmo: enquanto falava, me ouvia, e o discurso fazia sentido e era coerente. Foi quando tive a sensação, ao me ouvir, que toda minha trajetória – da qual muitas vezes tive dúvidas e questionamentos e inseguranças – houvesse sido deliberadamente planejada (o que não foi, evidentemente), e que eu sempre soubera o que estava fazendo (o que não sabia, claro).
Foi uma sensação boa, essa.
Também porque agora eu realmente sei por onde ando e para onde quero ir, e tenho dado alguns passos importantes nos últimos tempos. Dos quais estou realmente muito feliz, com a sensação de realização.
A sensação de que tudo o que fiz até aqui foi a preparação para o que está vindo.
Até.
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