Estava jantando com uma amiga, há alguns anos, quando me queixei da falta de tempo - ou mesmo oportunidade - de conviver mais com os amigos, ouvi a seguinte afirmação: "Fica tranqüilo, porque amizade não tem hiato". Boa frase, grande idéia.
Contudo, demorei muito para transformar essa frase em verdade, ou melhor, viver isso como uma verdade, mesmo já tendo "ensinado-a" para algumas pessoas desde então. Apesar de teoricamente saber disso, eu ainda - de certa forma - "sofria" por não ter convívio mais freqüente com boa parte dos meus amigos. Acho que todos vivemos isso, a angústia da falta de tempo para dedicar aos outros, já que muitas vezes não temos tempo nem para nós mesmos.
Tenho amigos de diversas origens. Aqueles da turma da praia, os do colégio, primeiro e segundo graus, os da faculdade, da residência médica, os da aeronáutica, aqueles que vieram depois, do convívio do hospital e outros. Isso que nem falei da família, a de sangue e a que ganhei quando casei. É impossível manter um convívio grande com todos. Mesmo sabendo disso, muitas vezes me angustiava. Até esses últimos dias.
Vocês sabem, esses são dias de despedidas, nunca adeus, mas um até breve, obviamente. As pessoas têm se mobilizado para que possamos nos encontrar antes de eu viajar, e foi aí que eu percebi que aquela frase sobre amizade não ter hiatos tinha se tornado uma verdade para mim. E fui tomado de uma grande tranqüilidade e paz. Percebi isso através da Carla e do Alexandre.
Conheci a Carla lá no final dos anos oitenta, mais especificamente no verão de 1989. Eu recém havia passado no vestibular para medicina e cheguei na praia no meio do mês, não lembro através de quem, mas a Carla, a Florence e a Milene estavam integradas à nossa turma, a já muitas vezes falada aqui Turma do Muro. Ou seja, nos conhecemos há quase 15 anos. Convivemos muito naquela época, a turma se reunia não só no verão na praia, mas também aqui em Porto Alegre durante resto do ano. Ficamos muito amigos.
Mas como é freqüente, os caminhos nos levam a lugares diferentes e convivências outras, e a turma acabou perdendo a proximidade de antes. Foi um processo natural, sem traumas. Quando ela começou a namorar o Xande, temeu-se que ela se afastasse definitivamente da turma, que - de qualquer forma - já não tinha aquela coisa do "dia-a-dia", e, afinal, muitas vezes ocorre de o "namorado da amiga" não se integrar à turma da namorada. Não foi o que ocorreu, e isso é o mais legal de tudo.
Desde então, e agora falo especificamente de eventos que eu organizo, sempre que faço um, eles são convidados e não faltam. São realmente de fé. Algumas vezes, nos encontramos uma única vez no ano, mas sempre é muito legal e é como se estivéssemos retomando uma conversa que foi interrompida alguns poucos dias antes. É a amizade não tendo hiatos. O que é muito, mas muito, gratificante.
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Os últimos dias têm sido, também, de "última vez que..." antes de ficar um tempo fora de Porto Alegre e do "grande" Rio Grande do Sul, aquela área que vai de norte do Chuí até o Oiapoque... Ontem de manhã, como de costume, levantei cedo, em torno das 7h15, para tomar café e ler os jornais do dia, atividade a que - sempre que possível - me dedico nos sábados pela manhã, antes de sair para jogar futebol.
Como era o último sábado antes de viajar, reeditei o "Chimarrão com milonga", que simplesmente é tomar chimarrão ouvindo (algumas vezes tocando) milongas. Sempre gostei deste tipo de música, esteticamente falando e como forma de afirmar a minha identidade de gaúcho, minha ligação com o lugar onde nasci.
Uma questão que tenho levantado nos últimos dias: a distância vai fortalecer a minha ligação com o Rio Grande (assim como está acontecendo com o Magno em sua estada em São Paulo) ou vou descobrir que não tenho tanta ligação assim com a minha cidade, meu estado e meu país? Será que tenho tamanho desprendimento? Dúvidas...
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De qualquer forma, estou me preparando para até fundar um CTG se for preciso... Entre os meus pertences, vão junto comigo duas pequenas bandeiras, uma do Brasil e outra do Rio Grande. A camisa do Inter e uma do Brasil também. Alguns CDs com clássicos do cancioneiro gauchesco, como "Eu sou do sul", "Canto Alegretense", "Céu, sol, sul" e diversas outras. Sem falar no CD "Ramilonga", do Vítor Ramil. Só para garantir...
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Mas isso não quer dizer que não vou fazer uma "imersão canadense". Como estou me mudando - provisoriamente, mas mudando - vou me tornar um "local", ou seja, não pretendo ficar "agarrado" nem preso às lembranças. Quero aproveitar (sei que vou) a experiência de viver no Canadá por completo.
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Aos amigos que eu não pude e que não puderam me encontrar pelas mais diferentes razões, deixo o meu fraterno abraço lembrando que amizade não tem hiato.
Até a volta.
Ah, essa semana, o Blog deve ser atualizado diariamente. Confiram.
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