domingo, outubro 25, 2009

A Sopa 09/11

Dormir.

Existem momentos marcantes em nossas vidas. Pelas mais variadas razões, certos episódios, ou datas, ficam fixados em nossa memória para sempre, e geralmente não sabemos por qual motivo. Um exemplo disso é o momento em que parei de acordar tarde, em que se tornou um hábito acordar cedo quando não há nenhum razão para acordar cedo.

Antes de tudo, uma declaração de princípios: eu gosto MUITO, mas muito mesmo, de dormir. Lembre-se disso durante toda a leitura dessa pequena crônica.

Foi no verão de 1993.

Coincidentemente ou não, era o meu último verão como estudante, daqueles em que tinha férias de cerca de três meses – de dezembro a março – e passava janeiro e fevereiro na casa da praia, em Imbé/RS. Assim tinha sido durante quase todos os anos de infância e adolescência, e nossa turma de lá registra histórias memoráveis como toda turma de praia. Saímos quase todas as noites, íamos a pé aos lugares, afinal eram outros tempos em termos de violência. Pois foi naquela época em que parei de dormir até tarde.

Sem nenhuma razão aparente, e independente da hora que fosse dormir, acordava por volta das 8h30 e não dormia mais. Tomava café e ia para a praia, primeiro caminhar, depois para lendárias partidas de vôlei com um grupo que incluía até ex-jogadores profissionais do esporte. Só depois de tudo isso é que encontrava o pessoal da turma, que tinha acordado em horários considerados normais para as férias.

Esse hábito, de acordar cedo independente da necessidade, especialmente quando não necessário, perdurou com o passar dos anos. Quando terminaram as longas férias de verão, os sábados tornaram-se aquele momento em que podia acordar cedo mesmo não precisando. Não que eu optasse por isso, era simplesmente algo natural. Assim, do nada, às 7h ou 7h30 já estava de pé tomando chimarrão, lendo o jornal e ouvindo música, boa parte das vezes milongas, para criar um clima legal. Acordar cedo continuou um hábito e um prazer, porém...

Com o passar dos anos (e já posso falar da minha vida assim, da passagem dos anos) o fato de acordar cedo começou a cobrar um preço: o de ter de dormir mais cedo. E aconteceu como dia a música do Nei Lisboa: “... e só somos vencidos pelo sono...”. Não foram nem uma nem duas vezes em que “caí dormindo” em festas ou outros eventos...

Velho, você pode pensar, caro leitor, e me sinto obrigado a discordar. Acordar cedo quando não é necessário não foi uma opção minha, foi algo que aconteceu e que foge ao meu controle. Acordo porque acordo, simples.

Mas acordo cedo também porque é bom.

Porque aproveito mais o dia de folga, e porque ele “rende” mais quando acordo cedo, mesmo que seja para ler o jornal e tomar chimarrão antes dos outros acordarem. Um dia de folga é muito importante para desperdiçar uma manhã inteira dormindo. Prefiro dormir um pouco mais cedo na noite anterior (antes da meia-noite) a ter um dia mais longo na seguinte.

Mas esse sou eu, claro. E, como todos sabem, sou estranho.

Até.

sábado, outubro 24, 2009

Sábado (outono em Paris)

Tulherias, outono
Jardin des Tuleries, Paris
Setembro/2009



Bom sábado de chuva (em Porto Alegre) a todos.

Até.

terça-feira, outubro 20, 2009

Na sala de aula

Longo dia de viagem, trabalho, aula e aula.

Sábado tem mais.

Vida de professor não é fácil...

Até.

domingo, outubro 18, 2009

A Sopa 09/10

Minha primeira vez.

Pois é, minha primeira vez foi em Paris, não faz muito tempo, e – como costumam ser muitas primeiras vezes – não foi uma experiência fantástica, apesar de eu saber que não irei esquecê-la. O interessante é que eu estava sozinho.

Falo do GPS.

O Global Positioning System é um sistema de navegação por satélite. Surgido em 1995, usado na aviação e navegação, tem aparelhos portáteis que cada vez mais usados por motoristas, em cidades e em estradas. Até hoje, nunca tinha utilizado em viagens, mais por preguiça do que qualquer outra coisa. Estranhamente, ainda sou fã dos mapas, e o Atlas Rodoviário da Michelin nunca havia me deixado na mão. Mas chega um momento em que temos de nos render ao futuro.

E havia chegado a minha vez.

Quando planejamos a viagem de férias que terminou há um a semana, desde o início nem cogitamos a possibilidade de não levar a Marina junto conosco, o que significava que a viagem seria um pouco diferente de outras, porque viajar com criança, e criança pequena, tem suas peculiaridades. Por isso, pensamos que seria bom termos conosco um GPS, para facilitar a navegação, nos indicando caminhos e também para nos ajudar com hotéis (endereços e tal). E, decididos pelo GPS, conseguimos um emprestado com um tio da Jacque e da Karina (que também foi junto) A Karina, não o tio...

Os primeiros dias da viagem foram passados em Paris, onde apenas caminhamos sem muito compromisso ou pressa, e sem a preocupação de visitar pontos turísticos. Paramos em muitas pracinhas, conhecemos alguns locais que ainda não conhecíamos, jantamos bem e tomamos ótimos vinhos a preços melhores ainda. O GPS seria utilizado a partir do momento em que pegássemos o carro. E isso ocorreu numa quarta-feira pela manhã.

