Sem acentos, neste teclado do seculo passado e com configuracao para ingles do Canada. Visitando o site da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, fui lembrado que hoje eh o Dia Mundial Sem Tabaco. Nao podia deixar de comentar.
Ja me disseram, em tom meio de galhofa e meio serio, que eu deveria apoiar que as pessoas fumassem, pois garantiria os pacientes e o sustenyo da familia. Nem mesmo dentro raciocinio posso apoiar o tabagismo, porque se conseguissemos fazer todos os fumantes parar hoje, ainda teria trabalho pelos proximos 40 anos... Entao, nem nessa condicao posso sequer tolerar o tabagismo.
Falei na ultima 'A Sopa' sobre coisas que abomino. Pois eh, eu abomino o cigarro, e por extensao, quem fuma em lugares fechados ou perto de mim. Intolerancia? Com certeza, e com muito orgulho. Fumar em locais fechados eh de uma falta de educacao sem tamanho, pois obriga quem nao fuma e nao quer faze-lo a inalar a fumaca, o que tambem causa doencas, acredite-se ou nao.
E gravidas fumando? Pais fumando perto dos seus filhos pequenos?
O fim. Devia ser crime.
Ja se sabe que isso eh uma doenca, os fumantes sao adictos `a nicotina, isso eh condicionado geneticamente, etc, mas pais fumando perto dos seus filhos pequenos deveriam ser punidos exemplarmente. Coloca-los de castigo, sem televisao, sem sobremesa.
Em reincidentes, daria-se um pau neles, para aprenderem.
Sem radicalizacoes, claro.
Ate mais.
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
terça-feira, maio 31, 2005
segunda-feira, maio 30, 2005
Método
Estou morando aqui em Toronto há nove meses e alguns dias. Sozinho, geograficamente longe daqueles que me são mais queridos. Isso todo mundo que já passou algumas vez por esse blog sabe, até porque está na abertura do blog e é um assunto recorrente. É uma das formas que tenho de lidar com as saudades.
Pois é. Sábado de noite, em Porto Alegre, a Jacque foi jantar na casa da Luciana e do Deco, nossos amigos, mais o Pedro e a Zeca, e me colocou embaixo do braço e fui junto com eles. Não foi uma novidade nestes tempo em que sou um marido virtual, de vez em quando ela me leva junto para um lugar ou outro para eu encontrar alguns dos nossos amigos. Desde que tenham um acesso com banda larga. Graças à tecnologia, e ao iChat. Nada de novo até aqui.
Conversando com o Pedro e a Zeca no sábado, eles perguntaram como iam as coisas aqui. Respondi que tudo vai bem, o trabalho está rendendo, estou muito bem adaptado ao hospital, à cidade e ao país. Que Toronto é outra cidade depois do inverno. Que estou procurando um bicicleta usada bem baratinha para poder aproveitar os finais de semana na beira do lago, etc.
Perguntaram se eu sentia falta de Porto Alegre. Comecei a dizer que não, que no fundo eu não sentia falta… fiquei em silêncio por um instante e confessei: “Quem eu quero enganar? É claro que eu morro de saudades de casa, da Jacque, da família, dos amigos!”. Sim, eu sinto saudades (como se isso não estivesse claro pelo que escrevo…). Que fique bem claro: não estou sofrendo aqui em Toronto. Pelo contrário, a vida aqui é muito boa. Mas evidentemente sinto saudades de tudo o que ficou no Brasil. É isso.
Mas como lidar com a saudade de tanta gente ao mesmo tempo?
Lembrando do meu tio Vilson, já falecido há vinte anos, desenvolvi uma técnica. Ele, em algumas vezes que viajamos de noite, dizia que podia dirigir a noite toda sem perigo de dormir, porque “descansava” um olho de cada vez. Aí olhavamos e lá estava ele com um olho fechado e o outro aberto enquanto o carro seguia pela estrada…
Pensando nisso, decidi sentir saudades das pessoas em etapas: cada dia, ou par de dias, de uma pessoa diferente. Nem sempre funciona exatamente como deveria.
Nos últimos dias, tenho insistemente sentido falta da Beta, minha muito amada afilhada.
Até.
domingo, maio 29, 2005
A Sopa 04/45
Tenho sido um homem angustiado.
Por causa do Abominável Homem das Neves.
Não, não tem nada a ver com o fato de eu estar no Canadá, teoricamente mais perto. Nem é porque não tenha nada mais importante ou mais interessante com o que me preocupar. Também não imagino que ele ande por Toronto nem que escale prédios, coisa e tal. Nada a ver. O que me intriga é algo um pouco diferente.
Yeti, uma imensa criatura bípede, não-humana, que viveria nas montanhas do Tibet, é também conhecido por Raksha, palavra em sânscrito que significa demônio. Hirsuta criatura, muito alta, com altura aproximada de 2,1 a 3 metros, pés duas vezes maiores do que os humanos, já foi “visto” também na China, no Nepal, Sibéria, e… Canadá. Mas, como já disse, não é isso que me preocupa.
Por que Abominável?
Pode ser pelo seu odor, dito desagradável, também possivelmente por sua hirsutez e não uso regular de xampus adequados ao seu tipo de cabelo, sei lá. Mas, de antemão, já sabemos que não vamos gostar de encontrá-lo: ele é abominável. Logo, vamos abominá-lo. Isso é grave, pesado.
Abominar algo ou alguém é coisa muito séria. Muito radical (nada pessoal, Radi), definitivo, até. Se abominas uma coisa, é sinal de que nunca vais gostar dela. Não há a menor chance. Se fosse o Desagradável Homem das Neves ou o Inconveniente Homem das Neves, tudo bem. Mas Abominável é definitivo. Ponto.
Fico imaginando o que ele fez para merecer esse epíteto. Comia de boca aberta, liberava sonoros e nauseabundos flatos enquanto à mesa, não tomava banho. O que pode ter feito ele para que se tornasse alguém que previamente sabemos que vamos abominar, mesmo antes do sermos pessoalmente apresentados?
Mais um dos mistérios desse mundo…
Eu, quando mais novo, abominava algumas coisas e até algumas pessoas. Hoje, já não perco tempo e/ou energia com esse tipo de sentimento. A indiferença é muito mais eficiente.
E você, abomina algo ou alguém?
Pensa e me diz…
Por causa do Abominável Homem das Neves.
Não, não tem nada a ver com o fato de eu estar no Canadá, teoricamente mais perto. Nem é porque não tenha nada mais importante ou mais interessante com o que me preocupar. Também não imagino que ele ande por Toronto nem que escale prédios, coisa e tal. Nada a ver. O que me intriga é algo um pouco diferente.
Yeti, uma imensa criatura bípede, não-humana, que viveria nas montanhas do Tibet, é também conhecido por Raksha, palavra em sânscrito que significa demônio. Hirsuta criatura, muito alta, com altura aproximada de 2,1 a 3 metros, pés duas vezes maiores do que os humanos, já foi “visto” também na China, no Nepal, Sibéria, e… Canadá. Mas, como já disse, não é isso que me preocupa.
Por que Abominável?
Pode ser pelo seu odor, dito desagradável, também possivelmente por sua hirsutez e não uso regular de xampus adequados ao seu tipo de cabelo, sei lá. Mas, de antemão, já sabemos que não vamos gostar de encontrá-lo: ele é abominável. Logo, vamos abominá-lo. Isso é grave, pesado.
Abominar algo ou alguém é coisa muito séria. Muito radical (nada pessoal, Radi), definitivo, até. Se abominas uma coisa, é sinal de que nunca vais gostar dela. Não há a menor chance. Se fosse o Desagradável Homem das Neves ou o Inconveniente Homem das Neves, tudo bem. Mas Abominável é definitivo. Ponto.
Fico imaginando o que ele fez para merecer esse epíteto. Comia de boca aberta, liberava sonoros e nauseabundos flatos enquanto à mesa, não tomava banho. O que pode ter feito ele para que se tornasse alguém que previamente sabemos que vamos abominar, mesmo antes do sermos pessoalmente apresentados?
Mais um dos mistérios desse mundo…
Eu, quando mais novo, abominava algumas coisas e até algumas pessoas. Hoje, já não perco tempo e/ou energia com esse tipo de sentimento. A indiferença é muito mais eficiente.
E você, abomina algo ou alguém?
Pensa e me diz…
sábado, maio 28, 2005
A Saga Continua
Toronto é dita a cidade mais multicultural do mundo.
Com isso em mente, e ainda com o intuito de ter uma experiência canadense completa, hoje prossegui em minha peregrinação pelos barbeiros do mundo. Sim, cortei o cabelo.
A primeira vez, em outubro passado, fui a um barbeiro italiano. Contei essa experiência aqui mesmo no blog. Foi curioso, ele só usava tesoura e não máquina mesmo eu insistindo para que ele o fizesse, aguardando o momento em que ele ia perder a paciência e passar a navalha no meu pescoço. Ficou mais ou menos.
A segunda vez que fui cortar o cabelo aqui em Toronto, no final de janeiro, escolhi um barbeiro iraquiano. Era justamente o final de semana de eleições no Iraque, e achei que seria uma homenagem adequada. Não comentei com ele porque não achei apropriado. Tive o cabelo cortado enquanto eu estava voltado para Meca. Ele não usava tesoura, apenas máquina. Também ficou mais ou menos.
Finalmente hoje decidi cortar pela terceira vez (nos intervalos entre um corte e outro, em dezembro e abril, cortei enquanto estava em Porto Alegre) e o escolhido foi um barbeiro português. E isso não é nenhuma piada, evidentemente. No final da manhã, peguei o bonde que faz o trajeto pela Dundas, atravessando o bairro português. No caminho, fiquei prestando atenção para encontrar um barbeiro. Encontrei, desci e entrei no estabelecimento.
Havia três pessoas sendo atendidas nas três cadeiras disponíveis, e sentei para esperar a minha vez. Numa das cadeiras, a que ficava à esquerda, um cliente tinha sua barba feita, com navalha. Lamentei ter feito a barba ontem, pois seria suuuper legal ter a barba feita… Na cadeira do meio, o barbeiro cortava o cabelo de um outro cliente, e na última, a da direita, uma mulher cortava o cabelo de outro. Após alguns momentos de observação, já sabia que a cabelereira da cadeira à minha direita era brasileira, e o dono, que estava trabalhando na cadeira do meio, era português.
Enquanto aguardava minha vez, peguei um jornal em português que estava à disposição. Folheei indiferente até encontrar a manchete sobre uma medicação anti-calvície que seria testada em humanos depois de passar pela fase das cobaias: “Em ratos funciona!”. Ia ler o corpo da matéria quando o barbeiro me chamou. Orientei-o em português e ele – que usa tesoura e máquina – cortou exatamente da forma que eu queria. Melhor que isso, só em Porto Alegre, no local onde corto há mais de dez anos e quando chego só preciso responder que sim, do mesmo jeito de sempre…
Vou voltar, afinal Portugal venceu a disputa de qual país cortaria o meu cabelo.
Até.
Com isso em mente, e ainda com o intuito de ter uma experiência canadense completa, hoje prossegui em minha peregrinação pelos barbeiros do mundo. Sim, cortei o cabelo.
A primeira vez, em outubro passado, fui a um barbeiro italiano. Contei essa experiência aqui mesmo no blog. Foi curioso, ele só usava tesoura e não máquina mesmo eu insistindo para que ele o fizesse, aguardando o momento em que ele ia perder a paciência e passar a navalha no meu pescoço. Ficou mais ou menos.
A segunda vez que fui cortar o cabelo aqui em Toronto, no final de janeiro, escolhi um barbeiro iraquiano. Era justamente o final de semana de eleições no Iraque, e achei que seria uma homenagem adequada. Não comentei com ele porque não achei apropriado. Tive o cabelo cortado enquanto eu estava voltado para Meca. Ele não usava tesoura, apenas máquina. Também ficou mais ou menos.
Finalmente hoje decidi cortar pela terceira vez (nos intervalos entre um corte e outro, em dezembro e abril, cortei enquanto estava em Porto Alegre) e o escolhido foi um barbeiro português. E isso não é nenhuma piada, evidentemente. No final da manhã, peguei o bonde que faz o trajeto pela Dundas, atravessando o bairro português. No caminho, fiquei prestando atenção para encontrar um barbeiro. Encontrei, desci e entrei no estabelecimento.
Havia três pessoas sendo atendidas nas três cadeiras disponíveis, e sentei para esperar a minha vez. Numa das cadeiras, a que ficava à esquerda, um cliente tinha sua barba feita, com navalha. Lamentei ter feito a barba ontem, pois seria suuuper legal ter a barba feita… Na cadeira do meio, o barbeiro cortava o cabelo de um outro cliente, e na última, a da direita, uma mulher cortava o cabelo de outro. Após alguns momentos de observação, já sabia que a cabelereira da cadeira à minha direita era brasileira, e o dono, que estava trabalhando na cadeira do meio, era português.
Enquanto aguardava minha vez, peguei um jornal em português que estava à disposição. Folheei indiferente até encontrar a manchete sobre uma medicação anti-calvície que seria testada em humanos depois de passar pela fase das cobaias: “Em ratos funciona!”. Ia ler o corpo da matéria quando o barbeiro me chamou. Orientei-o em português e ele – que usa tesoura e máquina – cortou exatamente da forma que eu queria. Melhor que isso, só em Porto Alegre, no local onde corto há mais de dez anos e quando chego só preciso responder que sim, do mesmo jeito de sempre…
Vou voltar, afinal Portugal venceu a disputa de qual país cortaria o meu cabelo.
Até.
sexta-feira, maio 27, 2005
Semeadura
Lacador
Originally uploaded by Marcelo Tadday.
Nós vamos prosseguir companheiro
Medo não há
No rumo certo da estrada
Unidos vamos crescer e andar
Nós vamos repartir, companheiro
O campo e o mar
O pão da vida, meu braço, meu peito
Feito para amar
Americana Pátria, morena
Quero tener
Guitarra y canto libre
En tu amanecer
No pampa meu pala a voar
Esteira de vento e luar
Vento e luar
Nós vamos semear, companheiro
No coração
Manhãs e frutos e sonhos
Prum dia acabar com essa escuridão
Nós vamos preparar, companheiro
Sem ilusão
Um novo tempo, em que a paz e a fartura
Brotem das mãos
(Vitor Ramil/Fogaça)
quinta-feira, maio 26, 2005
Corpus Christi
Al Otro Lado Do Rio
Jorge Drexler
Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río
El día le irá pudiendo
poco a poco al frío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río
Sobre todo creo que
no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima
y yo, soy un vaso vacío
Oigo una voz que me llama
casi un suspiro
Rema, rema, rema-a
Rema, rema, rema-a
En esta orilla del mundo
lo que no es presa es baldío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río
Yo muy serio voy remando
muy adentro sonrío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río
Sobre todo creo que
no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima
y yo, soy un vaso vacío
Oigo una voz que me llama
casi un suspiro
Rema, rema, rema-a
Rema, rema, rema-a
Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
creo que he visto una luz
al otro lado del río
Jorge Drexler
Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río
El día le irá pudiendo
poco a poco al frío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río
Sobre todo creo que
no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima
y yo, soy un vaso vacío
Oigo una voz que me llama
casi un suspiro
Rema, rema, rema-a
Rema, rema, rema-a
En esta orilla del mundo
lo que no es presa es baldío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río
Yo muy serio voy remando
muy adentro sonrío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río
Sobre todo creo que
no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima
y yo, soy un vaso vacío
Oigo una voz que me llama
casi un suspiro
Rema, rema, rema-a
Rema, rema, rema-a
Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
creo que he visto una luz
al otro lado del río
quarta-feira, maio 25, 2005
Piadas e Bundas
Diz o dito popular que gosto é que nem pescoço: cada um tem o seu. Assim como piada é que nem bunda. Todo mundo tem uma, algumas são mais profundas, outras cabeludas, etc.
Escrevo isso em virtude dos comentários a respeito do Episódio III de Star Wars e, também, da minha relação com o cinema. Cada um, cada um, óbvio, e ninguém precisa justificar o seus gostos. Eu não me justifico mais por gostar desse ou daquele filme.
