terça-feira, novembro 17, 2009

Perfeito

Uma teoria sobre barbas

By Paulo Polzonoff Jr

Barbas são como eletroímãs emocionais, captando tudo o que há de ruim e pesado no ambiente. O homem barbado, pois, carrega em sua face os males do mundo. E não importa se a barba é de dois dias ou dois anos: naqueles pelos está a sujeira dos seus interlocutores. Entre respingos microscópicos de saliva e catarro, entre a poeira e a poluição se escondem a inveja, a intolerância, a mentira e ódio.

Por isso os militares não usam barbas. No campo de batalha, o ressentimento do inimigo é pesado demais. Tão pesado que, se preso às barbas dos soldados, comprometeria o deslocamento das tropas.

Assim, todas as vezes que um homem faz a barba, deixa escorrer pelo ralo a maldade de que foi vítima ou que presenciou nos últimos dias. Ele se olha no espelho para consertar uma falha aqui ou ali e o que vê é mais do que um rosto liso: é um homem que sobreviveu a mais um dia de ataques velados. Uma vez livre, é hora de passar a loção após barba e, assim, desinfetar a si mesmo de quaisquer resquícios da inveja, mágoa ou ressentimento alheios.

No dia seguinte, porém, os pelos voltam a crescer. Minúsculos, começam a acumular a sujeira do mundo logo pela manhã. E lá vai o homem barbado passar o dia filtrando o mundo para, á noite, diante da lâmina de barbear, tirar do seu corpo aquilo que não lhe pertence. Lá vai ele purificar um pouquinho o mundo – seu e das pessoas à sua volta.

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