Há um tempo atrás, lá de Toronto, eu escrevi que - como todo porto-alegrense que se preze - eu achava o pôr-do-sol da minha cidade o mais bonito do mundo até testemunhar alguns de Toronto.
Não é que Porto Alegre se ofendeu?
Tem procurado, diariamente, provar que eu estava errado.
Sorte minha...
Até.
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
segunda-feira, julho 31, 2006
domingo, julho 30, 2006
A Sopa 06/02
Um mês.
Estou de volta há um mês, apenas um mês, mas parece que faz muito tempo que saí de Toronto. É estranho porque a chegada foi natural, sem impactos, foi a vida retornando ao seu andar natural, como se eu tivesse passado um ou dois dias fora, e não dois anos. Estranho, insisto, e já falei disso, porque não houve um fechamento, um encerramento, saí de Toronto como se fosse voltar em poucos dias.
Com a correria do dia-a-dia, do tentar colocar o barco em movimento novamente, aquele trabalho braçal de levantar a âncora, subir primeiro a vela grande e depois a genoa, caçar os cabos, deixar o vento fazer seu trabalho e acertar o rumo, talvez cambando uma ou outra vez até deixar a proa rumo ao destino escolhido, em meio a todo esse trabalho, nem tive tempo de sentir falta de lá, da cidade. Até que vi umas fotos de Toronto e, admito, confesso, senti saudades. Mas uma sensação boa, de lembrar dos amigos (da Stella Artois das sextas-feiras de verão), da cidade em si, de um tempo bom. E fiquei feliz por isso, os amigos, os laços criados. Esse é o termômetro que uso para avaliar se tenho andado pelo caminho certo pela vida: a minha relação com as pessoas.
Um mês, pouco tempo. Ainda não consegui rever a maioria dos amigos daqui, tenho muitos encontros agendados, muitas histórias para contar e colocar em dia. Ainda estou voltando.
Porque são várias as voltas, os retornos.
Percebi isso pouco tempo depois de chegar. O vôo da GOL que me levou de Guarulhos até o Aeroporto Salgado Filho, onde me esperavam a Jacque, os meus pais e a minha sogra, foi a primeira volta, a física, a oficial. Desde então, a cada reencontro com um amigo, com um lugar de Porto Alegre, me sinto voltando mais uma vez. E é uma sensação boa.
Como foi na semana passada, terça-feira dia 18, quando fui ao Sarau Elétrico, em seu sétimo aniversário. O Sarau Elétrico é isso mesmo, um sarau literário que ocorre toda terça-feira no bar Ocidente, na Avenida Osvaldo Aranha, bairro Bom-fim, em frente ao Parque Farroupilha (Parque da Redenção). Mais Porto Alegre impossível. Pois bem, toda terça-feira, comandado por uma radialista, por um professor de literatura e escritor e por um professor de português com grande domínio de mitologia grega, são lidos trechos de livros e discutidos autores os mais variados. Logo após a parte literária, sempre tem um convidado que faz uma apresentação musical.
No dia em questão (até escrevi no blog que pretendia ir), o sétimo aniversário, o convidado especial foi o músico e escritor Vítor Ramil, e os autores foram Jorge Luís Borges e o próprio Vítor, cujo livro ‘Satolep’ deve ser lançado ano que vem. Essa parte foi muito boa, mas confesso que não foi a melhor (na minha modesta opinião). A “canja” musical do Vítor Ramil foi o ápice do evento.
Antes de mais nada, estava completamente lotado. Ficamos, o Magno e eu, de pé no mezanino. Três horas de pé, primeiro ouvindo leituras do Borges e depois ouvindo o show. Valeu tudo, mesmo com o cheiro de cigarro que tornava o ar denso, quase irrespirável. Após a leitura de trechos de textos do Borges - em português e espanhol - e do Vítor Ramil, este tocou alguns poemas do próprio Borges que ele musicou. Quis encerrar, mas todo o público pediu que tocasse mais. E ele tocou.
Já na saída, quando íamos embora, comentei com o Magno a minha teoria de que a realidade é uma coisa individual, única. Nossas realidades podem até se encontrar, mas, se em algumas situações a minha realidade não interfere na de ninguém mais, eu posso acreditar no que eu quiser. Por isso, não tenho dúvidas que aquele evento foi para comemorar a minha volta ao Brasil. Porto Alegre à noite, temperatura (aquele dia) de uns 18ºC, era possível ver a lua e o parque pela janela ao fundo do pequeno palco, e ele tocando ‘Loucos de Cara’, ‘Ramilonga’, Deixando o Pago’ e terminando a noite com ‘Estrela, Estrela’.
Valeu, e muito.
#
Hoje se comemora o centenário do nascimento do grande poeta Mário Quintana. Celebremos, pois.
O Mapa
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(E nem que fosse o meu corpo!)
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E ha uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
Até.
Estou de volta há um mês, apenas um mês, mas parece que faz muito tempo que saí de Toronto. É estranho porque a chegada foi natural, sem impactos, foi a vida retornando ao seu andar natural, como se eu tivesse passado um ou dois dias fora, e não dois anos. Estranho, insisto, e já falei disso, porque não houve um fechamento, um encerramento, saí de Toronto como se fosse voltar em poucos dias.
Com a correria do dia-a-dia, do tentar colocar o barco em movimento novamente, aquele trabalho braçal de levantar a âncora, subir primeiro a vela grande e depois a genoa, caçar os cabos, deixar o vento fazer seu trabalho e acertar o rumo, talvez cambando uma ou outra vez até deixar a proa rumo ao destino escolhido, em meio a todo esse trabalho, nem tive tempo de sentir falta de lá, da cidade. Até que vi umas fotos de Toronto e, admito, confesso, senti saudades. Mas uma sensação boa, de lembrar dos amigos (da Stella Artois das sextas-feiras de verão), da cidade em si, de um tempo bom. E fiquei feliz por isso, os amigos, os laços criados. Esse é o termômetro que uso para avaliar se tenho andado pelo caminho certo pela vida: a minha relação com as pessoas.
Um mês, pouco tempo. Ainda não consegui rever a maioria dos amigos daqui, tenho muitos encontros agendados, muitas histórias para contar e colocar em dia. Ainda estou voltando.
Porque são várias as voltas, os retornos.
Percebi isso pouco tempo depois de chegar. O vôo da GOL que me levou de Guarulhos até o Aeroporto Salgado Filho, onde me esperavam a Jacque, os meus pais e a minha sogra, foi a primeira volta, a física, a oficial. Desde então, a cada reencontro com um amigo, com um lugar de Porto Alegre, me sinto voltando mais uma vez. E é uma sensação boa.
Como foi na semana passada, terça-feira dia 18, quando fui ao Sarau Elétrico, em seu sétimo aniversário. O Sarau Elétrico é isso mesmo, um sarau literário que ocorre toda terça-feira no bar Ocidente, na Avenida Osvaldo Aranha, bairro Bom-fim, em frente ao Parque Farroupilha (Parque da Redenção). Mais Porto Alegre impossível. Pois bem, toda terça-feira, comandado por uma radialista, por um professor de literatura e escritor e por um professor de português com grande domínio de mitologia grega, são lidos trechos de livros e discutidos autores os mais variados. Logo após a parte literária, sempre tem um convidado que faz uma apresentação musical.
No dia em questão (até escrevi no blog que pretendia ir), o sétimo aniversário, o convidado especial foi o músico e escritor Vítor Ramil, e os autores foram Jorge Luís Borges e o próprio Vítor, cujo livro ‘Satolep’ deve ser lançado ano que vem. Essa parte foi muito boa, mas confesso que não foi a melhor (na minha modesta opinião). A “canja” musical do Vítor Ramil foi o ápice do evento.
Antes de mais nada, estava completamente lotado. Ficamos, o Magno e eu, de pé no mezanino. Três horas de pé, primeiro ouvindo leituras do Borges e depois ouvindo o show. Valeu tudo, mesmo com o cheiro de cigarro que tornava o ar denso, quase irrespirável. Após a leitura de trechos de textos do Borges - em português e espanhol - e do Vítor Ramil, este tocou alguns poemas do próprio Borges que ele musicou. Quis encerrar, mas todo o público pediu que tocasse mais. E ele tocou.
