Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
sábado, novembro 25, 2023
domingo, novembro 19, 2023
A Sopa
Quando todo mundo é prioridade, ninguém é prioridade.
Pensei nisso semana passada, enquanto observava o embarque para um voo de Porto Alegre para São Paulo, aonde iria para participar de um evento médico em um hotel na Capital paulista. Estava indo como médico, não como músico ou sócio de uma escola de música dedicada ao rock. É engraçado dizer isso, mas esse ano estive mais em São Paulo por música do que por medicina.
E lembro dos meus tempos de adolescente na transição para a vida adulta, de ser (representar) diferentes personas nos diferentes ambientes de convivência. É parte do crescer isso, esse processo de adaptação em que nos “moldamos” conforme o grupo em que estamos para sermos aceitos, para fazermos parte, para sentirmos que pertencemos a algum grupo ou turma. Até que um dia nos damos conta que sermos quem realmente somos é o que fará nos pertencer. Ou não, e aí isso talvez não seja tão importante.
Quem ia para o evento em São Paulo era o médico, mas também era o músico e o sócio de uma escola de música dedicada ao rock, e o escritor, e o ciclista que quebrou o braço e teve que colocar uma placa fixada por alguns parafusos. Todos são o mesmo. Todos somos eu. E está tudo certo, evidentemente. Posso pertencer a diferentes grupos sendo único, sendo eu. E, de novo, ou não, e está tudo bem. Esse o grande aprendizado que a passagem do tempo, a experiência nos traz: let it be, ou fica na tua...
De volta ao embarque no voo que me levaria à São Paulo, eu havia comprado o chamado assento conforto, que dá prioridade no embarque, além do um espaço um pouco maior paras as pernas. Principalmente pelo embarque prioritário, em virtude da mala de mão, para ter a garantia, na medida do possível, de conseguir lugar para a mala de mão junto ao assento, até porque o conceito de levar uma bagagem de mão é bem elástico para parte dos passageiros, mas essa não é a discussão no momento.
O assento conforto me dá prioridade de embarque logo após o embarque dos passageiros que são ‘prioridade por lei’ (acho um termo antipático, porque dá a ideia – verdadeira - de que precisa de uma lei para dar prioridade a passageiros com mais de 60 anos, pessoas portadoras de deficiência, gestantes, lactantes e pessoas com crianças de colo, até 2 anos de idade) e aqueles com status Diamante no programa de milhas da companhia aérea. Tudo certo, justo.
Esperando pela minha vez de embarcar, não consigo não reparar com o que acontece na fila de prioridades por lei: quase todos vão para essa fila. Tantos aqueles que são as verdadeiras prioridades quando aqueles que usam o elástico conceito de que também tem direito a terem prioridades. Pais com crianças maiores, não de colo, familiares de passageiros de sessenta e poucos anos que embarcam junto, entre outros. A fila de prioridades fica quase maior do que as outras. E, nesse conceito vago de que tem direito a ser prioridade, os reais passageiros que deveriam ser prioritários acabem ficando para trás.
E não falo de mim, não advogo em causa própria. Eu comprei meu embarque antecipado, para ser feito depois de todas as prioridades, mas antes do embarque normal. Só isso, sem estresse.
Mas que não consegui deixar de reparar esse comportamento tipo “levar vantagem em tudo”, não consegui.
Até.
sábado, novembro 18, 2023
quarta-feira, novembro 15, 2023
A Sopa
Estou de volta.
Ainda em recuperação, com alguma dor, mas definitivamente bem. Como quase todos por aqui sabem, em 14 de outubro me acidentei de bicicleta, o que resultou em escoriações diversas, uma fratura do processo estiloide do rádio à D, com imobilização e posterior cirurgia para colocação de uma placa fixada com alguns parafusos. Foi a segunda cirurgia ortopédica / traumatológica do ano, pois em março eu havia passado por uma correção de hérnia de disco lombar.
Estou me desmanchando, se quiserem, podem dizer...
O acidente ocorreu em um sábado pela manhã logo cedo, perto de casa. O período entre sair de casa, cair, levantar e voltar para casa pedalando foi de aproximados 19 minutos. Sei por que está registrado no aplicativo do celular que uso para registrar o exercício, não porque eu lembre.
Porque eu não lembro.
