terça-feira, novembro 05, 2024

Ontem

Vinha eu dirigindo a caminho do consultório, hoje mais cedo, e ouvindo um podcast em inglês, de nome ‘How To’. O episódio em questão, que eu ouvia em uma manhã de sol de terça-feira, era sobre como encarar o medo da morte, de morrer.

 

Diferente de alguns casos comentados no programa, de pessoas que tem sofrimento real relacionado ao medo de morrer e da morte de pessoas próximas, meu problema com o conceito de morrer é – já disse repetidas vezes – que acho um ‘desperdício’, desnecessário...

 

O que acontece é que não consigo imaginar o fim, o ‘não ser’, o nada. Aí chego a quase lamentar a minha falta de certezas com relação ao pós-vida. Gostaria de estar seguro, no sentido de fé, de que quando morrer haverá a chamada vida eterna em um local para onde vão os justos e os corretos. Mas minha relação com a religião, Deus e conceitos teológicos é de não saber.

 

Eu não sei.

 

Gostaria, sinceramente, de acreditar na existência ou na não-existência dessa entidade superior, ou energia, seja como for. Gostaria de saber que vou reencontrar em alguma dimensão diferente aqueles entes queridos que se foram, mas realmente, sinceramente, eu não sei.

 

Talvez eu acredite no Deus de Spinoza, como disse Einstein. Ele não estaria separado do mundo, pelo contrário, seria intimamente e necessariamente ligado a ele, formando apenas uma coisa, uma substância, ou seja, o mundo e Deus são a mesma coisa, já que o mundo é uma produção, e não uma criação.

 

Mas isso é conversa para outro momento.

 

Não em uma terça-feira de manhã de sol.

 

Até.

 

PS – Ontem, na Feira do Livro, foi muito legal. Obrigado a todos!

Abraço. 

segunda-feira, novembro 04, 2024

Sobre Hoje

Prioridade e expectativas.

 

Foi um longo processo, mas houve um momento em que percebi que – mesmo tendo desejos e aspirações materiais, de coisas que eu gostaria muito de ter – nada era mais importante do que aquilo que eu queria viver. E que – como todos deveríamos saber e em nenhum momento esquecer – ser é muito maior do que ter.

 

As experiências, de que tanto falam.

 

Não, não virei monge, e muito menos me desfiz de bens materiais para viver em harmonia com a natureza. Continuo gostando de conforto, de visitar lugares legais e tal, mas quero dizer que não tenho aquela ânsia por acumular.

 

Minha ânsia é por viver.

 

Conviver.

 

Até.

 

PS – como parte das experiências que queria viver, hoje será uma desse tipo. Às 19h ocorrerá a sessão de autógrafos do meu primeiro livro de crônicas, ‘A Sopa no Exílio’, na 70ª Feira do Livro de Porto Alegre. Quem puder aparecer por lá fará minha noite ainda mais feliz.


Abraço! 

domingo, novembro 03, 2024

A Sopa

Sobre o terminar.

 

Tudo na vida, inclusive ela própria, tem um fim. Verdade maior, incontestável. De alguma forma, por alguma razão, tudo o que vivemos vai – em algum momento – terminar, queiramos ou não. Temos que saber, ou aprender, a lidar com isso, com as perdas que virão.

 

São relacionamentos, ciclos, fases ruins, fases boas, não importa, devemos manter em perspectiva a ideia de que nada – exceto a morte, claro – é definitivo. Por isso, já falei, ainda não me conformei com a morte: acho um desperdício, mas não é disso que quero falar agora.

 

Durante um tempo, tive a ideia de que eu era uma pessoa que não chegava ao final das coisas, não as encerrava, ou completava. Que era bom em começar – ‘o botador de pilha’- mas não tinha talvez a persistência ou disciplina de seguir e completar. Tinha as ideias, poderia até iniciar múltiplas atividades ou projetos, mas me via como alguém que não era bom em terminar tarefas, ir até o final daquilo que começava.

