domingo, abril 25, 2010

A Sopa 09/37

Músicas infantis.

Tenho ouvido muito esse gênero musical, se é que podemos chamar assim, por razões evidentes a todos: a Marina recém completou um ano e oito meses. Em casa, por exemplo, é a Marina quem “comanda” a televisão, e até “briga” quando não assistimos o que ela quer... Boa parte do tempo, então, assistimos a DVDs e ao Discovery Channel, canal de tevê a cabo do qual virei fã (mas isso não vem ao caso).

Com relação às músicas que a Marina ouve, devo confessar que é um assunto que sempre me preocupou, e desde antes do seu nascimento, simplesmente pelo fato de que tem MUITA coisa ruim, e é quase inevitável que ela seja exposta a músicas de baixa qualidade e gosto duvidoso. E não posso mantê-la em uma redoma de vidro para que ouça só o que acho adequado. Devo, isso sim, apresentá-la à música que eu acho que vale a pena ouvir.

Existem, em meio a essa polêmica pessoal e interna (vamos chamar assim) com relação ao assunto, um conjunto de músicas que considero imprescindíveis que ela ouça, que são as cantigas de roda e de ninar antigas, ou clássicas. É um repertório extenso, e que até tem sido envolvido em polêmica porque há pessoas que acham que devem ter suas letras alteradas para o politicamente correto. Do tipo, “não atirei o pau no gato” ao invés do tradicional “atirei”, porque isso seria ruim para as crianças, poderia levá-las a serem violentas e tal.

Acho uma bobagem sem tamanho pensar assim, e concordo com o poeta Fabrício Carpinejar que, em debate no rádio sobre o assunto, iniciou sua participação dizendo que “estavam tentando emburrecer as crianças”. Fico indignado quando presencio essa tentativa de mudar as letras de músicas para o politicamente correto. Mas concordo que as letras não são inocentes (e sei que o que importa, na verdade, é a melodia, o ritmo da canção).

As canções de ninar, por exemplo. São todas ameaçadoras, como quando chamam “o boi da cara preta” para pegar a (o) menina (o) que tem medo de careta, ou quando dizemos para o “nenê nanar” porque a “cuca vem pegar”. Que criança “nanaria” sabendo que a cuca está para vir buscá-la? É fazer as crianças dormirem na base da ameaça. Ou dorme ou vai ver o que te acontece...

Algumas, por outro lado, são tristes e também assustadoras, como “nessa rua, nessa rua tem um bosque que se chama solidão, dentro dele mora um anjo que roubou que roubou meu coração”, e segue dizendo que “se roubei seu coração é porque lhe quero bem”. Tem aquela que ameaça a Mariazinha de ser excluída se não entrar na roda, no que ela responde, altiva, que “sozinha eu não fico nem hei de ficar”, e por aí vai. Até de violência policial tratam essas músicas, caso da história do “Pai Francisco”.

O pai Francisco juntou-se à turma, entrou na roda tocando o seu violão. Deve ter causado algum tumulto, imagino, porque “vem de lá seu delegado e pai Francisco foi pra prisão”. Além de ir preso por fazer música, pai Francisco certamente apanhou da polícia, constatação essa mostrada com “como ele vem todo requebrado, parece um boneco desengonçado”. Pobre pai Francisco.

E por aí vai. É um mundo de histórias, contos, canções. Acho que as crianças devem ouvi-las o máximo e sempre que possível, porque depois – coitadas! – correm o risco de ter que ouvir e até – suprema tragédia – gostar de coisas como o funk...

Até.

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