Para 2006
Encontro vocês lá.
Não levem muito peso,
Não levem muitas mágoas
Desfaçam-se de culpas
Esclareçam os mal entendidos.
Partam leves, com um tênis bem confortável
Porque a caminhada vai ser longa.
Fará calor, as folhas vão cair
A noite vai chegar, fria, mas depois
A vida recomeça.
Recomecemos todos, pois,
Porque é da natureza.
Porque é da vida.
Caminhemos, então, sempre.
Eu estou indo,
Encontro vocês lá.
Até 2006.
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
sexta-feira, dezembro 30, 2005
quarta-feira, dezembro 28, 2005
Fotos (1)
domingo, dezembro 25, 2005
Então é Natal
Novamente é chegado o Natal, a data que se convencionou ser a do nascimento de Jesus Cristo, o principal personagem da mais bela história já escrita pelo homem. Diz-se que é momento de fraternidade, de solidariedade, de paz entre os homens. A minha pergunta é: por que só no Natal? Se esta (“Paz entre os homens”) é a mensagem de Deus, Javé, Alah, o Pai, ou qualquer que seja o nome dado pelas pessoas a esta entidade superior que, de certa forma rege, fiscaliza ou controla nossas vidas, por que há tanta intolerância? Acho que porque a religião é feita por homens. Mas hoje não é dia deste tipo de indagações.
Também não é o momento para voltar às questões levantadas quando afirmei que Deus (a entidade superior...) rege e/ou controla as nossas vidas. Não, não vou entrar em questões filosóficas relacionadas ao livre-arbítrio, à liberdade do homem, etc. Isso fica para uma quarta-feira filosófica. Hoje é feriado e momento de reflexão. Por isso vou contar como foi o meu primeiro Natal. O primeiro que passei no frio, na neve.
Acordei cedo naquele vinte e quatro de dezembro, e abri a cortina para ver a rua. Branco, tudo branco. O céu, azul celeste, indicava que não haveria precipitação de neve, mas seu contraste com o branco que cobria as ruas e os campos dava a impressão de estarmos num dos contos dos irmãos Grimm. Avistava também casas com os telhados cobertos de branco e das chaminés saindo a fumaça de – quem sabe – fogões à lenha ou lareiras.
Coloquei as calças por sobre os cuecões, a camisa de lã por sobre uma camiseta, e por cima de tudo o meu casaco pronto para suportar temperaturas glaciais (-60°C, segundo quem tinha me vendido ainda em Porto Alegre) e desci para o café. Antes de entrar na sala do café, fui até a rua para olhar os carros, todos cobertos por uma camada de gelo. Ao entrar para o café, encontrei o Annes, filho do dono do hotel e o único que falava inglês, que me disse que a temperatura estava por volta de –18°C.
Após o café, o Magno, a Jacque e eu (parceiros de viagem) rumamos para Anterselva (Antholzertal) para nossa primeira e única aula de esqui da vida, até hoje. O Magno, que torce o pé até caminhando no plano, não quis. A Jacque e eu tivemos uma hora de aula de esqui fondo (o que não desce montanhas, só anda no plano) e depois ficamos andando por nossa conta. Falando em conta, se contarmos bem, caí mais ou menos uma quinze vezes durante a aula (e não estávamos descendo!). Foi legal.
Durante a tarde, após o almoço, passeamos pela região – norte da Itália, quase na Áustria – próxima à Brunico. Às dezoito horas, começou a ceia de Natal. No início, teve um coquetel acompanhado por músicos vestidos com trajes tiroleses. Sob o comando da dona do hotel (Andréas Hofer, em Oberassen, norte da Itália) cantamos juntos “Noite Feliz” (claro que quem cantou foi quem conhecia a letra em alemão), todos de mãos dadas. Foi uma longa ceia, com vários pratos, vinho. No final, todos os locais foram assistir à missa do galo. Nós, após ligar para o Brasil, fomos dormir. Na manhã de Natal, quando deixaríamos Oberassen para seguir em frente em nossa viagem, fomos brindados pelo belo e perigoso – para quem dirige - espetáculo da neve caindo.
Também não é o momento para voltar às questões levantadas quando afirmei que Deus (a entidade superior...) rege e/ou controla as nossas vidas. Não, não vou entrar em questões filosóficas relacionadas ao livre-arbítrio, à liberdade do homem, etc. Isso fica para uma quarta-feira filosófica. Hoje é feriado e momento de reflexão. Por isso vou contar como foi o meu primeiro Natal. O primeiro que passei no frio, na neve.
Acordei cedo naquele vinte e quatro de dezembro, e abri a cortina para ver a rua. Branco, tudo branco. O céu, azul celeste, indicava que não haveria precipitação de neve, mas seu contraste com o branco que cobria as ruas e os campos dava a impressão de estarmos num dos contos dos irmãos Grimm. Avistava também casas com os telhados cobertos de branco e das chaminés saindo a fumaça de – quem sabe – fogões à lenha ou lareiras.
Coloquei as calças por sobre os cuecões, a camisa de lã por sobre uma camiseta, e por cima de tudo o meu casaco pronto para suportar temperaturas glaciais (-60°C, segundo quem tinha me vendido ainda em Porto Alegre) e desci para o café. Antes de entrar na sala do café, fui até a rua para olhar os carros, todos cobertos por uma camada de gelo. Ao entrar para o café, encontrei o Annes, filho do dono do hotel e o único que falava inglês, que me disse que a temperatura estava por volta de –18°C.
Após o café, o Magno, a Jacque e eu (parceiros de viagem) rumamos para Anterselva (Antholzertal) para nossa primeira e única aula de esqui da vida, até hoje. O Magno, que torce o pé até caminhando no plano, não quis. A Jacque e eu tivemos uma hora de aula de esqui fondo (o que não desce montanhas, só anda no plano) e depois ficamos andando por nossa conta. Falando em conta, se contarmos bem, caí mais ou menos uma quinze vezes durante a aula (e não estávamos descendo!). Foi legal.
Durante a tarde, após o almoço, passeamos pela região – norte da Itália, quase na Áustria – próxima à Brunico. Às dezoito horas, começou a ceia de Natal. No início, teve um coquetel acompanhado por músicos vestidos com trajes tiroleses. Sob o comando da dona do hotel (Andréas Hofer, em Oberassen, norte da Itália) cantamos juntos “Noite Feliz” (claro que quem cantou foi quem conhecia a letra em alemão), todos de mãos dadas. Foi uma longa ceia, com vários pratos, vinho. No final, todos os locais foram assistir à missa do galo. Nós, após ligar para o Brasil, fomos dormir. Na manhã de Natal, quando deixaríamos Oberassen para seguir em frente em nossa viagem, fomos brindados pelo belo e perigoso – para quem dirige - espetáculo da neve caindo.
sábado, dezembro 24, 2005
sexta-feira, dezembro 23, 2005
Como uma onda
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará...”
O desenvolvimento da tecnologia tem trazido mudanças ao mundo que são, algumas vezes, de difícil adaptação. Tudo muda numa velocidade impressionante, desde os computadores que um mês depois de comprarmos o top de linha já ficam obsoletos perante novos que aparecem muito mais potentes e rápidos e cheios de periféricos, até as mudanças nas regras do vôlei. Alguém que não vive desse esporte consegue entender o que estão fazendo com o bom e velho vôlei? Eu, não.
Sempre que eu paro em frente à TV e está passando um jogo de vôlei eu procuro prestar muita atenção no que se passa, porque ainda espero o dia em que vão ter jogadores dos dois times nos dois lados da quadra. Algo como além de passar a bola para o outro lado também tem que evitar que os adversários te atrapalhem. Claro que talvez tivessem que permitir algum contato físico entre os jogadores, e talvez a rede no meio atrapalhasse. A solução seria trocar a rede e – portanto – o saque para outra forma de marcar os pontos, quem sabe duas cestas, uma em cada lado da quadra. Neste momento, notariam que seis atletas em cada time seria um número muito grande e reduziriam para cinco. A bola, pequena e leve, também teria que ser modificada. Adotariam uma mais pesada, que... Espera um pouco aí. Denúncia: ESTÃO QUERENDO TRANSFORMAR O VÔLEI EM BASQUETE!