 

Não sei de onde vem, ou vinha, esse pensamento autodepreciativo, mas sem dúvida era pernicioso para mim mesmo, afinal o discurso molda a realidade, a narrativa é o que conta. Não sei se essa percepção é (era) baseada em fatos objetivos ou não, não faz muita diferença, pois era como eu me via.

 

Quando há quase vinte e cinco anos fui aprovado para o iniciar o Doutorado em Medicina, o primeiro pensamento foi de ‘será que vou terminar?’. Mesmo que na entrevista de seleção, que era para o Mestrado, eu tenha dito – confiante – que não queria fazer Mestrado, mas, sim, Doutorado, e o projeto era original e bom tanto que foi selecionado para Doutorado, no fundo minha maior preocupação era se chegaria ao final.

 

Cheguei.

 

Não só isso, defendi minha tese de Doutorado em uma vinda ao Brasil quando já estava no Canadá iniciando o Pós-Doutorado, que também completei, e depois fui professor de Medicina, e assim por diante. Aos poucos, a ideia de que era alguém que não completava, não ia até o final daquilo que propunha fazer, foi mudando.

 

Sou também alguém que faz o que foi prometido.     

 

Lembrei disso em uma conversa em que dizia que tinha prometido em 2017 que levaria a Marina a um show do Paul McCartney, o que fiz recentemente. A pessoa com quem conversava (minha mãe) lembrou que eu havia prometido levá-la a conhecer a Itália e o fiz, há quase dois anos. Disse ela: “és alguém que cumpre promessas”.

 

Sou, ou me tornei, não importa. 


Até. 

sábado, novembro 02, 2024

Sábado (e um grande momento)

Bar Opinião, 27/10/2024
 

Existem momentos que, realmente, não tem preço.
Que ficam marcados na nossa história pessoal.
Que pareciam não ser possíveis.

Bom sábado a todos.

Até.


sexta-feira, novembro 01, 2024

Histórias de Consultório

Sobre a linguagem falada. 

A língua falada, forma de comunicação mais informal e flexível, mais sujeita a neologismos e gírias, difere da linguagem escrita, que é posterior à essa, mais formal e, de certa forma, mais complexa, ou rebuscada. Sobre o vocabulário da língua falada, diz-se que é composto por até dez mil palavras. 

 

Em teoria, imagino.

 

Porque o que vemos (vejo) por aí no contato com as pessoas parece ser bem menos que isso, mas claro que pode ser má vontade minha. Mas eu não queria falar exatamente disso. Notei, e não é novo isso, evidentemente, que praticamente podemos dizer a idade de alguém a partir do seu discurso, da forma e do conteúdo de sua fala. E associamos (associo) muitas vezes uma forma de falar com pessoas específicas.

 

Tá ligado?

 

Esse é um termo muito usado por pessoas de determinada faixa etária, acho que entre vinte e vinte e vinte e cinco anos de idade, mais ou menos. Não consigo não lembrar do Gabriel, meu sobrinho e afilhado “emprestado”. Toda vez que ouço alguém falando e terminando as afirmações com um “tá ligado”, lembro dele. Foi assim quando conversamos com o Ian Garbinatto, o Cara do Metal, no Qual é o Tom. Passei o tempo todo da conversa pensando que estava conversando com ele. 

 

E foi assim ontem, quando comecei a atender um paciente de vinte dois anos, que usava a expressão com frequência. Após as perguntas iniciais, ele disse que ia começar a contar sua história, de secreções e sofrimento. Respondi a ele que, o que era a vida, afinal, que não uma série infindável de sofrimento e secreções interrompida por intervalos fugazes de felicidade e prazer? 

 

A conexão foi imediata.

 

Terminou a consulta dizendo que tinha sido muito legal consultar comigo. Foi um bom jeito de começar o dia de consultas. 

 

Tudo correu bem até entrar no consultório a louca antivacinas.

 

Mas isso é história para outro dia.

 

Até.