Já na saída, quando íamos embora, comentei com o Magno a minha teoria de que a realidade é uma coisa individual, única. Nossas realidades podem até se encontrar, mas, se em algumas situações a minha realidade não interfere na de ninguém mais, eu posso acreditar no que eu quiser. Por isso, não tenho dúvidas que aquele evento foi para comemorar a minha volta ao Brasil. Porto Alegre à noite, temperatura (aquele dia) de uns 18ºC, era possível ver a lua e o parque pela janela ao fundo do pequeno palco, e ele tocando ‘Loucos de Cara’, ‘Ramilonga’, Deixando o Pago’ e terminando a noite com ‘Estrela, Estrela’.
Valeu, e muito.
Hoje se comemora o centenário do nascimento do grande poeta Mário Quintana. Celebremos, pois.
O Mapa
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(E nem que fosse o meu corpo!)
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E ha uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
Até.
sábado, julho 29, 2006
Normal
Hoje foi o primeiro sábado de normalidade desde a volta.
Depois da semana de trabalho, que terminou às 20h de sexta-feira, o sábado amanheceu como o primeiro de inverno desde que estou aqui. Nuvens pesadas, temperatura abaixo dos 10ºC quando acordei cedo para tomar chimarrão, ler o jornal do dia e ouvir umas milongas. Até aqui, não havia feito frio, mesmo sendo julho, mas em nenhum momento havia me queixado do fato.
Pela manhã ainda, pude estudar alguns assuntos de trabalho, antes de sair para almoçar com os sogros na tradicional churrascaria de muitos sábados.
Tudo volta ao normal.
Já saiu o alvará do novo consultório, chegou o carro e o avental com o meu nome bordado, ‘Dr Marcelo Tadday Rodrigues – Pneumologista’.
Ao trabalho, então.
Até
Depois da semana de trabalho, que terminou às 20h de sexta-feira, o sábado amanheceu como o primeiro de inverno desde que estou aqui. Nuvens pesadas, temperatura abaixo dos 10ºC quando acordei cedo para tomar chimarrão, ler o jornal do dia e ouvir umas milongas. Até aqui, não havia feito frio, mesmo sendo julho, mas em nenhum momento havia me queixado do fato.
Pela manhã ainda, pude estudar alguns assuntos de trabalho, antes de sair para almoçar com os sogros na tradicional churrascaria de muitos sábados.
Tudo volta ao normal.
Já saiu o alvará do novo consultório, chegou o carro e o avental com o meu nome bordado, ‘Dr Marcelo Tadday Rodrigues – Pneumologista’.
Ao trabalho, então.
Até
quinta-feira, julho 27, 2006
Depois
Foram dois dias de muita chuva, hoje principalmente, mas chego em casa e, da janela lateral, vejo o rio e o sol. Por entre as folhas da cortina, capturo um pouco do final do dia, de sua luz brilhante.
O tempo tem voado, e as obrigações da nova rotina que ainda não se estabeleceu completamente me tomam o dia e, quando percebo, é hora de começar um novo, e depois mais um, e vai-se a semana. Não me queixo, contudo, pois tudo vai um pouco melhor do que imaginava, apesar de nada ser exatamente como imaginamos ou – nesse caso em especial – nem temos como imaginar. Sei lá, tudo está bem, fiquem tranqüilos, caso essa seja a angústia de alguém perdido por aí que não ouviu ou viu que fui, voltei e que tudo mudou.
Ou não.
Até.
segunda-feira, julho 24, 2006
domingo, julho 23, 2006
A Sopa 06/01
Cinco anos.
Esse é o tempo em que venho escrevendo ‘A Sopa’, no início enviando-a por e-mail e depois simultaneamente com o blog. Muito tempo, pouco tempo, tudo tão relativo, não? Já fui para o exílio, e agora vivo as diferentes voltas.
#
Continuo aprendendo, como sempre. Um dos mais recentes, e em realidade não tanto aprendizado, mas antes uma constatação, é a de que sou chato. Provavelmente fui o último a me dar conta, eu sei, mas não me importo. O fato é que sou chato, e praticamente me orgulho disso. Confesso, contudo, que estou tentando uma forma de driblar, de contornar essa característica que tem uma razão de ser.
Tudo começou quando percebi que era prolixo.
Quando escrevo um texto, por exemplo, tenho um estilo (se é que pode se chamar assim) conciso. Apesar de gostar e eventualmente me aventurar por frases longas, com várias orações, várias idéias fluindo numa seqüência de pensamentos, e gostar dos longos parágrafos quase sem pontos, apenas vírgulas separando os pensamentos, diálogos e impressões, na maioria das vezes os meus textos se caracterizam por frases curtas, diretas. Contrastando com isso, quando converso e conto uma história, aí sim, sou bem prolixo.
Porque toda história tem uma história que a antecedeu e que vai levar à seguinte e assim sucessivamente quase ao infinito. Qualquer história que se conte – e contar histórias é um prazer que tenho – tem uma pré-história, que na maioria das vezes é fundamental para o entendimento da mesma. Mas a pré-história tem, ela própria, uma pré-história, e assim até o fim (ou início) dos tempos. Quase como uma maldição, saber disso me impede de contar qualquer história, por menos importante que seja, sem que antes eu me sinta obrigado a relatar os acontecimentos que precederam essa história, que levaram a ela. Dessa forma, qualquer história que conto é longa, o que me torna chato.
Talvez essa seja a razão de eu escrever essa Sopa há cinco anos: eu estou indo e vindo no tempo, contando detalhes significativos – ou não – que tentam situar, auxiliar o leitor para que ele possa entender essa história que tento contar, a minha. Mesmo quando escrevo ficção, e faz tempo que não o faço, estou contando – de alguma forma – a minha própria história. Ou, melhor, a minha ínfima contribuição para a história do mundo. Para deixar de parecer confuso, resolvi recomeçar a contar essa história desde o início.
“No princípio, era o Verbo...”
Até.
Esse é o tempo em que venho escrevendo ‘A Sopa’, no início enviando-a por e-mail e depois simultaneamente com o blog. Muito tempo, pouco tempo, tudo tão relativo, não? Já fui para o exílio, e agora vivo as diferentes voltas.
#
Continuo aprendendo, como sempre. Um dos mais recentes, e em realidade não tanto aprendizado, mas antes uma constatação, é a de que sou chato. Provavelmente fui o último a me dar conta, eu sei, mas não me importo. O fato é que sou chato, e praticamente me orgulho disso. Confesso, contudo, que estou tentando uma forma de driblar, de contornar essa característica que tem uma razão de ser.
Tudo começou quando percebi que era prolixo.
Quando escrevo um texto, por exemplo, tenho um estilo (se é que pode se chamar assim) conciso. Apesar de gostar e eventualmente me aventurar por frases longas, com várias orações, várias idéias fluindo numa seqüência de pensamentos, e gostar dos longos parágrafos quase sem pontos, apenas vírgulas separando os pensamentos, diálogos e impressões, na maioria das vezes os meus textos se caracterizam por frases curtas, diretas. Contrastando com isso, quando converso e conto uma história, aí sim, sou bem prolixo.
Porque toda história tem uma história que a antecedeu e que vai levar à seguinte e assim sucessivamente quase ao infinito. Qualquer história que se conte – e contar histórias é um prazer que tenho – tem uma pré-história, que na maioria das vezes é fundamental para o entendimento da mesma. Mas a pré-história tem, ela própria, uma pré-história, e assim até o fim (ou início) dos tempos. Quase como uma maldição, saber disso me impede de contar qualquer história, por menos importante que seja, sem que antes eu me sinta obrigado a relatar os acontecimentos que precederam essa história, que levaram a ela. Dessa forma, qualquer história que conto é longa, o que me torna chato.
Talvez essa seja a razão de eu escrever essa Sopa há cinco anos: eu estou indo e vindo no tempo, contando detalhes significativos – ou não – que tentam situar, auxiliar o leitor para que ele possa entender essa história que tento contar, a minha. Mesmo quando escrevo ficção, e faz tempo que não o faço, estou contando – de alguma forma – a minha própria história. Ou, melhor, a minha ínfima contribuição para a história do mundo. Para deixar de parecer confuso, resolvi recomeçar a contar essa história desde o início.
“No princípio, era o Verbo...”
