Somos dois irmãos.
Eu nasci três anos antes, mas de uns anos para cá, o Neni é o meu irmão mais velho. Excluindo-se esse fato, posso dizer que sempre tive a ‘Síndrome do Irmão mais Velho’. E não só com ele.
Uma história.
Lembro de uma vez, muitos anos atrás, em que uma série de mal-entendidos, desencadeados por uma muito querida amiga, levou uma turma a querer “acertar contas conosco”. Aconteceu, claro, num verão na praia.
As noites de verão, principalmente de final de semana, eram passadas em torno do clube local, a associação de amigos da praia, Imbé/RS, especificamente, a SAPI. Quando não entrávamos, ficávamos pela frente. No dia em questão, estávamos como sempre em frente à SAPI quando notamos um movimento diferente. Algo estava para acontecer, e em tese não era bom para nós, até porque estávamos em desvantagem numérica. Estrategicamente, resolvemos recuar. Em outras palavras, voltar para casa.
Detalhe: éramos todos guris, ambas as turmas, e provavelmente eu era o mais velho. Naquele tempo, ainda era seguro andar à noite pelas ruas, e não havia a menor possibilidade de alguém possuir algum tipo de arma. Era coisa de guri, simplesmente.
De qualquer forma, quando perceberam a nossa retirada, decidiram ir atrás de nós. Enquanto todos correram em direção à casa do que morava mais próximo de onde estávamos, eu simplesmente saí do caminho e vi todos passarem correndo. Quando todos já estavam longe, chegou outro dos nossos e disse: “Teu irmão está lá no meio”. Minha reação foi instantânea.
“Com o meu irmão ninguém mexe”, disse e corri na direção em que todos tinham ido. Quando me aproximava da casa “segura” onde os nossos tinham buscado refúgio, a outra turma vinha voltando e me encontraram sozinho.
Fui cercado.
O “líder” deles e eu ficamos frente a frente, naquele ‘o que está acontecendo?’, ‘qual é o problema?’. Todos ao meu redor, me encarando, apesar de nada indicar que fosse muito além de uma conversa de frases sem sujeito… Nisso, chegou reforço. O dono da casa onde os guris tinham buscado refúgio, pai de um de nós, encostou o carro e desceu já perguntando o que estava havendo. Nada estava acontecendo, todos disseram, e foram dispersando. Voltamos para casa. Acabáramos de viver um episódio que viraria lenda na nossa turma, e sabíamos disso.
Essa foi uma das muitas histórias que temos daquele tempo. Outra, em que cavamos uma cova e enterramos o Vítor para que ele levantasse, como na ‘Volta dos Mortos Vivos’ e assustasse alguns dos guris, eu conto outro dia.
Pois é, acabei nem falando sobre a ‘Síndrome do Irmão Mais Velho’, que nada tem a ver com ser o irmão de mais idade e nem com ser irmão de sangue.
Vai ser outra sopa, em outro domingo.
(Texto publicado originalmente em dezembro de 2005)
Até.
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