quinta-feira, julho 25, 2013

Ainda o frio

Gosto do inverno.

Claro que prefiro as estações de temperatura mais amena, de dias mais longos e noites de céu de estrelas com mesas na rua e churrascos com amigos, mas a introspecção do frio e do cinza sempre foram parte de mim. Os tempos de silêncio, vento e filosofia ficaram um pouco perdidos no passado, mas ainda me são caros.

Os anos canadenses foram repletos de dias frios, longas noites a olhar a neve cair e pensar a vida. O final de novembro, após as cores de outono terem caído com as últimas folhas, era de céu cinza e vários dias seguidos sem a luz do sol. Janeiro era de extremos de temperatura negativa, neve e o eventual dia de céu azul e com o sol enganador, que ilumina mas não aquece. Fevereiro, curto mês em que remávamos tediosamente pelas ruas sujas de neve suja, já esperando março e a primavera. O mês de março, mesmo que ainda frio e branco, trazia a mudança de ânimo com a primavera que viria, e as cores voltavam à cidade e os sorrisos aos rostos, mesmo que o mês terminasse e o frio ainda estivesse lá, e mesmo que ainda nevasse em abril ("sometimes snows in April...").

O fato de morar sozinho, chegar de volta em casa perto das 18h com noite fechada, algumas vezes nevando, me dava a oportunidade de ficar olhando a neve cair pela janela, luzes apagadas, algumas vezes ouvindo milongas do sul do mundo, ao mesmo tempo em que acentuava o sentimento de saudades do pampa onde nunca vivi, também me proporcionava a boa sensação de pertencer a um lugar, a um país.

O inverno fazia isso, dava tempo e oportunidade para refletir, pensar, planejar.

Lembrava da vida que tinha deixado em Porto Alegre ao mudar (temporariamente) para o Canadá, sabia (e lamentava) que a vida não seria a mesma na volta, porque eu não seria o mesmo, e imaginava como seria a volta. Sabia que tinha ido numa viagem - de certa forma - sem volta, e pensava em quem eu seria quando voltasse.

Agora, um bom tempo depois de voltar para casa, vejo que as coisas se ajeitaram.

E, sempre que volta o frio aqui pro sul do mundo, penso nos invernos de silêncio e noite do meu exílio canadense.

Até.

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