Lembrei, então, de uma época em que eu costumava dizer, olhando seriamente no olho da pessoa, com convicção, mas evidentemente brincando, que “As pessoas podem ter opiniões, eu não, tenho compromisso com a verdade”. Dava a entender que o que eu pensava era a verdade, aquilo que eu gostava era o certo, era eu quem sabia o que era bom.
Sempre foi brincadeira, claro, mas incomodava alguns. Por quê?
Porque eu dizia o que as pessoas pensavam e nunca haviam tido coragem de dizer! Porque todos pensam que os seus gostos são os melhores e os certos. Quem discorda do que gostam é porque está errado. Simples. Ninguém vai admitir que gosta de algo que não é o melhor, ou que possa estar errada. Se é que há certo ou errado em termos de gosto.
Aceitar a opinião dos outros – se esta opinião é diferente da sua – é tolerar que vivam um erro, uma mentira. Na sua opinião, evidentemente. Os outros acham que a sua opinião diferente da deles é que está errada. É assim.
A civilização está baseada na hipocrisia. Só assim é que evitamos transpor a tênue linha que nos separa da barbárie.
Quando essa fronteira é invadida, é que iniciam os conflitos. Religião, por exemplo. Não existe melhor exemplo de pessoas sendo violentas (os extremos) ao tentar impor aos outros suas crenças, suas verdades. A história da humanidade está aí para provar.
Alguns podem assistir um filme e ver apenas os caras bons brigando contra os maus com umas espadas coloridas, ou um bando de estranhos carregando um anel por um mundo diferente para ser destruído. Outros vêem muito mais que isso. Quem está certo? Todos, ninguém.
Não faz diferença.
Escrevo isso em virtude dos comentários a respeito do Episódio III de Star Wars e, também, da minha relação com o cinema. Cada um, cada um, óbvio, e ninguém precisa justificar o seus gostos. Eu não me justifico mais por gostar desse ou daquele filme.
Lembrei, então, de uma época em que eu costumava dizer, olhando seriamente no olho da pessoa, com convicção, mas evidentemente brincando, que “As pessoas podem ter opiniões, eu não, tenho compromisso com a verdade”. Dava a entender que o que eu pensava era a verdade, aquilo que eu gostava era o certo, era eu quem sabia o que era bom.
Sempre foi brincadeira, claro, mas incomodava alguns. Por quê?
Porque eu dizia o que as pessoas pensavam e nunca haviam tido coragem de dizer! Porque todos pensam que os seus gostos são os melhores e os certos. Quem discorda do que gostam é porque está errado. Simples. Ninguém vai admitir que gosta de algo que não é o melhor, ou que possa estar errada. Se é que há certo ou errado em termos de gosto.
Aceitar a opinião dos outros – se esta opinião é diferente da sua – é tolerar que vivam um erro, uma mentira. Na sua opinião, evidentemente. Os outros acham que a sua opinião diferente da deles é que está errada. É assim.
A civilização está baseada na hipocrisia. Só assim é que evitamos transpor a tênue linha que nos separa da barbárie.
Quando essa fronteira é invadida, é que iniciam os conflitos. Religião, por exemplo. Não existe melhor exemplo de pessoas sendo violentas (os extremos) ao tentar impor aos outros suas crenças, suas verdades. A história da humanidade está aí para provar.
Alguns podem assistir um filme e ver apenas os caras bons brigando contra os maus com umas espadas coloridas, ou um bando de estranhos carregando um anel por um mundo diferente para ser destruído. Outros vêem muito mais que isso. Quem está certo? Todos, ninguém.
Não faz diferença.
terça-feira, maio 24, 2005
Paris e outras idéias
Começou ontem, na bela e encantadora cidade que dá título a esta crônica, o torneio de Roland Garros. Apesar de todos considerarem o torneio de Winbledon, quadra de grama, todo o “charme” da nobreza britânica, o mais tradicional torneio de tênis do circuito da ATP, que está para o tênis assim como o Grande Prêmio de Monte Carlo está para a Fórmula 1, eu particularmente prefiro Roland Garros.
Evidentemente que tem a ver com duas razões principais: primeiro, o Gustavo Kuerten foi campeão por três vezes, e, segundo, tenho uma relação de amor incondicional com Paris. A “culpa” desse fascínio que tenho por Paris é da Jacque, mas não é de Paris que quero falar hoje. É um pouco sobre tênis – bem pouco – e sobre a nossa (Brasil) baixa auto-estima como nação.
Como devem saber, o Guga foi eliminado em jogo realizado hoje, perdendo para o espanhol David Sanchez por três sets a um. Não foi uma boa participação, sem dúvidas, além disso, desde que voltou a jogar, após a segunda cirurgia no quadril, não tem conseguido repetir suas boas performances de antes. Nada muito fora do normal, mas ainda não é esse o ponto.
Após o jogo, que acompanhei por aqui, o Terra noticiou “Guga repete o fiasco de 1996 e cai na primeira rodada”. Ao mesmo tempo, na página do torneio era dada a seguinte notícia:
“Despite the typically unfailing support of his legion of fans, Gustavo Kuerten fell in four sets to Spaniard David Sanchez. The 6-3, 6-0, 4-6, 6-1 loss will be hard to swallow for the genial Brazilian, who, even at his beloved Roland Garros, appears to be finding it harder and harder to get his game back on track.”
Sentiram a diferença?
Eu vejo, e assim é em geral. Temos – o Brasil e os brasileiros em geral - por hábito nos diminuir, e fazemos o mesmo com aqueles que se destacam. Parece que é um insulto que algo ou alguém que saiu ou surge no Brasil possa ter sucesso. A exceção que confirma a regra talvez seja com o futebol: nos orgulhamos dos Ronaldos e Cafús que jogam pelo mundo afora. Tirando eles, temos a tendência a nos sentir menos.
Falar mal do país é normal e até esperado.
Eu acho isso de uma estupidez atroz.
E é uma das coisas que mais admiro nos americanos. Independente de quem está no poder, independente de qualquer coisa, eles têm orgulho do país. Se não está bom, tentam mudar, para aquilo que acham o melhor (e não estou julgando o que é melhor).
Esse exemplo podia ser seguido.
Evidentemente que tem a ver com duas razões principais: primeiro, o Gustavo Kuerten foi campeão por três vezes, e, segundo, tenho uma relação de amor incondicional com Paris. A “culpa” desse fascínio que tenho por Paris é da Jacque, mas não é de Paris que quero falar hoje. É um pouco sobre tênis – bem pouco – e sobre a nossa (Brasil) baixa auto-estima como nação.
Como devem saber, o Guga foi eliminado em jogo realizado hoje, perdendo para o espanhol David Sanchez por três sets a um. Não foi uma boa participação, sem dúvidas, além disso, desde que voltou a jogar, após a segunda cirurgia no quadril, não tem conseguido repetir suas boas performances de antes. Nada muito fora do normal, mas ainda não é esse o ponto.
Após o jogo, que acompanhei por aqui, o Terra noticiou “Guga repete o fiasco de 1996 e cai na primeira rodada”. Ao mesmo tempo, na página do torneio era dada a seguinte notícia:
“Despite the typically unfailing support of his legion of fans, Gustavo Kuerten fell in four sets to Spaniard David Sanchez. The 6-3, 6-0, 4-6, 6-1 loss will be hard to swallow for the genial Brazilian, who, even at his beloved Roland Garros, appears to be finding it harder and harder to get his game back on track.”
Sentiram a diferença?
Eu vejo, e assim é em geral. Temos – o Brasil e os brasileiros em geral - por hábito nos diminuir, e fazemos o mesmo com aqueles que se destacam. Parece que é um insulto que algo ou alguém que saiu ou surge no Brasil possa ter sucesso. A exceção que confirma a regra talvez seja com o futebol: nos orgulhamos dos Ronaldos e Cafús que jogam pelo mundo afora. Tirando eles, temos a tendência a nos sentir menos.
Falar mal do país é normal e até esperado.
Eu acho isso de uma estupidez atroz.
E é uma das coisas que mais admiro nos americanos. Independente de quem está no poder, independente de qualquer coisa, eles têm orgulho do país. Se não está bom, tentam mudar, para aquilo que acham o melhor (e não estou julgando o que é melhor).
Esse exemplo podia ser seguido.
segunda-feira, maio 23, 2005
Feriado
Além de feriado - Victoria Day, hoje – o final de semana que passou foi o ‘Fim-de-semana Star Wars’. De sábado para cá assisti aos três primeiros episódios da série, o terceiro no cinema hoje à tarde.
Pois é, estava me lembrando que, a cada vez que vou comentar aqui um filme que vi, ou mesmo que não vi (porque tenho tenho opinião também sobre filmes que não vi) começo justificando minha opinião. Sempre digo que vou no cinema para divertir, passar o tempo, etc. Que gosto dos chamados ‘filmes de arte’, mas também gosto, e não pouco, de, vamos dizer, blockbusters. Tem gente que me olha feio por isso, torce o nariz e tal e coisa. Azar deles.
Sou mais “radical” quanto ao meu gosto musical: tem certas coisas que definitivamente eu não consigo ouvir. Sou mais, sei lá, criterioso? Não, porque ao dizer isso já estaria fazendo um julgamento, e não cabe a mim julgar, mas tem coisas que não me agradam. Com cinema, é diferente.
Não poderia ser crítico de cinema. É muita responsabilidade. Tem gente que até acredita no que escrevem os críticos, imagine só! Não, não é para mim. O meu critério de qualidade é me divertir, então a gama de filmes que me agradam é enorme.
Voltando ao final de semana e ao Star Wars, me penitencio por não ter assistido aos dois primeiros no cinema. Mais do que normalmente acontece, estes são filmes em que assistir na tela grande e com som dolby stereo, é uma experiência mais do que nunca completamente diferente de ver num tevê. Mas antes eu não estava pronto para assistir aos dois primeiros. Por quê? Não sei. Mesmo. A única certeza que tenho é que agora eu precisava assistir aos filmes. É a mesma relação que tenho com Londres.
Não, eu não conheço Londres. Ainda. Quando der para ir, eu certamente vou. Não sei quando vai ser, mas poderia ter sido, teoricamente falando. Digo isso porque já estive mais de uma vez na Europa e em nenhuma das vezes fomos à Londres. A Jacque até já conhece, mas isso não vem ao caso. Nestas vezes que estivemos na Europa, eu não estava pronto para visitá-la. Sério, mas eu não sabia disso.
Um dia desses, há um certo tempo que não posso precisar, percebi que estava pronto para ir a Londres. Foi quando me dei conta que anteriormente eu não tinha ido porque eu não podia ir. Parece estranho? Para mim, não.
E o Episódio III? Gostei, muito. Várias idéias para refletir. Mas não vou comentar nada aqui, afinal não tem nada mais chato que alguém que conta o filme que nem todos viram.
Até.
Pois é, estava me lembrando que, a cada vez que vou comentar aqui um filme que vi, ou mesmo que não vi (porque tenho tenho opinião também sobre filmes que não vi) começo justificando minha opinião. Sempre digo que vou no cinema para divertir, passar o tempo, etc. Que gosto dos chamados ‘filmes de arte’, mas também gosto, e não pouco, de, vamos dizer, blockbusters. Tem gente que me olha feio por isso, torce o nariz e tal e coisa. Azar deles.
Sou mais “radical” quanto ao meu gosto musical: tem certas coisas que definitivamente eu não consigo ouvir. Sou mais, sei lá, criterioso? Não, porque ao dizer isso já estaria fazendo um julgamento, e não cabe a mim julgar, mas tem coisas que não me agradam. Com cinema, é diferente.
Não poderia ser crítico de cinema. É muita responsabilidade. Tem gente que até acredita no que escrevem os críticos, imagine só! Não, não é para mim. O meu critério de qualidade é me divertir, então a gama de filmes que me agradam é enorme.
Voltando ao final de semana e ao Star Wars, me penitencio por não ter assistido aos dois primeiros no cinema. Mais do que normalmente acontece, estes são filmes em que assistir na tela grande e com som dolby stereo, é uma experiência mais do que nunca completamente diferente de ver num tevê. Mas antes eu não estava pronto para assistir aos dois primeiros. Por quê? Não sei. Mesmo. A única certeza que tenho é que agora eu precisava assistir aos filmes. É a mesma relação que tenho com Londres.
Não, eu não conheço Londres. Ainda. Quando der para ir, eu certamente vou. Não sei quando vai ser, mas poderia ter sido, teoricamente falando. Digo isso porque já estive mais de uma vez na Europa e em nenhuma das vezes fomos à Londres. A Jacque até já conhece, mas isso não vem ao caso. Nestas vezes que estivemos na Europa, eu não estava pronto para visitá-la. Sério, mas eu não sabia disso.
Um dia desses, há um certo tempo que não posso precisar, percebi que estava pronto para ir a Londres. Foi quando me dei conta que anteriormente eu não tinha ido porque eu não podia ir. Parece estranho? Para mim, não.
E o Episódio III? Gostei, muito. Várias idéias para refletir. Mas não vou comentar nada aqui, afinal não tem nada mais chato que alguém que conta o filme que nem todos viram.
Até.
domingo, maio 22, 2005
A Sopa 04/44
Não há mal que dure para sempre.
Digo isso porque a primavera parece irreversível aqui, o inverno se aproxima no Brasil, e a temperatura cai no Rio Grande do Sul. Hoje, é a primeira vez que observo isso, a temperatura em Toronto e Porto Alegre é a mesma nas duas cidades. Certo, 12ºC não parece muito com a primavera gaúcha, mas aqui certamente o é.
Tudo muda aqui quando acaba o inverno de verdade. A cidade ganha vida, todos os cafés, bares e restaurantes põe mesas nas ruas, as pessoas vão para os parques, para o sol. E essa é uma diferença grande para os lugares em que as estações não são tão claras. Aqui o inverno é inverno, muito frio, neve, pessoas mais em casa (ou praticando os esportes na neve). Após o inverno, as bicicletas, os rollers, tomam conta de tudo. Muitos vão para o trabalho com suas bicicletas e patins, as peles muito brancas começando a tomar colorações róseas.
Isso falando em atividades ao ar livre. Dentro de casa, no recôndito do lar, não faz muita diferença. Ao contrário das condições meteorológicas externas, dentro das casas a temperatura é mais ou menos constante. É a estrutura para o frio, com a calefação que funciona muito bem. Por esse controle ambiental interno, dentro de casa é sempre verão. Na rua -20ºC e dentro de casa posso andar de calção e camiseta. Como tudo na vida, existe o outro lado da moeda. Se por um lado é uma vantagem ter essa temperatura estável, por outro perde-se algumas das coisas boas do inverno.
Não há nada melhor que dormir no inverno. NADA. Certo, certo, eu sei o que vocês estão pensando: chimarrão também é muito bom… sorvete de chocolate (lamento, Pedro), Fanta laranja, etc… Quase ia esquecendo: viajar. Outras coisas até existem que são tão ou melhores quanto, mas morando aqui no Canadá, sozinho, eu quase já nem lembro…
Mas eu dizia que dormir no inverno é uma experiência quase sobrenatural de tão boa. Quem já passou um inverno no sul do Brasil sabe: super-frio na rua, frio até dentro de casa, o que nos obriga a usar pijama, ficar bem encolhido embaixo dos cobertores. Se possível, ir dormir bem cedo. Ver televisão na cama. Pois é, aqui não tem nada disso. Temperatura constante, dorme-se como se estivéssemos na praia, mas sem a brisa do mar.
Falando nisso, após um inverno canadense, entendo porque os locais voam para o sul na primeira oportunidade em busca de sol e calor. Eu, que era um avesso ao sol, tudo o que mais sonho é passar uns dias numa praia, Porto de Galinhas, por exemplo, que é o lugar para onde vou depois que morrer. Já falei disso? Não? Pois é, Porto de Galinha é a minha visão do paraíso.
Mas vamos deixar a discussão metafísica e religião para outro dia. Com chuva, claro.
Digo isso porque a primavera parece irreversível aqui, o inverno se aproxima no Brasil, e a temperatura cai no Rio Grande do Sul. Hoje, é a primeira vez que observo isso, a temperatura em Toronto e Porto Alegre é a mesma nas duas cidades. Certo, 12ºC não parece muito com a primavera gaúcha, mas aqui certamente o é.
