domingo, fevereiro 28, 2010

A Sopa 09/29

Tenho que quer muito cuidado com que escrevo.

Escrever, afinal de contas, é uma atividade que comporta uma responsabilidade enorme e, mesmo que os leitores dessa Sopa estejam cada dia mais escassos e sejam em sua maioria familiares, isso não diminui em nada o peso daquilo que escrevo. Na verdade, é exatamente o oposto. Os meus escritos têm um peso grande, e sou cobrado pelo que consta lá.

Como quando eu escrevi sobre o sagu, a melhor sobremesa do mundo. A partir daí, sempre que eu tinha de escolher uma sobremesa em frente às pessoas, criava-se a expectativa e rolava certa decepção e cobrança se eu não pedisse sagu. Mas eu nunca disse que só gostava de sagu, que desprezava as outras sobremesas! Eu só disse que era a melhor, na minha avaliação.

Da mesma forma quando eu declarei minha frustração por morar num apartamento sem churrasqueira, afinal eu não tinha a opção de fazer churrasco quando eu bem entendesse. Foi interpretado como se eu fosse alguém louco para fazer churrascos pelo mundo afora. Chegaram até marcar churrascos para eu fazer, inclusive com convidados diversos! Quando tudo que eu disse era que queria poder fazer churrasco quando eu tivesse vontade...

Em outras palavras, tenho sido responsabilizado pelo que escrevo.

Nada mais justo. Se não quero ser cobrado pelo que digo/escrevo, o melhor é ficar de boca calada, ou deixar a página em branco.

Mas não consigo, e vou “me afundar” de novo.

Estava há um tempo com vontade de comer churrasco (assunto recorrente) em uma dessas churrascarias selvagens, daquelas em que se vai para comer bem, sem grandes pudores. Mesmo sabendo que a relação custo-benefício de ir a um local desses não é boa, afinal o preço é bem alto e acabamos comendo pouco, estava decidido a ir. Principalmente por que era um desejo específico.

Mesmo porque almoço churrasco todas as sextas-feiras. Nos cerca de quarenta minutos que tenho para almoçar no último dia útil da semana, costumo ir a uma churrascaria que tem um bufê de saladas e pratos quentes e dois ou três cortes de carne de churrasco pelo preço de um bufê normal, nem barato nem caro. Isso para dizer que minha vontade de ir numa churrascaria não é abstinência de churrasco, é (era) desejo mesmo.

Acontece que – por diversas vezes nos últimos meses – tive a chance de ir numa dessas churrascaria e na hora desisti. Não sabia por que razão isso acontecia. Fiquei curioso, fui pesquisar. Inclusive indo numa churrascaria tradicional no último sábado. Pensei muito até que descobri.

Estou com saudades de um churrasco no Vicente.

O Vicente é tio da Jacque e mora aqui em Porto Alegre, na zona norte, num chalé que tem nos fundos uma área com churrasqueira que é perfeita para fazer churrascos no inverno (eu e minhas saudades do inverno). Ele é o típico “botador de pilhas”, o cara que reúne as pessoas, que chama para si a responsabilidade de ser gregário, de juntar todos em volta. Lá, a carne é boa e cortada em pedaços que comemos com garfo ou com as mãos, sem muitas frescuras, e a qualquer momento pode (e vai) irromper a música, principalmente se os outros irmãos estiverem lá. Longas horas de conversas e música e vinho e histórias.

É isso, estou com saudades do churrasco do Vicente.

Até.

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