Quinta-feira, final de tarde.
Terminam – para mim, ao menos – as atividades científicas do dia no Simpósio Sul Americano de Clínica Médica, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Pego o carro e vou em direção ao hotel.
Em todo o trajeto que percorre uma das avenidas principais daquilo que eu imagino seja a cidade alta, a mesma que passa em frente ao Museu do Imigrante e ao Dall’Onder Grande Hotel e que obriga a entrar à direita em frente a um grande praça que tem uma edificação que lembra um barril de vinho, mas que na verdade é uma igreja, em todo o trajeto o trânsito é lento, e na calçada, junto aos carros e motos estacionados, estão dezenas – centenas, imagino – de jovens ouvindo música e conversando. Namorados, amigos, turmas inteiras se reúnem ali para conversar, tomar chimarrão.
Ainda nesta mesma avenida, um bar em uma esquina, com mesas na rua, lotado, e pessoas esperando de pé por uma mesa. Alguns ouvem música alto com o porta-malas do carro aberto. Alguns, não muitos, que fique claro. Ao mesmo tempo, quem não está parado, está circulando de carro. É um espaço de convivência social. E eu parecia um alienígena passando por ali, num feriado, de terno e gravata. Mas não é disso quero falar. Não pude deixar de comparar com o que eu já vivi e com o que é a vida hoje em grandes cidades.
Lembrei, em primeiro lugar, dos verões no litoral de minha adolescência. Era assim, tínhamos a rua, as calçadas – e, na orla, o calçadão – como locais de convívio social, ponto de encontro. Circulávamos durante o dia pelos calçadões e, à noite, ficávamos, quando não entrávamos em nenhum lugar, nos muros, de onde acompanhávamos o movimento com interesse e dividíamos histórias. Às vezes saíamos correndo do muro para um dos carros para responder à provocação de algum bobalhão que passava acelerando alto e queimando pneu, afinal todos éramos bobalhões, adolescentes típicos, mas essas são outras histórias para uma outra sopa. Mas eu falava de outros tempos, já perceberam.
Ao circular e testemunhar essa dinâmica social, me dei conta que isso ainda ocorre, como ocorria há quase vinte anos, mas talvez esteja restrito às cidades menores, onde ainda é possível a existência dessas grandes turmas. Em cidades grandes, capitais, esse tipo de convívio social já não é possível, por razões óbvias. Talvez hoje em dia não fosse possível o surgimento de uma turma do muro, como foi a nossa lá do final dos anos oitenta, quando passávamos noites em claro conversando em frente de casa, sentados no muro. Hoje matam para roubar um par de tênis.
Tempos tristes, esses.
Ou é só porque estou ficando velho.
Até.
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