Até.
sábado, julho 22, 2006
Liberdade
Existe um conhecido e batido, mas verdadeiro, dito popular que afirma que a liberdade de um termina quando começa a liberdade do outro. Ou seja, o direito de um indivíduo não pode (não poderia, não deveria) invadir o direito de outro. Simples e justa afirmação. Mas – se preciso escrever isso – é porque isso não acontece.
Antes de qualquer coisa, acho ridículo, de última, um determinado tipo de visão de mundo que se resume a uma frase, dita por muitos como se fosse uma verdade ou, mais, uma sentença: “isso é coisa de brasileiro”. Existem muitas situações em que se afirma isso, normalmente em tom pejorativo, e na maioria delas eu não me enquadro. E daí? Daí que sou brasileiro, e tal atitude não faz parte do rol das minhas atitudes. Mais, o fato de eu (e qualquer um) ser brasileiro não me torna melhor nem pior que ninguém. Para terminar esse preâmbulo, última premissa: não acho que nada, só porque vem do exterior é melhor do que algo que é daqui. Se determinado produto (ou idéia, ou seja lá o que for) for o melhor, não interessa sua origem. Pronto, vamos ao que interessa.
Quando cheguei em Toronto, dois anos atrás, uma das primeiras coisas que me chamou à atenção foi o fato de não ser permitido fumar em recintos fechados, como bares e restaurantes. Se quisesse fumar, que fosse para a rua, ou ficasse na área externa. Perfeito. Não precisei nunca tomar banho na volta de uma saída apenas para tirar o fedor de cigarro que fica impregnado, como já havia acontecido muitas vezes no passado, aqui no Brasil.
Saltemos no tempo, e caímos em Porto Alegre em 2006. Muito recentemente, coisa de uma semana a dez dias, foi sancionada a lei que proíbe o fumo em recintos fechados do tipo restaurantes, e casas noturnas. Aplausos para a medida que não tem o rigor da lei em vigor na província de Ontário, Canadá, mas que representa um começo. Qual não é minha surpresa ao ler no jornal de hoje, sábado (que por sinal está com temperatura agradável e com sol, como todos os sábados deveriam ser) que a prefeitura de Porto Alegre e os bares estabeleceram uma trégua e não multará os estabelecimentos que não respeitarem a lei. Já é um absurdo, mas pior foi a declaração do gerente de um boteco:
É hora dos ‘borrachos’, fumantes e poetas se unirem contra essa lei que é injusta, porque não respeita a individualidade. Como posso chegar para um cliente e mandá-lo fumar na rua? Se ele sair, nunca mais volta”.
Comecemos do fim, apenas para deixar a irritação e a indignação progredirem lentamente. Não é o dono do bar quem vai mandar ele sair. É a lei. Não pode, não pode. Não tem o que discutir. Agora, então, o ponto central da discussão: o não respeito à individualidade.
E a minha (e de todos os não-fumantes do mundo) individualidade, onde é que fica? E o meu direito de respirar um ar sem a fumaça do cigarro que o imbecil resolve fumar do meu lado num bar? Por quantos anos estivemos expostos ao mau cheiro que esses boçais exalam, sem se preocupar com os outros?
Quer fumar? Vai para bem longe de quem não fuma. Na condição de cidadão, tenho o direito de ir a um bar, restaurante, ou onde quer que seja e não ser obrigado a “fumar” junto com um idiota que não se toca. Quer fumar, vai pra rua e respeita os outros. Por outro lado, como médico e pneumologista, tenho outras mil razões para que as pessoas não fumem, mas falo aqui como cidadão.
É isso.
Até.
Antes de qualquer coisa, acho ridículo, de última, um determinado tipo de visão de mundo que se resume a uma frase, dita por muitos como se fosse uma verdade ou, mais, uma sentença: “isso é coisa de brasileiro”. Existem muitas situações em que se afirma isso, normalmente em tom pejorativo, e na maioria delas eu não me enquadro. E daí? Daí que sou brasileiro, e tal atitude não faz parte do rol das minhas atitudes. Mais, o fato de eu (e qualquer um) ser brasileiro não me torna melhor nem pior que ninguém. Para terminar esse preâmbulo, última premissa: não acho que nada, só porque vem do exterior é melhor do que algo que é daqui. Se determinado produto (ou idéia, ou seja lá o que for) for o melhor, não interessa sua origem. Pronto, vamos ao que interessa.
Quando cheguei em Toronto, dois anos atrás, uma das primeiras coisas que me chamou à atenção foi o fato de não ser permitido fumar em recintos fechados, como bares e restaurantes. Se quisesse fumar, que fosse para a rua, ou ficasse na área externa. Perfeito. Não precisei nunca tomar banho na volta de uma saída apenas para tirar o fedor de cigarro que fica impregnado, como já havia acontecido muitas vezes no passado, aqui no Brasil.
Saltemos no tempo, e caímos em Porto Alegre em 2006. Muito recentemente, coisa de uma semana a dez dias, foi sancionada a lei que proíbe o fumo em recintos fechados do tipo restaurantes, e casas noturnas. Aplausos para a medida que não tem o rigor da lei em vigor na província de Ontário, Canadá, mas que representa um começo. Qual não é minha surpresa ao ler no jornal de hoje, sábado (que por sinal está com temperatura agradável e com sol, como todos os sábados deveriam ser) que a prefeitura de Porto Alegre e os bares estabeleceram uma trégua e não multará os estabelecimentos que não respeitarem a lei. Já é um absurdo, mas pior foi a declaração do gerente de um boteco:
É hora dos ‘borrachos’, fumantes e poetas se unirem contra essa lei que é injusta, porque não respeita a individualidade. Como posso chegar para um cliente e mandá-lo fumar na rua? Se ele sair, nunca mais volta”.
Comecemos do fim, apenas para deixar a irritação e a indignação progredirem lentamente. Não é o dono do bar quem vai mandar ele sair. É a lei. Não pode, não pode. Não tem o que discutir. Agora, então, o ponto central da discussão: o não respeito à individualidade.
E a minha (e de todos os não-fumantes do mundo) individualidade, onde é que fica? E o meu direito de respirar um ar sem a fumaça do cigarro que o imbecil resolve fumar do meu lado num bar? Por quantos anos estivemos expostos ao mau cheiro que esses boçais exalam, sem se preocupar com os outros?
Quer fumar? Vai para bem longe de quem não fuma. Na condição de cidadão, tenho o direito de ir a um bar, restaurante, ou onde quer que seja e não ser obrigado a “fumar” junto com um idiota que não se toca. Quer fumar, vai pra rua e respeita os outros. Por outro lado, como médico e pneumologista, tenho outras mil razões para que as pessoas não fumem, mas falo aqui como cidadão.
É isso.
Até.
sexta-feira, julho 21, 2006
Teatro do Absurdo
Em casa, hoje à tarde, já saindo – atrasado – para um compromisso de final de tarde. Futebol, mas não vem ao caso. Aliás, essa informação é completamente dispensável para o resto da história. Não, vai até atrapalhá-la. Esqueçam o que eu ia fazer.
Pois bem, estou eu pronto para sair quando toca o telefone. Atendo (versão MUITO resumida do diálogo, e os números foram trocados por letras por questão de segurança):
- Pronto?
- Com quem falo? – diz a voz de uma senhora certamente com mais de setenta anos.
- Com quem quer falar? - retruco.
- Marcelo.
- Sou eu mesmo. Pois não. – digo em tom mais simpático, atencioso (vai que fosse paciente...).
- Só um minuto, - ela diz e passa o telefone para um senhor que, pela voz, certamente já ultrapassou os oitenta anos.
- Boa tarde – diz a voz masculina – o senhor é Marcelo Pianca Rodrigues?
- Não – respondo – me chamo Marcelo Tadday Rodrigues. Por quê?
- Porque recebi pelo correio uma conta sua da Caixa Econômica e, sem perceber, paguei a mesma...
- Estranho, eu não trabalho com a Caixa Econômica.
- Não, quis dizer que a conta é da EMBRATEL.
- Ah, bom, mesmo assim é estranho. Qual o endereço aí?
- André Puente, XXX, apartamento xxx.
- Muito estranho mesmo, afinal moro na André Puente YYY, apartamento zxx.
