(Crônicas de uma Pandemia, Ano Dois, Quadragésimo Oitavo Dia)
O isolamento.
O isolamento social, situação mais intensa – digamos assim – que o distanciamento, tem as mais variadas consequências em todos nós, queiramos ou não. E, como tudo na vida, existe o lado ruim e o lado bom.
Citei primeiro o ruim porque é o que primeiro nos vem à mente quando pensamos no último ano e quase dois meses de pandemia. Afastados de nossos familiares, amigos, sem as mesmas possibilidades de socialização de antes, sofremos porque somos seres sociais. Precisamos do convívio com outras pessoas, da troca de experiências, da conversa, do afeto. Se nós, adultos, já sentimos a ausência dos relacionamentos sociais, são as crianças as maiores prejudicadas com tudo isso.
A nossa formação como seres humanos não prescinde de socialização. Crescemos (intelectual e emocionalmente) no contato, na convivência. Por isso, também, que sou favorável ao retorno das aulas presenciais.
Mas não é essa discussão que quero fazer.
Quero falar de um ponto positivo desse período de pouco convívio social. Entre todas as dificuldades que enfrentamos, todas as privações decorrentes da pandemia, em meio a tudo isso, esse período pode servir também para uma reafirmação de nossa individualidade. O último ano nos privou dos grupos sociais e, com isso, também nos afastou de algumas ditas “pressões sociais”, que muitas vezes – mesmo que inconscientemente – são impostas a nós pelos grupos de convivência.
Os grupos servem, durante boa parte de nossas vidas, se não durante toda ela, como locais de reconhecimento, de pertencimento, onde nos vemos espelhados em outras pessoas e cujas normas – mesmo que não verbais – estabelecem padrões a serem seguidos para a aceitação por ele. Códigos de condutas. É assim e sempre foi assim. Para ser aceito no grupo, segue-se um padrão.
Isso é mais forte nos momentos de formação de nossa personalidade e identidade, início da vida social, e é muito forte na adolescência, por exemplo. São as turmas, ou tribos. Todos vestidos iguais, os – na minha época de escola – surfistas, os intelectuais, os darks, etc. O All Star preto que usávamos. Fazer parte de um todo para expressar individualidade.
Isso persiste durante a vida, com cobranças mais ou menos explícitas (“jeans aqui não!”). É normal, sempre foi assim.
E aí vem a pandemia.
Somos obrigados a ficar em casa (ou, no meu caso, de casa para o consultório) durante todo o ano, isolados e trabalhando em home office, não podendo encontrar as pessoas e, dessa forma, ficamos também longe das imposições de grupos sociais. Sob certo aspecto, ficamos(fiquei) mais independentes. Longe das pressões sociais, podemos ser mais nós mesmos.
Mais selvagens, menos robôs.
É um ponto de vista.
Até.
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