Mas não era disso que eu falava, no início. Estava eu dizendo que as transformações que ocorrem hoje na sociedade da informação – esta em que vivemos - ocorrem numa velocidade estonteante. O mundo está muito dinâmico e as instituições, voláteis. No trabalho, por exemplo. Antigamente, era comum as pessoas ficarem vinte, trinta anos numa mesma empresa. Faziam toda sua carreira e talvez até seus filhos trabalhassem nesta dita empresa. Hoje, tudo está diferente. Os profissionais pulam de um trabalho a outro em busca de melhores condições, melhores salários, o que é bom, mas torna tudo mais instável. Talvez esta volatilidade das coisas interfira até nos padrões morais e éticos vigentes, não sei.
Dentro quadro de instabilidade em que vivemos, algumas coisas não mudam, e por isso nos dão a segurança e a crença que nem tudo está perdido.
O Galvão Bueno, por exemplo.
Não muda. Entra ano e sai ano, somos obrigados assistir futebol na tevê e lá está ele, altivo, sólido qual o rochedo de Gibraltar, torcendo para certos times e fazendo comentários ridículos. Naquela fração de segundo entre começar a assistir e trocar de estação com náuseas, não posso evitar deixar escapar um sorriso: algumas coisas nunca vão mudar mesmo
Até.
quarta-feira, dezembro 21, 2005
Assim é se assim vemos
Tudo é questão de ver as coisas em perspectiva. Nada na vida parece ter assim tanta importância quando olhamos as situações com uma visão do macro. Não o supermercado, claro. É a velha história de olhar a praia sob a perspectiva do oceano. O que é a praia enquanto parte do oceano? Nada, ou praticamente nada. É somente um cantinho insignificante. E isso vale para o Hawaii, Fernando de Noronha e para Pinhal. Neste sentido, Pinhal é exatamente a mesma coisa que a Fernando de Noronha. Conforme o jeito que enxergamos o mundo, ele é pior ou melhor.
Tudo uma questão de perspectiva.
Até.
UPDATE: Não tinha me dado conta logo que publiquei o texto acima: ele tem tudo a ver com o dia de hoje, o início do verão.
Passei a gostar muito mais do verão (mesmo o de Porto Alegre) após passar um inverno em Toronto.
Perspectiva, perspectiva.
Fui.
Tudo uma questão de perspectiva.
Até.
UPDATE: Não tinha me dado conta logo que publiquei o texto acima: ele tem tudo a ver com o dia de hoje, o início do verão.
Passei a gostar muito mais do verão (mesmo o de Porto Alegre) após passar um inverno em Toronto.
Perspectiva, perspectiva.
Fui.
segunda-feira, dezembro 19, 2005
Sábado à noite, Porto Alegre
domingo, dezembro 18, 2005
A Sopa 05/22
Uma história antiga.
Num final de semana em novembro de 2001, de descanso, diversão e muitas brincadeiras com a minha afilhada, Roberta, que na época tinha quase cinco anos, tive com ela uma interessante (no mínimo) conversa. Tudo aconteceu logo após contar-lhe a história do Hércules, lida de um livrinho. Após terminar a história, que fala do Olimpo, de Zeus e Hera e de Hades, ela começou a me perguntar sobre a história e sobre o mundo. Primeiro, perguntou-me se aquela história era real, e se Hércules realmente existira. Falei que a história era mitologia, e ela me perguntou o que era mitologia.
Expliquei-lhe, e perguntei se ela sabia a origem do homem. Respondeu-me que o macaco criara o homem. Falei-lhe que não era bem assim, que na verdade o homem descendia do macaco e que, ao longo de muitos e muitos e muitos anos, alguns daqueles macacos foram lentamente mudando até chegarem a nós. Perguntei-lhe se sabia como começara o mundo. Respondeu-me que fora a partir do big bang! Com quatro anos!
A partir daí, comecei a contar-lhe sobre os planetas do sistema solar, o sol, as estrelas, galáxias, e falamos ainda sobre o universo, até que ela me perguntou: "E Deus?". Houve momentos de silêncio e hesitação de minha parte. Pensei em como dizer que havia pessoas que não acreditavam, muitas que achavam que Deus justificava matar outras pessoas, que havia diferentes formas de ver Deus e que todas as religiões achavam que o seu Deus era o único e os outros estavam errados. Que a história das religiões era a história da intolerância. Não falei nada, porque a Roberta, em sua sabedoria de quem tem quatro anos, disse: "Deus cuida de tudo, né Dindo?". Sim, concordei feliz por compartilhar estes importantes momentos de sabedoria infantil.
Ganhei meu dia.
Até.
Num final de semana em novembro de 2001, de descanso, diversão e muitas brincadeiras com a minha afilhada, Roberta, que na época tinha quase cinco anos, tive com ela uma interessante (no mínimo) conversa. Tudo aconteceu logo após contar-lhe a história do Hércules, lida de um livrinho. Após terminar a história, que fala do Olimpo, de Zeus e Hera e de Hades, ela começou a me perguntar sobre a história e sobre o mundo. Primeiro, perguntou-me se aquela história era real, e se Hércules realmente existira. Falei que a história era mitologia, e ela me perguntou o que era mitologia.
Expliquei-lhe, e perguntei se ela sabia a origem do homem. Respondeu-me que o macaco criara o homem. Falei-lhe que não era bem assim, que na verdade o homem descendia do macaco e que, ao longo de muitos e muitos e muitos anos, alguns daqueles macacos foram lentamente mudando até chegarem a nós. Perguntei-lhe se sabia como começara o mundo. Respondeu-me que fora a partir do big bang! Com quatro anos!
A partir daí, comecei a contar-lhe sobre os planetas do sistema solar, o sol, as estrelas, galáxias, e falamos ainda sobre o universo, até que ela me perguntou: "E Deus?". Houve momentos de silêncio e hesitação de minha parte. Pensei em como dizer que havia pessoas que não acreditavam, muitas que achavam que Deus justificava matar outras pessoas, que havia diferentes formas de ver Deus e que todas as religiões achavam que o seu Deus era o único e os outros estavam errados. Que a história das religiões era a história da intolerância. Não falei nada, porque a Roberta, em sua sabedoria de quem tem quatro anos, disse: "Deus cuida de tudo, né Dindo?". Sim, concordei feliz por compartilhar estes importantes momentos de sabedoria infantil.
Ganhei meu dia.
Até.
sábado, dezembro 17, 2005
sexta-feira, dezembro 16, 2005
quinta-feira, dezembro 15, 2005
Só para garantir
Volta e meia eu ligo para um amigo qualquer só para desejar boa viagem. Não importa que o amigo em questão não esteja indo viajar, ou mesmo que nem tenha planos de viagem para o próximo, vamos dizer, ano. Faço questão de desejar que bons ventos o levem a seu destino e que o tragam de volta em segurança.
Porque eu sou assim, cuidadoso, e prevenido.
Então procuro sempre manter um estoque de ‘boa viagem’ dito a pessoas queridas. Vai que, de repente, ela viaje e não dê tempo de eu falar com ela. Se acontecer, tudo bem, já tinha desejado que tudo corresse bem, já tinha garantido energia positiva fluindo em direção ao viajante.
E não sou só eu: o meu irmão mais novo que também é irmão mais velho hoje ligou no iChat para conversarmos. A determinada altura da conversa, me desejou boa viagem e disse que nos falaríamos quando eu estivesse em Porto Alegre. Agradeci, claro, e disse que poderíamos nos falar ainda amanhã, afinal só viajo sexta.
Percebeu o engano e disse que “tudo bem, mas se não conseguirmos nos falar amanhã, já desejei boa viagem”…
Esse é o espírito.
Porque eu sou assim, cuidadoso, e prevenido.
Então procuro sempre manter um estoque de ‘boa viagem’ dito a pessoas queridas. Vai que, de repente, ela viaje e não dê tempo de eu falar com ela. Se acontecer, tudo bem, já tinha desejado que tudo corresse bem, já tinha garantido energia positiva fluindo em direção ao viajante.
E não sou só eu: o meu irmão mais novo que também é irmão mais velho hoje ligou no iChat para conversarmos. A determinada altura da conversa, me desejou boa viagem e disse que nos falaríamos quando eu estivesse em Porto Alegre. Agradeci, claro, e disse que poderíamos nos falar ainda amanhã, afinal só viajo sexta.