- Pois é, mas eu não me importo de ter pago, foi um valor pequeno e só gostaria que o senhor transferisse para o seu endereço.
- Se a conta é minha, faço questão de pagar. O senhor tem como deixar a conta com o porteiro do prédio para eu dar uma olhada?
- Certamente, mas eu poderia fazer uma cópia e deixar a cópia.
- Para mim é indiferente, só quero vê-la para poder pagá-la ao senhor. Mas afinal, qual o telefone mesmo?
- XXQQ-VVYG
- É o meu telefone mesmo. Estranho, realmente estranho.
- Mas o senhor não poderia passar aqui no meu prédio para pegar a conta? É que eu tenho ácido úrico e muita dor na perna. Além disso, o local para fazer a fotocópia é longe...
- Certo, mas hoje não posso.
- Nem mais tarde?
- Nem mais tarde. Só para confirmar: em nome de quem está a conta?
- Marcelo Pianca Rodrigues.
- Pois é. Me chamo Marcelo Tadday Rodrigues, como já lhe falei. Apesar de o primeiro e o último nomes serem iguais ao meu, esse não é o um nome. Qual o telefone mesmo?
- XXQQ-HBDQ.
- O meu é diferente. É XXQQ-VVYG. E o endereço?
- André Puente, XXX, apartamento xxx.
- Como lhe disse antes, não é o meu mesmo. Logo, o nome não é meu, o telefone não é meu e nem o endereço é o meu. Acho que não vou poder lhe ajudar... Aliás, como o senhor encontrou esse número que foi discado.
- Pelo guia telefônico, o nome é igual.
- O primeiro e o último nome são iguais, mas não sou eu.
- Certo, mas vou deixar com o porteiro do seu prédio a cópia do conta.
- O primeiro e o último nome são iguais, mas não sou eu, acho que não posso lhe ajudar.
- Mas vou deixar com o porteiro do seu prédio a cópia do conta.
- ...
Até.
Pois bem, estou eu pronto para sair quando toca o telefone. Atendo (versão MUITO resumida do diálogo, e os números foram trocados por letras por questão de segurança):
- Pronto?
- Com quem falo? – diz a voz de uma senhora certamente com mais de setenta anos.
- Com quem quer falar? - retruco.
- Marcelo.
- Sou eu mesmo. Pois não. – digo em tom mais simpático, atencioso (vai que fosse paciente...).
- Só um minuto, - ela diz e passa o telefone para um senhor que, pela voz, certamente já ultrapassou os oitenta anos.
- Boa tarde – diz a voz masculina – o senhor é Marcelo Pianca Rodrigues?
- Não – respondo – me chamo Marcelo Tadday Rodrigues. Por quê?
- Porque recebi pelo correio uma conta sua da Caixa Econômica e, sem perceber, paguei a mesma...
- Estranho, eu não trabalho com a Caixa Econômica.
- Não, quis dizer que a conta é da EMBRATEL.
- Ah, bom, mesmo assim é estranho. Qual o endereço aí?
- André Puente, XXX, apartamento xxx.
- Muito estranho mesmo, afinal moro na André Puente YYY, apartamento zxx.
- Pois é, mas eu não me importo de ter pago, foi um valor pequeno e só gostaria que o senhor transferisse para o seu endereço.
- Se a conta é minha, faço questão de pagar. O senhor tem como deixar a conta com o porteiro do prédio para eu dar uma olhada?
- Certamente, mas eu poderia fazer uma cópia e deixar a cópia.
- Para mim é indiferente, só quero vê-la para poder pagá-la ao senhor. Mas afinal, qual o telefone mesmo?
- XXQQ-VVYG
- É o meu telefone mesmo. Estranho, realmente estranho.
- Mas o senhor não poderia passar aqui no meu prédio para pegar a conta? É que eu tenho ácido úrico e muita dor na perna. Além disso, o local para fazer a fotocópia é longe...
- Certo, mas hoje não posso.
- Nem mais tarde?
- Nem mais tarde. Só para confirmar: em nome de quem está a conta?
- Marcelo Pianca Rodrigues.
- Pois é. Me chamo Marcelo Tadday Rodrigues, como já lhe falei. Apesar de o primeiro e o último nomes serem iguais ao meu, esse não é o um nome. Qual o telefone mesmo?
- XXQQ-HBDQ.
- O meu é diferente. É XXQQ-VVYG. E o endereço?
- André Puente, XXX, apartamento xxx.
- Como lhe disse antes, não é o meu mesmo. Logo, o nome não é meu, o telefone não é meu e nem o endereço é o meu. Acho que não vou poder lhe ajudar... Aliás, como o senhor encontrou esse número que foi discado.
- Pelo guia telefônico, o nome é igual.
- O primeiro e o último nome são iguais, mas não sou eu.
- Certo, mas vou deixar com o porteiro do seu prédio a cópia do conta.
- O primeiro e o último nome são iguais, mas não sou eu, acho que não posso lhe ajudar.
- Mas vou deixar com o porteiro do seu prédio a cópia do conta.
- ...
Até.
quarta-feira, julho 19, 2006
terça-feira, julho 18, 2006
Os Dias
Passam rápido.
Muita coisa para organizar, por enquanto pouco trabalho (não por opção...).
Em breve, tudo se ajeita (o que vai lentamente acontecendo, mas nada de inesperado, ou surpreendente, nisso).
Hoje tem Vítor Ramil no Sarau Elétrico, no Ocidente, que vai falar de Jorge Luís Borges. Ainda não sei se vou conseguir ir.
Até.
Muita coisa para organizar, por enquanto pouco trabalho (não por opção...).
Em breve, tudo se ajeita (o que vai lentamente acontecendo, mas nada de inesperado, ou surpreendente, nisso).
Hoje tem Vítor Ramil no Sarau Elétrico, no Ocidente, que vai falar de Jorge Luís Borges. Ainda não sei se vou conseguir ir.
Até.
domingo, julho 16, 2006
A Sopa 05/52
Desde que começamos a viajar e, mais, a criar nomes, slogans e até moletons para as viagens, todos esse “títulos”, ou lemas, sempre tiveram alguma motivação, podemos dizer, trágica, apesar de sempre o clima ter sido tranquilo e o bom humor uma constante. Por exemplo, a primeira foi chamada de “Perdidos na Espace”, uma referência óbvia ao clássico seriado de tevê dos anos setenta, num trocadilho com o nome do carro que alugamos. Até para viagens que não fizemos os criamos. O cruzeiro que desistimos de fazer se chamaria ‘Viagem ao Fundo do Mar’, e, o navio, apelidamos de ‘Titanic’. Mas não só isso.
Também estávamos preparados para qualquer tipo de problemas durante a viagem. Enquanto nos preparávamos para a travessia do litoral sul do Rio Grande do Sul, desde São José do Norte até a praia do Pinhal, que – por sinal – ainda não ocorreu (em breve, em breve), discutimos todas as possibilidades. Como iríamos (iremos) no inverno, sabíamos que poderíamos enfrentar condições adversas de tempo típicas do sul do Rio Grande do Sul, e tínhamos um plano de contigência para caso de algum de nós não agüentasse o esforço físico, ficasse doente ou caísse da bicicleta e quebrasse a perna, por exemplo. Já sabíamos o que fazer. Não poderia haver dúvidas nem vacilações.
Era o seguinte: caiu, não pode seguir adiante, azar. Fica ali. A expedição não pode parar nem ser atrasada. Pega as botas, o que tiver de aproveitável nos pertences do caído, e tchau. Acha cruel? Lamento, a vida não é justa.
Lembrei disso porque saímos para jantar, semana passada, o Paulo, a Kaká, a Jacque e eu, e discutimos uma idéia de viagem para o futuro, que envolveria – para chegar ao destino - um vôo por sobre a Cordilheira dos Andes. Evidentemente, a viagem se chamaria ‘Sobreviventes dos Andes’, e as discussões envolveram o que faríamos no caso de o avião cair, sobrevivermos à queda e sermos obrigados a aguardar o resgate por muitos dias nos destroços do avião. Primeira pergunta, óbvia: a perna de quem comeríamos primeiro, para sobreviver?
Discussões acaloradas, argumentos variados, “Eu sou mais novo, tenho mais vida pela frente”. Muitas risadas depois, não chegamos a nenhuma conclusão. Não era o objetivo mesmo.