Tudo muda aqui quando acaba o inverno de verdade. A cidade ganha vida, todos os cafés, bares e restaurantes põe mesas nas ruas, as pessoas vão para os parques, para o sol. E essa é uma diferença grande para os lugares em que as estações não são tão claras. Aqui o inverno é inverno, muito frio, neve, pessoas mais em casa (ou praticando os esportes na neve). Após o inverno, as bicicletas, os rollers, tomam conta de tudo. Muitos vão para o trabalho com suas bicicletas e patins, as peles muito brancas começando a tomar colorações róseas.
Isso falando em atividades ao ar livre. Dentro de casa, no recôndito do lar, não faz muita diferença. Ao contrário das condições meteorológicas externas, dentro das casas a temperatura é mais ou menos constante. É a estrutura para o frio, com a calefação que funciona muito bem. Por esse controle ambiental interno, dentro de casa é sempre verão. Na rua -20ºC e dentro de casa posso andar de calção e camiseta. Como tudo na vida, existe o outro lado da moeda. Se por um lado é uma vantagem ter essa temperatura estável, por outro perde-se algumas das coisas boas do inverno.
Não há nada melhor que dormir no inverno. NADA. Certo, certo, eu sei o que vocês estão pensando: chimarrão também é muito bom… sorvete de chocolate (lamento, Pedro), Fanta laranja, etc… Quase ia esquecendo: viajar. Outras coisas até existem que são tão ou melhores quanto, mas morando aqui no Canadá, sozinho, eu quase já nem lembro…
Mas eu dizia que dormir no inverno é uma experiência quase sobrenatural de tão boa. Quem já passou um inverno no sul do Brasil sabe: super-frio na rua, frio até dentro de casa, o que nos obriga a usar pijama, ficar bem encolhido embaixo dos cobertores. Se possível, ir dormir bem cedo. Ver televisão na cama. Pois é, aqui não tem nada disso. Temperatura constante, dorme-se como se estivéssemos na praia, mas sem a brisa do mar.
Falando nisso, após um inverno canadense, entendo porque os locais voam para o sul na primeira oportunidade em busca de sol e calor. Eu, que era um avesso ao sol, tudo o que mais sonho é passar uns dias numa praia, Porto de Galinhas, por exemplo, que é o lugar para onde vou depois que morrer. Já falei disso? Não? Pois é, Porto de Galinha é a minha visão do paraíso.
Mas vamos deixar a discussão metafísica e religião para outro dia. Com chuva, claro.
sábado, maio 21, 2005
Sábado de Jazz
Eu tenho por hábito desenvolver teorias.
Boa parte delas relacionadas a assuntos que não domino suficientemente bem para poder desenvolver teorias a seu respeito. Isso não é motivo para eu não criá-las, claro. Fica até mais divertido…
Uma dessas teorias, não exatamente nova, é de que a quarta-feira é o melhor dia da semana, afinal se hoje é quarta-feira, ontem era recém terça e amanhã já quinta, e aí vem o final de semana. Pois é, nem todos concordam, mas fazer o quê? Nem todos reconhecem uma boa idéia quando estão diante dela…
Outra: o melhor momento da semana é o sábado de manhã, de sol. Essa é bem antiga, já citei-a mais de uma centena de vezes. Reparem bem na sutileza, não é o melhor dia – que é quarta-feira – mas sim o melhor momento. Por quê? Várias razões, entre elas é que é o começo oficial do fim de semana. Tem a ver também com o fato de eu ter tido aulas de educação física nos sábados de manhã durante o segundo grau, no parque da Redenção, em Porto Alegre. Para chegar na aula, tinha que atravessar o parque andando, o que tornava agradável o percurso até a aula e a mesma mais bucólica.
Com a chegada da primavera aqui em Toronto, as manhãs de sábado tomam uma cor diferente, assim como era lá em Porto Alegre. O frio foi embora (ao menos neste final de semana) e o sol tomou conta.
Aproveitei o dia bonito e fui caminhar e almoçar no Distillery Historic District, assistindo a alguns shows do Distillery District Jazz Festival, que está ocorrendo neste e no próximo finais de semana. Durante o dia, as atrações são gratuitas e à noite compra-se o passaporte que dá acesso aos shows. Bem legal.
Almocei assistindo boa música, fiquei lendo um tempo ao som do jazz, antes de voltar caminhando até o Eaton Centre para comprar protetor solar antes de voltar para casa.
Bom sábado. A todos.
Boa parte delas relacionadas a assuntos que não domino suficientemente bem para poder desenvolver teorias a seu respeito. Isso não é motivo para eu não criá-las, claro. Fica até mais divertido…
Uma dessas teorias, não exatamente nova, é de que a quarta-feira é o melhor dia da semana, afinal se hoje é quarta-feira, ontem era recém terça e amanhã já quinta, e aí vem o final de semana. Pois é, nem todos concordam, mas fazer o quê? Nem todos reconhecem uma boa idéia quando estão diante dela…
Outra: o melhor momento da semana é o sábado de manhã, de sol. Essa é bem antiga, já citei-a mais de uma centena de vezes. Reparem bem na sutileza, não é o melhor dia – que é quarta-feira – mas sim o melhor momento. Por quê? Várias razões, entre elas é que é o começo oficial do fim de semana. Tem a ver também com o fato de eu ter tido aulas de educação física nos sábados de manhã durante o segundo grau, no parque da Redenção, em Porto Alegre. Para chegar na aula, tinha que atravessar o parque andando, o que tornava agradável o percurso até a aula e a mesma mais bucólica.
Com a chegada da primavera aqui em Toronto, as manhãs de sábado tomam uma cor diferente, assim como era lá em Porto Alegre. O frio foi embora (ao menos neste final de semana) e o sol tomou conta.
Aproveitei o dia bonito e fui caminhar e almoçar no Distillery Historic District, assistindo a alguns shows do Distillery District Jazz Festival, que está ocorrendo neste e no próximo finais de semana. Durante o dia, as atrações são gratuitas e à noite compra-se o passaporte que dá acesso aos shows. Bem legal.
Almocei assistindo boa música, fiquei lendo um tempo ao som do jazz, antes de voltar caminhando até o Eaton Centre para comprar protetor solar antes de voltar para casa.
Bom sábado. A todos.
sexta-feira, maio 20, 2005
Uma morte no Brazil
Gosto de livrarias porque gosto de livros. O mesmo acontece com bibliotecas. Em Porto Alegre, houve uma época em que eu não conseguia sair de uma livraria sem comprar algo para ler, no mínimo uma revista. Havia dias em que eu ia almoçar sozinho num shopping center e que, antes do almoço propriamente dito, eu passava e comprava algo para ler durante a refeição.
Aqui em Toronto não poderia ser diferente, exceto pelo fato de eu não comprar tantos livros assim. Esses são tempos de prudência com relação às finanças, principalmente como preparação para alguma imprudência futura. Com esse espírito, muito mais olho os livros do que os compro.
Mas esse dias não tive como resistir. Circulando por entre lançamentos de não-ficção, no meio de diversos livros sobre a guerra no Iraque, a família Bush e alguns outros, chamou minha atenção um livro chamado “A Death in Brazil – A Book of Omissions”. Fui ver do que se tratava. O autor chama-se Peter Robb, australiano que passou os últimos vinte e cinco anos vivendo entre o Brasil, o sul da Itália e a Austrália.
O livro, que comecei a ler hoje, é a história do Brasil contada por alguém que assitiu tudo de perto mas com olhos de estrangeiro, com uma perspectiva diferente. Pesquisando sobre o autor, encontrei uma entrevista que ele deu para uma emissora australiana, em que ele fala sobre um pouco sobre o papel do Brasil da América Latina, sobre o Lula, a violência. É interessante. Quem quiser ler, ela está aqui.
No começo do livro, sobre as cidades do Rio e São Paulo:
Rio on Guanabara Bay sprawls over the habitable parts of the most beautiful site in the world. It was the slave and sugar city of the south, snatched from the French in its infancy and francophile to its marrow, the old capital of imperial Brazil, dazzling in its disease riddled belle époque, reimagined as the marvelous city of flying down to Rio and twentieth-century dreams of beaches, music, football, drugs and sex, ringed and overlooked and now increasingly invaded by its favelas. For the world, Rio goes on being Brazil.
São Paulo lacks Rio’s splendor face but it has the sex and drugs and violence, a lot of money and even more people than money (…) Now twenty million people make São Paulo maybe the fourth biggest human agglomeration on the planet. Rio is huge and lovely and terrifying. São Paulo is huger and more terrifying and not lovely at all…
Vamos ver o que nos reserva o resto. Estou curioso.
Até.
Aqui em Toronto não poderia ser diferente, exceto pelo fato de eu não comprar tantos livros assim. Esses são tempos de prudência com relação às finanças, principalmente como preparação para alguma imprudência futura. Com esse espírito, muito mais olho os livros do que os compro.
Mas esse dias não tive como resistir. Circulando por entre lançamentos de não-ficção, no meio de diversos livros sobre a guerra no Iraque, a família Bush e alguns outros, chamou minha atenção um livro chamado “A Death in Brazil – A Book of Omissions”. Fui ver do que se tratava. O autor chama-se Peter Robb, australiano que passou os últimos vinte e cinco anos vivendo entre o Brasil, o sul da Itália e a Austrália.
O livro, que comecei a ler hoje, é a história do Brasil contada por alguém que assitiu tudo de perto mas com olhos de estrangeiro, com uma perspectiva diferente. Pesquisando sobre o autor, encontrei uma entrevista que ele deu para uma emissora australiana, em que ele fala sobre um pouco sobre o papel do Brasil da América Latina, sobre o Lula, a violência. É interessante. Quem quiser ler, ela está aqui.
No começo do livro, sobre as cidades do Rio e São Paulo:
Rio on Guanabara Bay sprawls over the habitable parts of the most beautiful site in the world. It was the slave and sugar city of the south, snatched from the French in its infancy and francophile to its marrow, the old capital of imperial Brazil, dazzling in its disease riddled belle époque, reimagined as the marvelous city of flying down to Rio and twentieth-century dreams of beaches, music, football, drugs and sex, ringed and overlooked and now increasingly invaded by its favelas. For the world, Rio goes on being Brazil.
São Paulo lacks Rio’s splendor face but it has the sex and drugs and violence, a lot of money and even more people than money (…) Now twenty million people make São Paulo maybe the fourth biggest human agglomeration on the planet. Rio is huge and lovely and terrifying. São Paulo is huger and more terrifying and not lovely at all…
Vamos ver o que nos reserva o resto. Estou curioso.
Até.
quinta-feira, maio 19, 2005
Impressões
Saindo de uma livraria, agora há pouco, onde havia ido fazer apenas uma visita de médico, dar uma olhada nos últimos lançamentos, por cima, namorar um guia da Itália, que sabe comprar algum livro que estivesse em promoção, percebi que a vida tem outro ritmo aqui. Aos menos para mim.
Bem antes de vir para cá, quando a viagem ainda era um possibilidade muito mais que uma certeza (de novo, para mim, porque aqui eles faziam de tudo para que a minha vinda se concretizasse), conversei com várias pessoas sobre Toronto, muito mais que sobre o Canadá. Vários deles me disseram que “Toronto é São Paulo e Vancouver é Rio de Janeiro”. Ou então, como algumas revistas de viagem: “Toronto é Nova York, Montreal é Paris”. E eu pensava: e Porto Alegre, tem Porto Alegre no Canadá?
Ao chegar aqui, decidi não morar no Downtown, e vim morar no High Park. Se São Paulo for assim como é onde moro, até moraria em São Paulo. Mas, afinal, não devo esquecer que comparar cidades é inútil. Cada uma tem sua personalidade, seu jeito de encarar o mundo. De ser vista pelos outros.
Toronto é tímida perante o mundo. Se houvesse uma reunião de todas as cidades do mundo, Miami chegaria no seu carro conversível com o som alto tocando, sei lá, Rick Martin. Nova York se imporia perante todas com vocação de capital do mundo. Paris encantaria a todos com sua beleza, e Toronto estaria olhando tudo em silêncio. Quase não se ouviria sua voz, mesmo com tudo que tem para oferecer.
Aqui onde moro, ela tem o aspecto de uma cidade do interior, com suas casas baixas, muito verde, o “centrinho nervoso” que é o Bloor West Village, e um ritmo mais devagar, menos corrido. Era o que eu dizia sobre o ritmo diferente daqui.
Ao sair da livraria em direção ao supermercado, parei e esperei o sinal abrir para os pedestres. Enquanto esperava, vi as pessoas que passavam, a mãe empurrando o carrinho com o seu nenê, o senhor de luvas andando com um andador, as amigas gordas falando alto ao mesmo tempo em que ouviam música com fones nos ouvidos. Ao abrir o sinal, atravessei lentamente a rua e vi os carros passarem no outro lado. Normalmente, não prestaria atenção nisso tudo, preocupado em não ser atropelado e chegar logo ao destino. Ou estaria de carro.
O ritmo, o meu ritmo aqui é outro. Definitivamente.
#
Em estudo ainda não publicado, mas que sairá na Nature num futuro não muito distante, uma equipe de biólogos da Universidade da Califórnia chegou a algumas conclusões interessantes. Eles treinaram chimpanzés durante alguns meses e eles foram capazes de manter um blog utilizando um desses sites tipo o Blogger. Aplicaram o mesmo teste em mim, e eu não consegui…
#
Da série ‘Elvis não morreu’: como contei ontem, ao entrar num banheiro e me olhar no espelho, vi o Elvis. Hoje, entrei no supermercado para algumas compras básicas e quem estava tocando no sistema de som? Quem? Isso mesmo, Elvis Presley.
Isso deve ser um sinal…
Ah, fui no espelho conferir hoje e ele não estava mais lá. Em compensação, vi o Nasi, vocalista do Ira!. Acho que vou parar de ir nesse banheiro…
#
Esse blog completa um ano de vida em mais ou menos quinze dias, e só me dei conta disso agora. O meu plano inicial era fazer diversas modificações para comemorar a data, mas descobri que eu NÃO sei mexer nessas coisas.
Por isso, ‘A Sopa no Exílio’ está abrindo um licitação internacional. Aguardo propostas para alguém assumir e reformular o blog, com domínio próprio de tudo. É evidente que será um trabalho remunerado. Ajudem-me, por favor!
Bem antes de vir para cá, quando a viagem ainda era um possibilidade muito mais que uma certeza (de novo, para mim, porque aqui eles faziam de tudo para que a minha vinda se concretizasse), conversei com várias pessoas sobre Toronto, muito mais que sobre o Canadá. Vários deles me disseram que “Toronto é São Paulo e Vancouver é Rio de Janeiro”. Ou então, como algumas revistas de viagem: “Toronto é Nova York, Montreal é Paris”. E eu pensava: e Porto Alegre, tem Porto Alegre no Canadá?
Ao chegar aqui, decidi não morar no Downtown, e vim morar no High Park. Se São Paulo for assim como é onde moro, até moraria em São Paulo. Mas, afinal, não devo esquecer que comparar cidades é inútil. Cada uma tem sua personalidade, seu jeito de encarar o mundo. De ser vista pelos outros.
Toronto é tímida perante o mundo. Se houvesse uma reunião de todas as cidades do mundo, Miami chegaria no seu carro conversível com o som alto tocando, sei lá, Rick Martin. Nova York se imporia perante todas com vocação de capital do mundo. Paris encantaria a todos com sua beleza, e Toronto estaria olhando tudo em silêncio. Quase não se ouviria sua voz, mesmo com tudo que tem para oferecer.
Aqui onde moro, ela tem o aspecto de uma cidade do interior, com suas casas baixas, muito verde, o “centrinho nervoso” que é o Bloor West Village, e um ritmo mais devagar, menos corrido. Era o que eu dizia sobre o ritmo diferente daqui.
Ao sair da livraria em direção ao supermercado, parei e esperei o sinal abrir para os pedestres. Enquanto esperava, vi as pessoas que passavam, a mãe empurrando o carrinho com o seu nenê, o senhor de luvas andando com um andador, as amigas gordas falando alto ao mesmo tempo em que ouviam música com fones nos ouvidos. Ao abrir o sinal, atravessei lentamente a rua e vi os carros passarem no outro lado. Normalmente, não prestaria atenção nisso tudo, preocupado em não ser atropelado e chegar logo ao destino. Ou estaria de carro.