Percebeu o engano e disse que “tudo bem, mas se não conseguirmos nos falar amanhã, já desejei boa viagem”…
Esse é o espírito.
quarta-feira, dezembro 14, 2005
A Cebola
Dentro do espírito "culinário" que pautou a criação desse blog, recomendo a leitura do ótimo The Onion.
Eu já o conhecia, mas o que motivou a sugestão hoje foi um post do Alex Castro sobre esse artigo.
Vale a pena, assim como o blog do Alex.
Até.
UPDATE - Para que não haja confusão: eu não concordo com tudo o que ele escreve, mas a leitura do seu blog é - indubitavelmente - interessante.
Eu já o conhecia, mas o que motivou a sugestão hoje foi um post do Alex Castro sobre esse artigo.
Vale a pena, assim como o blog do Alex.
Até.
UPDATE - Para que não haja confusão: eu não concordo com tudo o que ele escreve, mas a leitura do seu blog é - indubitavelmente - interessante.
Enquanto isso em Londres
Acabaram os ônibus de dois andares.
Como todos devem ter lido ou ouvido falar, depois de meio século os tradicionais ônibus de dois andares de Londres foram aposentados na sexta-feira que passou. Lamentei o ocorrido, mas não pelas razões que vocês podem estar imaginando. Sim, eu sei, sou um saudosista, mas não é isso.
É que já tenho um conto ultrapassado.
Um clássico, na verdade. Pouquíssimas pessoas o leram, como qualquer bom cult que se preze. E, pra ser sincero, os originais se perderam com um dos autores, que se perdeu e nunca mais foi encontrado…
Sim, porque “A Morte vem num Ônibus de Dois Andares” – lendário texto escrito no final dos anos oitenta - mais que um conto, foi um brainstorm. Escrevemos o Radica, o Igor e eu. Ele inclusive virou uma história em quadrinhos, cujos originais – esses sim – estão comigo.
Mas nada disso importa mais, já não existem ônibus de dois andares.
A vida não espera.
Até.
Como todos devem ter lido ou ouvido falar, depois de meio século os tradicionais ônibus de dois andares de Londres foram aposentados na sexta-feira que passou. Lamentei o ocorrido, mas não pelas razões que vocês podem estar imaginando. Sim, eu sei, sou um saudosista, mas não é isso.
É que já tenho um conto ultrapassado.
Um clássico, na verdade. Pouquíssimas pessoas o leram, como qualquer bom cult que se preze. E, pra ser sincero, os originais se perderam com um dos autores, que se perdeu e nunca mais foi encontrado…
Sim, porque “A Morte vem num Ônibus de Dois Andares” – lendário texto escrito no final dos anos oitenta - mais que um conto, foi um brainstorm. Escrevemos o Radica, o Igor e eu. Ele inclusive virou uma história em quadrinhos, cujos originais – esses sim – estão comigo.
Mas nada disso importa mais, já não existem ônibus de dois andares.
A vida não espera.
Até.
terça-feira, dezembro 13, 2005
Mais Velho
Como disse ontem, ser ‘irmão mais velho’ nada tem a ver com ser irmão e nem com ser mais velho. Tem a ver com atitude.
Mais, tem a ver com amizade.
É isso. O irmão mais velho pode ser qualquer um, mesmo que se seja filho único. Irmãos mais velhos são os amigos que se importam, que estão ali para o que der e vier. Os grandes amigos. Aquilo do amigo ligar dizendo que precisa de ajuda e responderes “fica exatamente onde estás que estou indo pra aí”. Esse tipo de coisa.
Eu sempre fui meio irmão mais velho de um monte de gente, e me orgulho disso, assim como tenho – além do meu mano de sangue – vários irmãos (e irmãs) mais velhos.
#
Lembrei/pensei isso acima por causa de uns amigos que tiveram uns problemas lá no Brasil e – mesmo à distância – me senti no dever de interferir. Através de emails e telefonemas, fiz de tudo para que as coisas se resolvessem da melhor forma para eles.
Eles pediram que eu me envolvesse?
Claro que não.
Desde quando eu preciso ser chamado para me envolver num assunto que afeta amigos meus e que posso ajudar?
Irmãos mais velho são para isso.
Até.
Mais, tem a ver com amizade.
É isso. O irmão mais velho pode ser qualquer um, mesmo que se seja filho único. Irmãos mais velhos são os amigos que se importam, que estão ali para o que der e vier. Os grandes amigos. Aquilo do amigo ligar dizendo que precisa de ajuda e responderes “fica exatamente onde estás que estou indo pra aí”. Esse tipo de coisa.
Eu sempre fui meio irmão mais velho de um monte de gente, e me orgulho disso, assim como tenho – além do meu mano de sangue – vários irmãos (e irmãs) mais velhos.
#
Lembrei/pensei isso acima por causa de uns amigos que tiveram uns problemas lá no Brasil e – mesmo à distância – me senti no dever de interferir. Através de emails e telefonemas, fiz de tudo para que as coisas se resolvessem da melhor forma para eles.
Eles pediram que eu me envolvesse?
Claro que não.
Desde quando eu preciso ser chamado para me envolver num assunto que afeta amigos meus e que posso ajudar?
Irmãos mais velho são para isso.
Até.
segunda-feira, dezembro 12, 2005
O Irmão
Somos dois irmãos.
Eu nasci três anos antes, mas de uns anos para cá, o Neni é o meu irmão mais velho. Excluindo-se esse fato, posso dizer que sempre tive a ‘Síndrome do Irmão mais Velho’. E não só com ele.
Uma história.
Lembro de uma vez, muitos anos atrás, em que uma série de mal-entendidos, desencadeados por uma muito querida amiga, levou uma outra turma a querer “acertar contas conosco”. Aconteceu, claro, num verão na praia.
As noites de verão, principalmente de final de semana, eram passadas em torno do clube local, a associação de amigos da praia, Imbé/RS, especificamente, a SAPI. Quando não entrávamos, ficávamos pela frente. No dia em questão, estávamos como sempre em frente à SAPI quando notamos um movimento diferente. Algo estava para acontecer, e em tese não era bom para nós, até porque estávamos em desvantagem numérica. Estrategicamente, resolvemos recuar. Em outras palavras, voltar para casa.
Detalhe: éramos todos guris, ambas as turmas, e provavelmente eu era o mais velho. Naquele tempo, ainda era seguro andar à noite pelas ruas, e não havia a menor possibilidade de alguém possuir algum tipo de arma. Era coisa de guri, simplesmente.
De qualquer forma, quando perceberam a nossa retirada, decidiram ir atrás de nós. Enquanto todos correram em direção à casa do que morava mais próximo de onde estávamos, eu simplesmente saí do caminho e vi todos passarem correndo. Quando todos já estavam longe, chegou outro dos nossos e disse: “Teu irmão está lá no meio”. Minha reação foi instantânea.
“Com o meu irmão ninguém mexe”, disse e corri na direção em que todos tinham ido. Quando me aproximava da casa “segura” onde os nossos tinham buscado refúgio, a outra turma vinha voltando e me encontraram sozinho.
Fui cercado.
O “líder” deles e eu ficamos frente a frente, naquele ‘o que está acontecendo?’, ‘qual é o problema?’. Mas tudo tranqüilo, nada indicando que fosse muito além de uma conversa de frases sem sujeito… Nisso, chegou reforço. O dono da casa onde os guris tinham buscado refúgio, pai de um de nós, encostou o carro e desceu já perguntando o que estava havendo. Nada estava acontecendo, todos disseram, e foram dispersando. Voltamos para casa. Acabáramos de viver um episódio que viraria lenda na nossa turma, e sabíamos disso.
Essa foi uma das muitas histórias que temos daquele tempo. Outra, em que cavamos uma cova e enterramos o Vítor para que ele levantasse, como na ‘Volta dos Mortos Vivos’ e assustasse alguns dos guris, eu conto outro dia.
Pois é, acabei nem falando sobre a ‘Síndrome do Irmão Mais Velho’, que nada tem a ver com ser o irmão de mais idade e nem com ser irmão de sangue.
Amanhã, amanhã.
Até.
Eu nasci três anos antes, mas de uns anos para cá, o Neni é o meu irmão mais velho. Excluindo-se esse fato, posso dizer que sempre tive a ‘Síndrome do Irmão mais Velho’. E não só com ele.