Diversão, histórias para contar.
Até.
Também estávamos preparados para qualquer tipo de problemas durante a viagem. Enquanto nos preparávamos para a travessia do litoral sul do Rio Grande do Sul, desde São José do Norte até a praia do Pinhal, que – por sinal – ainda não ocorreu (em breve, em breve), discutimos todas as possibilidades. Como iríamos (iremos) no inverno, sabíamos que poderíamos enfrentar condições adversas de tempo típicas do sul do Rio Grande do Sul, e tínhamos um plano de contigência para caso de algum de nós não agüentasse o esforço físico, ficasse doente ou caísse da bicicleta e quebrasse a perna, por exemplo. Já sabíamos o que fazer. Não poderia haver dúvidas nem vacilações.
Era o seguinte: caiu, não pode seguir adiante, azar. Fica ali. A expedição não pode parar nem ser atrasada. Pega as botas, o que tiver de aproveitável nos pertences do caído, e tchau. Acha cruel? Lamento, a vida não é justa.
Lembrei disso porque saímos para jantar, semana passada, o Paulo, a Kaká, a Jacque e eu, e discutimos uma idéia de viagem para o futuro, que envolveria – para chegar ao destino - um vôo por sobre a Cordilheira dos Andes. Evidentemente, a viagem se chamaria ‘Sobreviventes dos Andes’, e as discussões envolveram o que faríamos no caso de o avião cair, sobrevivermos à queda e sermos obrigados a aguardar o resgate por muitos dias nos destroços do avião. Primeira pergunta, óbvia: a perna de quem comeríamos primeiro, para sobreviver?
Discussões acaloradas, argumentos variados, “Eu sou mais novo, tenho mais vida pela frente”. Muitas risadas depois, não chegamos a nenhuma conclusão. Não era o objetivo mesmo.
Diversão, histórias para contar.
Até.
sábado, julho 15, 2006
Pequenos Prazeres Matinais
Sábado.
Com extrema facilidade e gosto, retomo antigos hábitos e – por que não? – rotinas de antes do exílio. Até para provar a mim mesmo que nem tudo muda. Hoje, primeiro sábado em Porto Alegre desde a volta, percebi que o meu organismo já volta a funcionar como antes. Cedo, pouco depois das sete da manhã, já estava acordado.
Como na música, acordei mais cedo, tomei sozinho o chimarrão, lendo o jornal do dia, não mais on line, e ouvindo as milongas do Vítor, o caçula da talentosa família Ramil. O dia amanheceu nublado, com uma chuva intermitente que completou o quadro típico do inverno nos pampas, mesmo que a temperatura – em agradáveis 15ºC - não seja aquela de inverno de verdade.
Chove na tarde fria de Porto Alegre
Trago sozinho o verde do chimarrão
Olho o cotidiano, sei que vou embora
Nunca mais, nunca mais
Chega em ondas a música da cidade
Também eu me transformo numa canção
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Sobrevôo os telhados da Bela Vista
Na Chácara das Pedras vou me perder
Noites no Rio Branco, tardes no Bom Fim
Nunca mais, nunca mais
O trânsito em transe intenso antecipa a noite
Riscando estrelas no bronze do temporal
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
O tango dos guarda-chuvas na Praça XV
Confere elegância ao passo da multidão
Triste lambe-lambe, aquém e além do tempo
Nunca mais, nunca mais
Do alto da torre a água do rio é limpa
Guaíba deserto, barcos que não estão
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Ruas molhadas, ruas da flor lilás
Ruas de um anarquista noturno
Ruas do Armando, ruas do Quintana
Nunca mais, nunca mais
Do Alto da Bronze eu vou pra Cidade Baixa
Depois as estradas, praias e morros
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Vaga visão viajo e antevejo a inveja
De quem descobrir a forma com que me fui
Ares de milonga sobre Porto Alegre
Nada mais, nada mais
(‘Ramilonga’, Vítor Ramil)
Bom sábado.
Até.
Com extrema facilidade e gosto, retomo antigos hábitos e – por que não? – rotinas de antes do exílio. Até para provar a mim mesmo que nem tudo muda. Hoje, primeiro sábado em Porto Alegre desde a volta, percebi que o meu organismo já volta a funcionar como antes. Cedo, pouco depois das sete da manhã, já estava acordado.
Como na música, acordei mais cedo, tomei sozinho o chimarrão, lendo o jornal do dia, não mais on line, e ouvindo as milongas do Vítor, o caçula da talentosa família Ramil. O dia amanheceu nublado, com uma chuva intermitente que completou o quadro típico do inverno nos pampas, mesmo que a temperatura – em agradáveis 15ºC - não seja aquela de inverno de verdade.
Chove na tarde fria de Porto Alegre
Trago sozinho o verde do chimarrão
Olho o cotidiano, sei que vou embora
Nunca mais, nunca mais
Chega em ondas a música da cidade
Também eu me transformo numa canção
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Sobrevôo os telhados da Bela Vista
Na Chácara das Pedras vou me perder
Noites no Rio Branco, tardes no Bom Fim
Nunca mais, nunca mais
O trânsito em transe intenso antecipa a noite
Riscando estrelas no bronze do temporal
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
O tango dos guarda-chuvas na Praça XV
Confere elegância ao passo da multidão
Triste lambe-lambe, aquém e além do tempo
Nunca mais, nunca mais
Do alto da torre a água do rio é limpa
Guaíba deserto, barcos que não estão
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Ruas molhadas, ruas da flor lilás
Ruas de um anarquista noturno
Ruas do Armando, ruas do Quintana
Nunca mais, nunca mais
Do Alto da Bronze eu vou pra Cidade Baixa
Depois as estradas, praias e morros
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Vaga visão viajo e antevejo a inveja
De quem descobrir a forma com que me fui
Ares de milonga sobre Porto Alegre
Nada mais, nada mais
(‘Ramilonga’, Vítor Ramil)
Bom sábado.
Até.
sexta-feira, julho 14, 2006
Impressões
Se, por um lado, venho afirmando, desde que cheguei de volta do Canadá, que é como se eu nunca tivesse saído daqui, e ainda hoje procuro ter perto de mim lembranças (ou pequenos lembretes) de que esse período realmente existiu, não foi apenas uma noite dormida um pouco além do habitual com sonhos bem realistas, por outro noto mudanças, mesmo que sutis, no pequeno mundo em que vivo diariamente. Nem vale à pena citá-las, por sinal, pois esse não é o foco desse escrito não planejado, que vai se criando à medida que digito tecla após tecla, pensamentos sendo formulados e extraídos enquanto as letras vão formando palavras.
Mesmo depois de anos de reflexão e admiração, de espanto e susto, o tempo ainda me fascina, e já admito a possibilidade que esse vai ser o tema de meus pensamentos filosóficos até o fim de meus dias. A primeira constatação, no meu primeiro retorno para casa, lá no final de dois mil e quatro, foi de que o tempo, quando olhado em retrospectiva, passa muito rápido. Óbvia conclusão, todo mundo sabe disso, e eu sei também, sempre soube, mas provei (prova pessoal, egocêntrica) isso quando, após três meses de Canadá, voltei ao Brasil e me obriguei a usar uma camiseta com referências de lá para provar que esse fato havia ocorrido. Se ainda hoje o faço, naquele momento havia necessidade maior, evidentemente.
A volta, contudo, não é para o mesmo lugar de onde saí. Heráclito, vocês sabem, nenhum homem passa duas vezes pelo mesmo rio: já não é o mesmo rio, assim como não é o mesmo homem (essa segunda assertiva, apesar de verdadeira, não sei se está contida o enunciado original). Voltei outro para outro lugar. Quase uma realidade paralela (àquela que eu vivia antes de sair).
Continuando no rumo da filosofia, pergunto: o que é realidade, afinal?
Até.
Mesmo depois de anos de reflexão e admiração, de espanto e susto, o tempo ainda me fascina, e já admito a possibilidade que esse vai ser o tema de meus pensamentos filosóficos até o fim de meus dias. A primeira constatação, no meu primeiro retorno para casa, lá no final de dois mil e quatro, foi de que o tempo, quando olhado em retrospectiva, passa muito rápido. Óbvia conclusão, todo mundo sabe disso, e eu sei também, sempre soube, mas provei (prova pessoal, egocêntrica) isso quando, após três meses de Canadá, voltei ao Brasil e me obriguei a usar uma camiseta com referências de lá para provar que esse fato havia ocorrido. Se ainda hoje o faço, naquele momento havia necessidade maior, evidentemente.
