domingo, agosto 27, 2006

A Sopa 06/06

Mais uma história do começo do exílio.

A Mudança

Esta edicao, que voces leem hoje (sem acentuar ainda), foi escrita ha alguns meses e apenas atualizada agora, especialmente para esse periodo de transicao enquanto faco minha mudanca e me instalo na minha nova (temporaria) casa, numa nova cidade e num novo pais, onde ficarei pelo proximo ano ou dois, me dedicando a pesquisa em pneumologia (numa oportunidade unica, que nao poderia perder) e a isso mesmo, aprender a viver num lugar diferente, em outro pais, com outro idioma e outra cultura. Comecar uma nova vida, mesmo que com prazo de validade.

Este talvez seja um dos desejos secretos mais comuns da humanidade : a oportunidade de comecar uma vida nova, num local diferente. Ter a chance de refazer alguns caminhos, tomar outras decisoes perante os mesmos fatos ja vividos, fazer outras escolhas. « E se… ». Este eh um dos dilemas mais comuns pelos quais passamos. Se nossas decisoes fossem outras, teriamos chegado onde chegamos, estariamos melhor ou pior do que estamos ? Perguntas sem resposta, claro, mas isso sempre estimula nossa imaginacao. Se eu nao tivesse entrado naquele carro e ido de onibus para casa, naquela madrugada, teria me acidentado? Nao, mas poderia ter sido assaltado e morrido, sei la. Nao importa, e certamente eh perda de tempo pensar nisso.

Mas eu falava de comecar vida nova num novo lugar. Nao eh bem assim, claro. A vida vai continuar o seu curso habitual, e ir para essa experiencia eh parte do curso ditado pelas minhas opcoes ate aqui e nao altera ou entra em conflito com outras previamente estabelecidas. E nao so isso: o que esta acontecendo eh – mais que tudo – consequencia das opcoes que tomamos (a Jacque e eu) como casal. Ficar durante um tempo relativamente grande longe nao foi uma decisao minha individualmente. Foi conjunta e nao poderia ser diferente. Nada do que eu faco hoje, eu faco sem pensar no que pode influenciar ou afetar a Jacque. Eh a minha referencia e meu norte, e por isso somos um casal. Um apoia o outro e assim vamos vivendo bem.

Quando surgiu a oportunidade dessa experiencia, as primeiras coisas que pensei foram, ‘Eu sempre quis morar um tempo fora do Brasil !’. A seguir, vieram as peocupacoes : e a Jacque, vai comigo? Os meus pais, como vou ficar tanto tempo sem ve-los ? A Beta, minha afilhada, vai ser quase uma mulher quando eu voltar, eh capaz ate de ja ter namorado… Como vai ser, meu Deus? A reacao das primeiras pessoas com quem falei foi de espanto e apoio. O Paulo, meu cunhado e grande parceiro de viagens, foi o mais entusiasmado, e botou a maior pilha. Outros, depois da surpresa inicial, ate comecaram a planejar me visitar. A minha mae, como sempre, apoiou de pronto, apesar de eu saber como eh dificil para ela ter outro filho morando longe, mesmo que por um tempo, afinal o meu irmao ja mora bem longe, em Nova York. O pai demorou um pouquinho para digerir a ideia pelas mesmas razoes acima, mas deu todo o apoio e, mais importante, estao me ajudando segurar a barra nesta fase inicial.

A Jacque, como tem sido uma constante nestes anos todos em que estamos juntos, foi maravilhosa. Mesmo sabendo como seria (e esta sendo) dificil ficarmos separados, ficou muito feliz por mim, mesmo sabendo que nao poderia ir comigo num primeiro momento. Matou no peito a ideia e tratou de me dar apoio e confianca. Sou sempre grato por te-la conhecido.

Como vai ser, como vou me adaptar, como vai ser a volta? Nao tenho ideia, sinceramente, mas nao penso nisso. Quando chegar a hora, tudo vai dar certo. Sempre da, certo?

Até.

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