Uma história.
Lembro de uma vez, muitos anos atrás, em que uma série de mal-entendidos, desencadeados por uma muito querida amiga, levou uma outra turma a querer “acertar contas conosco”. Aconteceu, claro, num verão na praia.
As noites de verão, principalmente de final de semana, eram passadas em torno do clube local, a associação de amigos da praia, Imbé/RS, especificamente, a SAPI. Quando não entrávamos, ficávamos pela frente. No dia em questão, estávamos como sempre em frente à SAPI quando notamos um movimento diferente. Algo estava para acontecer, e em tese não era bom para nós, até porque estávamos em desvantagem numérica. Estrategicamente, resolvemos recuar. Em outras palavras, voltar para casa.
Detalhe: éramos todos guris, ambas as turmas, e provavelmente eu era o mais velho. Naquele tempo, ainda era seguro andar à noite pelas ruas, e não havia a menor possibilidade de alguém possuir algum tipo de arma. Era coisa de guri, simplesmente.
De qualquer forma, quando perceberam a nossa retirada, decidiram ir atrás de nós. Enquanto todos correram em direção à casa do que morava mais próximo de onde estávamos, eu simplesmente saí do caminho e vi todos passarem correndo. Quando todos já estavam longe, chegou outro dos nossos e disse: “Teu irmão está lá no meio”. Minha reação foi instantânea.
“Com o meu irmão ninguém mexe”, disse e corri na direção em que todos tinham ido. Quando me aproximava da casa “segura” onde os nossos tinham buscado refúgio, a outra turma vinha voltando e me encontraram sozinho.
Fui cercado.
O “líder” deles e eu ficamos frente a frente, naquele ‘o que está acontecendo?’, ‘qual é o problema?’. Mas tudo tranqüilo, nada indicando que fosse muito além de uma conversa de frases sem sujeito… Nisso, chegou reforço. O dono da casa onde os guris tinham buscado refúgio, pai de um de nós, encostou o carro e desceu já perguntando o que estava havendo. Nada estava acontecendo, todos disseram, e foram dispersando. Voltamos para casa. Acabáramos de viver um episódio que viraria lenda na nossa turma, e sabíamos disso.
Essa foi uma das muitas histórias que temos daquele tempo. Outra, em que cavamos uma cova e enterramos o Vítor para que ele levantasse, como na ‘Volta dos Mortos Vivos’ e assustasse alguns dos guris, eu conto outro dia.
Pois é, acabei nem falando sobre a ‘Síndrome do Irmão Mais Velho’, que nada tem a ver com ser o irmão de mais idade e nem com ser irmão de sangue.
Amanhã, amanhã.
Até.
domingo, dezembro 11, 2005
A Sopa 05/21
Sábado à noite, na festa de final de ano das Divisões de Pneumologia e Cirurgia Torácica da University of Toronto, no salão de eventos no 33º andar do Hotel Sutton, centro de Toronto, eu estava tenso. Confesso, admito. Não costumo ficar tenso, mas dessa vez não pude evitar.
O evento, por outro lado, estava bem interessante. Iniciou pontualmente às 7pm, na ante-sala, com um cocktail em frente a uma lareira e um piano de cauda tocado por um menina que subiu no elevador comigo, tensa por estar atrasada. Após, passamos para o salão principal, onde foi servida a janta. Antes de começarem a servir, pequena apresentação dos chefes dos dois serviços, tudo muito informal, evidentemente.
A janta estava boa, e o vinho também. Mesmo assim eu continuava tenso. Após a janta, enquanto tomávamos o café, foram sorteados brindes aos presentes. E eu tenso. E então começou a música.
A escolha das músicas era adequada, o astral bom.
E eu tenso.
Até que emendaram uma seqüência que incluiu ‘YMCA’ e ‘I Will Survive’. E então tocou Billie Jean, do Micheal Jackson . Nesse momento, tudo parou, houve um silêncio no salão, na cidade, e quem sabe no mundo todo. Os céus se abriram e tive uma revelação, que explica o inexplicável da vida, resolve os mais profundos mistérios da existência.
O Micheal Jackson morreu.
Há anos, para deixar bem claro.
Esse que foi julgado por molestar criancinhas nos seu rancho, Neverland, esse que está morando em Bahrein (se é assim que se escreve), que foi pego saindo de burka de um banheiro feminino num shopping center de lá, esse é um impostor. Um sósia, na verdade, que nem negro é, como o original.
Só isso para explicar o que aconteceu com esse menino.
Até.
O evento, por outro lado, estava bem interessante. Iniciou pontualmente às 7pm, na ante-sala, com um cocktail em frente a uma lareira e um piano de cauda tocado por um menina que subiu no elevador comigo, tensa por estar atrasada. Após, passamos para o salão principal, onde foi servida a janta. Antes de começarem a servir, pequena apresentação dos chefes dos dois serviços, tudo muito informal, evidentemente.
A janta estava boa, e o vinho também. Mesmo assim eu continuava tenso. Após a janta, enquanto tomávamos o café, foram sorteados brindes aos presentes. E eu tenso. E então começou a música.
A escolha das músicas era adequada, o astral bom.
E eu tenso.
Até que emendaram uma seqüência que incluiu ‘YMCA’ e ‘I Will Survive’. E então tocou Billie Jean, do Micheal Jackson . Nesse momento, tudo parou, houve um silêncio no salão, na cidade, e quem sabe no mundo todo. Os céus se abriram e tive uma revelação, que explica o inexplicável da vida, resolve os mais profundos mistérios da existência.
O Micheal Jackson morreu.
Há anos, para deixar bem claro.
Esse que foi julgado por molestar criancinhas nos seu rancho, Neverland, esse que está morando em Bahrein (se é assim que se escreve), que foi pego saindo de burka de um banheiro feminino num shopping center de lá, esse é um impostor. Um sósia, na verdade, que nem negro é, como o original.
Só isso para explicar o que aconteceu com esse menino.
Até.
sábado, dezembro 10, 2005
Whatever gets you through the night
Para encerrar a semana e, com ela, essa pequena série de homenagens ao John, uma letra dele.
Whatever gets you through the night 'salright, 'salright
It's your money or life 'salright, 'salright
Don't need a sword to cut through flowers oh no, oh no
Whatever gets you through your life 'salright, 'salright
Do it wrong or do it right 'salright, 'salright
Don't need a watch to waste your time oh no, oh no
Hold me darlin' come on listen to me
I won't do you no harm
Trust me darlin' come on listen to me, come on listen to me
Come on listen, listen
Whatever gets you to the light 'salright, 'salright
Out the blue or out of sight 'salright, 'salright
Don't need a gun to blow your mind oh no, oh no
Hold me darlin' come on listen to me
I won't do you no harm
Trust me darlin' come on listen to me, come on listen to me
Come on listen, listen
Bom sábado a todos (o meu último de 2005 em Toronto...).
Até.
Whatever gets you through the night 'salright, 'salright
It's your money or life 'salright, 'salright
Don't need a sword to cut through flowers oh no, oh no
Whatever gets you through your life 'salright, 'salright
Do it wrong or do it right 'salright, 'salright
Don't need a watch to waste your time oh no, oh no
Hold me darlin' come on listen to me
I won't do you no harm
Trust me darlin' come on listen to me, come on listen to me
Come on listen, listen
Whatever gets you to the light 'salright, 'salright
Out the blue or out of sight 'salright, 'salright
Don't need a gun to blow your mind oh no, oh no
Hold me darlin' come on listen to me
I won't do you no harm
Trust me darlin' come on listen to me, come on listen to me
Come on listen, listen
Bom sábado a todos (o meu último de 2005 em Toronto...).
Até.
sexta-feira, dezembro 09, 2005
Ainda sobre ontem
Como disse o amigo e parceiro de todas as horas Alexandre Magno:
"John foi vítima do ainda inexplicado. Mas ressurge a cada letrista medíocre, músico afetado, astro milionário da música que não se posiciona, para mostrar que qualidade não morre."
O Dakota
Até.
(amanhã termina a série de homenagens ao John aqui no blog)
"John foi vítima do ainda inexplicado. Mas ressurge a cada letrista medíocre, músico afetado, astro milionário da música que não se posiciona, para mostrar que qualidade não morre."