O ritmo, o meu ritmo aqui é outro. Definitivamente.
#
Em estudo ainda não publicado, mas que sairá na Nature num futuro não muito distante, uma equipe de biólogos da Universidade da Califórnia chegou a algumas conclusões interessantes. Eles treinaram chimpanzés durante alguns meses e eles foram capazes de manter um blog utilizando um desses sites tipo o Blogger. Aplicaram o mesmo teste em mim, e eu não consegui…
#
Da série ‘Elvis não morreu’: como contei ontem, ao entrar num banheiro e me olhar no espelho, vi o Elvis. Hoje, entrei no supermercado para algumas compras básicas e quem estava tocando no sistema de som? Quem? Isso mesmo, Elvis Presley.
Isso deve ser um sinal…
Ah, fui no espelho conferir hoje e ele não estava mais lá. Em compensação, vi o Nasi, vocalista do Ira!. Acho que vou parar de ir nesse banheiro…
#
Esse blog completa um ano de vida em mais ou menos quinze dias, e só me dei conta disso agora. O meu plano inicial era fazer diversas modificações para comemorar a data, mas descobri que eu NÃO sei mexer nessas coisas.
Por isso, ‘A Sopa no Exílio’ está abrindo um licitação internacional. Aguardo propostas para alguém assumir e reformular o blog, com domínio próprio de tudo. É evidente que será um trabalho remunerado. Ajudem-me, por favor!
quarta-feira, maio 18, 2005
Considerações sobre um dia de sol
A primavera finalmente apareceu em Toronto, só não sei até quando vai durar. A previsão é de alguns dias de tempo bom e temparaturas amenas. O final de semana prolongado pelo feriado de segunda-feira – Victoria Day – promete ser de tempo agradável.
Hoje, em vez de ter que ir para o hospital, meu compromisso era num outro laboratório, a algumas quadras do Toronto Western Hospital. Fui de metrô até a estação Bathurst, e fiz caminhando o percurso entre a Bloor e a College st. A manhã de céu azul, sem vento, era mais do que propícia. Por ruas menos movimentadas, somente residenciais, caminhei lentamente com a máquina fotográfica na mão e procurando os melhores ângulos para uns retratos. Tulipas vermelhas e amarelas em alguns jardins estreitos que nem as casas muitas vezes conjugadas. Cheguei com calor.
#
Já no hospital, após o almoço, fui ao banheiro, me olhei no espelho e vi o Elvis Presley dias antes de morrer. Resolvi começar uma dieta…
Ou cortar o cabelo.
#
Tudo começou com um comentário que eu fiz no blog da Luly, em que eu dizia que eu era suuuper mal-humorado. Brincadeira, claro. E ela respondeu comentando que eu não parecia mal humorado, parecia introspectivo e reflexivo. E então a Renata comentou dizendo que já lia este blog há tempos e – antes de ver as minhas fotos – achava que eu era um cara mais velho, solitário e reflexivo.
Fiquei pensando nisso, na imagem que passo através do que escrevo, e me dei conta que tem gente que só me conhece por aqui, e a única idéia que têm de mim é justamente pelo que escrevo. Que coisa, eu realmente pareço reflexivo e introspectivo no que eu escrevo. E eu sou reflexivo e introspectivo! Mas não sou só isso, claro, se não nem eu me agüentava…
Pensei em pedir para algumas pessoas que me conhecem há mais tempo para darem seu depoimento sobre mim. Grande falcatrua, porque só poderia pedir para quem eu sei que só falaria bem de mim. Desisti. Contudo, enquanto eu escrevia o texto de hoje, a Jacque escreveu um comentário justamente sobre isso. Eu sei, eu sei, ela não é imparcial nem tem o distanciamento crítico suficiente. Mentira, não acredito nisso. Acho que ela tem TODAS as condições de falar sobre mim com total isenção… e considero o depoimento dela totalmente válido, senhor juiz…
#
Mas não posso deixar de dizer que gostei dessa imagem, de reflexão e introspecção. Prefiro pensar que isso tem a ver com a Estética do Frio, termo criado e teoria desenvolvida pelo Vítor Ramil, músico gaúcho. Tem a ver com a imensidão do pampa, das terras do sul, onde é frio e até neva, em contraposição ao que se pensa quando se fala em Brasil, sol, calor e praia.
#
Ainda sobre a impressão que passo e os comentários feitos, foi dito que eu dou a impressão de ser “muito mais velho, solitário e reflexivo”. Lembrei direto de uma música do Nei Lisboa, também gaúcho de Porto Alegre.
Baladas
Só
Nem ao menos deus por perto
Mil idéias brilham
Mas não molham meu deserto
E já faz tempo
Que eu escuto ladainhas
As minhas, as ondas do verão
Que irão bater na mesma tecla
A mesma porta
Baladas de uma época remota
Não há saídas
Só delírios de outro Midas
Lambendo a tua cruz
É ouro que reluz
Oh, mana
Não vale a pena pagar
Um centavo, um cigarro de prazer
Oh, mana
Eu quero é morrer
Bem velhinho, assim, sozinho
Ali, bebendo um vinho
E olhando a bunda de alguém
Só
E apesar de tudo estranho
Tenho inimigos que me amam
Fantasmas
E garçonetes em Pequim
É sempre alguém
Alguém que pense em mim
Enquanto o palco acende a luz do soul
A banda passa e bossa amassa o business-show
Romanos
Encharcados de poção
Vivemos de paixão
E alguma grana
Oh, mana
Não vale a pena pagar
Um centavo, um cigarro de prazer
Oh, mana
Eu quero é morrer
Bem velhinho, assim, sozinho
Ali, bebendo um vinho
E olhando a bunda de alguém
Só
Muito além do jardim
Viajo atrás de sombras
Não sei a quem chamar
Mas sei que ela diria ao acordar:
Tudo bem
Você me arrasou, meu bem
E qualquer dia desses como as tuas bolas
Mas por hora esqueça o drama na sacola
Não puxe o cobertor
Não tape o sol que resta nessa dor
Foi bom, não durou
Hoje, em vez de ter que ir para o hospital, meu compromisso era num outro laboratório, a algumas quadras do Toronto Western Hospital. Fui de metrô até a estação Bathurst, e fiz caminhando o percurso entre a Bloor e a College st. A manhã de céu azul, sem vento, era mais do que propícia. Por ruas menos movimentadas, somente residenciais, caminhei lentamente com a máquina fotográfica na mão e procurando os melhores ângulos para uns retratos. Tulipas vermelhas e amarelas em alguns jardins estreitos que nem as casas muitas vezes conjugadas. Cheguei com calor.
#
Já no hospital, após o almoço, fui ao banheiro, me olhei no espelho e vi o Elvis Presley dias antes de morrer. Resolvi começar uma dieta…
Ou cortar o cabelo.
#
Tudo começou com um comentário que eu fiz no blog da Luly, em que eu dizia que eu era suuuper mal-humorado. Brincadeira, claro. E ela respondeu comentando que eu não parecia mal humorado, parecia introspectivo e reflexivo. E então a Renata comentou dizendo que já lia este blog há tempos e – antes de ver as minhas fotos – achava que eu era um cara mais velho, solitário e reflexivo.
Fiquei pensando nisso, na imagem que passo através do que escrevo, e me dei conta que tem gente que só me conhece por aqui, e a única idéia que têm de mim é justamente pelo que escrevo. Que coisa, eu realmente pareço reflexivo e introspectivo no que eu escrevo. E eu sou reflexivo e introspectivo! Mas não sou só isso, claro, se não nem eu me agüentava…
Pensei em pedir para algumas pessoas que me conhecem há mais tempo para darem seu depoimento sobre mim. Grande falcatrua, porque só poderia pedir para quem eu sei que só falaria bem de mim. Desisti. Contudo, enquanto eu escrevia o texto de hoje, a Jacque escreveu um comentário justamente sobre isso. Eu sei, eu sei, ela não é imparcial nem tem o distanciamento crítico suficiente. Mentira, não acredito nisso. Acho que ela tem TODAS as condições de falar sobre mim com total isenção… e considero o depoimento dela totalmente válido, senhor juiz…
#
Mas não posso deixar de dizer que gostei dessa imagem, de reflexão e introspecção. Prefiro pensar que isso tem a ver com a Estética do Frio, termo criado e teoria desenvolvida pelo Vítor Ramil, músico gaúcho. Tem a ver com a imensidão do pampa, das terras do sul, onde é frio e até neva, em contraposição ao que se pensa quando se fala em Brasil, sol, calor e praia.
#
Ainda sobre a impressão que passo e os comentários feitos, foi dito que eu dou a impressão de ser “muito mais velho, solitário e reflexivo”. Lembrei direto de uma música do Nei Lisboa, também gaúcho de Porto Alegre.
Baladas
Só
Nem ao menos deus por perto
Mil idéias brilham
Mas não molham meu deserto
E já faz tempo
Que eu escuto ladainhas
As minhas, as ondas do verão
Que irão bater na mesma tecla
A mesma porta
Baladas de uma época remota
Não há saídas
Só delírios de outro Midas
Lambendo a tua cruz
É ouro que reluz
Oh, mana
Não vale a pena pagar
Um centavo, um cigarro de prazer
Oh, mana
Eu quero é morrer
Bem velhinho, assim, sozinho
Ali, bebendo um vinho
E olhando a bunda de alguém
Só
E apesar de tudo estranho
Tenho inimigos que me amam
Fantasmas
E garçonetes em Pequim
É sempre alguém
Alguém que pense em mim
Enquanto o palco acende a luz do soul
A banda passa e bossa amassa o business-show
Romanos
Encharcados de poção
Vivemos de paixão
E alguma grana
Oh, mana
Não vale a pena pagar
Um centavo, um cigarro de prazer
Oh, mana
Eu quero é morrer
Bem velhinho, assim, sozinho
Ali, bebendo um vinho
E olhando a bunda de alguém
Só
Muito além do jardim
Viajo atrás de sombras
Não sei a quem chamar
Mas sei que ela diria ao acordar:
Tudo bem
Você me arrasou, meu bem
E qualquer dia desses como as tuas bolas
Mas por hora esqueça o drama na sacola
Não puxe o cobertor
Não tape o sol que resta nessa dor
Foi bom, não durou
terça-feira, maio 17, 2005
Há como saber?
Há quase dezessete anos, numa já longínqua madrugada de julho de 1988, sentado em um balanço, na aquela época do ano deserta Colônia de Férias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Tramandaí, litoral norte gaúcho, tive uma longa conversa com uma amiga. Falamos sobre o futuro.
Estudávamos na Escola Técnica de Comércio, da UFRGS, e, como alunos da UFRGS, tínhamos direito de freqüentar a Colônia de Férias. Não no verão, claro, aliás, até poderíamos, mas no verão eu ia para a casa da praia, em Imbé, ao lado de Tramandaí, onde era parte da Turma do Muro, mas isso é outra história.
Costumávamos ir para a Colônia de Férrias nos meses fora de temporada. Nunca tinha ninguém lá. Ficávamos só nós, a turma. O que normalmente queria dizer o Márcio, o Radi, o Igor e eu, com exceção dessa única vez em que foram quase todos, uns dez. Era julho, frio, a cidade e a colônia de férias desertas. Acabamos dormindo quase todos no mesmo quarto (que tinha três triliches).
A conversa a que me refiro no início foi logo na noite que chegamos, estávamos todos conversando no quarto e decidi sair dali para tomar água. Ela quis ir junto. Fomos os dois, e acabamos ficando um tempão conversando sentados nos balanços. Falamos de muita coisa. Era uma época de indecisões e necessidade de definições. E isso causava ansiedade, óbvio.
Eu fazia cursinho pré-vestibular a até aquela altura do ano ainda não sabia para que prestaria prova. Medicina ou jornalismo? Minhas duas grandes paixões e – por que não? – vocações. Conversamos sobre isso, sobre como seria a vida em caso de eu escolher cada uma das opções. Essa amiga também tinha suas dúvidas, bem diferentes das minhas.
Eu achava naquela época que se optasse pela medicina, teria uma vida previsível, em contraste com infinitas possibilidades se fosse jornalista. Baita bobagem, mas as vezes somos mais velhos e sérios aos dezesseis anos do que aos trinta e três. A experiência nos deixa mais leves, de certa forma. Pois é, como já sabem, optei por medicina, e o engraçado é que se há uma coisa que não foi previsíel até hoje foi o rumo, foram as voltas que minha vida deu desde então. Como eu disse, somos muito mais velhos quando adolescentes.
Estou falando de tudo isso porque há cinco anos sentei, sozinho, e estabeleci um projeto de vida, algo como um plano de metas. Sei lá, coisa de obssessivo, estava sem ter o que fazer numa manhã qualquer, não importa. O fato é que lembrei disso e tenho absoluta e clara certeza de que nada do que eu imaginava para a minha vida há cinco anos atrás se realizou. Aliás, aconteceu de forma totalmente diferente do esperado, do planejado. E de uma forma boa, podem estar certos. E isso é uma das coisas boas: a vida sempre nos surpreende.
Ah, a menina a que me referi no início do texto não era nem nunca foi minha namorada. Era uma amiga, e que foi amiga por mais um tempo e se perdeu no caminho. Acontece.
Até.
Estudávamos na Escola Técnica de Comércio, da UFRGS, e, como alunos da UFRGS, tínhamos direito de freqüentar a Colônia de Férias. Não no verão, claro, aliás, até poderíamos, mas no verão eu ia para a casa da praia, em Imbé, ao lado de Tramandaí, onde era parte da Turma do Muro, mas isso é outra história.
Costumávamos ir para a Colônia de Férrias nos meses fora de temporada. Nunca tinha ninguém lá. Ficávamos só nós, a turma. O que normalmente queria dizer o Márcio, o Radi, o Igor e eu, com exceção dessa única vez em que foram quase todos, uns dez. Era julho, frio, a cidade e a colônia de férias desertas. Acabamos dormindo quase todos no mesmo quarto (que tinha três triliches).
A conversa a que me refiro no início foi logo na noite que chegamos, estávamos todos conversando no quarto e decidi sair dali para tomar água. Ela quis ir junto. Fomos os dois, e acabamos ficando um tempão conversando sentados nos balanços. Falamos de muita coisa. Era uma época de indecisões e necessidade de definições. E isso causava ansiedade, óbvio.
Eu fazia cursinho pré-vestibular a até aquela altura do ano ainda não sabia para que prestaria prova. Medicina ou jornalismo? Minhas duas grandes paixões e – por que não? – vocações. Conversamos sobre isso, sobre como seria a vida em caso de eu escolher cada uma das opções. Essa amiga também tinha suas dúvidas, bem diferentes das minhas.
Eu achava naquela época que se optasse pela medicina, teria uma vida previsível, em contraste com infinitas possibilidades se fosse jornalista. Baita bobagem, mas as vezes somos mais velhos e sérios aos dezesseis anos do que aos trinta e três. A experiência nos deixa mais leves, de certa forma. Pois é, como já sabem, optei por medicina, e o engraçado é que se há uma coisa que não foi previsíel até hoje foi o rumo, foram as voltas que minha vida deu desde então. Como eu disse, somos muito mais velhos quando adolescentes.
Estou falando de tudo isso porque há cinco anos sentei, sozinho, e estabeleci um projeto de vida, algo como um plano de metas. Sei lá, coisa de obssessivo, estava sem ter o que fazer numa manhã qualquer, não importa. O fato é que lembrei disso e tenho absoluta e clara certeza de que nada do que eu imaginava para a minha vida há cinco anos atrás se realizou. Aliás, aconteceu de forma totalmente diferente do esperado, do planejado. E de uma forma boa, podem estar certos. E isso é uma das coisas boas: a vida sempre nos surpreende.
Ah, a menina a que me referi no início do texto não era nem nunca foi minha namorada. Era uma amiga, e que foi amiga por mais um tempo e se perdeu no caminho. Acontece.
Até.
segunda-feira, maio 16, 2005
Sobre a Vida e Outras Idéias
Cuidado com o que dizes (ou escreves).
