Um texto de cinco anos atrás, enquanto acompanho a situação no Haiti (e as histórias e fotos do meu irmão lá) e corro para entregar uns relatórios no prazo exíguo...
Eleições no Iraque neste final de semana que terminou.
Com este fato em mente, decidi cortar o meu cabelo voltado para Meca. Sério. Certo, não sei se estava voltado realmente para Meca, mas que eu fiquei o tempo todo olhando para ela, isso eu fiquei.
Por indicação dos amigos Rafael e da Monique, Toronto, fui cortar o cabelo aqui perto de onde moro, num barbeiro iraquiano. Se vocês acompanham estes relatos do exílio, sabem que em outubro fui cortar o cabelo num barbeiro italiano que, ao contrário do que eu pedia, não usava a máquina, apenas tesoura. Pois bem, o barbeiro iraquiano só usa a máquina. De um extremo a outro, mas tudo bem, prefiro a máquina.
Ocorreu mais ou menos assim.
Sábado de manhã, termômetros marcando agradáveis –9ºC, fui andando para tentar encontrar o local indicado. Fácil. Entrando na pequena barbearia, a temperatura deveria estar em torno de 20ºC. Tira casaco e blusão e sentei na cadeira indicada pelo barbeiro, de costas para um pôster de Meca. No espelho, passei o todo tempo mirando a cidade sagrada que todo muçulmano deveria (deve) visitar ao menos uma vez em sua vida.
Ao começar, uma única pergunta: curto ou não? Curto, mas sem exageros, respondo, não esquecendo de explicar para ele tentar evitar de deixar o cabelo faça o contorno da cabeça, ou seja, não quero redondo. Ângulo de 90ºC entre a parte lateral e a superior. Certo, certo, e lá vai ele com a máquina. Acrescento – meu deus, como sou chato! – que nos lados pode ser máquina dois. Certo, e segue adiante. E me lembro de quando eu era pequeno.
Sabe quando começamos a aprender a pintar? Seja lá o que for, nos ensinam que – para ficar uniforme a pintura, no caso – devemos pintar numa única direção – para cima e para baixo, de um lado a outro . Pois é, ele deve ter faltado a essa aula. A máquina vai circulando aleatoriamente pela minha cabeça. Tudo bem por enquanto, apesar disso. Corta, corta, em determinado momento relembro a ele sobre o ângulo reto, e vai em diante.
Até que termina. Pede que eu confira, inclusive a parte de trás, com um espelho. Olho… ainda está grande, é preciso cortar mais. Me avisa que se cortar mais vai ser difícil de pentear (por pouco comprimento de cabelo) e vai ser necessário usar gel. Digo que tudo bem, já uso gel mesmo. Termina o serviço: olho e gosto, apesar de que ainda poderia ter cortado mais nas laterais, mas deixa assim, fica para a próxima, no mês que vem.
Saio para a rua. O céu é azul, o sol brilha e aquece um pouco.
Sábado, manhã, o melhor momento da semana.
Até.
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