domingo, setembro 05, 2021

A Sopa

 Sobre o tempo.

 

De novo, e sempre. Sinto que todos os meus textos, toda a minha reflexão, a filosofia, tudo o que se discute e pensa, é sobre o tempo, sobre a inexorável passagem do tempo. A caminhada que fazemos no mundo, desde que nascemos até o momento final.

 

O bem mais precioso, o que de mais valor há, porque não se pode recuperar quando foi perdido, ou desperdiçado. Mas esse não é um texto triste.

 

São apenas observações sobre a vida.

 

Penso nas diferenças de idade, e o quanto elas são e não são importantes. Ou, melhor, quando significam algo e quando perdem o sentido. Como o que ocorre na infância e na adolescência, quando a diferença de idade entre as pessoas é sempre gigante e quase intransponível, e como isso se torna insignificante com o passar do tempo.

 

Aos quinze anos, conviver com alguém de dez anos é difícil. Aos dezesseis, a turma não terá integrantes com dez, onze ou mesmo doze anos, obviamente, porque a diferença de idade é abissal. E isso muda com o passar do tempo (tempo, sempre ele). Quanto mais idade temos, mais convivemos e nos relacionamos com pessoas mais velhas e mais novas que nós.

 

Provavelmente tenho pensado nisso mais do que o normal porque caminho a passos largos para completar cinquenta anos. Em oito meses, para ser mais exato. E vivo a interessante situação (assim como todo mundo em algum momento, ou sempre, não importa) de conviver (profissional e socialmente) no dia a dia com pessoas bem mais velhas e bem mais novas que eu, em situação de igualdade. E me refiro especificamente não a alunos (o que tenho) ou professores (com os quais ainda convivo). Aliás, hoje em dia os meus professores na época da Faculdade de Medicina viraram meus amigos e alguns deles até meus pacientes.

 

E é justamente isso o que quero dizer.

 

Convivo diariamente com colegas/amigos que foram meus professores, que na época eu achava “velhos” e que tinham a minha idade atual ou até menos, e que agora estamos em situação de igualdade. Não há mais diferença entre gerações. A turma do almoço de terças e quintas, desfalcada desde o início da pandemia, conta agora comigo e com um amigo (ciclista, como eu) de 73 anos, que estava se formando ou quase quando eu nasci, e a presença de outros eventuais, mais velhos ou mais novos que eu.

 

Assim acontece também na academia que frequento há pouco mais de dois anos, em que há muitos mais novos e outros mais velhos que eu. E então aconteceu recentemente de eu ir jogar futebol em preparação para o campeonato interno da academia, em que - no time para o qual eu havia sido sorteado - eu era o mais velho. No dia do campeonato, por sinal, fiz jus ao fato de ser o mais velho e senti um problema muscular no aquecimento, o que me tirou dos jogos... Paciência, e bom humor, claro.

 

E tenho pensado, nos últimos tempos, no fato de me sentir ainda muito jovem, apto a aprender e disposto a ouvir conselhos dos mais experientes (independente da idade) que eu, da mesma forma que me sinto habilitado a aconselhar e ensinar outros, menos experientes que eu, independente da idade. Efeitos do tempo.

 

E isso, também, é o que faz a vida ser bela.

 

Até.

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