Há um tempo atrás escrevi na Sopa – até acho que ela já era blog – que eu estava pronto para morrer. Foi um estresse. As pessoas tiveram reações diferentes.
Um primeiro grupo mandou emails me chamando de mórbido, e “que eu virasse a boca pra lá”. Perguntando se eu não tinha mais nada para fazer do que ficar pensando bobagens. Dava até azar falar uma coisa dessas. Bate três vezes na madeira. Toc, toc, toc. Para que mexer com a matungona?
Um segundo grupo me escreveu perguntando se eu estava doente. É isso, certo? É câncer, pode falar. Esse cabelos ficando escassos não eram sinal de calvície, era a quimioterapia. Tu tens que ser forte, luta, não te entrega. Que promessas já fizeste? Nós já fizemos algumas, que tu vais pagar se melhorares…
Finalmente, um terceiro grupo achou que era uma declaração suicida. Você sabe, o suicida sempre avisa, dá sinais de que quer ou planeja se matar. Só podia ser isso, era um pedido desesperado de ajuda. E resolveram me ajudar. Primeiro, não me deixaram mais ficar sozinho. Sempre tinha alguém por perto. Depois, não me deixaram mais cozinhar. “Longe das facas! Longe das facas!”. Até aí, tudo bem, tinha um desculpa para não ajudar nas lides domésticas… Mas quando resolveram não me deixar mais usar cinto e tiraram todos os cadarços dos meus sapatos e tênis, achei que a coisa estava indo longe demais. Resolvi explicar a situação de uma vez por todas.
Não era nada do que estavam pensando.
Não, eu não queria nem pretendia morrer tão cedo. Aliás, a morte, a matungona, não estava nos meus planos, mesmo os mais distantes.
O que eu queria dizer no início de tudo é que eu tinha me dado conta que já tinha tocado a vida de alguém, já tinha sido importante na vida de alguém, e isso já tornava a minha uma vida produtiva e significativa. De certa forma, eu já me imortalizara.
E que esse era o sentido da vida.
(TEXTO DE FICÇÃO BASEADO EM FATOS REAIS)
(ACIMA DE TUDO, PORÉM, FICÇÃO)
Há um tempo atrás escrevi na Sopa – até acho que ela já era blog – que eu estava pronto para morrer. Foi um estresse. As pessoas tiveram reações diferentes.
Um primeiro grupo mandou emails me chamando de mórbido, e “que eu virasse a boca pra lá”. Perguntando se eu não tinha mais nada para fazer do que ficar pensando bobagens. Dava até azar falar uma coisa dessas. Bate três vezes na madeira. Toc, toc, toc. Para que mexer com a matungona?
Um segundo grupo me escreveu perguntando se eu estava doente. É isso, certo? É câncer, pode falar. Esse cabelos ficando escassos não eram sinal de calvície, era a quimioterapia. Tu tens que ser forte, luta, não te entrega. Que promessas já fizeste? Nós já fizemos algumas, que tu vais pagar se melhorares…
Finalmente, um terceiro grupo achou que era uma declaração suicida. Você sabe, o suicida sempre avisa, dá sinais de que quer ou planeja se matar. Só podia ser isso, era um pedido desesperado de ajuda. E resolveram me ajudar. Primeiro, não me deixaram mais ficar sozinho. Sempre tinha alguém por perto. Depois, não me deixaram mais cozinhar. “Longe das facas! Longe das facas!”. Até aí, tudo bem, tinha um desculpa para não ajudar nas lides domésticas… Mas quando resolveram não me deixar mais usar cinto e tiraram todos os cadarços dos meus sapatos e tênis, achei que a coisa estava indo longe demais. Resolvi explicar a situação de uma vez por todas.
Não era nada do que estavam pensando.
Não, eu não queria nem pretendia morrer tão cedo. Aliás, a morte, a matungona, não estava nos meus planos, mesmo os mais distantes.
O que eu queria dizer no início de tudo é que eu tinha me dado conta que já tinha tocado a vida de alguém, já tinha sido importante na vida de alguém, e isso já tornava a minha uma vida produtiva e significativa. De certa forma, eu já me imortalizara.
E que esse era o sentido da vida.
(TEXTO DE FICÇÃO BASEADO EM FATOS REAIS)
(ACIMA DE TUDO, PORÉM, FICÇÃO)
domingo, maio 15, 2005
A Sopa 04/43
Eu sempre cuido muito quando vou comprar sabonetes.
Não, não sou alérgico. Nem existe uma razão, digamos, física, para ter alguma precaução com sabonetes em geral. É uma questão filosófica. Nem precisa ser sabonete, também. E não está fazendo sentido o que estou escrevendo, eu sei. Deixa eu explicar o que quero dizer: o que muda o mundo, o que altera destinos, são as pequenas decisões que tomamos.
Essa coisa de encruzilhadas que encontramos na vida, grandes decisões que somos obrigados a tomar, momentos emblemáticos em que um ‘sim’ ou ‘não’ podem mudar o futuro, tudo isso é bobagem. Mesmo. A situação só chegou a este hipotético ponto de ruptura, a este inevitável dilema, a partir de pequenas decisões que tomamos no dia-a-dia. Traçando paralelo com um dito sobre os livros, podemos dizer que ‘as pequenas decisões diárias não mudam o mundo, elas mudam as pessoas, as pessoas é que mudam o mundo’. Pois é, isso é verdade. Podem estar certos.
Todo o dia, tomamos pequenas decisões que – sem percebemos – alteram muitas vidas, a começar com a nossa própria. Quantas vezes, sem perceber, nosso futuro foi alterado por uma coisa aparentemente mínima e sem importância. Exemplo: uma frase dita no momento não apropriado pode destruir um possível relacionamento que poderia ser “aquele”, o definitivo. Quantas vezes, num bar, alguém chegou para uma menina e abordou-a com um “Vem sempre aqui, gatinha?”, no que ela olhou de volta com desprezo e abdicou de conhecer aquele que seria o amor de sua vida, o pai de seus filhos. Pois é, um ônibus errado, um avião perdido, um bom dia dado num elevador, um esquecer de escovar os dentes. Pequenas atitudes que podem fazer toda a diferença no nosso futuro.
Pode parecer angustiante saber que cada passo que damos, desde a escolha da roupa que vamos usar até que programa de televisão vamos assistir, pode mudar a vida para sempre. E talvez seja mesmo, mas é assim, e não podemos fugir disso.
Acho que é por isso mesmo que escolhemos determinados eventos e momentos para serem emblemáticos, para simbolizarem as grandes mudanças. Tornamos esses momentos grandes para termos ao que nos referir quando refletimos sobre como nossa vida tornou-se o que é. Quando avaliamos os caminhos que tomamos na vida, tendemos a procurar esses momentos-chave, que dão significado a tudo.
Se tivéssemos a consciência de que todas nossas atitudes têm esse potencial, correríamos o risco de ficar paralisados com medo do que fazer. Está aí a razão para ignorarmos, ou negarmos, o fato de que são as aparentemente insignificantes decisões de todos os dias as que realmente importam. Por outro lado, não adianta fugir da verdade: até mesmo o sabonete que compramos pode mudar o mundo.
Não, não sou alérgico. Nem existe uma razão, digamos, física, para ter alguma precaução com sabonetes em geral. É uma questão filosófica. Nem precisa ser sabonete, também. E não está fazendo sentido o que estou escrevendo, eu sei. Deixa eu explicar o que quero dizer: o que muda o mundo, o que altera destinos, são as pequenas decisões que tomamos.
Essa coisa de encruzilhadas que encontramos na vida, grandes decisões que somos obrigados a tomar, momentos emblemáticos em que um ‘sim’ ou ‘não’ podem mudar o futuro, tudo isso é bobagem. Mesmo. A situação só chegou a este hipotético ponto de ruptura, a este inevitável dilema, a partir de pequenas decisões que tomamos no dia-a-dia. Traçando paralelo com um dito sobre os livros, podemos dizer que ‘as pequenas decisões diárias não mudam o mundo, elas mudam as pessoas, as pessoas é que mudam o mundo’. Pois é, isso é verdade. Podem estar certos.
Todo o dia, tomamos pequenas decisões que – sem percebemos – alteram muitas vidas, a começar com a nossa própria. Quantas vezes, sem perceber, nosso futuro foi alterado por uma coisa aparentemente mínima e sem importância. Exemplo: uma frase dita no momento não apropriado pode destruir um possível relacionamento que poderia ser “aquele”, o definitivo. Quantas vezes, num bar, alguém chegou para uma menina e abordou-a com um “Vem sempre aqui, gatinha?”, no que ela olhou de volta com desprezo e abdicou de conhecer aquele que seria o amor de sua vida, o pai de seus filhos. Pois é, um ônibus errado, um avião perdido, um bom dia dado num elevador, um esquecer de escovar os dentes. Pequenas atitudes que podem fazer toda a diferença no nosso futuro.
Pode parecer angustiante saber que cada passo que damos, desde a escolha da roupa que vamos usar até que programa de televisão vamos assistir, pode mudar a vida para sempre. E talvez seja mesmo, mas é assim, e não podemos fugir disso.
Acho que é por isso mesmo que escolhemos determinados eventos e momentos para serem emblemáticos, para simbolizarem as grandes mudanças. Tornamos esses momentos grandes para termos ao que nos referir quando refletimos sobre como nossa vida tornou-se o que é. Quando avaliamos os caminhos que tomamos na vida, tendemos a procurar esses momentos-chave, que dão significado a tudo.
Se tivéssemos a consciência de que todas nossas atitudes têm esse potencial, correríamos o risco de ficar paralisados com medo do que fazer. Está aí a razão para ignorarmos, ou negarmos, o fato de que são as aparentemente insignificantes decisões de todos os dias as que realmente importam. Por outro lado, não adianta fugir da verdade: até mesmo o sabonete que compramos pode mudar o mundo.
sábado, maio 14, 2005
Outro Sábado
Percebe-se que se está ficando velho quando algumas lembranças que ainda estão vivas, claras e cristalinas na nossa mente tem mais de vinte anos. Aí olho-me no espelho e digo, ao contemplar o que vejo, ‘respeite meus cabelos brancos’. São poucos, mas são defintivos.
Eu tenho algumas lembranças bem claras de há 20 anos, mas isso não tem importância nenhuma. O passado não existe e o futuro é apenas uma possibilidade, muito mais que uma probabilidade. O que resto é o hoje, o agora. E vamos levando, da melhor forma possível.
Isso dito, ainda mais vindo de alguém que aprecia ao extremo as lembranças, as histórias, pode parecer estranho. Mas acho que não é. Sou um contador de histórias, isso é o que me define muito antes de qualquer possivel caracterização que possa ser feita. Contraditório? Não. Eu construo as histórias no hoje para poder contar-las no futuro, quando forem passado. Não vivo nas minhas lembranças, nem deixo que elas interfiram no presente.
Se é que isso é possível, afinal de contas somos o resultado do que passou, e o que fazemos agora é o que vai determinar o depois. Não podemos fugir dessa perspectiva, de viver o presente determinado pelo que passou e que vai determinar o que virá.
Percebi isso nas duas vezes em que estive em Porto Alegre desde agosto, quando vim para Toronto. Ao chegar em Porto Alegre, a sensação de que nunca tinha saído de casa, que sempre estivera ali, ao mesmo tempo em que – eventualmente – enquanto estou aqui, tenho a impressão de que nunca vou voltar para a vida que vivia lá. É o que chamo de Síndrome da Caverna do Dragão. Os conteporâneos dos anos 80 lembrarão, do desenho em que um grupo de amigos ia a um parque de diversões e ao entrar num dos brinquedos – cujo nome era o título do desenho – caíam numa dimensão paralela e nunca conseguiam voltar. A cada episódio, eles chegavam muito perto de voltar para casa, mas por uma razão qualquer não conseguiam.
Pois é, algumas vezes tenho a impressão de que nunca mais vou voltar à vida que tinha antes, e de certa forma vai ser assim. Vou voltar diferente, sem dúvida. O essencial, contudo, será sempre o mesmo.
A Jacque, acima de tudo.
Até.
Eu tenho algumas lembranças bem claras de há 20 anos, mas isso não tem importância nenhuma. O passado não existe e o futuro é apenas uma possibilidade, muito mais que uma probabilidade. O que resto é o hoje, o agora. E vamos levando, da melhor forma possível.
Isso dito, ainda mais vindo de alguém que aprecia ao extremo as lembranças, as histórias, pode parecer estranho. Mas acho que não é. Sou um contador de histórias, isso é o que me define muito antes de qualquer possivel caracterização que possa ser feita. Contraditório? Não. Eu construo as histórias no hoje para poder contar-las no futuro, quando forem passado. Não vivo nas minhas lembranças, nem deixo que elas interfiram no presente.
Se é que isso é possível, afinal de contas somos o resultado do que passou, e o que fazemos agora é o que vai determinar o depois. Não podemos fugir dessa perspectiva, de viver o presente determinado pelo que passou e que vai determinar o que virá.
Percebi isso nas duas vezes em que estive em Porto Alegre desde agosto, quando vim para Toronto. Ao chegar em Porto Alegre, a sensação de que nunca tinha saído de casa, que sempre estivera ali, ao mesmo tempo em que – eventualmente – enquanto estou aqui, tenho a impressão de que nunca vou voltar para a vida que vivia lá. É o que chamo de Síndrome da Caverna do Dragão. Os conteporâneos dos anos 80 lembrarão, do desenho em que um grupo de amigos ia a um parque de diversões e ao entrar num dos brinquedos – cujo nome era o título do desenho – caíam numa dimensão paralela e nunca conseguiam voltar. A cada episódio, eles chegavam muito perto de voltar para casa, mas por uma razão qualquer não conseguiam.
Pois é, algumas vezes tenho a impressão de que nunca mais vou voltar à vida que tinha antes, e de certa forma vai ser assim. Vou voltar diferente, sem dúvida. O essencial, contudo, será sempre o mesmo.
A Jacque, acima de tudo.
Até.
sexta-feira, maio 13, 2005
Histórias Inacreditáveis (I)
Encontraram-se, depois de um ano de separação, no supermercado. No princípio, fingiram que não haviam se visto, mas depois de muito pensar, Paulo resolveu falar:
- É, um dia isto teria que acontecer...
- Já não era sem tempo. Está atrasado...
- Como assim?
- Trouxe o pacote?
É, ela tinha enlouquecido, coitada. Após pensar isso, ele a observou todinha e chegou à conclusão de que a separação fora benéfica para ela. Ela estava diferente. E linda.
- “As vacas não gostam de metralhadoras”.
- O quê?!
- A senha. Agora me dê o pacote.
Após dizer isso, ela arrancou o pacote de azeitonas pretas que ele comprara numa loja especializada em azeitonas, e correu para fora do supermercado. Estupefato, ele a observou correr graciosamente para o carro que estava parado bem em frente à porta de entrada, e o carro explodir.
Atrás dele, um ex-combatente do Vietnã estava pronto para esfaqueá-lo.
Estourava a III Guerra Mundial.
- É, um dia isto teria que acontecer...
- Já não era sem tempo. Está atrasado...
- Como assim?
- Trouxe o pacote?
É, ela tinha enlouquecido, coitada. Após pensar isso, ele a observou todinha e chegou à conclusão de que a separação fora benéfica para ela. Ela estava diferente. E linda.
- “As vacas não gostam de metralhadoras”.
- O quê?!
- A senha. Agora me dê o pacote.
Após dizer isso, ela arrancou o pacote de azeitonas pretas que ele comprara numa loja especializada em azeitonas, e correu para fora do supermercado. Estupefato, ele a observou correr graciosamente para o carro que estava parado bem em frente à porta de entrada, e o carro explodir.
Atrás dele, um ex-combatente do Vietnã estava pronto para esfaqueá-lo.
Estourava a III Guerra Mundial.
quinta-feira, maio 12, 2005
É bom ficar atento & Outras Viagens
Minha primeira – e talvez única – dica para quem vai vir morar em Toronto é que antes de sair de casa de manhã, sempre olhe a previsão do tempo e a temperatura. SEMPRE. Se esquecer de conferir um mísero dia, pode ser fatal. Eu nunca deixo de olhar. NUNCA.