O Dakota
Até.
(amanhã termina a série de homenagens ao John aqui no blog)
quinta-feira, dezembro 08, 2005
quarta-feira, dezembro 07, 2005
Atitude
Muito mais do que ser, hoje em dia é importante parecer ser. São tempos de uma grande influência da televisão, mas que parece estar diminuindo (ou será que são as pessoas com quem convivo?). De qualquer forma, não podemos deixar a tirania das aparências dominar nossas vidas. Devemos marcar posição, é isso.
As pessoas precisam saber claramente quem somos e quais são nossas opiniões nos mais variados assuntos do mundo que nos cerca. À direita, à esquerda, em frente ou para baixo, temos que ter uma clara opção. Isso vai tornar tudo mais seguro e claro, voltaremos a saber em que chão estamos pisando. E temos que ter atitude perante o mundo. Posição e atitude, as chaves para o sucesso no novo milênio. Parênteses. Milênio é aquele garoto que nasceu no primeiro minuto de 2001, filho da Milene e do Ênio. Fecho parênteses e paro de escrever bobagens.
Eu, por exemplo, parei para refletir há um tempo atrás e estabeleci minhas posições ideológicas, que devem ficar claras para todos. São as bases nas quais estão assentados todos os meus atos. Dessa forma, as pessoas vão sempre saber como reagirei frente à determinada situação. Porque sou coerente, normalmente. Após esse concílio, que não foi em Trento, tracei algumas diretrizes que regem a minha conduta perante a vida.
A melhor sobremesa. Foi uma das escolhas mais difíceis, frente a uma gama enorme de opções fantásticas, mas cheguei lá: a melhor sobremesa do mundo é o sagu. E ponto final. Mais bonita canção em língua portuguesa: Oceano, do Djavan. Sim, eu sei que existem bilhões de canções maravilhosas, que deveria ser uma das do Chico Buarque e etc, mas é essa, lamento. Tinha que definir uma, e assim o fiz.
Arroz de leite: não existe. É um erro que tem se perpetuado ao longo de gerações, desde que um débil mental misturou arroz e leite e disse que era bom. É o típico caso de mentira dita mil vezes que vira verdade, segundo a cartilha de Goebbels, oficial nazista da informação. Não sei se tão grave quanto o arroz de leite é o caso do leite de soja. Por favor! Leite de soja não existe. Acordem! Imaginem o fazendeiro, de manhã cedo, ordenhando uma plantinha e coletando o leite numa vasilha. Convenhamos...
É o que digo, posições perante os fatos. O que fazer numa encruzilhada, quando não se sabe qual caminho seguir? Vá à esquerda. Funciona sempre? Não, mas o importante é ter posição e atitude. Pena de morte? Contra. Pirâmides e correntes: distância. O que fazer com pedófilos e estupradores? Olho por olho, dente por dente. Simples. Feijão? Preto, os outros são apenas vagens.
Nada disso significa simplificação ou evitar a reflexão ou o debate filosófico. Pelo contrário, tendo resolvido estes pequenos dilemas diários que normalmente tomam tempo das pessoas, sobra mais chance de captar no ar a filosofia que está por aí, etérea, e trazê-la para o mundo dos vivos.
As pessoas precisam saber claramente quem somos e quais são nossas opiniões nos mais variados assuntos do mundo que nos cerca. À direita, à esquerda, em frente ou para baixo, temos que ter uma clara opção. Isso vai tornar tudo mais seguro e claro, voltaremos a saber em que chão estamos pisando. E temos que ter atitude perante o mundo. Posição e atitude, as chaves para o sucesso no novo milênio. Parênteses. Milênio é aquele garoto que nasceu no primeiro minuto de 2001, filho da Milene e do Ênio. Fecho parênteses e paro de escrever bobagens.
Eu, por exemplo, parei para refletir há um tempo atrás e estabeleci minhas posições ideológicas, que devem ficar claras para todos. São as bases nas quais estão assentados todos os meus atos. Dessa forma, as pessoas vão sempre saber como reagirei frente à determinada situação. Porque sou coerente, normalmente. Após esse concílio, que não foi em Trento, tracei algumas diretrizes que regem a minha conduta perante a vida.
A melhor sobremesa. Foi uma das escolhas mais difíceis, frente a uma gama enorme de opções fantásticas, mas cheguei lá: a melhor sobremesa do mundo é o sagu. E ponto final. Mais bonita canção em língua portuguesa: Oceano, do Djavan. Sim, eu sei que existem bilhões de canções maravilhosas, que deveria ser uma das do Chico Buarque e etc, mas é essa, lamento. Tinha que definir uma, e assim o fiz.
Arroz de leite: não existe. É um erro que tem se perpetuado ao longo de gerações, desde que um débil mental misturou arroz e leite e disse que era bom. É o típico caso de mentira dita mil vezes que vira verdade, segundo a cartilha de Goebbels, oficial nazista da informação. Não sei se tão grave quanto o arroz de leite é o caso do leite de soja. Por favor! Leite de soja não existe. Acordem! Imaginem o fazendeiro, de manhã cedo, ordenhando uma plantinha e coletando o leite numa vasilha. Convenhamos...
É o que digo, posições perante os fatos. O que fazer numa encruzilhada, quando não se sabe qual caminho seguir? Vá à esquerda. Funciona sempre? Não, mas o importante é ter posição e atitude. Pena de morte? Contra. Pirâmides e correntes: distância. O que fazer com pedófilos e estupradores? Olho por olho, dente por dente. Simples. Feijão? Preto, os outros são apenas vagens.
Nada disso significa simplificação ou evitar a reflexão ou o debate filosófico. Pelo contrário, tendo resolvido estes pequenos dilemas diários que normalmente tomam tempo das pessoas, sobra mais chance de captar no ar a filosofia que está por aí, etérea, e trazê-la para o mundo dos vivos.
terça-feira, dezembro 06, 2005
Amores incompletos e o serviço consular
Vinha eu, na manhã fria de Toronto, em pleno bonde, ouvindo meu iPod. Parênteses. Eu gosto muito de chamar bonde – sei que já disse isso – porque dá um tom de passado ao que escrevo, e agrada mais ainda juntar na mesma sentença a contradição de estar usando um aparelho eletrônico moderno: de iPod no bonde. Legal, não? Fecha parênteses.
Como estava dizendo, estava ouvindo músicas tocadas de ordem aleatória e, quando – já na rua, caminhando em direção ao hospital – tocou ‘Vento no Litoral’ da Legião Urbana. É uma música triste, pesada, fala de um final de relacionamento e diz “… dos nossos planos é que tenho mais saudade / Quando olhávamos juntos, na mesma direção, aonde está você agora além de aqui dentro de mim… agimos certo sem querer/ foi só o tempo que errou / vai ser difícil sem você / porque você está comigo o tempo todo e quando vejo o mar, existe algo que diz, que a vida continua e se entregar é uma bobagem…”. E tive um insight.
Amores completos são os que acabam.
Claro que falo em completo em termos de tempo, trajetória, e não em intensidade. Os amores incompletos são os que ainda não terminaram, continuam.
#
Já na volta para casa, esperando o bonde, com o vento frio cortando, temperatura de –7ºC com sensação de –15ºC, os pés quase congelados, tive nova visão. Se fosse eu quem analisasse os pedidos de visto das pessoas que querem vir estudar no Canadá, rejeitaria todos aqueles que quisessem vir para cá ficar de dezembro a março. Por uma simples razão: ninguém, em sã consciência, larga o verão para passar três meses dentro de um freezer…
Até.
Como estava dizendo, estava ouvindo músicas tocadas de ordem aleatória e, quando – já na rua, caminhando em direção ao hospital – tocou ‘Vento no Litoral’ da Legião Urbana. É uma música triste, pesada, fala de um final de relacionamento e diz “… dos nossos planos é que tenho mais saudade / Quando olhávamos juntos, na mesma direção, aonde está você agora além de aqui dentro de mim… agimos certo sem querer/ foi só o tempo que errou / vai ser difícil sem você / porque você está comigo o tempo todo e quando vejo o mar, existe algo que diz, que a vida continua e se entregar é uma bobagem…”. E tive um insight.
Amores completos são os que acabam.
Claro que falo em completo em termos de tempo, trajetória, e não em intensidade. Os amores incompletos são os que ainda não terminaram, continuam.
