quarta-feira, julho 26, 2023

A Sopa

Já faz um ano, pai.

 

Hoje até fiz um stories no Instagram para marcar a data, com Roda Viva, do Chico, como trilha sonora. Ela diz que “gente quer ter voz ativa / No nosso destino mandar / Mas eis que chega a roda-viva / E carrega o destino pra lá / Roda mundo, roda gigante / Rodamoinho, roda pião / O tempo rodou num instante / Nas voltas do meu coração". Havia pensado em colocar Vento no Litoral, da Legião Urbana (sei que nunca ouviste, ao contrário do Chico, de quem eras fã), e que diz “Aonde está você agora / Além de aqui dentro de mim?", mas pareceu um clima muito triste, e desisti. Gostei como ficou.

 

Um ano é muito tempo, eu sei, mas – olhado em retrospectiva – passa muito rápido. Assim como o tempo em que estivemos juntos, nunca teria sido suficiente, mesmo sabendo que estiveste presente em quase toda minha vida, e segues comigo mesmo agora que não está mais aqui.

 

Estamos bem, nós, por aqui, a mãe, o Neni, as gurias e eu. Vamos levando a vida, certos de que descansaste e estás melhor. Que as limitações físicas e as dores que te incomodaram nos últimos anos não te atrapalham mais, e que – de onde estiveres – olhas por nós.

 

Mesmo que estivesses encurvado, com dificuldades de se locomover, ouvindo pouco porque se recusava a usar um aparelho auditivo, e muitas vezes parecesses ausente, alheio ao ambiente onde estávamos, sinto falta da tua presença, de saber que estavas ali como sempre estiveras e que justo seria que pudesses estar sempre, cuidando de todos nós. Mas é da vida, e tivemos que cuidar de ti nos últimos tempos, cada um conforme podia e, acima de todos nós, a mãe, que foi incansável ao teu lado.

 

Mas não é desse pai que me lembro e sempre lembrarei.

 

As histórias que sempre contarei serão as do tempo em que eras maior que eu, em tamanho, força e vida. Do tempo em que assobiavas um assobio que ouvíamos de longe e sabíamos que era hora de voltar para casa nas noites de verão. De quando velejávamos, das idas para o Pontal Anastácio, com o Veio João contando histórias, das velejadas na Lagoa dos Patos. Das histórias e de como adorávamos ver os slides do tempo do Suez. E de muitas outras histórias...

 

Lembrarei de que – mesmo depois de casado – quando meu carro deu problema foi para ti que liguei, e que dizias que eu só sabia andar para frente, e que ríamos disso. Sei que não foste livre de defeitos, mas só lembro/lembrarei de tuas qualidades, que eram muitas.

 

Só queria dizer que sinto tua falta. 

 

Até.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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