domingo, abril 11, 2010

A Sopa 09/35

Sobre viagens.

Ao longo dos últimos quinze anos, desde que me formei e comecei a trabalhar como médico, posso dizer que tive condições (e a iniciativa) de viajar diversas vezes. Algumas a trabalho, incluindo os cerca de dois anos em que morei no Canadá, mas várias outras a lazer, e férias. Entre essas, incluídas viagens à Europa. Não digo isso para contar vantagem, evidentemente. Foi uma opção, em detrimento de outras.

O que nunca entendi foi a reação de muitas pessoas, muitas delas em muito melhores condições financeiras do que eu, achando um esbanjamento ou dinheiro jogado fora. Sabendo do fato de que não tenho que dar explicações para ninguém sobre o que eu faço ou deixo de fazer, também não julgo as opções dos outros por carros caros ou outros bens ou por seja lá o que for. Cada um é livre para fazer o que quer da vida. Mas confesso que me irrita ouvir comentários sobre estar “muito bem” para poder viajar com certa freqüência.

E não entendo também porque as pessoas acham que é algo fora da realidade uma viagem para a Europa. Não falo aqui, claro, de quem trabalha de sol a sol para pagar contas e quase sempre sobre mês no final do salário. Falo de quem tem sobrando (muito mais do que eu, que nem tenho tanto assim) e diz que não pode fazer uma viagem dessas. Ou mesmo que acha que uma viagem dessas custa uma exorbitância (barato não é, mas não é o que as pessoas pensam).

Aliás, não entendia.

Tenho agora uma noção do por que disso.

Sexta-feira, enquanto voava apertado num vôo da Gol de Porto Alegre para São Paulo, lia a revista Viagem e Turismo, da qual sou assinante. Quase no final da revista, lia sem compromisso, mas com atenção, os anúncios de operadoras de turismo quando me deparei com um que me deixou atônito, e me fez começar a entender porque as pessoas pensam que viajar é tão caro. Era uma viagem à Itália, praticamente igual a que a Jacque e eu fizemos juntos com os pais dela em 2005.

Como eu morava em Toronto àquela época, a viagem começou com um encontro nosso no aeroporto de Malpensa, próximo à Milão, reencontro meu com a Jacque após seis meses em que não nos víamos. Foi no aeroporto que pegamos o carro que havíamos alugado, e de lá seguimos até Parma e daí à Toscana (San Giminignano, Fiesole, Firenze, Cortona), Umbria (Assis, Perugia), Lazio (Rieti), Abruzo (L’Aquila, Pescara), Molise (Termoli), Puglia (San Giovanni Rotondo, Bari, Polignano a Mare, Alberobello), Basilicata (Matera), Calábria (Cosenza), e Sicília (Messina, Taormina, Catânia, Siracusa, Agrigento, Palermo). Da Sícília pegamos um ferryboat que, após uma noite tranqüila de sono, nos deixou em Nápoles, Campania, da qual visitamos também Positano, Amalfi, Ravello e Sorrento, antes de irmos para Roma, onde passamos os últimos dias de viagem, antes de nos separarmos, eu voltando para Toronto e eles para Porto Alegre.

Foi uma viagem de pouco mais de quinze dias, diferente da viagem do anúncio, que durará vinte e um. Mesmo assim, e mesmo levando em conta que a nossa viagem foi cinco anos atrás, não há explicação para a diferença de valores daquela para essa. Por isso não podemos confiar nesses anúncios como parâmetro para o custos de uma viagem.

O valor do pacote (excursão de ônibus com guia falando português) é de quatorze mil reais por pessoa. Por pessoa! Vinte e oito mil reais para um casal! Não é real. Nós certamente não gastamos – os dois – nem o valor do pacote para uma pessoa. E isso que ficamos em lugares bons e não passamos nenhum aperto.

De novo: não confie nesses anúncios. Não é tão caro quanto parece (mas nem tão barato como gostaríamos...).

Até.

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