Macondo,
às vezes, é ali em casa.
Uma
antiga ideia, de que a literatura está em todo o lado, com o que etérea,
esperando que a reconheçamos e decidamos escrevê-la, tem sido recorrente nos
últimos dias. Talvez porque eu esteja mais sensível ao mundo, voltando a
conviver com o ofício e tentando recuperar o hábito de escrever. Ou não. Sei
lá. Não importa.
O
fato é que lembrei do final de Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marquez,
que termina de forma sensacional, tanto é que não esqueço, mesmo fazendo mais
de vinte anos que li, ainda no início dos anos noventa. Termina dizendo “que as estirpes condenadas a cem anos de
solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra”. Nos trechos
finais do livro, ainda escreve sobre Aureliano Buendia: “... Não porque estivesse
paralisado pelo horror, mas porque naquele instante prodigioso revelaram-se as
chaves definitivas de Melquíades e viu a epígrafe dos pergaminhos
perfeitamente ordenada no tempo e no espaço dos homens: O primeiro da estirpe
está amarrado a uma árvore e o último está sendo comido pelas formigas...”.
Formigas.
Pois é.
Lembrei
do livro ontem enquanto esperava ser chamado para atendimento numa assistência
da Apple aqui em Porto Alegre. Quando o número da senha que eu tinha foi
anunciado, fui até o atendente e, quando ele perguntou qual era o motivo da
visita ao local, comentei – entre constrangido e divertido – “formigas saem da
minha Apple TV...”. Ele me olhou, incrédulo, e eu entreguei a ele o aparelho da
Apple, de onde ainda saiam algumas daquelas formigas diminutas, clarinhas, que
parecem pequenas aranhas. Como assim?, perguntou.
Respondi
a ele que – não tenho a menor ideia de como nem por quê – ocorrera uma
infestação desses pequenos animais justamente junto ao DVD e ao aparelho da
Apple. Isso que eu moro no sétimo andar! Eliminei-as da cozinha, foram se
vingar na sala...
Foi
conversar com os técnicos e após alguns minutos voltou com o veredito: não há o
que fazer. “Nada?”, perguntei eu. Não... nada, respondeu. Não tem como abrir o aparelho. As formigas
devem ter feito um ninho dentro... Talvez com aqueles venenos em fumaça... O
aparelho funciona? Sim, respondi. Então é isso.
Voltei
para casa entre frustrado e conformado.
Ao
chegar, as formigas ainda saíam da minha Apple TV. Peguei um jornal, estendi no
chão da área de serviço do apartamento, depositei o aparelho ali e – com um
spray de inseticida – dei um banho de veneno nele. Horas depois, testei:
continuava funcionando (mas não sei até quando será assim). Poucos cadáveres de
formiga eventualmente ainda aparecem em sua volta, mas estou em vigília quase
permanente para o aparecimento de novas.
Ou
que elas ataquem em outro local da casa.
Até.
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