A volta, contudo, não é para o mesmo lugar de onde saí. Heráclito, vocês sabem, nenhum homem passa duas vezes pelo mesmo rio: já não é o mesmo rio, assim como não é o mesmo homem (essa segunda assertiva, apesar de verdadeira, não sei se está contida o enunciado original). Voltei outro para outro lugar. Quase uma realidade paralela (àquela que eu vivia antes de sair).
Continuando no rumo da filosofia, pergunto: o que é realidade, afinal?
Até.
quarta-feira, julho 12, 2006
terça-feira, julho 11, 2006
Consumo
Como consumidores, todos sabemos que - eventualmente - um bom produto, uma boa oferta, "se atira" na nossa frente e não podemos evitá-la, certo? Certo. O único cuidado, ou situação, em que isso - a oferta, o produto - aparece assim, do nada, em sua frente e não é uma coisa boa, é quando o objeto em questão é um carro.
Um carro surgir do nada na nossa frente nos obriga a uma atitude: correr, para evitar o choque.
Ainda bem que não compramos ônibus...
Até.
Um carro surgir do nada na nossa frente nos obriga a uma atitude: correr, para evitar o choque.
Ainda bem que não compramos ônibus...
Até.
segunda-feira, julho 10, 2006
domingo, julho 09, 2006
A Sopa 05/51
O último dia da Copa do Mundo.
Domingo, e escrevo a Sopa nossa de toda semana ainda antes da final da Copa do Mundo, que, por sinal, não sei se vou assisitir. Não sei porque talvez eu esteja em trânsito entre Gramado e Porto Alegre, voltando desses últimos dias de descanso, lautas refeições e algum esporte. Para mim, ao menos, já que a Jacque trabalhou muito durante o congresso, do qual foi uma das organizadoras, e tudo o que ela queria (e merecia) agora era uns dias de folga para se recuperar.
Mas eu falava que talvez não assista à final da Copa do Mundo. Se o Brasil estivesse lá, é claro que daríamos um jeito de assistir. Não está, por obra do oba-oba que se transformou a seleção brasileira e seu técnico equivocado, para dizer o mínimo. Poderia estar lá? Claro que sim. Não está? Não é o fim do mundo. Era disso que queria falar: é só um esporte, ponto.
Durante a semana que passou, fomos obrigados a ler quinhentos mil comentários (mais ou menos) sobre as causas da derrota, revistas de fofocas estamparam fotos de celebridades chorando com a derrota, abraçadas à bandeira do Brasil, teorias da conspiração já surgiram para explicar o óbvio: perdemos porque a França jogou melhor. De novo, ponto. E o mais evidente, não souberam perder. Os jogadores, a comissão técnica e nem os torcedores. É um jogo, e como diz um velho e óbvio adágio do meio, “em futebol se ganha, se empata e se perde”. Mais, se não sabe porque perdeu, vai perder de novo.
O que mais me impressiona, contudo, é o drama que fazem pela derrota. Parece que é muito mais que uma competição esportiva: é uma guerra, e o que está em jogo é o orgulho nacional, a nossa auto-estima. Só isso mesmo para explicar o choro com a derrota da seleção. Ficar decepcionado, chateado, até frustrado, tudo bem. Mas chorar, ter raiva a ponto de ir ao aeroporto para vaiar, é além do limite. Claro, que se o efeito da derrota nos atinge em nossa auto-estima, até é possível entender essa reação, de choro e raiva.
Mas pobre de um povo que precisa do futebol para sentir-se bem.
Até.
Domingo, e escrevo a Sopa nossa de toda semana ainda antes da final da Copa do Mundo, que, por sinal, não sei se vou assisitir. Não sei porque talvez eu esteja em trânsito entre Gramado e Porto Alegre, voltando desses últimos dias de descanso, lautas refeições e algum esporte. Para mim, ao menos, já que a Jacque trabalhou muito durante o congresso, do qual foi uma das organizadoras, e tudo o que ela queria (e merecia) agora era uns dias de folga para se recuperar.
Mas eu falava que talvez não assista à final da Copa do Mundo. Se o Brasil estivesse lá, é claro que daríamos um jeito de assistir. Não está, por obra do oba-oba que se transformou a seleção brasileira e seu técnico equivocado, para dizer o mínimo. Poderia estar lá? Claro que sim. Não está? Não é o fim do mundo. Era disso que queria falar: é só um esporte, ponto.
Durante a semana que passou, fomos obrigados a ler quinhentos mil comentários (mais ou menos) sobre as causas da derrota, revistas de fofocas estamparam fotos de celebridades chorando com a derrota, abraçadas à bandeira do Brasil, teorias da conspiração já surgiram para explicar o óbvio: perdemos porque a França jogou melhor. De novo, ponto. E o mais evidente, não souberam perder. Os jogadores, a comissão técnica e nem os torcedores. É um jogo, e como diz um velho e óbvio adágio do meio, “em futebol se ganha, se empata e se perde”. Mais, se não sabe porque perdeu, vai perder de novo.
O que mais me impressiona, contudo, é o drama que fazem pela derrota. Parece que é muito mais que uma competição esportiva: é uma guerra, e o que está em jogo é o orgulho nacional, a nossa auto-estima. Só isso mesmo para explicar o choro com a derrota da seleção. Ficar decepcionado, chateado, até frustrado, tudo bem. Mas chorar, ter raiva a ponto de ir ao aeroporto para vaiar, é além do limite. Claro, que se o efeito da derrota nos atinge em nossa auto-estima, até é possível entender essa reação, de choro e raiva.
Mas pobre de um povo que precisa do futebol para sentir-se bem.
Até.
sábado, julho 08, 2006
O Primeiro Sábado
Depois do retorno ao Brasil.
Vivo uma fase de novas primeiras vezes. Primeira vez que encontro tal amigo, vou a determinado lugar, como determinada comida. É como se eu tivesse uma chance de redefinir preferências e gostos. Uma experiência nova e interessante, como têm sido as experiências novas vividas ao longo dos anos.
O sábado, e em especial o sábado de manhã, segundo antiga percepção minha, é o melhor momento da semana. As origens dessa percepção são antigas, remontam o tempo em que eu tinha aulas de educação física, durante o segundo grau (ou ensino médio, para os mais novos), no Parque Farroupilha (Redenção) justamente aos sábados de manhã. A caminhada no parque em direção ao complexo esportivo onde jogávamos sempre foi um momento agradável.
De volta ao Brasil há uma semana, chego então ao meu primeiro sábado de manhã. Ainda não é um sábado típico, porque não estou em casa desde quinta-feira, quando viemos para Gramado (de novo, por causa de uma Congresso que a Jacque está participando) e tenho aproveitado para reencontrar velhos conhecidos: a deliciosa comida da região, os jogos de tênis (não foi tão horrível quanto o esperado), o convívio de alguns amigos daqui.
As pessoas sempre perguntavam como seria minha readaptação ao Brasil e, no fundo, eu também me perguntava. Foi pouco tempo, claro, e não comecei a trabalhar full time, o que deve acontecer progressivamente nas próximas semanas (digo estou desempregado), mas até aqui foi como se eu nunca tivesse saído. Nada mudou, mas quase tudo mudou, ou mudei, não sei se me entendem…
Bom sábado a todos.
Até.
Vivo uma fase de novas primeiras vezes. Primeira vez que encontro tal amigo, vou a determinado lugar, como determinada comida. É como se eu tivesse uma chance de redefinir preferências e gostos. Uma experiência nova e interessante, como têm sido as experiências novas vividas ao longo dos anos.
O sábado, e em especial o sábado de manhã, segundo antiga percepção minha, é o melhor momento da semana. As origens dessa percepção são antigas, remontam o tempo em que eu tinha aulas de educação física, durante o segundo grau (ou ensino médio, para os mais novos), no Parque Farroupilha (Redenção) justamente aos sábados de manhã. A caminhada no parque em direção ao complexo esportivo onde jogávamos sempre foi um momento agradável.
