segunda-feira, janeiro 14, 2008

A Sopa 07/23

Um texto do tempo em que em janeiro era inverno.

Por indicação do Rafael e da Monique, queridos amigos de Toronto, fui cortar o cabelo aqui perto de onde moro, num barbeiro iraquiano. Se vocês acompanham esses relatos do exílio, sabem que em outubro fui cortar o cabelo num barbeiro italiano que, ao contrário do que eu pedia, não usava a máquina, apenas tesoura. Pois bem, o barbeiro iraquiano só usa a máquina. De um extremo a outro, eu sei, mas prefiro a máquina.

Ocorreu mais ou menos assim.

Sábado de manhã, termômetros marcando agradáveis –9ºC, fui andando para tentar encontrar o local indicado. Fácil. Entrando na pequena barbearia, a temperatura deveria estar em torno de 20ºC. Tira casaco e blusão e sentei na cadeira indicada pelo barbeiro, de costas para um pôster de Meca. No espelho, passei o todo tempo mirando a cidade sagrada que todo muçulmano deve visitar ao menos uma vez em sua vida.

Ao começar, uma única pergunta: curto ou não? Curto, mas sem exageros, respondo, não esquecendo de explicar para ele que evite deixar que o cabelo faça o contorno da cabeça, ou seja, não quero redondo. Ângulo de 90º entre a parte lateral e a superior. Certo, certo, e lá vai ele com a máquina. Acrescento – meu deus, como sou chato! – que nos lados pode ser máquina dois. Certo, e segue adiante. E me lembro de quando eu era pequeno.

Sabe quando começamos a aprender a pintar? Seja lá o que for, nos ensinam que – para a pintura ficar uniforme – devemos pintar numa única direção – para cima e para baixo, ou de um lado a outro . Pois é, ele deve ter faltado a essa aula. A máquina vai circulando aleatoriamente pela minha cabeça. Tudo bem por enquanto, apesar disso. Corta, corta, em determinado momento relembro a ele sobre o ângulo reto, e segue em frente.

Até que termina. Pede que eu confira, inclusive a parte de trás, com um espelho. Olho… ainda está grande, é preciso cortar mais. Avisa que, se cortar mais, vai ser difícil de pentear (por pouco comprimento de cabelo) e vai ser necessário usar gel. Digo que tudo bem, já uso gel mesmo. Termina o serviço: olho e gosto, apesar de que ainda poderia ter cortado mais nas laterais, mas deixa assim, fica para a próxima, no mês que vem.

Saio para a rua. O céu é azul, o sol brilha e aquece um pouco.

Sábado, manhã, o melhor momento da semana.


Até.

(Publicado em 30 de janeiro de 2005)

Um comentário:

Anônimo disse...

Minha primeira visita aqui no teu blog e já gostei do pouco que li!
Parabéns Marcelo, de agora em diante me torno um leitor oficial desse teu espaço..

Um grande abraço do pessoal aqui do Rj!

ps:Assim que eu organizar as fotos da viagem eu mando pra vocês aí!