#
Já na volta para casa, esperando o bonde, com o vento frio cortando, temperatura de –7ºC com sensação de –15ºC, os pés quase congelados, tive nova visão. Se fosse eu quem analisasse os pedidos de visto das pessoas que querem vir estudar no Canadá, rejeitaria todos aqueles que quisessem vir para cá ficar de dezembro a março. Por uma simples razão: ninguém, em sã consciência, larga o verão para passar três meses dentro de um freezer…
Até.
segunda-feira, dezembro 05, 2005
Monday, Monday
Hoje é segunda-feira, o dia em que falo de esportes. Caso você, estimado leitor, não tenha interesse no tópico, pode pular essa parte…
Futebol
Premissa número um: eu não tenho nada contra o Corinthians (certo, Edgard?).
A partir dessa premissa, é que vou basear o que direi a seguir: o Corinthians não é o campeão brasileiro. E nem o Inter. O campeão brasileiro só será conhecido quando a justiça decidir. Chato? Sim, claro, o melhor era ter terminado tudo ontem.
Mas como o Corinthians foi beneficiado por uma aberração inventada pelo presidente do supremo tribunal de justiça desportiva, o Inter – que foi prejudicado – tem mais é que pleitear na justiça a reparação do dano sofrido. Fato: a CBF, não podia ter declarado nenhum campeão porque estava impedida pela justiça. Ao fazer, cometeu crime.
Não há muito mais a ser dito sobre o assunto. O Corinthians fez mais pontos que o Inter? Fez, mas porque teve a chance de jogar de novo duas partidas que havia perdido, e – já disse isso – que não existem provas de que tenham sido manipuladas. Justo? Não, claro, e por isso o Inter tem que ir atrás da justiça, seja ela desportiva, até a Fifa, ou mesmo comum.
Ainda futebol
É interessante como é conveniente manipular a visão que tem-se realidade para que ela se pareça mais agradável, mais tolerável.
Vejam o caso dos torcedores do Grêmio que – com justiça – comemoram a sua volta à primeira divisão do futebol brasileira ou, como eu disse a um amigo, o direito de sentar na mesa dos adultos. Recebi alguns emails de gremistas dizendo que o ano acabava como sempre: o grêmio campeão e o Inter sem nada. É uma visão interessante, mesmo que deturpada.
O ano do grêmio foi melhor e termina melhor do que o Inter?
Pior cego é aquele que não quer ver.
Skype
Uso o Skype para falar com algumas pessoas do Brasil. É um daqueles softwares que facilitam minha vida de “exilado”.
O interessante é que – às vezes – alguém vê o meu profile e, ao saber que moro no Canadá, resolve me ligar para perguntar sobre a vida aqui. Na maioria das vezes, não tenho como esclarecer as dúvidas, porque não sou imigrante e vim para cá numa condição bem específica. De qualquer forma sempre respondo.
O que é diferente de alguém querer me incluir como seu contato sem ao menos se apresentar. Assim, do nada, recebo um aviso de que alguém me incluiu como contato. E não tenho nem idéia de quem seja! Não aceito, claro, e nem permito que a pessoa saiba quando estou online.
Esses tempo, contudo, não me dei conta e permiti que uma pessoa soubesse quando eu estava online. Conversamos, via chat, umas duas vezes. Depois disso, cada vez que eu entrava online, a pessoa me mandava mensagens tipo msn, puxando conversa. Parei de ficar online, principalmente quando estava fazendo outras coisas.
Até que recebi uma mensagem dizendo que essa pessoa estava me cortando da sua lista de contatos (não fazia parte da minha) porque nunca havíamos conversado.
Sim, mas eoqueco?
Até.
Futebol
Premissa número um: eu não tenho nada contra o Corinthians (certo, Edgard?).
A partir dessa premissa, é que vou basear o que direi a seguir: o Corinthians não é o campeão brasileiro. E nem o Inter. O campeão brasileiro só será conhecido quando a justiça decidir. Chato? Sim, claro, o melhor era ter terminado tudo ontem.
Mas como o Corinthians foi beneficiado por uma aberração inventada pelo presidente do supremo tribunal de justiça desportiva, o Inter – que foi prejudicado – tem mais é que pleitear na justiça a reparação do dano sofrido. Fato: a CBF, não podia ter declarado nenhum campeão porque estava impedida pela justiça. Ao fazer, cometeu crime.
Não há muito mais a ser dito sobre o assunto. O Corinthians fez mais pontos que o Inter? Fez, mas porque teve a chance de jogar de novo duas partidas que havia perdido, e – já disse isso – que não existem provas de que tenham sido manipuladas. Justo? Não, claro, e por isso o Inter tem que ir atrás da justiça, seja ela desportiva, até a Fifa, ou mesmo comum.
Ainda futebol
É interessante como é conveniente manipular a visão que tem-se realidade para que ela se pareça mais agradável, mais tolerável.
Vejam o caso dos torcedores do Grêmio que – com justiça – comemoram a sua volta à primeira divisão do futebol brasileira ou, como eu disse a um amigo, o direito de sentar na mesa dos adultos. Recebi alguns emails de gremistas dizendo que o ano acabava como sempre: o grêmio campeão e o Inter sem nada. É uma visão interessante, mesmo que deturpada.
O ano do grêmio foi melhor e termina melhor do que o Inter?
Pior cego é aquele que não quer ver.
Skype
Uso o Skype para falar com algumas pessoas do Brasil. É um daqueles softwares que facilitam minha vida de “exilado”.
O interessante é que – às vezes – alguém vê o meu profile e, ao saber que moro no Canadá, resolve me ligar para perguntar sobre a vida aqui. Na maioria das vezes, não tenho como esclarecer as dúvidas, porque não sou imigrante e vim para cá numa condição bem específica. De qualquer forma sempre respondo.
O que é diferente de alguém querer me incluir como seu contato sem ao menos se apresentar. Assim, do nada, recebo um aviso de que alguém me incluiu como contato. E não tenho nem idéia de quem seja! Não aceito, claro, e nem permito que a pessoa saiba quando estou online.
Esses tempo, contudo, não me dei conta e permiti que uma pessoa soubesse quando eu estava online. Conversamos, via chat, umas duas vezes. Depois disso, cada vez que eu entrava online, a pessoa me mandava mensagens tipo msn, puxando conversa. Parei de ficar online, principalmente quando estava fazendo outras coisas.
Até que recebi uma mensagem dizendo que essa pessoa estava me cortando da sua lista de contatos (não fazia parte da minha) porque nunca havíamos conversado.
Sim, mas eoqueco?
Até.
domingo, dezembro 04, 2005
A Sopa 05/20
O ano de 2005 (1).
Chegamos ao primeiro domingo de 2005 e o meu penúltimo em Toronto este ano. E, ao contrário do ano passado, em que não tive tempo de me sentar e escrever a minha retrospectiva pessoal do ano, vou tentar fazer nos próximos domingos, ainda aqui de Toronto e depois de casa, em Porto Alegre.
Bom, o ano que ora se aproxima do seu final foi o ano em que efetivamente morei fora do país. Porque 2004 foi o ano em que ultimei os preparativos para a vinda e vim, e 2006 vai ser o ano em que vou me preparar para a volta e voltar. Simbolicamente, os dois anos pares têm significados distintos (mas não opostos) e são igualmente importantes, como é fácil imaginar. E 2005, então, qual sua importância?
Tergiverso um pouco antes de responder à pergunta que faço a mim mesmo. E começo falando um pouco sobre a vida, o que, no fundo, é o assunto de todos os escritos.
Pensei que também podemos definir a vida como uma série interminável de ciclos de construção/desconstrução. Alguns mais intensos que outros, claro. Tomemos o exemplo de quando iniciamos numa escola diferente, ou na universidade, ou mesmo nos mudamos de cidade. Nestes momentos, saímos de situações de conforto, de segurança, e somos obrigados a iniciar do nada novas relações com o mundo. Há, por isso, uma desconstrução de quem éramos e uma reconstrução que – inevitavelmente – vai nos fazer um pouco diferente do que éramos. E assim sucessivamente, por toda vida: a cada desconstrução, nos reconstruimos um pouco diferentes.
