(Crônicas de uma Pandemia – Septuagésimo Sétimo Dia)
Uma Sopa antiga, dos primeiros meses em que estava em Toronto, em 2004, mas com uma reflexão (para mim, para mim) que vale para esse período de incertezas e inseguranças.
O tempo passa e a vida continua mesmo eu não estando perto.
Óbvia constatação, e verdadeira.
Houve um tempo, contudo, em que não tínhamos essa certeza toda. Lembro de uma carta que o Radica me escreveu há muitos anos que falava sobre isso. Sobre aquela impressão de que tudo era um grande teatro armado para nós e, mesmo que às vezes olhássemos para trás subitamente, na tentativa de surpreender e vermos por trás do palco, os atores esperando para entrar em cena, nunca éramos rápidos o bastante, e tudo estava lá, todos estavam prontos. Também nunca consegui flagrar a armação, por mais que tenha tentado.
Pois é.
A vida continua, então, longe do nosso olhar, da nossa atenção. Agora, por estes dias, tenho a impressão de que ocorre o inverso: o tempo, os fatos, acontecem mais e mais rapidamente agora que estou longe. Que talvez a minha presença fosse importante para dar cadência, segurar o passo, puxar os arreios para o mundo não sair em desabalada carreira lomba abaixo.
Impressões, apenas.
De qualquer forma, muita coisa tem acontecido. Boas e ruins. Casais que se encontram, outros que se separam, casamentos, nascimentos, pessoas queridas que se vão, outras que estão a caminho. A vida segue seu curso, independente de qualquer coisa.
Antes de eu ir, a certeza de que eu voltaria diferente de quando parti, o que é inevitável que aconteça. Mas uma obviedade que não tinha passado pela minha cabeça: tudo vai estar diferente de quando fui embora. Exceto as pessoas fundamentais. A essas sou ligado por algo imutável. A essência. E essa não muda nunca.
E assim seguimos em meio à pandemia...
Até.
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