Acordamos cedo, organizamos as coisas, tomamos café da manhã na boulangerie nossa de cada dia e nos dividimos: as meninas ficaram terminando as últimas arrumações e passeando com a Marina e eu fui buscar o carro na agência da AVIS. O endereço, rue Bixio, próximo ao Hotel des Invalides.

Há alguns anos atrás, já havia alugado um carro e retirado na mesma agência em que iria agora. Logo, tinha uma idéia de onde ficava o local. Vaga, mas idéia. De metrô, com uma única baldeação, fui até a estação que considerava a mais próxima de onde deveria ir. Ao sair da estação, com a tecnologia ao meu lado, liguei o GPS para que me guiasse até o endereço.

Não funcionou.

O pequeno aparelho tentava, tentava, tentava e não conseguia captar o sinal do satélite. Droga. Recorri ao mapa de Paris: não encontrei. Lembrando que quem tem boca vai à Roma, e apesar de querer ir apenas até a locadora de veículos, pedi informação a uma senhora que passava. Em francês perfeito, uma obviedade para uma senhora francesa, me deu a direção que, por não falar francês perfeito, entendi vagamente. Avançando na direção indicada, mas não muito certo disso, resolvi pedir informação a um cidadão que saía de um edifício: procurou seu iPhone e, como não encontrou, não podia me ajudar.

Prossegui e avistei dois policiais parados em uma esquina. Quem mais se não oficiais da lei para me ajudar? Ao me aproximar e perguntar a informação que precisava (“Rue Bixio, si vous plait?”), percebi que estava em meio a uma prisão por tráfico de drogas: havia um homem algemado que era revistado por uma policial e mais um à paisana. Observando a cena, a policial retirou do bolso do preso um saco cheio de comprimidos (“balas”). Em meio a tudo isso, o oficial me indicou a direção.

Que era exatamente oposta ao local do meu destino, fui descobrir isso logo depois, ao entrar em um café e perguntar mais uma vez. Após essa última informação, encontrei o meu destino.

O carro, um Citroen C4.

Ao entrar nele e ligar, o GPS funcionou. Não precisava, mas pedi e ele me levou rápida e facilmente ao hotel, onde as meninas me esperavam para seguirmos viagem em direção ao nosso primeiro destino fora de Paris.

Bruges, um desvio belga antes de desembarcarmos na Normandia.

Até.

terça-feira, outubro 13, 2009

Notícias

Envergonhado, digo que volto a esse espaço em breve, o mais breve possível, inclusive voltando a cozinhar uma Sopa no próximo final de semana, quando vou contar como foiminha primeira vez, se tudo correr bem.

Ainda me readaptando ao fuso e à nova rotina.

Sono, muito sono.

Até.

domingo, outubro 04, 2009

A Sopa 09/09

Mais um texto antigo enquanto estamos em algum praia da Normandia, talvez em Omaha ou Utah ou Juno ou Sword. Podemos estar, por outro lado, em um lugar nada a ver com praias. Sei lá.

Lendas urbanas.

Chega um momento da vida em que percebemos que estamos velhos. É inevitável. 100% certo. Só não digo que é batata porque nada é batata, só a batata é batata. Parênteses. A frase anterior é uma descarada referência a um texto do Luís Fernando Veríssimo. Achei honesto citar. Fecha parênteses.

Antes de chegarmos nesse momento, em que percebemos que envelhecemos, existe um marco que é exatamente isso, mas dito de forma mais suave, de forma que não nos espante como inevitavelmente acontece quando acordamos um dia e, ao olharmos no espelho, nossa primeira reação é se perguntar quem é esse senhor nos olhando: é quando percebemos que não somos mais guris.

É uma sutil diferença essa. Não ser mais guri ainda não é ser um velho, mas é a manifestação da inevitabilidade da passagem do tempo, a qual estamos todos condenados (certo, condenados foi meio pesado, admito). Saber que não somos mais guris tem algumas implicações práticas que, se por um lado nos limitam em alguns pontos, por outro nos livram do risco de alguns constrangimentos. Como na história do Cidão. Cidão tinha esse nome por causa da música “Os seus botões”, do Roberto Carlos, no trecho que diz “nos lençóis macios, amantes se dão”… Deixa pra lá.

Bom, a história não é do Cidão. Ele é um personagem emblemático dela, mas não o protagonista. Aconteceu com um conhecido de um conhecido meu. E atenção, isso – além de uma crônica – é também um alerta. Avisem seus amigos que ninguém está livre disso, a não ser, claro, aqueles que perceberam que já não são mais guris e não freqüentam determinados lugares e festas.

Pois bem, o conhecido de um conhecido meu saiu uma noite dessas para se divertir com amigos. Foram a um bar onde tomaram várias doses de bebidas com alto teor alcoólico, conversaram amenidades diversas – política e religião, por exemplo – até que resolveram ir a uma festa, numa conhecida casa noturna de uma conhecida cidade da região sudeste do Brasil. Chegando lá, se dispersaram naquilo que costumeiramente chamavam de “ir à luta”. O personagem em questão engrenou uma conversa com uma ruiva num vestido branco. Tomaram mais alguns drinks. E é tudo o que ele se lembra. A partir daí, tudo é escuridão e silêncio.

No momento seguinte acordou com o ruído do ventilador de teto num quarto de motel barato, sem roupas e apenas com um lençol cobrindo até pouco acima da cintura. De bruços. Ao lado dele, roncava um cara barbudo.

Era o Cidão.

Até semana que vem.