Por exemplo. Ontem pela manhã, 14ºC e iria até a uma máxima de 26ºC. Tranqüilo, deu pra sair até de camisa de manga curta e sem casaco. Hoje, por outro lado, um dia lindo com céu azul sem nuvens. Temperatura, na hora de sair de casa, 2ºC. Dois graus! E máxima prevista de 11ºC.
Passei por várias pessoas de camiseta, provavelmente quase congelando. Eu não, saí prevenido e não passei frio. Mas podia ter tido problemas se não fosse o meu prudente hábito de conferir a temperatura na televisão todas as manhãs.
Sem falar que a primavera aqui é bem tímida…
#
Uma das atrações turísticas da Itália, entre as milhares e imperdíveis, são os lagos. Os mais famosos localizados no norte, os lagos di Como, Garda e Maggiore. Todos próximos dos Alpes, detalhe geográfico que os torna mais belos ainda. O Lago di Bracciano, por outro lado, está localizado na região do Lázio, a cerca de 40km de Roma. Não, não conheço este último, pretendo visitá-lo um dia desses.
Pela proximidade com Roma, talvez seja uma alternativa de estada para quem está viajando de carro pela Itália e pretenda visitá-la. E deve ter hotéis mais baratos que a capital. Se bem que com a loucura que é dirigir na cidade talvez não compense, sei lá. Na vez que estivemos em Roma, ela foi nosso destino inicial e só pegamos o carro na hora de deixar a cidade. Além disso, para fugir da loucura, fomos até o aeroporto e de lá saímos para o sul, em direção à Nápoli.
Mas não era examente disso o que eu queria falar.
Estava eu assistindo televisão hoje quando cheguei em casa, e peguei do início um dos episódios antigos do seriado ‘Everybody Loves Raymond’, justamente um em que toda a família Barone viaja para a Itália, e ficam justamente na cidade de Bracciano, às margens do lago de mesmo nome. De lá, visitam Roma.
Um dia desses, escrevo sobre as diferenças entre o humor norte-americano e o brasileiro. No início se estranha, mas com o tempo se acostuma com as diferenças. O seriado em questão é um caso típico desses seriados, cujo melhor exemplo é o Seinfeld. Anyway, no episódio em questão eles vão visitar um parente italiano, hospedando-se na casa do mesmo.
Todos aproveitam muito a viagem, com exceção do Raymond, que chega gripado, não gosta do quarto, reclama de tudo. Preferia passar as férias em New jersey, perto de casa. Numa das noites, tem que dividir a cama com o seu pai. Tudo ruim, mas só ele acha isso. Mesmo o seu pai, que é um escroto, irritante ao extremo (e por isso muito engraçado), está mais “doce”, encantando pelo oportunidade de estar ali.
Na segunda parte do episódio, ao sair para caminhar com sua mãe, que está reclamando da vida em geral, ele começa a olhar em volta, as ruas, as pessoas que passam, a paisagem à sua volta. E ocorre a transformação: ele descobre a Itália. Ou, melhor, ele se abre para que a Itália se revele. Neste momento, ainda restam alguns dias de férias, e ele sai correndo a fazer tudo o que não fez antes. Melhor, vai refazer os trajetos para realmente viver aquilo tudo.
Piazza di Spagna, Spanish Steps, Trinitá dei Monti, Fontana di Trevi, Fórum Romano, Campidoglio, Piazza Navona. Todos os lugares passam numa sucessão de imagens, e que termina com a visão do lago e a despedida de todos, que numa van a caminho do aeroporto vão cantando uma canção italiana.
A Itália cativa a todos, e o mais legal foi que um seriado cômico conseguiu captar a essência do encantamento que a Itália produz em quem a visita.
Por exemplo. Ontem pela manhã, 14ºC e iria até a uma máxima de 26ºC. Tranqüilo, deu pra sair até de camisa de manga curta e sem casaco. Hoje, por outro lado, um dia lindo com céu azul sem nuvens. Temperatura, na hora de sair de casa, 2ºC. Dois graus! E máxima prevista de 11ºC.
Passei por várias pessoas de camiseta, provavelmente quase congelando. Eu não, saí prevenido e não passei frio. Mas podia ter tido problemas se não fosse o meu prudente hábito de conferir a temperatura na televisão todas as manhãs.
Sem falar que a primavera aqui é bem tímida…
#
Uma das atrações turísticas da Itália, entre as milhares e imperdíveis, são os lagos. Os mais famosos localizados no norte, os lagos di Como, Garda e Maggiore. Todos próximos dos Alpes, detalhe geográfico que os torna mais belos ainda. O Lago di Bracciano, por outro lado, está localizado na região do Lázio, a cerca de 40km de Roma. Não, não conheço este último, pretendo visitá-lo um dia desses.
Pela proximidade com Roma, talvez seja uma alternativa de estada para quem está viajando de carro pela Itália e pretenda visitá-la. E deve ter hotéis mais baratos que a capital. Se bem que com a loucura que é dirigir na cidade talvez não compense, sei lá. Na vez que estivemos em Roma, ela foi nosso destino inicial e só pegamos o carro na hora de deixar a cidade. Além disso, para fugir da loucura, fomos até o aeroporto e de lá saímos para o sul, em direção à Nápoli.
Mas não era examente disso o que eu queria falar.
Estava eu assistindo televisão hoje quando cheguei em casa, e peguei do início um dos episódios antigos do seriado ‘Everybody Loves Raymond’, justamente um em que toda a família Barone viaja para a Itália, e ficam justamente na cidade de Bracciano, às margens do lago de mesmo nome. De lá, visitam Roma.
Um dia desses, escrevo sobre as diferenças entre o humor norte-americano e o brasileiro. No início se estranha, mas com o tempo se acostuma com as diferenças. O seriado em questão é um caso típico desses seriados, cujo melhor exemplo é o Seinfeld. Anyway, no episódio em questão eles vão visitar um parente italiano, hospedando-se na casa do mesmo.
Todos aproveitam muito a viagem, com exceção do Raymond, que chega gripado, não gosta do quarto, reclama de tudo. Preferia passar as férias em New jersey, perto de casa. Numa das noites, tem que dividir a cama com o seu pai. Tudo ruim, mas só ele acha isso. Mesmo o seu pai, que é um escroto, irritante ao extremo (e por isso muito engraçado), está mais “doce”, encantando pelo oportunidade de estar ali.
Na segunda parte do episódio, ao sair para caminhar com sua mãe, que está reclamando da vida em geral, ele começa a olhar em volta, as ruas, as pessoas que passam, a paisagem à sua volta. E ocorre a transformação: ele descobre a Itália. Ou, melhor, ele se abre para que a Itália se revele. Neste momento, ainda restam alguns dias de férias, e ele sai correndo a fazer tudo o que não fez antes. Melhor, vai refazer os trajetos para realmente viver aquilo tudo.
Piazza di Spagna, Spanish Steps, Trinitá dei Monti, Fontana di Trevi, Fórum Romano, Campidoglio, Piazza Navona. Todos os lugares passam numa sucessão de imagens, e que termina com a visão do lago e a despedida de todos, que numa van a caminho do aeroporto vão cantando uma canção italiana.
A Itália cativa a todos, e o mais legal foi que um seriado cômico conseguiu captar a essência do encantamento que a Itália produz em quem a visita.
quarta-feira, maio 11, 2005
Sono?
Deve ser alguma coisa na comida.
Morando sozinho desde agosto último por circunstâncias que os cinco leitores deste blog já conhecem, tenho passado por alterações fisiológicas interessantes. E não me refiro aqui a um hipotético aumento de peso muito comentado durante minha última estada nos pampas gaúchos.
Os meus hábitos de sono estão completamente alterados desde que vim para Toronto. Estou dormindo mais tarde e, ao que parece, cada dia mais tarde. A televisão tem culpa nisso, admito, mas não é a única responsável por esse fato.
Até deixar Porto Alegre, eu era famoso pelo meu sono. Por ter muito sono e, ao chegar determinada hora da noite, independente de onde eu estivesse, dormir. Já dormi em pubs, em bares, em jantares lá em casa, e até em casamentos (não no meu, obviamente). O pior é que era fato totalmente involuntário. Eu não tinha (tenho?) controle sobre isso. Dominado por um relógio interno que determina(va) a hora em que eu tinha que dormir. E não é narcolepsia.
Além disso, acordava cedo, independente do que acontecesse. Principalmente quando não precisava acordar cedo, como em finais de semana. Sábado, de folga, 7h15 da manhã eu já estava acordado. Fazer o quê?
Depois que passei a morar sozinho aqui, isso mudou. Agora não consigo dormir antes da meia-noite e trinta. E preciso de despertador para acordar. Na última semana, dois dias eu esqueci de programar o despertador e acabei acordando atrasado e tendo que correr para chegar no horário.
Normalmente, fico vendo televisão e/ou no computador e, quando me dou conta, já passou da meia-noite e ainda não tenho nem sombra de sono. Acabo indo ver TV na cama, aparece um programa interessante, um seriado dos bons, e vejo até o fim. No final, já estou com sono, mas aí já é uma hora da manhã e, para acordar mais tarde, só com o despertador. Para aguentar o momento pós-almoço, café, muito café.
Até.
Morando sozinho desde agosto último por circunstâncias que os cinco leitores deste blog já conhecem, tenho passado por alterações fisiológicas interessantes. E não me refiro aqui a um hipotético aumento de peso muito comentado durante minha última estada nos pampas gaúchos.
Os meus hábitos de sono estão completamente alterados desde que vim para Toronto. Estou dormindo mais tarde e, ao que parece, cada dia mais tarde. A televisão tem culpa nisso, admito, mas não é a única responsável por esse fato.
Até deixar Porto Alegre, eu era famoso pelo meu sono. Por ter muito sono e, ao chegar determinada hora da noite, independente de onde eu estivesse, dormir. Já dormi em pubs, em bares, em jantares lá em casa, e até em casamentos (não no meu, obviamente). O pior é que era fato totalmente involuntário. Eu não tinha (tenho?) controle sobre isso. Dominado por um relógio interno que determina(va) a hora em que eu tinha que dormir. E não é narcolepsia.
Além disso, acordava cedo, independente do que acontecesse. Principalmente quando não precisava acordar cedo, como em finais de semana. Sábado, de folga, 7h15 da manhã eu já estava acordado. Fazer o quê?
Depois que passei a morar sozinho aqui, isso mudou. Agora não consigo dormir antes da meia-noite e trinta. E preciso de despertador para acordar. Na última semana, dois dias eu esqueci de programar o despertador e acabei acordando atrasado e tendo que correr para chegar no horário.
Normalmente, fico vendo televisão e/ou no computador e, quando me dou conta, já passou da meia-noite e ainda não tenho nem sombra de sono. Acabo indo ver TV na cama, aparece um programa interessante, um seriado dos bons, e vejo até o fim. No final, já estou com sono, mas aí já é uma hora da manhã e, para acordar mais tarde, só com o despertador. Para aguentar o momento pós-almoço, café, muito café.
Até.
terça-feira, maio 10, 2005
Não mais a sopa
Ontem, ainda “de ressaca” após a sopa de sábado, tive um programa completamente diferente. Fui a um enterro.
A falecida era irmã da coordenadora de pesquisa no Laboratório onde trabalho. Tinha câncer há vários anos e – nos últimos dias – já em estado terminal, teve a família acompanhando-a nos seus últimos momentos. Faleceu na quinta-feira passada, o velório atravessou o final de semana, e ontem foi o funeral. Antes, missa de corpo presente.
Uma igreja católica próximo à estação Royal York do metrô, a oeste de onde moro. Para começar, um igreja muito bela, com afrescos e vitrais diversos. Além disso, a igreja estava lotada. Ao entrar, as mulheres recebiam uma pequena vela que foi acesa durante a missa, na hora em que chegou o corpo e depois na saída.
Uma missa em inglês, a primeira que assisti. Quem celebrou foi um bispo, que era amigo pessoal da família, já que a falecida tinha uma participação ativa na sua comunidade. Uma missa muito bonita, as pessoas obviamente muito emocionadas, principalmente no momento em que a filha foi até o púlpito e falou sobre mãe em nome dos irmãos.
Após, fomos para o cemitério. Uma área arborizada, bucólica. A última cerimônia, os familiares e amigos colocam flores sobre o caixão. Está terminada a cerimônia, anuncia o responsável pelo protocolo, e convida a todos para a recepção que ocorrerá na casa da morta.
Seguimos para lá. Ao chegar, a casa está cheia, com amigos, parentes, amigos dos parentes. Todos conversam, alguns lembram histórias, nos cantos da sala estão painéis com fotos de família especialmente preparados para homenageá-la. É servido um buffet, vinho, alguns tomam cerveja (Brahma!?). Após comer, café.
Ficamos um pouco ali, e vamos embora.
No metrô, fico pensando em como tudo é diferente do que acontece no Brasil, do modo que as coisas são feitas. Em meio à tristeza da perda de um ente querido, as pessoas, a família, se reúne para celebrar a vida do ente que se foi.
Achei interessante.
#
Ainda é possível ver repercussões e fotos da Sopa aqui, aqui, aqui e aqui.
A falecida era irmã da coordenadora de pesquisa no Laboratório onde trabalho. Tinha câncer há vários anos e – nos últimos dias – já em estado terminal, teve a família acompanhando-a nos seus últimos momentos. Faleceu na quinta-feira passada, o velório atravessou o final de semana, e ontem foi o funeral. Antes, missa de corpo presente.
Uma igreja católica próximo à estação Royal York do metrô, a oeste de onde moro. Para começar, um igreja muito bela, com afrescos e vitrais diversos. Além disso, a igreja estava lotada. Ao entrar, as mulheres recebiam uma pequena vela que foi acesa durante a missa, na hora em que chegou o corpo e depois na saída.
Uma missa em inglês, a primeira que assisti. Quem celebrou foi um bispo, que era amigo pessoal da família, já que a falecida tinha uma participação ativa na sua comunidade. Uma missa muito bonita, as pessoas obviamente muito emocionadas, principalmente no momento em que a filha foi até o púlpito e falou sobre mãe em nome dos irmãos.
Após, fomos para o cemitério. Uma área arborizada, bucólica. A última cerimônia, os familiares e amigos colocam flores sobre o caixão. Está terminada a cerimônia, anuncia o responsável pelo protocolo, e convida a todos para a recepção que ocorrerá na casa da morta.
Seguimos para lá. Ao chegar, a casa está cheia, com amigos, parentes, amigos dos parentes. Todos conversam, alguns lembram histórias, nos cantos da sala estão painéis com fotos de família especialmente preparados para homenageá-la. É servido um buffet, vinho, alguns tomam cerveja (Brahma!?). Após comer, café.
Ficamos um pouco ali, e vamos embora.
No metrô, fico pensando em como tudo é diferente do que acontece no Brasil, do modo que as coisas são feitas. Em meio à tristeza da perda de um ente querido, as pessoas, a família, se reúne para celebrar a vida do ente que se foi.
Achei interessante.
#
Ainda é possível ver repercussões e fotos da Sopa aqui, aqui, aqui e aqui.
segunda-feira, maio 09, 2005
Perdidos na Espace – 6 anos
O dia 09 de maio, aniversário do meu Pai – já chegou o presente e já liguei para desejar-lhe felicidades e dizer o quanto lamento não estar em Porto Alegre para dar-lhe um abraço pessoalmente – é também a data que marca o aniversário da primeira viagem dos Perdidos da Espace.
Foi nesta data, em 1999, um domingo também dia das mães, que embarcamos de Porto Alegre para São Paulo e daí para Bruxelas, para passarmos quase trinta dias viagem num van (a Renault Espace) pela Bélgica, Holanda, Alemanha, Suiça e França, encerrando-a em Paris, início de uma paixão que dura até hoje por esta cidade. O grupo era composto por seis adultos e a pequena Roberta, minha querida e amada afilhada, que na época tinha dois anos e meio de idade.
Mas a viagem não começou no dia que embarcamos, evidentemente. Como toda grande viagem, começou muito tempo antes, onze meses, para ser mais exato, uma longa e divertida preparação até aquele nove de maio. Reuniões preparatórias com ata, reuniões por telefone, uma quantidade imensa de emails trocados, algumas conspirações até, discussões de roteiro, disparada do dólar, houve de tudo até o embarque.
