domingo, dezembro 03, 2006

A Sopa 06/20

Cuidado com o que dizes (ou escreves).

Há um tempo atrás escrevi aqui que eu estava pronto para morrer. Foi um estresse. As pessoas tiveram reações diferentes.

Um primeiro grupo mandou emails me chamando de mórbido, e “que eu virasse a boca pra lá”. Perguntando se eu não tinha mais nada para fazer do que ficar pensando bobagens. Dava até azar falar uma coisa dessas. Bate três vezes na madeira. Toc, toc, toc. Para que mexer com a matungona?

Um segundo grupo me escreveu perguntando se eu estava doente. É isso, certo? É câncer, pode falar. Esse cabelos ficando escassos não eram sinal de calvície, era a quimioterapia. Tu tens que ser forte, luta, não te entrega. Que promessas já fizeste? Nós já fizemos algumas, que tu vais pagar se melhorares…

Finalmente, um terceiro grupo achou que era uma declaração suicida. Você sabe, o suicida sempre avisa, dá sinais de que quer ou planeja se matar. Só podia ser isso, era um pedido desesperado de ajuda. E resolveram me ajudar. Primeiro, não me deixaram mais ficar sozinho. Sempre tinha alguém por perto. Depois, não me deixaram mais cozinhar. “Longe das facas! Longe das facas!”. Até aí, tudo bem, tinha um desculpa para não ajudar nas lides domésticas… Mas quando resolveram não me deixar mais usar cinto e tiraram todos os cadarços dos meus sapatos e tênis, achei que a coisa estava indo longe demais. Resolvi explicar a situação de uma vez por todas.

Não era nada do que estavam pensando.

Não, eu não queria nem pretendia morrer tão cedo. Aliás, a morte, a matungona, não estava nos meus planos, mesmo os mais distantes.

O que eu queria dizer no início de tudo é que eu tinha me dado conta que já tinha tocado a vida de alguém, já tinha sido importante na vida de alguém, e isso já tornava a minha uma vida produtiva e significativa. De certa forma, eu já me imortalizara.

E que esse era o sentido da vida.

Até.

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