De volta ao Brasil há uma semana, chego então ao meu primeiro sábado de manhã. Ainda não é um sábado típico, porque não estou em casa desde quinta-feira, quando viemos para Gramado (de novo, por causa de uma Congresso que a Jacque está participando) e tenho aproveitado para reencontrar velhos conhecidos: a deliciosa comida da região, os jogos de tênis (não foi tão horrível quanto o esperado), o convívio de alguns amigos daqui.
As pessoas sempre perguntavam como seria minha readaptação ao Brasil e, no fundo, eu também me perguntava. Foi pouco tempo, claro, e não comecei a trabalhar full time, o que deve acontecer progressivamente nas próximas semanas (digo estou desempregado), mas até aqui foi como se eu nunca tivesse saído. Nada mudou, mas quase tudo mudou, ou mudei, não sei se me entendem…
Bom sábado a todos.
Até.
sexta-feira, julho 07, 2006
quinta-feira, julho 06, 2006
Em Gramado
Chegamos hoje ao meio-dia a essa simpática cidade da serra gaúcha, local de garantida qualidade gastronômica, onde ficaremos até domingo porque a Jacque vai participar de um congresso. Eu vim na função de acompanhante de congressista, uma das funções que sei exercer muito bem: participo de todos os eventos sociais e não preciso assistir as palestras…
Após o almoço, quando a Jacque e a Zeca foram para o congresso, eu e o Pedro (aquele que me negou três vezes) fomos caminhar no centro da cidade. Acabamos num bistrô com mesas na rua e uns chopes para acompanhar. De volta, hora de ir para a piscina.
Ê vidinha besta.
Trabalho?
Semana que vem.
Até.
Após o almoço, quando a Jacque e a Zeca foram para o congresso, eu e o Pedro (aquele que me negou três vezes) fomos caminhar no centro da cidade. Acabamos num bistrô com mesas na rua e uns chopes para acompanhar. De volta, hora de ir para a piscina.
Ê vidinha besta.
Trabalho?
Semana que vem.
Até.
quarta-feira, julho 05, 2006
terça-feira, julho 04, 2006
A Semana
A primeira semana, conforme planejado, seria apenas para nadar no mar de burocracias que envolvem voltar ao país e, mais especificamente, voltar a trabalhar. Assim tem sido, o ritmo mais lento de quem recomeça, porque em breve a vida vai ser bem mais agitada, ou corrida.
Por isso tenho procurado não atropelar as coisas, deixando tudo acontecer no seu tempo. Como pedestre, ainda não perdi o hábito de esperar o sinal de pedestres estar verde, mesmo que todos a minha volta atravessem assim que possível, e não duvido que um e outro me olhem e se perguntem, por um breve instante, claro, quem é o estranho que espera para atravessar a rua? Não me importo, afinal sou meio estranho mesmo, estou reaprendendo a viver por aqui.
Como no domingo, quando fomos a um café da moda, inaugurado há pouco tempo. Estávamos tomando o chope festivo comemorando a minha volta, quando notei que pessoas próximas à nossa mesa fumavam. Chamei o garçom e perguntei se era permitido fumar ali. Ele disse que havia uma área para fumantes, ali no fundo do café. Insisti, querendo saber onde estava a separação física das duas áreas. Não tinha. Chamou a gerente e conversei com ela, que explicou que a lei que proíbe o fumo em bares a restaurantes está para ser aprovada, mas ainda não foi. Mesmo assim, disse que a área permitida para fumo era longe de onde estávamos. Tudo bem, então, até que na mesa atrás de nós começaram a fumar também. Chamei o garçom novamente e perguntei novamente sobre a área em que eles permitiam fumar, e ele disse que realmente ali não poderiam estar fumando e perguntou se eu queria que ele pedisse que parassem. Claro que eu queria, e lá foi ele pedir.
O comentário na mesa foi de que eu estava mais chato do que antes. Fiquei pensando nisso. Na manhã seguinte, enquanto caminhava de casa até o hospital onde tinha uma reunião, desenvolvi uma teoria sobre o que aconteceu comigo nesses dois anos morando no Canadá: as minhas qualidades, assim como os meus defeitos, foram acentuados, reforçados.
Só espero que a parte das qualidades seja verdadeira...
Até.
Por isso tenho procurado não atropelar as coisas, deixando tudo acontecer no seu tempo. Como pedestre, ainda não perdi o hábito de esperar o sinal de pedestres estar verde, mesmo que todos a minha volta atravessem assim que possível, e não duvido que um e outro me olhem e se perguntem, por um breve instante, claro, quem é o estranho que espera para atravessar a rua? Não me importo, afinal sou meio estranho mesmo, estou reaprendendo a viver por aqui.
Como no domingo, quando fomos a um café da moda, inaugurado há pouco tempo. Estávamos tomando o chope festivo comemorando a minha volta, quando notei que pessoas próximas à nossa mesa fumavam. Chamei o garçom e perguntei se era permitido fumar ali. Ele disse que havia uma área para fumantes, ali no fundo do café. Insisti, querendo saber onde estava a separação física das duas áreas. Não tinha. Chamou a gerente e conversei com ela, que explicou que a lei que proíbe o fumo em bares a restaurantes está para ser aprovada, mas ainda não foi. Mesmo assim, disse que a área permitida para fumo era longe de onde estávamos. Tudo bem, então, até que na mesa atrás de nós começaram a fumar também. Chamei o garçom novamente e perguntei novamente sobre a área em que eles permitiam fumar, e ele disse que realmente ali não poderiam estar fumando e perguntou se eu queria que ele pedisse que parassem. Claro que eu queria, e lá foi ele pedir.
O comentário na mesa foi de que eu estava mais chato do que antes. Fiquei pensando nisso. Na manhã seguinte, enquanto caminhava de casa até o hospital onde tinha uma reunião, desenvolvi uma teoria sobre o que aconteceu comigo nesses dois anos morando no Canadá: as minhas qualidades, assim como os meus defeitos, foram acentuados, reforçados.
Só espero que a parte das qualidades seja verdadeira...
Até.
segunda-feira, julho 03, 2006
Primeiro dia útil
Útil é quase um exagero, mas sabia que seria assim.
Começando a organizar as coisas que vêm por aí, terminando de desfazer as malas, reencontrando pessoas: amigos, colegas de trabalho, além da cidade, que é sempre bela e receptiva.
Até.
Começando a organizar as coisas que vêm por aí, terminando de desfazer as malas, reencontrando pessoas: amigos, colegas de trabalho, além da cidade, que é sempre bela e receptiva.
Até.
domingo, julho 02, 2006
A Sopa 05/50
Em Porto Alegre.
Cheguei ontem, a tempo de ver o não-jogo do Brasil. Aliás, nada a declarar sobre o assunto, melhor deixar os ”entendidos” falarem a respeito. Até porque o jogo da seleção perdeu em importância para o fato principal (para mim, para mim) ontem, que foi a minha volta para casa.
Depois, e apesar das despedidas todas das últimas semanas, não consegui me sentir deixando Toronto definitivamente e até agora, pouco mais de vinte e quatro horas depois do desembarque, ainda não me senti de volta definitivamente. Estranho, mas nem tanto, e sei bem por quê.
Em primeiro lugar, não me senti saindo de Toronto para vir morar de novo no Brasil, não senti o final do ciclo por um fato mais ou menos insólito: eu apenas peguei minhas malas e fui para o aeroporto, e o apartamento permaneceu lá intacto, praticamente como quando eu vinha passar férias no Brasil. Não houve o dramático momento de fechar o apartamento vazio e entregar a chave. Aquela última olhada para as coisas antes da sair. Tudo ficou como estava, porque o Leandro e a Renata, meus “hóspedes” na última semana, vão ficar pelo menos mais uma semana lá, provavelmente o mês de julho todo lá. Por isso, não me senti encerrando o ciclo. À viagem, então.
Fui para o aeroporto de carona com os queridos amigos Rafael e Monique. Não só me levaram lá como ficaram lá comigo até a hora do embarque. Testemunharam, por isso, além de me ajudar, toda a confusão que eu armei no check in.
