domingo, julho 10, 2022

A Sopa

Sábado à noite. 

Por volta da meia-noite e meia, com fome, vou a cozinha e preparo um sanduiche para comer enquanto tomo uma Coca-Cola Zero em lata de 220ml e assisto a uma série em um streaming qualquer. Isso vai me manter acordado por um bom tempo, penso. Vou ao meu terceiro ou quarto episódio, e a Jacque dorme. 

 

Havíamos assistido antes, enquanto a Jacque ainda estava acordada, a um episódio de ‘Somebody Feed Phil’ na Netflix, uma série-documentário em que Phil, que dá nome à série, viaja para diferentes cidades do mundo, uma cidade por episódio, e visita restaurantes e projetos sociais, e que está na quinta temporada. Nesse primeiro episódio da temporada, ela vai ao Maine, região extremo nordeste dos Estados Unidos, fronteira com duas províncias canadenses, Quebec e New Brunswick, e bem próximo, também, à Nova Scotia.

 

Estivemos lá, no Maine, abril de 2006, os amigos Pedro, Maria José, a Jacque e eu, num curto período de férias que fiz quando ainda morava no Canadá. Os três viajaram para Toronto e passeamos por Kingston, Ottawa, Mont Tremblant, Montreal e Quebec, antes de cruzar a fronteira com os Estados Unidos, justamente no Maine. Como eu não havia feito carteira de motorista no Canadá, quem dirigiu durante o trajeto canadense foi o Pedro, e eu assumi a direção ao entrarmos nos EUA. Entramos – evidentemente – por uma fronteira terrestre, verificação de passaportes tranquila, e uma paisagem bucólica.

 

Caiu a noite e nós na estrada procurando um lugar para ficar, afinal era um tempo de roteiros livres e alguma improvisação, e sem GPS e muito menos Waze, apenas um mapa “meia boca”. O Maine tem cerca de 90% de seu território coberto por florestas, o litoral é rochoso, e a costa é repleta de faróis, muito semelhante, pela proximidade, com a Nova Scotia. Por sugestão de algum guia de viagem, fomos atrás do Sugarloaf Montain Hotel, na montanha de mesmo nome, estação de esqui.

 

Estrada pouco iluminada, sem muitas indicações, inicialmente não encontramos o local. Foi quando decidi parar para perguntar, num bar de beira de estrada, de nome “Kathy’s Bar”. Entrei, e havia um karokê tocando música country no fundo do bar, pessoas com chapéu de cowboy. Entrei, parece que todos viraram para me olhar, e um cidadão veio até mim e perguntou se eu precisava algo. Pedi orientações sobre o hotel e me ajudaram na hora.

 

Quando conseguimos, finalmente, encontrar nosso destino, não havia nenhum carro no estacionamento em meio às árvores. Sem querer ser dramático, parecia ser cenário de um filme da série ‘Sexta-Feira 13’. Desci do carro, caminhei até a recepção que estava deserta e encontrei um telefone. Liguei para um número que estava indicado. Tocou, tocou, e tocou...

 

Até que atenderam, disseram que eu estava no prédio errado, e orientaram o caminho até a verdadeira recepção. Por estar fora de temporada turística (não havia neve) o hotel estava com poucos hóspedes mesmo. Aos voltar para o carro para ir até o local certo, a nossa frente, no escuro, dois olhos vermelhos nos olhavam: eram um moose...

 

Ficamos ali e, no dia seguinte, seguimos ao sul em direção à Boston, antes de voltar ao Canadá, por Niagara Falls.

 

Mas falava do sábado à noite.

 

Mantive-me acordado até às duas horas, quando saí de casa.

 

Minha primeira madrugada como pai indo buscar a filha em uma festa.

 

Chegou essa fase.

 

Até.

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