Mas nada na história dos Perdidos foi perdido, com o perdão pelo trocadilho infame. Desde o início, tudo foi registrado. Como nos conhecemos, como o grupo se formou, toda a preparação e a viagem em si, tudo foi registrado por este que vos escreve, e isso se transformou em livro que também foi publicado no blog
Perdidos na Espace. Para ler, é só ir no arquivo. A história começou a ser publicada em outubro passado. E o blog está começando a publicar a segunda viagem, ‘Europa 2000 – Natal na Neve’.
Tem o vídeo também, mas este ainda está em VHS aguardando para ser convertido em DVD. Aguardem…
#
Ainda sobre a Sopa, você pode encontrar repercussões, referências ou fotos dela aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Até.
Foi nesta data, em 1999, um domingo também dia das mães, que embarcamos de Porto Alegre para São Paulo e daí para Bruxelas, para passarmos quase trinta dias viagem num van (a Renault Espace) pela Bélgica, Holanda, Alemanha, Suiça e França, encerrando-a em Paris, início de uma paixão que dura até hoje por esta cidade. O grupo era composto por seis adultos e a pequena Roberta, minha querida e amada afilhada, que na época tinha dois anos e meio de idade.
Mas a viagem não começou no dia que embarcamos, evidentemente. Como toda grande viagem, começou muito tempo antes, onze meses, para ser mais exato, uma longa e divertida preparação até aquele nove de maio. Reuniões preparatórias com ata, reuniões por telefone, uma quantidade imensa de emails trocados, algumas conspirações até, discussões de roteiro, disparada do dólar, houve de tudo até o embarque.
Mas nada na história dos Perdidos foi perdido, com o perdão pelo trocadilho infame. Desde o início, tudo foi registrado. Como nos conhecemos, como o grupo se formou, toda a preparação e a viagem em si, tudo foi registrado por este que vos escreve, e isso se transformou em livro que também foi publicado no blog
Perdidos na Espace. Para ler, é só ir no arquivo. A história começou a ser publicada em outubro passado. E o blog está começando a publicar a segunda viagem, ‘Europa 2000 – Natal na Neve’.
Tem o vídeo também, mas este ainda está em VHS aguardando para ser convertido em DVD. Aguardem…
#
Ainda sobre a Sopa, você pode encontrar repercussões, referências ou fotos dela aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Até.
domingo, maio 08, 2005
A Sopa 04/42
Eu estava tenso, admito.
Ontem, em determinado momento da tarde, sozinho na cozinha, enquanto os outros preparavam o salão de festas para a festa, me arrependi de ter topado fazer a sopa. E prometi a mim mesmo que nunca mais ia fazê-la.
Tinha acabado de experimentar a sopa, já acondicionada na grande panela que tinha vindo de Brampton – obrigado ao casal João e Ana Paula – e não tinha gostado. Para ser mais exato, àquela altura da tarde já não sentia gosto de nada. Não estava boa, ia dar errado, fracasso. Em silêncio, pensei em simular uma urgência médica e fugir dali. E do Canadá. Mudar de nome, entrar num programa de proteção aos cozinheiros frustrados. Sei lá.
Logo após, chegaram a Lúcia – dona da cozinha e uma das organizadoras, ao que agradeço também – e a Ana Raquel – que, junto com o Heitor, fez as compras comigo – e pedi para elas experimentarem. Disseram que, após acrescentar um pouco de sal, estava boa. Experimentei de novo e não senti gosto de nada. Só podia ser uma coisa: ageusia, eu havia perdidoo paladar! Ou a sopa não tinha gosto. Paciência, não havia mais nada que pudesse fazer… Desci com a Ana Célia (quem realmente organizou a sopa) até o salão de festas, e chegando lá percebi no que tinha me metido: eu (e a sopa) era esparado por todos.
Foi bem legal, mesmo. Foram cerca de trinta e poucas pessoas, entre blogueiros e simpatizantes, e teve blogueiros de que vieram de Ottawa especialmente para o evento. Alguns novos no país, com até menos de um mês aqui. Como nos outros encontros, conhecemos pessoalmente pessoas que já conhecíamos dos blogs.
Esse é um fato que cada vez mais vai ser estudado: os blogs como catalizadores da formação de comunidades reais. É o que vem acontecendo aqui. Se por um lado se diz que a internet torna as pessoas mais solitárias, mais retraídas, por outro é claro o efeito agregador que ela tem, e os blogs - muito mais que Orkut, por exemplo – são o exemplo disso.
As pessoas têm usado os blogs para obter informações sobre o país, para esclarecer dúvidas, para contatos mesmo antes de imigrarem para cá. Ao chegar no país, já têm algumas referências, alguns conhecidos. E, para quem mora aqui, mesmo que temporariamente como eu, os blogs têm se tornado um forma de integração com outras pessoas. Dos comentários nos blogs, aos primeiros encontros dos blogueiros até o evento de ontem, foi uma evolução. O número de presentes cresce a cada encontro, e está se formando um comunidade real.
A Sopa de Ervilhas do Marcelo entra justamente aí e cumpre seus objetivos. Ela surgiu há 9 anos exatamente como uma idéia: reunir as pessoas, agregar, estreitar laços. Porque a intenção sempre foi essa, que a sopa fosse mais do que uma janta, uma refeição. Que ela fosse um evento de celebrar a convivência entre amigos. Velhos ou novos. Virtuais que se tornam reais.
Importada do Brasil, a sopa atingiu os seus fins.
Bom, e se o Pedro e o Ken (que não gosta de ervilhas) gostaram da sopa, então posso ficar tranqüilo…
Ontem, em determinado momento da tarde, sozinho na cozinha, enquanto os outros preparavam o salão de festas para a festa, me arrependi de ter topado fazer a sopa. E prometi a mim mesmo que nunca mais ia fazê-la.
Tinha acabado de experimentar a sopa, já acondicionada na grande panela que tinha vindo de Brampton – obrigado ao casal João e Ana Paula – e não tinha gostado. Para ser mais exato, àquela altura da tarde já não sentia gosto de nada. Não estava boa, ia dar errado, fracasso. Em silêncio, pensei em simular uma urgência médica e fugir dali. E do Canadá. Mudar de nome, entrar num programa de proteção aos cozinheiros frustrados. Sei lá.
Logo após, chegaram a Lúcia – dona da cozinha e uma das organizadoras, ao que agradeço também – e a Ana Raquel – que, junto com o Heitor, fez as compras comigo – e pedi para elas experimentarem. Disseram que, após acrescentar um pouco de sal, estava boa. Experimentei de novo e não senti gosto de nada. Só podia ser uma coisa: ageusia, eu havia perdidoo paladar! Ou a sopa não tinha gosto. Paciência, não havia mais nada que pudesse fazer… Desci com a Ana Célia (quem realmente organizou a sopa) até o salão de festas, e chegando lá percebi no que tinha me metido: eu (e a sopa) era esparado por todos.
Foi bem legal, mesmo. Foram cerca de trinta e poucas pessoas, entre blogueiros e simpatizantes, e teve blogueiros de que vieram de Ottawa especialmente para o evento. Alguns novos no país, com até menos de um mês aqui. Como nos outros encontros, conhecemos pessoalmente pessoas que já conhecíamos dos blogs.
Esse é um fato que cada vez mais vai ser estudado: os blogs como catalizadores da formação de comunidades reais. É o que vem acontecendo aqui. Se por um lado se diz que a internet torna as pessoas mais solitárias, mais retraídas, por outro é claro o efeito agregador que ela tem, e os blogs - muito mais que Orkut, por exemplo – são o exemplo disso.
As pessoas têm usado os blogs para obter informações sobre o país, para esclarecer dúvidas, para contatos mesmo antes de imigrarem para cá. Ao chegar no país, já têm algumas referências, alguns conhecidos. E, para quem mora aqui, mesmo que temporariamente como eu, os blogs têm se tornado um forma de integração com outras pessoas. Dos comentários nos blogs, aos primeiros encontros dos blogueiros até o evento de ontem, foi uma evolução. O número de presentes cresce a cada encontro, e está se formando um comunidade real.
A Sopa de Ervilhas do Marcelo entra justamente aí e cumpre seus objetivos. Ela surgiu há 9 anos exatamente como uma idéia: reunir as pessoas, agregar, estreitar laços. Porque a intenção sempre foi essa, que a sopa fosse mais do que uma janta, uma refeição. Que ela fosse um evento de celebrar a convivência entre amigos. Velhos ou novos. Virtuais que se tornam reais.
Importada do Brasil, a sopa atingiu os seus fins.
Bom, e se o Pedro e o Ken (que não gosta de ervilhas) gostaram da sopa, então posso ficar tranqüilo…
sábado, maio 07, 2005
É hoje o dia
Hoje tem sopa. E Sopa, a Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, que é também o III Encontro de Blogueiros e Simpatizantes de Toronto.
Estou saindo de casa daqui a pouco para começar a preparação.
De todas as músicas que a Banda da Sopa já tocou nas várias edições em que participou, duas são - na minha opinião - as que são mais se características da Banda (ambas gravadas por nós em CD) e da Sopa. São elas 'Primavera'(Cassiano / Sílvio Rochael), clássica interpretação do Tim Maia, e 'Vinte e Nove' (Legião Urbana), do disco "Descobrimento do Brasil".
Com vocês, Primavera.
Primavera
A Quando o inverno chegar
Eu quero estar junto a ti
Pode o outono voltar
Que eu quero estar junto a ti
Eu (é primavera)
Te amo (é primavera)
Te amo meu amor
Trago esta rosa (para te dar)
Trago esta rosa (para te dar)
Trago esta rosa (para te dar)
Meu amor...
Hoje o céu está tão lindo (vai chuva)
Hoje o céu está tão lindo (vai chuva)
Estou saindo de casa daqui a pouco para começar a preparação.
De todas as músicas que a Banda da Sopa já tocou nas várias edições em que participou, duas são - na minha opinião - as que são mais se características da Banda (ambas gravadas por nós em CD) e da Sopa. São elas 'Primavera'(Cassiano / Sílvio Rochael), clássica interpretação do Tim Maia, e 'Vinte e Nove' (Legião Urbana), do disco "Descobrimento do Brasil".
Com vocês, Primavera.
Primavera
A Quando o inverno chegar
Eu quero estar junto a ti
Pode o outono voltar
Que eu quero estar junto a ti
Eu (é primavera)
Te amo (é primavera)
Te amo meu amor
Trago esta rosa (para te dar)
Trago esta rosa (para te dar)
Trago esta rosa (para te dar)
Meu amor...
Hoje o céu está tão lindo (vai chuva)
Hoje o céu está tão lindo (vai chuva)
sexta-feira, maio 06, 2005
Quase lá
Amanhã é a Sopa.
Hoje, fomos a Ana Raquel, o Heitor e eu comprar os ingredientes. Foi interessante, porque nos conhecemos pessoalmente no saguão do edifício onde moro, e provavelmente só souberam quem eu era porque eu carregava uma panela nas mãos...
Fizemos as compras e conversamos, primeiro parados em pé em pleno supermercado e depois sorvendo um mate aqui na sala de casa, o que os configura como as primeiras visitas que recebi aqui em Toronto (considerando que a Jacque é dona da casa também, mas apenas vem aqui com um frequência menor). O Heitor evitou o chimarrão, mas a Ana e eu tomamos vários enquanto coversávamos sobre as decisões que tomamos na vida, onde elas nos levam e o por quê delas.
Falamos também de viagens, esse vício que pelo visto compartilhamos desde a admissão que somos adictos a ele. Depois, falamos de lugares. Grécia, Itália, e a sensação de estar num local com mais de dois mil anos de história. De saber que somos uma pequena parte do todo, e existem muitas coisas que ainda não sabemos e que vale a pena procurar saber.
Foi o começo do final de semana da sopa.
E já está valendo.
Até.
Hoje, fomos a Ana Raquel, o Heitor e eu comprar os ingredientes. Foi interessante, porque nos conhecemos pessoalmente no saguão do edifício onde moro, e provavelmente só souberam quem eu era porque eu carregava uma panela nas mãos...
Fizemos as compras e conversamos, primeiro parados em pé em pleno supermercado e depois sorvendo um mate aqui na sala de casa, o que os configura como as primeiras visitas que recebi aqui em Toronto (considerando que a Jacque é dona da casa também, mas apenas vem aqui com um frequência menor). O Heitor evitou o chimarrão, mas a Ana e eu tomamos vários enquanto coversávamos sobre as decisões que tomamos na vida, onde elas nos levam e o por quê delas.
Falamos também de viagens, esse vício que pelo visto compartilhamos desde a admissão que somos adictos a ele. Depois, falamos de lugares. Grécia, Itália, e a sensação de estar num local com mais de dois mil anos de história. De saber que somos uma pequena parte do todo, e existem muitas coisas que ainda não sabemos e que vale a pena procurar saber.
Foi o começo do final de semana da sopa.
E já está valendo.
Até.
quinta-feira, maio 05, 2005
Bob & Bono
Na primeira parte de sua auto-biografia, intitulada Chronicles Volume One, Bob Dylan conta a respeito de uma noite em que o Bono Vox, vocalista do U2 – show aqui em Toronto dia 14/09 comigo presente – foi jantar na casa dele e ficaram conversando até madrugada. Fiquei imaginando como terá sido.
Se não me engano, nessa época Dylan morava em Rhode Island, não muito longe de Nova York, com certeza perto do mar. Imagino sua casa num típico subúrbio norte-americano, muito verde à volta, uma cozinha com grande janelas que dão para o pátio, nos fundos da casa. Talvez o piso de madeira, uma grande mesa. Um pouco mais ao fundo, o mar.
Noite, a visão que se tem de dentro da cozinha é quase que inteiramente escuridão. Bono havia trazido um caixa de Guiness, a cerveja irlandesa. De todos os que jantaram, a última a sair foi a Sra Bob Dylan, que se despediu dizendo que precisava dormir e perguntando ao marido se ele ia demorar muito para subir, e ele respondeu que logo iria se juntar a ela.
Horas depois, estão os dois ainda sentados em volta da mesa conversando. Quem somos, para onde vamos, qual o sentido da vida. Questões que brotam numa noite de inverno após algumas cervejas. Talvez tenham querido escrever alguma música juntos, mas acharam melhor não.
Com a palavra, Bob Dylan.
“… Spending time with Bono was like eating dinner on a train – feels like you’re moving, going somewhere. Bono’s got the soul of an ancient poet and you have to be careful around him. He can roar ‘til the earth shakes. He’s also a closet philosopher… We were talking about things that you talk about when you’re spending the winter with somebody…”
Até.
Se não me engano, nessa época Dylan morava em Rhode Island, não muito longe de Nova York, com certeza perto do mar. Imagino sua casa num típico subúrbio norte-americano, muito verde à volta, uma cozinha com grande janelas que dão para o pátio, nos fundos da casa. Talvez o piso de madeira, uma grande mesa. Um pouco mais ao fundo, o mar.
Noite, a visão que se tem de dentro da cozinha é quase que inteiramente escuridão. Bono havia trazido um caixa de Guiness, a cerveja irlandesa. De todos os que jantaram, a última a sair foi a Sra Bob Dylan, que se despediu dizendo que precisava dormir e perguntando ao marido se ele ia demorar muito para subir, e ele respondeu que logo iria se juntar a ela.
Horas depois, estão os dois ainda sentados em volta da mesa conversando. Quem somos, para onde vamos, qual o sentido da vida. Questões que brotam numa noite de inverno após algumas cervejas. Talvez tenham querido escrever alguma música juntos, mas acharam melhor não.
Com a palavra, Bob Dylan.
“… Spending time with Bono was like eating dinner on a train – feels like you’re moving, going somewhere. Bono’s got the soul of an ancient poet and you have to be careful around him. He can roar ‘til the earth shakes. He’s also a closet philosopher… We were talking about things that you talk about when you’re spending the winter with somebody…”
Até.
quarta-feira, maio 04, 2005
Tudo bem, todos bem
Seja lá o que for que tenha parecido que eu quis dizer ontem, não era nada disso. Questões internas, apenas. Alguns pensamentos perdidos, sensações diversas. Tudo sob controle.
