Sobre o terminar.
Tudo na vida, inclusive ela própria, tem um fim. Verdade maior, incontestável. De alguma forma, por alguma razão, tudo o que vivemos vai – em algum momento – terminar, queiramos ou não. Temos que saber, ou aprender, a lidar com isso, com as perdas que virão.
São relacionamentos, ciclos, fases ruins, fases boas, não importa, devemos manter em perspectiva a ideia de que nada – exceto a morte, claro – é definitivo. Por isso, já falei, ainda não me conformei com a morte: acho um desperdício, mas não é disso que quero falar agora.
Durante um tempo, tive a ideia de que eu era uma pessoa que não chegava ao final das coisas, não as encerrava, ou completava. Que era bom em começar – ‘o botador de pilha’- mas não tinha talvez a persistência ou disciplina de seguir e completar. Tinha as ideias, poderia até iniciar múltiplas atividades ou projetos, mas me via como alguém que não era bom em terminar tarefas, ir até o final daquilo que começava.
Não sei de onde vem, ou vinha, esse pensamento autodepreciativo, mas sem dúvida era pernicioso para mim mesmo, afinal o discurso molda a realidade, a narrativa é o que conta. Não sei se essa percepção é (era) baseada em fatos objetivos ou não, não faz muita diferença, pois era como eu me via.
Quando há quase vinte e cinco anos fui aprovado para o iniciar o Doutorado em Medicina, o primeiro pensamento foi de ‘será que vou terminar?’. Mesmo que na entrevista de seleção, que era para o Mestrado, eu tenha dito – confiante – que não queria fazer Mestrado, mas, sim, Doutorado, e o projeto era original e bom tanto que foi selecionado para Doutorado, no fundo minha maior preocupação era se chegaria ao final.
Cheguei.
Não só isso, defendi minha tese de Doutorado em uma vinda ao Brasil quando já estava no Canadá iniciando o Pós-Doutorado, que também completei, e depois fui professor de Medicina, e assim por diante. Aos poucos, a ideia de que era alguém que não completava, não ia até o final daquilo que propunha fazer, foi mudando.
Sou também alguém que faz o que foi prometido.
Lembrei disso em uma conversa em que dizia que tinha prometido em 2017 que levaria a Marina a um show do Paul McCartney, o que fiz recentemente. A pessoa com quem conversava (minha mãe) lembrou que eu havia prometido levá-la a conhecer a Itália e o fiz, há quase dois anos. Disse ela: “és alguém que cumpre promessas”.
Sou, ou me tornei, não importa.
Até.
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