terça-feira, novembro 29, 2022

A Sopa

Histórias de Aeroporto, o Retorno. 

Como já contado aqui anteriormente, ainda antes da pandemia eu havia deixado o mundo corporativo e, com isso, as viagens aéreas frequentes. E, um ano depois, veio a pandemia e as viagens aéreas saíram da perspectiva. Foi quando deixei de ser um Viajante Frequente.

 

Após o início da pandemia, em março/2020, só fui entrar em um avião no final de setembro passado, há dois meses. E não foi antes apenas por circunstâncias, de não surgir uma oportunidade. Simples assim.

 

Até que chegamos ao final de semana que passou, o último desse mês de novembro que testemunha um novo aumento dos casos de COVID aqui no Sul no mundo, tanto é que motivou uma nova determinação das autoridades sanitárias com relação ao uso de máscaras em aeroportos e voos, que começou justamente na sexta-feira passada, dia em que novamente eu iria viajar. Era para participar de um evento médico, patrocinado pela indústria farmacêutica, mas de grande interesse meu.

 

O problema inicial era justamente a época do ano em que ocorreu, nesse momento em que estamos em final de ano (que em 2022 se mistura com a Copa do Mundo), e já cansados de eventos e atividades extras. Quase todo o dia há algo a fazer, assistir, visitar. Quando aceitei participar, não me dei conta disso, e quanto mais se aproximava a data do evento mais arrependido eu ficava de ter aceitado. Como a passagem não chegava, nutri por uns dias a esperança de que houvessem “me esquecido”, e não precisasse viajar.

 

Em vão.

 

Faltando três dias para o evento, recebi as confirmações, passagens e orientações: não tinha como recuar... Tudo certo. Iria para São Paulo, em viagem jogo rápido: ida na sexta-feira à tarde para voltar no sábado começo da tarde.

 

Até porque no sábado à noite tinha que estar em Porto Alegre para assistir à apresentação de balé da Marina e da Jacque, e não iria perder por nada. Ou assim eu pensava...

Voo de ida tranquilo, pessoal esperando no aeroporto, transfer para o hotel, hotel de ótima qualidade. Recepção aos convidados, aulas à noite, jantar após. Noite de sono agradável. Café da manhã exagerado (minha culpa, minha culpa). Evento científico de ótima qualidade até o meio-dia. Almoço. 

 

Como não poderia ficar para as atividades da tarde, pois tinha de estar de volta à Porto Alegre por volta das 17h, logo após o almoço havia o transfer de volta ao aeroporto. Saiu no horário e rapidamente cheguei no aeroporto de Congonhas, para o voo GOL com destino à Porto Alegre das 15h15. Tudo certo.

 

Não exatamente.

 

Após passar pela segurança, já na área de embarque, mais ou menos um milhão de pessoas circulando por ali. “Movimento de sábado”, pensei eu, em um momento de ingenuidade. Vários voos atrasados, mas o meu indicava estar no horário. Parei em pé em frente a uma televisão que mostrava um jogo da copa do mundo, e esperei.

 

Na hora do embarque, desci para o andar inferior – onde seria feito o embarque nos ônibus para embarque remoto – e a cena foi de guerra. Uma multidão aguardava para embarcar em diferentes voos, todos atrasados. Inclusive voos para Porto Alegre que deveriam ter saído pela manhã. Reinava grande confusão. Ninguém sabia informar nada.

 

Descobrimos que havia ocorrido um incidente no aeroporto pela manhã e que a (única) pista de Congonhas havia ficado fechada por duas horas, o que gerara um efeito dominó de atrasos e cancelamentos. Pessoas que haviam chegado às 7h no aeroporto para um voo de conexão ainda aguardavam seus voos. Tudo leva a crer que a situação não iria melhorar tão cedo.

 

Otimista, calculava o tempo de atraso tolerável para não perder a apresentação das meninas. E o tempo passava. Nesse meio tempo, atualizava Porto Alegre sobre o voo. Houve um momento em que avisaram que os passageiros do meu voo deveriam procurar o balcão da companhia aérea, sinal de que haviam cancelado o voo. Seguimos eu e meus colgas de infortúnio para uma fila quilométrica que levaria horas para sermos atendidos, até que descobrimos que não precisávamos estar ali pois nosso voo estava previsto para sair.

 

Alívio.

 

Mais espera. Novo aviso da companhia para buscarmos o balcão, que ignoramos e ficamos no mesmo lugar aguardando para logo depois termos nosso voo confirmado para 17h50. Se saísse nesse horário, chegaria cerca de 19h20 em Porto Alegre, haveria tempo.

 

Embarcamos.

 

Decolou às 18h.

 

Pousou às 19h30, meia hora para o show começar.

 

Sentado na segunda fileira, corredor (memórias de Viajante Frequente), fui o terceiro passageiro a desembarcar. Ainda no finger ultrapassei caminhando com passos largos os dois primeiros. Andava tão rápido que parei para ir ao banheiro e, ao sair, os primeiros passageiros ainda chegavam para buscar suas bagagens...

 

Carro estacionado no aeroporto mesmo, ainda enfrentei dificuldade em sair do estacionamento porque a máquina não lia minha placa, já que havia pago antecipado. Em desabalada carreira, segui para o teatro, onde cheguei exatamente às 20h01, a tempo de receber o ingresso das mãos da Jacque, entrar, sentar ao lado da minha mãe e começar o espetáculo.

 

Foi uma correria maluca.

 

Situação muito parecida de quando fui do aeroporto para a apresentação de patinação da Marina num meio de dezembro de mais de 38ºC, mas não podia faltar, pois não basta ser pai (e marido):

 

Tem que participar.

 

Até. 

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