domingo, março 04, 2007

A Sopa 06/33

Vez que outra, ainda, alguém me encontra e pergunta como está a minha adaptação na volta ao Brasil, já passados oito meses desde que cheguei. A resposta é mais ou menos – dependendo da situação – a mesma: já cheguei readaptado, foi como se eu nunca tivesse saído.

O que é bem diferente de dizer que eu não estranhei nada.

Isso porque, mesmo antes de sair do Brasil, havia situações, atitudes, hábitos e manias “brasileiras”, tanto numa visão macro quanto numa perspectiva mais pessoas, que eu nunca entendi ou mesmo aceitei. O que também nunca significou incapacidade de adaptação minha a nada, mesmo quando estive servindo nas forças armadas e quase fui preso algumas poucas vezes por situações criadas ou comentários feitos, o que não vem ao caso agora. O fato é que, em resumo, morar no Brasil não quer dizer compactuar ou aceitar passivamente tudo o que está incluído no “pacote”.

Violência urbana, juros altos, insegurança, trabalho mal-remunerado, injustiça e desigualdade social, todos são problemas conhecidos e que não podem ser ignorados nunca. Por outro lado, não podem paralisar a vida. A luta deve ser por mudar isso. Como? Bom, enquanto não me torno um oráculo, sinto dizer que cada um deve encontrar suas batalhas e lutar com as armas que tem. É acertando o pessoal que começaremos a mudar o coletivo.

É um ponto de vista sobre tudo.

Semana passada, lendo uma revista de circulação nacional muito criticada por tendenciosa, encontrei uma entrevista com um filósofo australiano que diz algo que não me canso de dizer, e tem a ver com o não pequeno número de pessoas que se diz horrorizada com os escândalos político (ou a violência), por exemplo, e no seu dia-a-dia joga lixo na rua ou estaciona em local proibido: digo que esses casos “grandes”, que aparecem nos jornais, são a mesma coisa dos pequenos “deslizes” que cometem, a diferença está na magnitude e publicidade do fato. Não concordam, justificam, mas – no fundo – sabem que estou certo.

Como disse Peter Singer (filósofo – extraído da Veja de 21/02/2007, edição 1996):

“A ética é um exercício diário, precisa ser praticada no cotidiano. Só assim ela pode se afirmar em sua plenitude numa sociedade. Se uma pessoa não respeita o próximo, não cumpre as leis da convivência, não paga seus impostos ou não obedece às leis de trânsito, ela não é ética. Num primeiro momento, pequenas infrações isoladas parecem não ter importância. Mas, ao longo do tempo, a moral da comunidade é afetada em todas as suas esferas. Chamo a isso de círculo ético. Uma ação interfere na outra, e os valores morais perdem força, vão se diluindo. Para uma sociedade ser justa, o círculo ético é essencial.”

Acho que devemos, todos, pensar nisso. É um começo.

Até.

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