domingo, maio 03, 2009

A Sopa 08/39

Semana passada, mais precisamente no domingo, recebi um comentário aqui no blog que, por anônimo, apaguei. Pensando nele depois do ocorrido, lembrei de um episódio passado nesse mesmo blog, há algum tempo.

Primeiro, o comentário recebido:

“eu pedi cousas sobre a sopa esto não tem nada a ver com a sopa ta entao mudem isto porque eu pedi sopa e não fotografias de bebes”

Decidi que não valia o trabalho de responder, mas lembrei de uma vez que recebi um comentário até um pouco mais agressivo que esse e respondi, como reproduzo abaixo:

O comentário:

Este egocentrismo burguês está cada vez me enchendo mais e mais.Vou desistir de ler teu blog, não sabe escrever outra coisa que não suas pirações esquizofrenicas? Se ama tanto o teu Brasil, por que não está fazendo esse curso por aqui mesmo? Rafael

A resposta:

Pois é.

Pensei no que fazer com comentário: apagar, ignorar, ficar revoltado (you, outside, now!), responder num outro comentário. Achei que esse valia um texto como resposta. Mas não exatamente como resposta, porque um Rafael que não se identifica é a mesma coisa que se assinasse como “Pessoa” ou “Humano”: não me diz nada. Se fosse sério, estava lá o seu sobrenome e e-mail. Mas nem assim valeria uma resposta direta a você, caro leitor anônimo que se identificou como Rafael.

Mas ainda assim é uma resposta, e vou fazê-la por partes, dissecando o comentário com cuidado para todos poderem ver suas entranhas, suas tripas expostas. Do comentário, claro. Vamos lá, então…

”Este egocentrismo burguês…”

Por princípio, quem escreve um blog é egocêntrico. Mais, nós, escritores, por definição, somos egocêntricos. Ampliando mais um pouco, todo – todo - o artista é egocêntrico e narcisista, definições que podem soar redundantes, mas que são diferentes.

E eu não sou diferente, e olha que só estou me incluindo como dono de blog e, forçando um pouco, escritor, apesar de – confesso – me considerar um artista também, mas isso não preciso dizer, todos já devem saber em virtude do tamanho do meu ego. O bom é que isso não é novidade para ninguém, e nunca foi problema, com exceção da vez entrei em discussão com um colega que insistia em me contrariar até que ameacei: “olha que te transformo em pedra”, no que ele respondeu, desafiadoramente “transforma, vai, quero ver!”. Neste momento de tensão, fui magnânimo: perdoei-o e ficou tudo bem...

Só não entendi o burguês, mas não tem problema. Já passei há anos pela fase de ficar perturbado de ser chamado de burguês. Faz tempo que tinha ouvido isso, a última vez, acho, foi no colégio, numa hora do recreio, mas não tenho certeza.

“… está cada vez me enchendo mais e mais…”

Isso significa que vens lendo o meu blog há tempo, não gostando e mesmo assim te torturando com isso, indo lá todos os dias para conferir o que o “egocêntrico burguês” escreveu? E o que fazes depois, auto-mutilação?

“… Vou desistir de ler teu blog…”

Mas se te faz tanto mal assim, por que insistes em sofrer? Eu ia te recomendar isso mesmo, quem sabe acabes te sentindo melhor, mais tolerante, bem humorado?

“... não sabe escrever outra coisa que não suas pirações esquizofrenicas?…”

Não. Aliás, não é da tua conta.

“… Se ama tanto o teu Brasil, por que não está fazendo esse curso por aqui mesmo?”

Não entendi essa parte, de verdade. O que uma coisa tem a ver com outra? Se gosto do lugar em que nasci e sempre vivi significa que não posso sair dali? Ou não posso sentir falta? Não sei o que pensas do teu Brasil, mas também não me interessa saber, deixa para lá...

#

A parte final do que escrevi como resposta (em 2005, quando ainda morava em Toronto):

Imaginei que isso pudesse acontecer. Quando – e se – a audiência diária desse blog aumentasse, iam começar as tentativas de pautar o conteúdo do que escrevo. Está acontecendo, mais não vai funcionar.

A Sopa, e depois esse blog, foram criados justamente para eu escrever sobre o que eu quisesse, e, enquanto aqui no Canadá, sobre o que eu passo/sinto/penso. Eu, eu, eu. É essa a função do blog, falar sobre mim e sobre o que eu penso (que nada mais é o que sou). E de vez em quando escrever literatura.

E não é um blog de utilidade pública. Se você chegou aqui procurando informações sobre o Canadá ou qualquer outra coisa, se deu mal: aqui fala do Canadá que eu vivo, das coisas que eu passo, das minhas impressões. Existem muitos lugares melhores do que esse para informações.

Evidentemente que eu quero ser lido. Qual o escritor que não quer? Mas não vou mudar o que escrevo conforme a vontade das pessoas. Respeito os escritores que leio, mesmo que não concorde. Se não gosto mesmo, não leio. Ponto.

E vamos acabar com essa palhaçada.

Até.

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