Retornando à 2005, e respondendo à pergunta sobre sua importância, digo que este ano foi o ano da reconstrução. Depois de chegar aqui em agosto de 2004, e experienciar com intensidade a desconstrução, esse ano foi o de construir pontes, criar laços.
Foi muito intensa essa experiência porque, estando casado há quase dez anos, vim para cá sozinho. O choque inicial foi maior também por isso, e – apesar da longa preparação antes de viajar – chegar aqui sem referências não foi fácil. Mas, como sempre disse meu irmão, tinha era que ver a big picture, olhar em perspectiva. Ruim no início, depois melhoraria. Eu sabia que seria assim, e foi.
Criei laços e construí pontes, com certeza. Sem diminuir em nada as ligações que tenho com o lar (pessoas, cidade, estado e país), que – por sinal – parecem mais fortes que nunca. Tornei-me um cidadão de Toronto, um local. Tenho bons amigos aqui.
Só isso já teria valido a vinda para cá, mas tem muito mais.
Até.
================================================
O Meu Confronto com o Imortal
by Lucia Stenzel
Outro dia um amigo me perguntou por que eu nunca mais tinha escrito minhas histórias. Entre falta de tempo (que não é desculpa), falta de idéias criativas e falta de dinheiro (vocês já vão entender como a falta de dinheiro bloqueia os neurônios); eis que surge a mais nova confirmação da minha insignificância: conheci pessoalmente o Imortal. E pior, convivo diariamente com eles: com o Imortal e com a minha insignificância.
O Imortal
Ele parece homem comum. Usa camisa e sapatos, as vezes vai ao banheiro, usa o computador, escreve e-mails, usa as chaves para entrar e sair da sala; como todos nós, míseros mortais que circulamos no mesmo espaço que Ele. Quando me disseram que Ele seria meu chefe tive um misto de orgulho e medo. O que vou dizer quando estiver frente a frente com um Imortal? Treinei alguns dias diante do espelho, mas nada parecia adequado para o primeiro confronto. Seria no elevador, na biblioteca, ou na cafeteria? O que importa. Alguma coisa que preste teria que sair desta cachola. No fundo, sabia que o dia chegaria quando eu menos esperasse. Esse dia foi hoje.
O confronto
Tínhamos uma reunião onde então eu seria apresentada a Ele e aos outros professores mais antigos da faculdade. A reunião seria na sala do departamento, onde um grupo de quize professores divide o mesmo computador. O encontro era as cinco da tarde, mas a incorrigível adiantadinha chegou cedo, cheia de ansiedade. Sala vazia e o computador ali, dando sopa. Nunca consigo ler meus e-mails na faculdade, hoje era a grande chance. De repente um barulhinho de chave na porta e eis que surge Ele: o Imortal.
E agora? Fiquei entre um singelo “olá” e um pedido de autógrafo. Acabou que fiquei muda e ele iniciou o diálogo. “Boa tarde, tudo bem?”. Ãh, cuma? Comigo? “Sim, tudo bem Professor”. E virei rapidinho para a tela do computador. Imagina incomodá-lo com qualquer outra pergunta ou comentário. Até mesmo um olhar era muito perigoso naquele momento. Outro dia li em uma dessas revistas de fofoca uma entrevista de um artista famoso onde ele dizia que, a melhor reação de um fã é quando ele finge que não viu o seu ídolo. Será que li isto mesmo? Já nem coordeno mais as idéias. Se não li inventei agora e serve: finge que não viu, que está tudo normal, tri normal, super-hiper normal.
Fiquei observando Ele através do reflexo da tela. Isso mesmo, não te mexe, fica aí vendo teus e-mails e não olha para trás, pensei eu. O prédio pode explodir, o alarme de incêndio tocar, dor de barriga, enchente, temporal; nada é motivo para tu te levantares desta cadeira. Tu vais ficar aí bem quietinha, muda, calada, e deixa o Imortal à vontade na sala três por quatro. E se ele falar comigo? Responde o essencial, só o essencial.
Ele andou de um lado para o outro, sentou na cadeira, levantou, serviu-se de água, voltou a sentar, levantou novamente. Eu ali, dura, firme, suor escorrendo na face... Mais uma vez Ele levanta, parece inquieto e me olha. Eu estava de costas é claro. Mas vi tudo pela tela do computador. E agora? Fingi que não vi, como mandava a revista. Nada de histeria, sorrisinho, gente famosa odeia essas puxa-saquices. Fiquei ali grudada no computador. Nada me tira daqui! Nada, nem terremoto.
O tempo passava e nada do Imortal sair da sala. E nada dos mortais para a tal reunião. Ele continuava no tal senta e levanta e eu ali parecendo estátua. Olhei no relógio e já se passavam quinze minutos daquela encenação ridícula. Até que o “tico e o teco” resolveram voltar a funcionar. Levantei vagarosamente da cadeira, tímida, com um sorriso contido, segurando a saia, olhei para Ele e perguntei: “O senhor deseja alguma coisa Professor Scliar? Ainda faltam uns minutinhos para a nossa reunião, o senhor quer um cafezinho, uma água?”. Ele, muito simpático respondeu: “Não querida, eu só queria ver meus e-mails. Já terminaste aí com o computador?”.
Chegamos ao primeiro domingo de 2005 e o meu penúltimo em Toronto este ano. E, ao contrário do ano passado, em que não tive tempo de me sentar e escrever a minha retrospectiva pessoal do ano, vou tentar fazer nos próximos domingos, ainda aqui de Toronto e depois de casa, em Porto Alegre.
Bom, o ano que ora se aproxima do seu final foi o ano em que efetivamente morei fora do país. Porque 2004 foi o ano em que ultimei os preparativos para a vinda e vim, e 2006 vai ser o ano em que vou me preparar para a volta e voltar. Simbolicamente, os dois anos pares têm significados distintos (mas não opostos) e são igualmente importantes, como é fácil imaginar. E 2005, então, qual sua importância?
Tergiverso um pouco antes de responder à pergunta que faço a mim mesmo. E começo falando um pouco sobre a vida, o que, no fundo, é o assunto de todos os escritos.
Pensei que também podemos definir a vida como uma série interminável de ciclos de construção/desconstrução. Alguns mais intensos que outros, claro. Tomemos o exemplo de quando iniciamos numa escola diferente, ou na universidade, ou mesmo nos mudamos de cidade. Nestes momentos, saímos de situações de conforto, de segurança, e somos obrigados a iniciar do nada novas relações com o mundo. Há, por isso, uma desconstrução de quem éramos e uma reconstrução que – inevitavelmente – vai nos fazer um pouco diferente do que éramos. E assim sucessivamente, por toda vida: a cada desconstrução, nos reconstruimos um pouco diferentes.
Retornando à 2005, e respondendo à pergunta sobre sua importância, digo que este ano foi o ano da reconstrução. Depois de chegar aqui em agosto de 2004, e experienciar com intensidade a desconstrução, esse ano foi o de construir pontes, criar laços.
Foi muito intensa essa experiência porque, estando casado há quase dez anos, vim para cá sozinho. O choque inicial foi maior também por isso, e – apesar da longa preparação antes de viajar – chegar aqui sem referências não foi fácil. Mas, como sempre disse meu irmão, tinha era que ver a big picture, olhar em perspectiva. Ruim no início, depois melhoraria. Eu sabia que seria assim, e foi.
Criei laços e construí pontes, com certeza. Sem diminuir em nada as ligações que tenho com o lar (pessoas, cidade, estado e país), que – por sinal – parecem mais fortes que nunca. Tornei-me um cidadão de Toronto, um local. Tenho bons amigos aqui.
Só isso já teria valido a vinda para cá, mas tem muito mais.
Até.
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O Meu Confronto com o Imortal
by Lucia Stenzel
Outro dia um amigo me perguntou por que eu nunca mais tinha escrito minhas histórias. Entre falta de tempo (que não é desculpa), falta de idéias criativas e falta de dinheiro (vocês já vão entender como a falta de dinheiro bloqueia os neurônios); eis que surge a mais nova confirmação da minha insignificância: conheci pessoalmente o Imortal. E pior, convivo diariamente com eles: com o Imortal e com a minha insignificância.
