Amenidades. Ou não. Não.
Verão no sul do mundo, tempo de sol e praia, momentos de descanso, férias para alguns, essas coisas. Os assuntos considerados “pesados”, os dramas, as tragédias, não deveriam constar de nossa pauta. Mas não é só porque os gaúchos migram ao litoral nos finais de semana que o mundo vai parar, evidentemente.
Então, olhando além das catástrofes naturais que têm preenchido as manchetes dos jornais, como o que aconteceu em Angra dos Reis e aqui mesmo no Rio Grande, onde um rio grande carregou uma ponte com muitas pessoas sobre ela, resultando em mortos e diversos relatos de sobreviventes sobre a rapidez de tudo que o que ocorreu, olhamos para nossa vizinha Argentina, que – abstraindo as confusões da presidente – decidiu abrir os arquivos do tempo da ditadura que assolou aquele país. Atitude louvável, certamente.
Enquanto isso, por aqui esse parece ser um assunto proibido.
Qualquer menção de se mexer (investigar, bem claro) o ocorrido durante a ditadura brasileira, iniciada em 1964, parece, por si só, crime. Levantam-se vozes falando em revisão (ou não) da Lei da Anistia, que não se deveria começar com revanchismo e outros argumentos relacionados.
Não gostaria de dizer o que vou dizer, mas é inevitável.
Isso é uma atitude de brasileiro.
É bem Brasil isso, de “varrer para baixo do tapete” os problemas, atuais ou passados. Somos o povo do “jeitinho”, do “deixa disso”, do “melhor deixar o passado no passado”. Até certo ponto, e sob certo prisma, não deixa de ser bom, isso de querer começar do zero, deixar o que passou lá atrás. Por outro lado, não podemos fazer de conta que o passado nunca existiu, não aconteceu nada, e que todos são inocentes (ou vítimas). Para podermos realmente seguir em frente, temos que tornar o passado realmente passado, fazer um fechamento. Se isso significa revisar a Lei da Anistia, que seja feito.
Quem torturou ou matou em nome de um regime ou uma ideologia deve ser julgado e pagar pelo que cometeu. Se estava sabendo do que ocorria e foi conivente, é cúmplice. De certa forma, é uma situação bem simples.
Mas também não sejamos hipócritas.
A investigação deve ser para os dois lados.
O crime é o mesmo, não importa se quem o comete é de esquerda ou direita. Sequestro, roubo e morte cometidos por guerrilheiros contra o regime são crimes tanto quanto assassinatos e tortura cometidos em nome do regime, por militares. Um assassino dito de esquerda é igual a um assassino de direita. Os fins não justificam os meios.
Por isso que o italiano Cesare Battisti – um ex-guerrilheiro da organização Proletários Armados pelo Comunismo – já deveria ter sido extraditado para pagar pelos crimes que cometeu em seu país de origem, onde já foi julgado e condenado, assim como os militares brasileiros que praticaram tortura e que mataram em nome do regime de 64 devem ser levados a um tribunal e pagar pelos crimes que cometeram.
A anistia não deve ser para assassinos.
Até.
Nenhum comentário:
Postar um comentário