quarta-feira, novembro 25, 2020

Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Cinquenta e Seis Dias

Às vezes, confesso, sou chato. 

 

Mesmo que na esmagadora maior parte do tempo eu seja uma pessoa realmente, digamos assim, emocional, em outras – por outro lado – sou muito prático e racional. De um lado, mesmo que não sejam situações opostas ou mesmo relacionadas, sou fã de comédias românticas e, por outro, há situação em que sou racional ao extremo, ainda mais quando se fala de determinadas crenças populares, digamos assim.

 

Como a crença generalizada no meio médico de que ser médico, ou familiar de médico, é um fator de risco para doenças ou evolução de doenças mais grave. Como se esse fato, ser médico ou familiar de, implicasse em ter chance maior de morrer ou sofrer mais por doença, seja ela qual for. Mesmo médicos experientes, professores, volta e meia se saem com essa afirmação.

 

Não consigo aceitar.

 

Sou obrigado rebater, sempre. Não faz sentido nenhum, não há lógica envolvida nisso. Entendo que médicos tenham essa impressão, mas ocorre simplesmente porque nos chama mais a atenção o fato de um colega ou familiar de um esteja com algum problema de saúde. Estatisticamente, certamente os médicos não são mais propensos a complicar, muito menos seus familiares. Se fizermos um estudo sério sobre isso, veremos que não há relação entre os fatos. Imaginário popular, apenas.

 

Assim como determinadas reações a acontecimentos no mundo, que não entendo. Sei que pode ser incapacidade minha, mas certamente não é falta de empatia, acreditem.

 

Como a morte de Diego Armando Maradona, ocorrida hoje.

 

É a perda de um mito do futebol, um dos maiores da história, sem dúvida nenhuma. Para os argentinos, um mito, quase uma divindade. Idolatrado. Perfeito, sem nenhuma contestação. Lamentamos a morte de uma lenda.

 

Contudo...

 

Ouvia o rádio enquanto voltava para casa, hoje mais cedo, e a apresentadora, em uma entrevista em meio à programação relacionada à morte do Maradona, diz que ‘estamos todos consternados’ e que o futebol ‘perde com a sua morte’. Opa, só um pouquinho... e aí não consigo não ser chato (eu avisei).

 

A história viva do futebol perde, sim, um dos seus grandes personagens, e todos lamentamos e reverenciamos sua memória enquanto jogador brilhante, genial. Mas o futebol perdeu, e muito, quando ele se aposentou, assim como quando Pelé – o maior de todos – parou de jogar. Perde, em maior ou menor grau, quando um grande jogador encerra sua carreira (e nenhuma piada ou insinuação nisso). O mundo do futebol perdeu um dos seus grandes craques do passado, e lamentamos sinceramente sua morte. 

 

Os termos ‘consternados’ e ‘comoção mundial’, contudo, me pareceram meio fortes... mas entendo...

 

O problema sou eu, que às vezes sou muito chato.

 

Até. 

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