Houve
um tempo, num passado agora distante, que essa Sopa - que já foi semanal e
publicada às segundas-feiras – era dedicada à ficção. Não consegui manter os
textos ficcionais por diversas razões e, ao poucos, passei a falar (opinar)
sobre assuntos diversos e muito sobre mim. Espero que, em algum momento, eu
seja capaz de fazer ficção novamente.
Enquanto
isso não ocorre, falemos de um assunto que está nas manchetes de todos os sites
de notícias e jornais do Brasil. O Ex-Presidente Lula foi diagnosticado com
câncer de laringe, e vai iniciar tratamento. Li as mais variadas manifestações,
desde as de apoio (#ForçaLula) até as cretinas, tipo “Campanha para o Lula se
tratar no SUS”. Sim, cretinas e hipócritas, e explico adiante.
Como
ser humano (e, felizmente, não consigo não sê-lo), fiquei tocado pela notícia
de alguém conhecido (não um amigo nem parente, mas um personagem presente em
nossas vidas desde, no mínimo, 1989, quando votei nele a primeira vez no
segundo turno contra o Collor). Não desejamos um câncer para ninguém. Como
médico, é um diagnóstico de uma doença tratável e com possibilidade de cura
(não sei se o melhor tratamento não seria o cirúrgico, o que poderia resultar na
perda da fala, mas isso é outra história). Como brasileiro, vejo um ex-presidente
que teve um papel importante na história do Brasil, quer gostemos dele ou não.
Lamento
que muitas pessoas não consigam separar divergências políticas com assuntos
muito mais importantes, como saúde e vida. Talvez seja por isso que as coisas
estejam assim, mas deixa para lá.
O
mais engraçado, aliás, triste, são as manifestações como a campanha para que
ele se trate pelo SUS. Vindas, inclusive, por pessoas que conhecem e trabalham
no SUS. Eu conheço e trabalho (por enquanto, mas isso é outra história) no SUS,
e digo que se querem dar a entender que se tratar pelo SUS é algo ruim, mostram
desconhecimento ou má intenção.
Muitas
pessoas tratam câncer pelo SUS, e são muito bem tratadas. Aliás, conheço casos
de pessoas que – mesmo com convênio, que as deixaram na mão na hora em que
precisaram – se trataram pelo SUS e estão muito bem. Dizer que o ex-presidente
deveria se tratar pelo SUS como forma de punição é, desculpem a expressão,
estupidez. Tratamento da AIDS, câncer os mais variados, tuberculose, tudo se
faz bem no SUS.
Que
o SUS tem problemas (e rapidez no acesso é o maior deles) todos sabemos. Mas
que ele, apesar dos problemas e muito a custo da dedicação (mesmo mal remunerados)
dos médicos (a maioria, sempre há os maus profissionais) funciona, todos
deveriam saber. E sem nenhum viés político no que digo, por favor.
#
Definitivamente,
não sou o cara que vai morrer.
Sim,
eu sei que um dia, espero que ainda bem distante, é possível que eu venha a
encontrar de novo a matungona num descampado, numa manhã de sol, e que dessa
vez não vá escapar, pois dizem que é inevitável. Como eu disse, estou ciente
dessa possibilidade. O que quis dizer no início dessa Sopa dominical agora com
frequência incerta é que saí da frente da fila, já olho para frente e não a
vejo (a matungona, a morte) me espreitando.
Ainda
esclarecendo, não estava com uma doença e me curei. Melhor, talvez estivesse,
mas não importa. Eu me referia a fatores de risco, possibilidades de desfecho.
Meia
idade, sedentário, com sobrepeso, estressado.
Eu
era uma bomba relógio.
Não
sou mais.
O
que fiz?
Decidi
tomar uma atitude. Marquei férias (há dois anos não tirava) e, exatamente seis
meses antes de completar quarenta anos, voltei a praticar atividade física,
religiosamente três vezes por semana (o mínimo que gostaria). Fazem poucas
semanas, eu sei, não dá para cantar vitória (ainda me considero um sedentário
em tratamento), mas foi uma atitude, uma tomada de iniciativa, um vencer a
inércia.
O
que mudou o meu humor e auto-estima. Para melhor, claro.
Agora
penso nas férias, que serão dias de descanso, de leituras (tenho muito o que
colocar em dia) de arrumar a casa (em todos os sentidos) e planejar o 2012, que
vem cheio de expectativas. Alguns ajustes serão feitos e a rotina sofrerá
mudanças em prol da qualidade de vida (assim espero).
Eu
gosto muito de anos pares.
Até.
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