Tudo começou quando foram pesar as minhas malas. Eu sabia, estava 100% convicto, que a mala grande que eu leva ultrapassava o limite de 32kg permitido. Apesar da certeza toda, nutria uma pequena esperança que não estivesse. Na hora de pesá-la, a constatação: ela estava 11kg acima do limite de peso! Não poderia embarcá-la assim. Pior, a mala menor estava quase no limite. O que fazer? Lembrei que tinha uma mochila vazia na mala, poderia levar como bagagem de mão. Perguntei, então ao atendente, quanto poderia levar como bagagem de mão. Perguntou-me o que eu estava levando, e mostrei a mala pequena (mais ou menos 20kg, mas não revelei essa informação) e o violão.
Aí começou. Ele disse que eu não poderia levá-lo comigo porque era muito grande. Nem pensar, respondi, eu trouxe e vou levá-lo de volta. Ele disse que não. Eu disse que sim. Ele disse que era norma da companhia. Eu disse que a Air Canadá tinha permitido eu trazê-lo e ia permitir eu levá-lo de volta. Ele disse que ia ligar para o seu supervisor, eu falei que ele chamasse o supervisor porque só falaria com ele pessoalmente. Falei que ia resolver o problema do excesso de peso e voltava já.
Fomos, a Monique, o Rafael e eu até uma loja de bagagens e comprei a bolsa mais barata que eles tinham. Fizemos o rearranjo das coisas ali mesmo, no chão do saguão. Ficaram três volumes de pesos adequados. Voltamos ao guichê do check in, e fomos atendidos exatamente ao lado do primeiro. Ele começou a explicar o caso ao colega e eu disse que não aceitava, quem eu ia levar o violão comigo. Nesse momento, segundo o Rafael, minhas chances eram de 90% ter que deixar o violão no Canadá, 1% conseguir embarcá-lo comigo e 9% de ser preso.
Apareceu o supervisor e, quando o funcionário começou a explicar a situação, olhou para o violão, viu que não era um estojo rígido, mas sim uma capa “macia”, e disse que esse tipo de capa era permitido. Ponto pra mim. Sorri, e fui pagar o excesso de bagagem que, por sinal, foi mais barato que o valor que o primeiro atendente tinha informado. No guichê para pagamento, fiquei sabendo que a VARIG tinha cancelado o meu vôo Guarulhos – Porto Alegre (11:55) e me transferido para um da TAM, Congonhas - Porto Alegre às 19h. Falei com a funcionária que não tinha a menor chance de eu ir nesse vôo, mas que isso eu teria que resolver quando chegasse no Brasil.
Nisso, o Henrique e a Camilla já haviam chegado, e ficaram comigo até a hora do embarque. Foi ruim me despedir dos meus queridos amigos, mas nos veremos em breve, tenho certeza.
O vôo foi bem tranqüilo no final das contas, mas saiu cerca de uma hora e quinze atrasado. Chegamos em São Paulo às 11h, uma hora depois do previsto e uma hora e vinte antes da saída da minha carta na manga. Explico. Em virtude dos problemas da VARIG, e para ter certeza que eu ia chegar em Porto Alegre cedo, comprei uma passagem da GOL just in case. Foi necessário usá-la. O vôo atrasou, mas cheguei em Porto Alegre às 15 horas. Deu tempo de largar as coisas em casa e ir até a casa do Paulo e da Karina para assistirmos aquele jogo que não aconteceu.
Estou em casa, ainda meio zonzo, mas logo entro nos eixos.
Até.
Cheguei ontem, a tempo de ver o não-jogo do Brasil. Aliás, nada a declarar sobre o assunto, melhor deixar os ”entendidos” falarem a respeito. Até porque o jogo da seleção perdeu em importância para o fato principal (para mim, para mim) ontem, que foi a minha volta para casa.
Depois, e apesar das despedidas todas das últimas semanas, não consegui me sentir deixando Toronto definitivamente e até agora, pouco mais de vinte e quatro horas depois do desembarque, ainda não me senti de volta definitivamente. Estranho, mas nem tanto, e sei bem por quê.
Em primeiro lugar, não me senti saindo de Toronto para vir morar de novo no Brasil, não senti o final do ciclo por um fato mais ou menos insólito: eu apenas peguei minhas malas e fui para o aeroporto, e o apartamento permaneceu lá intacto, praticamente como quando eu vinha passar férias no Brasil. Não houve o dramático momento de fechar o apartamento vazio e entregar a chave. Aquela última olhada para as coisas antes da sair. Tudo ficou como estava, porque o Leandro e a Renata, meus “hóspedes” na última semana, vão ficar pelo menos mais uma semana lá, provavelmente o mês de julho todo lá. Por isso, não me senti encerrando o ciclo. À viagem, então.
Fui para o aeroporto de carona com os queridos amigos Rafael e Monique. Não só me levaram lá como ficaram lá comigo até a hora do embarque. Testemunharam, por isso, além de me ajudar, toda a confusão que eu armei no check in.
Tudo começou quando foram pesar as minhas malas. Eu sabia, estava 100% convicto, que a mala grande que eu leva ultrapassava o limite de 32kg permitido. Apesar da certeza toda, nutria uma pequena esperança que não estivesse. Na hora de pesá-la, a constatação: ela estava 11kg acima do limite de peso! Não poderia embarcá-la assim. Pior, a mala menor estava quase no limite. O que fazer? Lembrei que tinha uma mochila vazia na mala, poderia levar como bagagem de mão. Perguntei, então ao atendente, quanto poderia levar como bagagem de mão. Perguntou-me o que eu estava levando, e mostrei a mala pequena (mais ou menos 20kg, mas não revelei essa informação) e o violão.
Aí começou. Ele disse que eu não poderia levá-lo comigo porque era muito grande. Nem pensar, respondi, eu trouxe e vou levá-lo de volta. Ele disse que não. Eu disse que sim. Ele disse que era norma da companhia. Eu disse que a Air Canadá tinha permitido eu trazê-lo e ia permitir eu levá-lo de volta. Ele disse que ia ligar para o seu supervisor, eu falei que ele chamasse o supervisor porque só falaria com ele pessoalmente. Falei que ia resolver o problema do excesso de peso e voltava já.
Fomos, a Monique, o Rafael e eu até uma loja de bagagens e comprei a bolsa mais barata que eles tinham. Fizemos o rearranjo das coisas ali mesmo, no chão do saguão. Ficaram três volumes de pesos adequados. Voltamos ao guichê do check in, e fomos atendidos exatamente ao lado do primeiro. Ele começou a explicar o caso ao colega e eu disse que não aceitava, quem eu ia levar o violão comigo. Nesse momento, segundo o Rafael, minhas chances eram de 90% ter que deixar o violão no Canadá, 1% conseguir embarcá-lo comigo e 9% de ser preso.
Apareceu o supervisor e, quando o funcionário começou a explicar a situação, olhou para o violão, viu que não era um estojo rígido, mas sim uma capa “macia”, e disse que esse tipo de capa era permitido. Ponto pra mim. Sorri, e fui pagar o excesso de bagagem que, por sinal, foi mais barato que o valor que o primeiro atendente tinha informado. No guichê para pagamento, fiquei sabendo que a VARIG tinha cancelado o meu vôo Guarulhos – Porto Alegre (11:55) e me transferido para um da TAM, Congonhas - Porto Alegre às 19h. Falei com a funcionária que não tinha a menor chance de eu ir nesse vôo, mas que isso eu teria que resolver quando chegasse no Brasil.
Nisso, o Henrique e a Camilla já haviam chegado, e ficaram comigo até a hora do embarque. Foi ruim me despedir dos meus queridos amigos, mas nos veremos em breve, tenho certeza.
O vôo foi bem tranqüilo no final das contas, mas saiu cerca de uma hora e quinze atrasado. Chegamos em São Paulo às 11h, uma hora depois do previsto e uma hora e vinte antes da saída da minha carta na manga. Explico. Em virtude dos problemas da VARIG, e para ter certeza que eu ia chegar em Porto Alegre cedo, comprei uma passagem da GOL just in case. Foi necessário usá-la. O vôo atrasou, mas cheguei em Porto Alegre às 15 horas. Deu tempo de largar as coisas em casa e ir até a casa do Paulo e da Karina para assistirmos aquele jogo que não aconteceu.
Estou em casa, ainda meio zonzo, mas logo entro nos eixos.
Até.
sábado, julho 01, 2006
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