O Imortal
Ele parece homem comum. Usa camisa e sapatos, as vezes vai ao banheiro, usa o computador, escreve e-mails, usa as chaves para entrar e sair da sala; como todos nós, míseros mortais que circulamos no mesmo espaço que Ele. Quando me disseram que Ele seria meu chefe tive um misto de orgulho e medo. O que vou dizer quando estiver frente a frente com um Imortal? Treinei alguns dias diante do espelho, mas nada parecia adequado para o primeiro confronto. Seria no elevador, na biblioteca, ou na cafeteria? O que importa. Alguma coisa que preste teria que sair desta cachola. No fundo, sabia que o dia chegaria quando eu menos esperasse. Esse dia foi hoje.
O confronto
Tínhamos uma reunião onde então eu seria apresentada a Ele e aos outros professores mais antigos da faculdade. A reunião seria na sala do departamento, onde um grupo de quize professores divide o mesmo computador. O encontro era as cinco da tarde, mas a incorrigível adiantadinha chegou cedo, cheia de ansiedade. Sala vazia e o computador ali, dando sopa. Nunca consigo ler meus e-mails na faculdade, hoje era a grande chance. De repente um barulhinho de chave na porta e eis que surge Ele: o Imortal.
E agora? Fiquei entre um singelo “olá” e um pedido de autógrafo. Acabou que fiquei muda e ele iniciou o diálogo. “Boa tarde, tudo bem?”. Ãh, cuma? Comigo? “Sim, tudo bem Professor”. E virei rapidinho para a tela do computador. Imagina incomodá-lo com qualquer outra pergunta ou comentário. Até mesmo um olhar era muito perigoso naquele momento. Outro dia li em uma dessas revistas de fofoca uma entrevista de um artista famoso onde ele dizia que, a melhor reação de um fã é quando ele finge que não viu o seu ídolo. Será que li isto mesmo? Já nem coordeno mais as idéias. Se não li inventei agora e serve: finge que não viu, que está tudo normal, tri normal, super-hiper normal.
Fiquei observando Ele através do reflexo da tela. Isso mesmo, não te mexe, fica aí vendo teus e-mails e não olha para trás, pensei eu. O prédio pode explodir, o alarme de incêndio tocar, dor de barriga, enchente, temporal; nada é motivo para tu te levantares desta cadeira. Tu vais ficar aí bem quietinha, muda, calada, e deixa o Imortal à vontade na sala três por quatro. E se ele falar comigo? Responde o essencial, só o essencial.
Ele andou de um lado para o outro, sentou na cadeira, levantou, serviu-se de água, voltou a sentar, levantou novamente. Eu ali, dura, firme, suor escorrendo na face... Mais uma vez Ele levanta, parece inquieto e me olha. Eu estava de costas é claro. Mas vi tudo pela tela do computador. E agora? Fingi que não vi, como mandava a revista. Nada de histeria, sorrisinho, gente famosa odeia essas puxa-saquices. Fiquei ali grudada no computador. Nada me tira daqui! Nada, nem terremoto.
O tempo passava e nada do Imortal sair da sala. E nada dos mortais para a tal reunião. Ele continuava no tal senta e levanta e eu ali parecendo estátua. Olhei no relógio e já se passavam quinze minutos daquela encenação ridícula. Até que o “tico e o teco” resolveram voltar a funcionar. Levantei vagarosamente da cadeira, tímida, com um sorriso contido, segurando a saia, olhei para Ele e perguntei: “O senhor deseja alguma coisa Professor Scliar? Ainda faltam uns minutinhos para a nossa reunião, o senhor quer um cafezinho, uma água?”. Ele, muito simpático respondeu: “Não querida, eu só queria ver meus e-mails. Já terminaste aí com o computador?”.
sábado, dezembro 03, 2005
Canção do Amor Imprevisto
Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E minha poesia é um vicio triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com tua boca fresca de madrugada,
Com teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita...
A súbita alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos!
(Mário Quintana)
sexta-feira, dezembro 02, 2005
Outros Tempos
Esta é uma crônica repetida. Não que eu já a tenha publicado anteriormente, mas é um assunto do qual muitos – melhor, quase todos – cronistas já trataram. Por isso não é original. É que é um assunto universal, e muitos outros já trataram dele com mais brilhantismo do que farei, mas não estou nem aí (esse é o momento em que faço expressão de desdém e boto a língua para o monitor). Espero que aquele papo de que a Microsoft monitora nossas vidas o tempo todo seja só paranóia. Vou falar de saudosismo e da passagem do tempo.
Há algum tempo, um grande amigo meu portador de uma mente brilhante, Otávio Costa dos Santos – o Radica - em meio a uma conversa nossa, disse que um sinal de que se está ficando velho é quando começamos a dizer ‘eu sou do tempo...’. E completou: “Eu sou do tempo do Eskibon de caixinha”. Eu também sou.
Pode parecer que não é importante se o Eskibon vem na caixinha ou naquele papel-plástico sei lá de que é feito, mas é. Há quanto tempo atrás vinha uma caixinha ao invés de um papel? A pergunta é ‘quem éramos nós quando o Eskibon vinha numa caixinha’? Quais eram os nossos sonhos, nossas aspirações mais profundas? Será que se perderam junto com a caixinha desse sorvete que pode ser considerado uns ícones de uma geração?
O Eskibon de caixinha é de um tempo bem posterior aquele em que se amarrava cachorro com lingüiça. Também é bem mais recente que o ‘tempo do Epa'. É de um tempo em que se algo era inaceitável, era ‘o fim da várzea’. Mas o fim da várzea era apenas o começo da picada, que – se chegássemos ao seu o fim – aí não restavam mais alternativas mesmo. Acho que era um tempo em que jogávamos bola na calçada sem medo de ter a mesma roubada ou ser seqüestrado. E brincávamos de esconder na rua de noite, e não nos escondíamos em casa após o toque de recolher informal, assustados.
Que saudades do Eskibon de caixinha.
Há algum tempo, um grande amigo meu portador de uma mente brilhante, Otávio Costa dos Santos – o Radica - em meio a uma conversa nossa, disse que um sinal de que se está ficando velho é quando começamos a dizer ‘eu sou do tempo...’. E completou: “Eu sou do tempo do Eskibon de caixinha”. Eu também sou.
Pode parecer que não é importante se o Eskibon vem na caixinha ou naquele papel-plástico sei lá de que é feito, mas é. Há quanto tempo atrás vinha uma caixinha ao invés de um papel? A pergunta é ‘quem éramos nós quando o Eskibon vinha numa caixinha’? Quais eram os nossos sonhos, nossas aspirações mais profundas? Será que se perderam junto com a caixinha desse sorvete que pode ser considerado uns ícones de uma geração?
O Eskibon de caixinha é de um tempo bem posterior aquele em que se amarrava cachorro com lingüiça. Também é bem mais recente que o ‘tempo do Epa'. É de um tempo em que se algo era inaceitável, era ‘o fim da várzea’. Mas o fim da várzea era apenas o começo da picada, que – se chegássemos ao seu o fim – aí não restavam mais alternativas mesmo. Acho que era um tempo em que jogávamos bola na calçada sem medo de ter a mesma roubada ou ser seqüestrado. E brincávamos de esconder na rua de noite, e não nos escondíamos em casa após o toque de recolher informal, assustados.
Que saudades do Eskibon de caixinha.
quinta-feira, dezembro 01, 2005
Primeiro de Dezembro
Dia Mundial 2005 - Aids e Racismo. O Brasil tem que viver sem preconceito.
O Dia Mundial de Luta Contra a Aids deste ano tem como tema no Brasil a aids e o racismo. Este tema foi escolhido partindo da perspectiva de que a população negra nunca foi alvo de campanhas de prevenção e ela representa 47,3% da população brasileira, segundo o IBGE. Essa representatividade aumenta quando verificamos que ela representa aproximadamente 65% da população de baixa renda.
No Brasil, apesar da tendência a estabilização da epidemia, os casos de aids vêm aumentando entre a população mais pobre, onde a população negra encontra-se em maior proporção. Daí a importância desta população como protagonista do Dia Mundial de Luta Contra a Aids de 2005.
O 1° de dezembro, Dia Mundial de Luta Contra a Aids, é o momento político que irá colocar o tema racismo, e suas conseqüências para os portadores de HIV e para a população negra, na agenda da sociedade.
Pensemos a respeito.
Mais sobre o assunto aqui.
PASSAGEM DO TEMPO: SETE.
Até.
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