terça-feira, fevereiro 19, 2008

A Vida é um Eterno Esperar

Reformulei a minha teoria sobre a vida.

Não exatamente, ou – melhor – não completamente. Apenas a estou refinando, aperfeiçoando, uma característica, imagino, de todas as grandes teorias que tentam explicar o mundo. Acho que todos, e não me sinto um e nem me comparo a nenhum, os grandes filósofos da história evoluíram em suas tentativas de entender e explicar o mundo. A única semelhança que vejo entre eles e eu é que eu também quero entender e explicar o mundo.

Mas falava desse “aperfeiçoamento” da minha visão de mundo.

Do início, então.

A primeira formulação da minha visão de mundo:

“A vida não é muito mais do que histórias para contar”.

Premissa um, genérica e inespecífica, como devem ser os princípios gerais de toda teoria. Não diz muita coisa, também, apesar de tudo se explicar a partir dela.

Não importa o que fazemos, o que nos acontece – bom ou ruim – nada disso importa. Nenhum fato específico tem importância, também. O fundamental é (1) a interpretação que damos aos fatos; e (2) como eles se enquadram em nossa história pessoal, que nada mais é que o somatório de todas nossas pequenas histórias, o conjunto de “nossa obra”.

A velha história da vida como um livro, com começo, meio e fim, que vamos “escrevendo” ao longo de nossa existência. Um capítulo nunca é o todo, obviamente, e só podemos tirar conclusões a respeito do assunto a partir de uma “bird’s eye view”, uma visão de perspectiva, um olhar o “big picture”. Mesmo acontecimentos aparentemente ruins no momento imediato podem se tornar boas histórias quando olhados retrospectivamente.

A partir dessa idéia, a de que a vida é um acumular de histórias que vamos contar para não sei quem em algum momento (interpretações metafísicas ou escatológicas – escatologia entendia como teoria de fim de mundo ou dos tempos – liberadas) é que começa toda a minha relação, muitas vezes de incompreensão e revolta, outras de admiração e surpresa, com o Tempo, aqui escrito com maiúsculas para demonstrar respeito, afinal é esse “ente” abstrato que rege o mundo. Por trás de todas as formulações teóricas que tentam explicar o mundo está sempre o Tempo, dimensão que não pode ser entendida sem a noção do espaço.

Tempo e Espaço, juntos, regem o mundo.

Poderíamos, então, inferir que seria (ou é) perfeitamente aceitável proclamar (entender) que o Tempo é, na verdade, aquilo que os crentes chamam de Deus. Se nos livrarmos de idéias pré-concebidas acerca do assunto, veremos o total sentido nessa forma de ver as coisas. Onipresença, onisciência. Capacidade de resolver problemas, solucionar conflitos, curar feridas. Que mais esperar de um ente superior do que isso? Explicaria a razão, por exemplo, de Ele aparentemente não interceder no dia-a-dia das pessoas. Seria uma boa explicação, além de ser coerente com o conceito do livre-arbítrio.

Mas me alongo numa primeira premissa, e quase deixo de lado a segunda, também inespecífica e abrangente, mas que dá uma idéia do funcionamento do mundo, da mecânica das coisas. Apresento, então o segundo princípio.

“Viver é um eterno esperar”.

A vida é feita de esperas, em todos os sentidos.

Começa quando nascemos, pois somos fruto de uma espera e – ao nascer – somos depositários de uma carga de expectativas gigantesca. A partir daí, todos esperam de nós alguma coisa. Que tenhamos saúde, que tenhamos sucesso na escola, na profissão, na vida em geral. Que encontremos um amor, que constituamos família. E isso falando apenas no plano das idéias e esperanças depositadas em nós. Se falarmos em termos de vida cotidiana, no micro-cosmos que é o nosso dia-a-dia, estamos sempre esperando.

Esperamos ter um bom dia, esperamos o final do dia, o final da semana, do mês e do ano, esperamos o Natal, o nosso aniversário, esperamos ter dezoito quando “só” temos dezesseis anos, esperamos que o tempo não passe tão rápido quando temos trinta, esperamos que, no final, tudo dê certo.

Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite, esperamos a primavera para nos livrar do cinza do inverno, esperamos notícias de quem amamos, esperamos uma carta, esperamos um sorriso de aprovação. Esperamos pelo ônibus, pelo trem (que já vem, que já vem, que já vem…) esperamos longamente nos aeroportos.

Tudo é espera, com e sem o sentido de esperança.

Algumas vezes, esperar tem os dois sentidos. São as melhores.

Isso tudo foi só para dizer que eu e a Jacque estamos esperando.

Até.

2 comentários:

Anônimo disse...

Inspirado e inspirador o texto. Muito bom. Além de ser mais do que oportuno.
Parabéns! Esperamos por vocês e com vocês.

bjs!!

neni

Anônimo disse...

O que posso dizer?
Esta espera de nove longos meses é pura expectativa.
Aí nasce o Filho e, Tu fica bobo e, mais bobo ainda, quando estas quase saindo de casa e no teu colo ele adormece.
Isto é demais. Ao mesmo Tempo em que te sentes forte por ter criado aquele ser tão maravilhoso, te sentes impotente diante dele, porque ele te hipnotiza.
Bem, só posso desejar muitas felicidades a vocês e, que esta Criança venha iluminar a família de vocês.

Abraços e Beijos dos Amigos Marco Aurélio, Rita de Cássia e Antônio.