domingo, julho 15, 2007

A Sopa 06/52

Não sei se já falei para vocês, mas volta e meia lembro do Renê.


Vocês sabem, o Renê. Claro que sabem, todo mundo tem um René na vida. Com assim?

Eu explico.

Há muitos anos, quase dez, estávamos num grupo aguardando na fila para entrar no cinema quando uma pessoa, um cara, melhor dizendo, chegou para esse integrante do grupo (não importa quais eram os componentes do grupo, basta saber que eu estava e que a história NÃO se passou comigo) e disse:

- Lembra de mim? Sou o Renê, do colégio Inácio Montanha.

- Ah... sim...

- Continua jogando bem futebol como naquele tempo?

- Vamos tentando...

Dito isso, voltou a seu lugar na fila e nós ficamos conversando e brincando com o fato ocorrido. Entramos no cinema e sentamos ainda comentando o fato até que o envolvido disse “Olha na hora fiquei sem jeito porque não tinha a menor idéia de quem se tratava...”. Nisso, enquanto ríamos, o Renê se virou para trás (estava sentado bem na nossa frente) e perguntou, de novo:

- Agora, tá lembrado?

E o nosso amigo fez que sim com a cabeça e um grande sorriso amarelo. Pronto. Ficamos semanas brincando com o fato e – mesmo hoje – ainda de vez quando alguém lembra do episódio e rimos.

E isso acontece com todo mundo, isso de encontrar alguém que a gente sabe que conhece ou, ao menos, viu antes, mas não tem a menor idéia de onde nem do nome. Super constrangedor e uma situação que é uma grande armadilha.

Aconteceu recentemente com uma pessoa muito próxima a mim, num congresso. Estávamos conversando e, de repente, chegou uma terceira pessoa (que eu nunca tinha visto antes) e cumprimentou a pessoa com quem eu conversava. Perguntou se “o pessoal ainda continuava lá”, disse que estava com saudades e saiu, prometendo voltar para uma conversa mais detalhada. Foi só se afastar e a pessoa com quem eu conversava disse que não tinha a menor idéia com quem falara e ainda falaria detalhadamente. Perguntou o que deveria fazer.

Dei duas opções: fugir, para não ter que passar pelo vexame de dizer que não lembrava dela ou, pior, que não a conhecia, ou se enterrar mais ainda na mentira. Até imaginei um possível diálogo. Ela deveria estar na ofensiva, sempre.

- Então, como vai? Puxa vida, desapareceste, hein?

- Eu? Como assim?

- O pessoal lá tem comentado?

- Que pessoal estás falando?

- Aquele, o pessoal de lá, que comentaste antes... Porque se existem duas verdades, são essas: o pessoal continua lá sempre, e que comentam que nunca mais estiveste lá nem ligaste. Estão tristes...

- Mas...

- E me solidarizo com eles. Se não falas com eles, não falo contigo até que nos faça uma visita. Fui.

- ...

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