quarta-feira, agosto 21, 2013

Médicas

A primeira coisa que li, logo cedo, ao acordar, foi com relação aos vetos da presidente à Lei do Ato Médico: haviam sido mantidos pelo congresso. No fundo, não surpreendeu. O que esperar de um legislativo corrupto, incompetente e manipulável? De onde menos se espera, daí é que não sai nada...

A vitória da ignorância sobre o bom senso. Da estupidez sobre a lucidez. Vitória do analfabetismo funcional.

O dia, dessa forma, começou cinza - independentemente da meteorologia. Seguiu assim por questões comezinhas relacionadas ao trabalho que também me tiraram o humor, num crescendo de indignação que me fez querer lutar boxe, ou outro esporte violento, para descarregar meu desconforto com as coisas, o mundo em geral. O almoço com uma querida amiga - encontro ao acaso - foi uma pausa agradável e a possibilidade de outros pontos de vista.

E sobre o SAMU?

O fato que é um senhor de 70 anos, com câncer, teve um mal súbito no meio da rua, no centro de Porto Alegre, ontem pela manhã. Acionado, o SAMU disse - através do médico regulador - que não havia ambulâncias disponíveis. Acontece que havia uma equipe de reportagem no local e acompanhou o caso por mais de vinte minutos e inclusive acionou, por telefone e sob a câmera, o polícia e o próprio SAMU. Quando o médico regulador foi chamado ao telefone, disse, em tom agressivo algo como "Já disse que não tem ambulância! Não tem. Ponto final!" e desligou. Tudo filmado e posteriormente mostrado e rede nacional.

O paciente? Depois desse tempo todo, levado ao hospital, infelizmente faleceu.

O médico foi afastado como culpado.

Todos só falam nisso, só apontam dedos para ele, o Judas. O secretário da saúde (de quem já ouvi dizerem que "não gosta de gente"), o Ministério Público e até o Conselho Regional de Medicina se manifestaram. 

Eu?

Sei que não é bem assim.

Primeiro, uma certeza: aquela ligação não foi a primeira para lá sobe o caso. Imagino que tenham ligado várias vezes e a falta de ambulâncias havia sido explicada em todas elas, orientações dadas. Naquela última vez, a filmada, o médico "estourou". Tenho certeza que foi assim. Nenhum médico regulador falaria daquele jeito na primeira vez que alguém liga, não é o padrão (sei porque já trabalhei lá, mesmo que por pouco tempo).

Nada justifica o modo com ele reagiu (apesar do parágrafo acima explicar).

E a falta de mais equipes e ambulâncias? É culpa de quem?

Como não era um acidente, o paciente poderia - na situação de não haver disponibilidade de ambulâncias - ser transportado para o hospital mais próximo em carro comum. Por que a equipe de reportagem, sabendo que o SAMU dizia não ter ambulâncias para enviar, estando com carro disponível, não se dispôs a transportá-lo a um hospital, ao invés de ficar filmando. Não tinha obrigação, claro, mas seria humano. Difícil se colocar nessa situação, não?

De novo, não se justifica a reação do médico, mas estou certo de que crucificar o médico não é o mais certo. É a corda estourando no lado mais fraco.

Até.




Um comentário:

Allan Robert P. J. disse...

Por estas bandas, a equipe de reportagem seria processada por omissão de socorro.

Pode ser somente um ponto de vista, mas garanto que o paciente concordaria com ele, se tivesse sobrevivido.