Tenho alguns flashs de cair e de largar a bicicleta no lugar dela na garagem, e subir no elevador com o rosto sangrando (os óculos de proteção protegeram os olhos, mas machucaram o rosto...). Entrei em casa, a Jacque veio me ver, perguntou o que havia ocorrido e respondi que havia caído, mas estava tudo bem. As perguntas seguintes, contudo, foram motivo de preocupação, afinal eu não sabia/lembrava como havia caído, se alguém havia me ajudado ou – pior – o que havia acontecido com minha bicicleta. Assim que ela fez essa última pergunta, dei as costas e voltei até a garagem para encontrar a bicicleta em seu lugar, praticamente intacta.
Como havia esse período de amnésia (não lembrava como voltara para casa, que foi pedalando, me contaram) decidimos ir verificar no hospital se estava tudo bem. Avaliação neurológica, ressonância crânio, curativos, tudo certo. RX de punho direito: fratura do processo estiloide do rádio antebraço direito. Colocada tala gessada até acima do cotovelo. Tempo de recuperação: seis semanas.
Um transtorno, sob diversos pontos de vista.
Não consigo, olhando agora retrospectivamente, fazer um ranking do maior para o menor transtorno. Várias atividades ficaram prejudicadas pelo acidente: as mais óbvias, claro, desde não poder dirigir (e toda a logística envolvida em levar e buscar a Marina em diferentes lugares), não poder fazer atividades físicas, não tocar (e tinha show agendado para duas semanas depois do acidente) até as dificuldades do dia a dia, no hospital, no consultório e em casa, para tomar banho e me vestir.
Transtorno também para a Jacque, evidentemente.
Não deixei de trabalhar, exceto na segunda-feira após o acidente, quando ainda estava me recuperando (eu parecia saído de uma luta de MMA). A partir da terça-feira (terceiro dia após) já voltei ao trabalho, com todas as dificuldades de digitar computador com uma mão apenas e lidar com atividades que requeriam alguma destreza manual. Não tive ainda maiores problemas porque sou ambidestro e escrevo com a mão esquerda. Claudicante, modo e dizer, segui em frente.
Na terça-feira após o acidente, no dia em que voltei ao trabalho, tive consulta com especialista em mão (e punho), que acho – em princípio – que o tratamento seria mesmo conservador, mas pediu uma tomografia para verificar. Fiz naquele dia mesmo e mostrei a ele três dias depois: teria que fazer cirurgia, para garantir a recuperação completa. Placa e parafusos. Tudo certo, vamos para a cirurgia, pensei. Seria a segunda do ano...
Como naquele final de semana eu iria para São Paulo, para a Convenção dos franqueados da School of Rock Brasil, da qual me tornei recentemente sócio da unidade de Porto Alegre, o fato de ter sido trocada a tala gessada por uma versão que ficava abaixo do cotovelo melhorou minha vida muito. Fomos o Thiago, meu sócio, o Tchê Gomes, Diretor Musical e eu. Além das milhares de explicação que dei, foi um final de semana bem legal.
Como na semana que começava a Jacque iria para um congresso e no final da mesma teríamos o show de temporada da School, combinamos que a cirurgia seria na segunda-feira, dia 30/10. Não iria tocar, evidentemente, mas nada me impediria de participar... imprudentemente (ou não), eu cantei no show... eu gostei! Com o detalhe que em meio ao público, em um momento em que não estava no palco, enquanto conversava com um amigo, o cachorro que ele segurava na coleira se enrolou em minha volta, eu não vi e, quando fui caminhar, caí no meio da rua. Dor lancinante, e a impressão de que a tala havia quebrado. Um susto apenas, era a minha impressão, mas só teria certeza na manhã seguinte, quando da internação para a cirurgia.
Impressão essa que se confirmou no novo RX que fiz ao chegar no hospital. A cirurgia correu bem, e no final do mesmo dia já estava em casa, com meu braço direito “morto”, devido ao bloqueio feito para a realização do procedimento. Para evitar dor, me “entupi” de analgésicos, o que, se por um lado, impediu que eu tivesse dor, por outro levou a uma colite (ou tive o azar de pegar uma gastroenterite) que se abateu sobre mim justamente quando estávamos chegando para passar o feriado em uma fazenda isolada de tudo, o que é outra história...
Evoluí bem, na última terça-feira, dia 14, quando completou um mês do acidente, foram retirados os pontos da cirurgia e fui liberado de usar a tala removível que vinha usando, além de ser liberado para voltar a tocar. Não comentei com o cirurgião que na véspera já havia feito aula normalmente... Na terça-feira mesmo, poucas horas após a liberação, já ensaiei com a banda iniciando a preparação para os shows de verão.
Antes, e em paralelo, fisioterapia, evidentemente.
Seguimos.
Até.