De volta à Terra, muitos assuntos aos quais devo me dedicar.
#
O primeiro deles, sábado, a Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, que vai ser o III Encontro de Blogueiros e Simpatizantes de Toronto.
Tudo organizado, compras na sexta-feira e cozinha no dia, desde cedo da tarde.
Vai ser bem legal.
#
Por aqui, parece que é inevitável que vá haver eleições ainda no verão. A oposição conservadora, liderada pelo pouco simpático, de jeito afetado, sem carisma e contra o casamento homossexual afirmando que o próximo passo será a poligamia Stephen Harper parece ter os votos necessários – junto com o bloco de Quebec – para colocar em votação uma moção para derrubar o governo do primeiro-ministro Paul Martin.
As pesquisa mostram que as o pessoas não querem eleições, mas parece que não vai surgir solução alternativa.
Eu? Não me afeta em nada.
Mas é bem melhor do que ficar comentando o que falam o Presidente da República e Presidente da Câmara dos Deputados. Aliás, não parece que o Brasil tem problemas bem mais sérios com o que se preocupar do que ficar discutindo o que um Severino Cavalcanti falou ou não?
#
Não sei vocês, mas estou sentindo uma vontade crescente de visitar o novo Papa. Ou a Capela Sistina, a Trinitá dei Monti, e a Piazza Navona…
Religião?
Não, viagem…
De volta à Terra, muitos assuntos aos quais devo me dedicar.
#
O primeiro deles, sábado, a Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, que vai ser o III Encontro de Blogueiros e Simpatizantes de Toronto.
Tudo organizado, compras na sexta-feira e cozinha no dia, desde cedo da tarde.
Vai ser bem legal.
#
Por aqui, parece que é inevitável que vá haver eleições ainda no verão. A oposição conservadora, liderada pelo pouco simpático, de jeito afetado, sem carisma e contra o casamento homossexual afirmando que o próximo passo será a poligamia Stephen Harper parece ter os votos necessários – junto com o bloco de Quebec – para colocar em votação uma moção para derrubar o governo do primeiro-ministro Paul Martin.
As pesquisa mostram que as o pessoas não querem eleições, mas parece que não vai surgir solução alternativa.
Eu? Não me afeta em nada.
Mas é bem melhor do que ficar comentando o que falam o Presidente da República e Presidente da Câmara dos Deputados. Aliás, não parece que o Brasil tem problemas bem mais sérios com o que se preocupar do que ficar discutindo o que um Severino Cavalcanti falou ou não?
#
Não sei vocês, mas estou sentindo uma vontade crescente de visitar o novo Papa. Ou a Capela Sistina, a Trinitá dei Monti, e a Piazza Navona…
Religião?
Não, viagem…
terça-feira, maio 03, 2005
Erguei as mãos…
Nunca fui muito fã da expressão “deixar nas mãos de Deus”.
Sempre me deu a impressão de que era uma desculpa para uma atitude passiva perante as diversas situações em que nos vemos envolvidos. Algo como ficar esperando que os outros, ou as circunstâncias, resolvam o que não podemos resolver. Mas talvez não seja exatamente assim, admito.
Lá no início dos anos noventa, estudante de medicina e paciente de um neurocirurgião devido ao acidente com traumatismo crânioencefálico, coma, estada na UTI, etc, um dia saí do hospital e caminhei até o Instituto de Biociências da PUCRS para conversar com o neurocirurgião, professor de neuroanatomia e meu médico. O assunto, minha inconformidade com o fato de ter que tomar medicação diariamente. Bobagem, claro, mas eu tinha dezoito anos, e devem ser perdoadas certas inconformidades que se tem aos dezoito anos.
Mas dizia eu que fui conversar com o meu professor e por circunstância médico sobre o tratamento que eu fazia, que simplesmente era tomar um comprimido uma vez ao dia para afastar a possibilidade de ter crises convulsivas, fato possível após um traumatismo craniano com hemorragia cerebral, digamos assim. Simples e fácil, mas eu me queixava mesmo assim.
Foi então que ele me disse que “na vida, existem dois tipos de situações: as que podemos mudar e as que não podemos mudas; para as primeiras, devemos fazer todo o possível para que fiquem como gostaríamos e, com as segundas, não vale a pena se estressar ou lutar contra: não dependem de nós”. E ele estava certo.
Por esses dias, passo por situação semelhante: algumas coisas podem acontecer e que não dependem de nada que eu faça. Além disso, independente do que acontecer, tudo vai estar bem. Então, o melhor agora é “deixar nas mãos de Deus”.
Até.
Sempre me deu a impressão de que era uma desculpa para uma atitude passiva perante as diversas situações em que nos vemos envolvidos. Algo como ficar esperando que os outros, ou as circunstâncias, resolvam o que não podemos resolver. Mas talvez não seja exatamente assim, admito.
Lá no início dos anos noventa, estudante de medicina e paciente de um neurocirurgião devido ao acidente com traumatismo crânioencefálico, coma, estada na UTI, etc, um dia saí do hospital e caminhei até o Instituto de Biociências da PUCRS para conversar com o neurocirurgião, professor de neuroanatomia e meu médico. O assunto, minha inconformidade com o fato de ter que tomar medicação diariamente. Bobagem, claro, mas eu tinha dezoito anos, e devem ser perdoadas certas inconformidades que se tem aos dezoito anos.
Mas dizia eu que fui conversar com o meu professor e por circunstância médico sobre o tratamento que eu fazia, que simplesmente era tomar um comprimido uma vez ao dia para afastar a possibilidade de ter crises convulsivas, fato possível após um traumatismo craniano com hemorragia cerebral, digamos assim. Simples e fácil, mas eu me queixava mesmo assim.
Foi então que ele me disse que “na vida, existem dois tipos de situações: as que podemos mudar e as que não podemos mudas; para as primeiras, devemos fazer todo o possível para que fiquem como gostaríamos e, com as segundas, não vale a pena se estressar ou lutar contra: não dependem de nós”. E ele estava certo.
Por esses dias, passo por situação semelhante: algumas coisas podem acontecer e que não dependem de nada que eu faça. Além disso, independente do que acontecer, tudo vai estar bem. Então, o melhor agora é “deixar nas mãos de Deus”.
Até.
segunda-feira, maio 02, 2005
A Volta da Boneca Morta
Não, não é enredo para uma história de terror.
E também não é porque a boneca morta motivou um número recorde de visitas ao blog quando foi originalmente publicada sua história e sua foto. Estou ressucitando a boneca morta porque é necessário que se apresente o outro lado da questão. É hora de vocês conherem um outro ponto de vista.
Eu ia colocar aqui a versão da própria boneca morta, se justificando tanto como suicida – suponho que ela tenha se matado – como também, vamos dizer assim, brinquedo. Mas seria um texto de ficção, e não é a intenção hoje.
Antes de mais nada, para quem pegou o bonde andando: eu contei a história da boneca morta no começo de abril, justamente quando viajei ao Brasil e, na minha bagagem, levei comigo a Boneca Morta para entregá-la à sua dona, a Laura, filha da Adriana, conterrânea porto-alegrense que – ao contrário de mim – mora em definitivo aqui no Canadá. Pois é, levei a boneca comigo e, aproveitando o ensejo, criei uma história (crônica) sobre o fato. A reação foi significativa. Todos os que comentaram no blog acharam ela horrível, macabra (coloquei foto, inclusive).
Quase um mês depois da minha viagem – que hoje faz um mês – na semana passada, eu e a Adriana fomos juntos um shopping aqui em Toronto e, conversando no carro, contei a ela que a história tinha feito um enorme sucesso, e fiquei de mandar por email para ela o endereço do blog (que não conhecia) para ela mostrar para a Laura. Bom, é uma história que não vem ao caso, mas a Adriana mora aqui e suas duas filhas moram - por enquanto - em Porto Alegre. E a Adriana estava indo justamente visitá-la essa semana.
Chegando lá, mostrou para a Laura que adorou a história e deixou uma comentário sobre o assunto, que reproduzo abaixo o comentário dela, o outro lado da história.
“EU SOU A DONA DA BONECA!!!! E GANHEI DA MINHA MÃE (QUE É PSIQUIATRA) E SÓ PARA O CONHECIMENTO DE OUTROS, AS CRIANÇAS GOSTAM!!!!! AAAAHHH, VAI DIZER, ELA É LINDA!! POXA, PROVAVELMENTE ELA FOI DEIXADA NO ALTAR.… COITADA NÉ? EII PORQUE VOCÊS NÃO VÃO NO SITE (http://www.livingdeaddolls.com/) E PEDEM PARA O MARCELO TRAZER?
hehehe... ficou suuper legal a foto marcelo!!!”
E vocês, o que acham da história, agora que conhecem os dois lados?
E também não é porque a boneca morta motivou um número recorde de visitas ao blog quando foi originalmente publicada sua história e sua foto. Estou ressucitando a boneca morta porque é necessário que se apresente o outro lado da questão. É hora de vocês conherem um outro ponto de vista.
Eu ia colocar aqui a versão da própria boneca morta, se justificando tanto como suicida – suponho que ela tenha se matado – como também, vamos dizer assim, brinquedo. Mas seria um texto de ficção, e não é a intenção hoje.
Antes de mais nada, para quem pegou o bonde andando: eu contei a história da boneca morta no começo de abril, justamente quando viajei ao Brasil e, na minha bagagem, levei comigo a Boneca Morta para entregá-la à sua dona, a Laura, filha da Adriana, conterrânea porto-alegrense que – ao contrário de mim – mora em definitivo aqui no Canadá. Pois é, levei a boneca comigo e, aproveitando o ensejo, criei uma história (crônica) sobre o fato. A reação foi significativa. Todos os que comentaram no blog acharam ela horrível, macabra (coloquei foto, inclusive).
Quase um mês depois da minha viagem – que hoje faz um mês – na semana passada, eu e a Adriana fomos juntos um shopping aqui em Toronto e, conversando no carro, contei a ela que a história tinha feito um enorme sucesso, e fiquei de mandar por email para ela o endereço do blog (que não conhecia) para ela mostrar para a Laura. Bom, é uma história que não vem ao caso, mas a Adriana mora aqui e suas duas filhas moram - por enquanto - em Porto Alegre. E a Adriana estava indo justamente visitá-la essa semana.
Chegando lá, mostrou para a Laura que adorou a história e deixou uma comentário sobre o assunto, que reproduzo abaixo o comentário dela, o outro lado da história.
“EU SOU A DONA DA BONECA!!!! E GANHEI DA MINHA MÃE (QUE É PSIQUIATRA) E SÓ PARA O CONHECIMENTO DE OUTROS, AS CRIANÇAS GOSTAM!!!!! AAAAHHH, VAI DIZER, ELA É LINDA!! POXA, PROVAVELMENTE ELA FOI DEIXADA NO ALTAR.… COITADA NÉ? EII PORQUE VOCÊS NÃO VÃO NO SITE (http://www.livingdeaddolls.com/) E PEDEM PARA O MARCELO TRAZER?
hehehe... ficou suuper legal a foto marcelo!!!”
E vocês, o que acham da história, agora que conhecem os dois lados?
domingo, maio 01, 2005
A Sopa 04/41
No próximo final de semana, acontece aqui em Toronto o III Encontro de Blogueiros e Simpatizantes, junto com a I Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo no Canadá. De Porto Alegre vêm algumas queixas, em parte fundamentadas, de que sopa de ervilhas sem a Jacque e sem a Banda da Sopa não passa de um caldo verde quente.
Digo em parte fundamentadas porque a Sopa, que se chama do Marcelo é, evidentemente, também da Jacque. Sem ela nunca teria existido a Sopa, o evento, pois ela é quem faz boa parte do trabalho de organização, preocupa-se com sobremesa e diversos detalhes que eu toscamente não me daria conta. E é quem faz tudo valer à pena.
Além disso, a Banda da Sopa, inicialmente ‘Banda da Sopa de Ervilhas do Marcelo’ tornou-se parte fundamental do evento, mesmo que tenha surgido apenas na quarta edição. E transcendeu a ele. Por estes dias, já com o violão aqui comigo, temos trocado idéias sobre música e nossos projetos via email.
Ontem, falando com a Jacque via iChat, discutíamos sobre a sopa do próximo final de semana. Perguntava ela como eu ia fazer as coisas, se ia ter “decoração” do salão para a Sopa, que horas eu ia chegar lá para cozinhar, etc. Após ouvir minhas respostas, sentenciou: “Que bom que não vou estar aí, eu ia ficar muito estressada”. Pois é, ela ia mesmo. Eu normalmente não ficava, e não vai ser desta vez que vou. Mas não vai ser simples.
Só para exemplificar: na última sopa que fiz em Porto Alegre, foram cerca de cinqüenta pessoas. E foi numa sexta-feira, o que significava que a Jacque não ia poder me ajudar na preparação porque estaria trabalhando. Eu tirei o dia só para isso. Fui para o local da Sopa, o Veleiros do Sul, e fiquei a tarde toda cozinhando. Só que utilizei a cozinha do restaurante do Veleiros, com seu fogão industrial e um liquidificador imenso.
Aqui vai ser mais complicado. Vamos improvisar um pouco, não tem uma panela grande o suficiente para colocar toda a sopa, etc. Mas tem boa vontade, e o resto a gente dar um jeito. Estou tendo a ajuda de várias pessoas na organização, e que certamente me auxiliarão na preparação.
O mais importante, no entanto, é o espírito do evento. Desde o início eu digo que a Sopa de Ervilhas do Marcelo é para ser uma grande reunião de amigos, uma confraternização, uma celebração. Aqui não vai ser como a original, que vai voltar às suas origens em 2007, provavelmente, porque as pessoas não são as mesmas, mas o espírito, de encontro de amigos, continuará o mesmo.
Digo em parte fundamentadas porque a Sopa, que se chama do Marcelo é, evidentemente, também da Jacque. Sem ela nunca teria existido a Sopa, o evento, pois ela é quem faz boa parte do trabalho de organização, preocupa-se com sobremesa e diversos detalhes que eu toscamente não me daria conta. E é quem faz tudo valer à pena.
Além disso, a Banda da Sopa, inicialmente ‘Banda da Sopa de Ervilhas do Marcelo’ tornou-se parte fundamental do evento, mesmo que tenha surgido apenas na quarta edição. E transcendeu a ele. Por estes dias, já com o violão aqui comigo, temos trocado idéias sobre música e nossos projetos via email.
Ontem, falando com a Jacque via iChat, discutíamos sobre a sopa do próximo final de semana. Perguntava ela como eu ia fazer as coisas, se ia ter “decoração” do salão para a Sopa, que horas eu ia chegar lá para cozinhar, etc. Após ouvir minhas respostas, sentenciou: “Que bom que não vou estar aí, eu ia ficar muito estressada”. Pois é, ela ia mesmo. Eu normalmente não ficava, e não vai ser desta vez que vou. Mas não vai ser simples.
Só para exemplificar: na última sopa que fiz em Porto Alegre, foram cerca de cinqüenta pessoas. E foi numa sexta-feira, o que significava que a Jacque não ia poder me ajudar na preparação porque estaria trabalhando. Eu tirei o dia só para isso. Fui para o local da Sopa, o Veleiros do Sul, e fiquei a tarde toda cozinhando. Só que utilizei a cozinha do restaurante do Veleiros, com seu fogão industrial e um liquidificador imenso.
Aqui vai ser mais complicado. Vamos improvisar um pouco, não tem uma panela grande o suficiente para colocar toda a sopa, etc. Mas tem boa vontade, e o resto a gente dar um jeito. Estou tendo a ajuda de várias pessoas na organização, e que certamente me auxiliarão na preparação.
O mais importante, no entanto, é o espírito do evento. Desde o início eu digo que a Sopa de Ervilhas do Marcelo é para ser uma grande reunião de amigos, uma confraternização, uma celebração. Aqui não vai ser como a original, que vai voltar às suas origens em 2007, provavelmente, porque as pessoas não são as mesmas, mas o espírito, de encontro de amigos, continuará o mesmo.
Assinar:
Postagens (Atom)