quinta-feira, outubro 12, 2006

A Derrota do Preconceito

Uma teoria nada científica. Melhor, um pensamento.

Aparentemente, o atual presidente se encaminha para a reeleição. Achava-se que ganharia já em primeiro turno, o que só não aconteceu pela total incompetência e ausência de qualquer vestígio de honestidade ou ética por parte dos integrantes do PT envolvidos no caso. Que, aliás, justificaria impugnação da candidatura governista. Mas não é disso que quero falar. Não agora.

Antes de qualquer coisa, devo declarar minha total imparcialidade no assunto: em 2002, votei no atual presidente, assim como os meus votos ao longo do tempo foram sempre para a proposta de um “outro mundo possível”, a esperança de ética na política, justiça social. Votei sempre “sem medo de ser feliz” ou “pro dia nascer feliz” como apregoavam slogans de campanha do PT ao longo dos anos. Tudo isso, ideais, projetos, a utopia, enfim, postos na privada por um grupo que achou que os fins justificariam os meios. E desceu aos esgotos para se locupletar com o dinheiro público, que deveria ir para áreas onde é realmente necessário como a educação e a segurança.

Com a anuência ou não do presidente, não importa.

Tenho afirmado em conversas nos diferentes locais onde ando e se está discutindo política e, portanto, os casos de corrupção que vieram à tona nos últimos anos, que não faz diferença se o presidente sabia ou não de tudo. Mais, talvez seja pior ele não saber. Eu teria vergonha de admitir desconhecimento tão grande da situação. Sei, contudo, que vergonha na cara, hombridade, são artigos em falta por esses dias. Esse é outro assunto, contudo.

O título dessa crônica fala em derrota do preconceito. Explico, então.

Muita gente não entende como o presidente pode não ter sua popularidade afetada por tantos escândalos, que estouram como bombas bem em seus pés. Nada parece afetar a imagem desse retirante nordestino que foi operário e que chegou a presidente da república. Essa “blindagem” que ele possui se deveria à história dele, de homem do povo. Acho que não é isso. Acho que tudo isso é um tiro saindo pela culatra.

Desde a primeira vez que ele se candidatou a presidente, em 1989, quando não ganhou a eleição por uma manobra de edição do último debate com o ex-presidente Collor de Mello, que já se afirmava dele que era um ignorante, um incompetente, um analfabeto, que confiscaria a poupança, que quebraria o Brasil, que faria uma reforma urbana (e que os sem-teto invadiriam casas e apartamentos nas cidades), que seria o caos.

Essa conversa colou até 2002, quando ele ganhou. Mesmo assim, antes das eleições o dólar chegou a valer R$ 4,00. Depois de tudo o que passou, a idéia geral era de que era um mártir, de quem se falava muita mentira, que era um injustiçado. O “ouvido das ruas”, se é que se pode afirmar existir um, assimilou a mensagem de que o que se dizia dele era sempre mentira, que era uma vítima. Assim, tornou-se imune à quase todos os ataques. Foi o preconceito que se tinha dele que o tornou imune.

Outros fatores existem, claro, mas acho que esse é um deles. E que talvez dê a ele mais quatro anos no poder. É o preconceito que o está reelegendo.

Tenho convicção, contudo, que ele não deveria ser reeleito.

Mas isso é assunto para outro dia.

2 comentários:

Allan Robert P. J. disse...

Complicada, essa eleição. Faltam candidatos que nos ofereçam qualquer perspectiva ou esperança. Teremos que escolher entre Lula e Alkmin e esperar mais quatro anos. Pra quê?

Não sei o que foi pior: Lula ter desiludido de forma tão profunda os que, como nós, esperávamos uma outra via, ou o fato de termos nos iludido com Lula por tanto tempo assim.

Anônimo disse...

Marcelo, muito boa a sua análise, parabéns.

Também votei sempre no Lula e no PT, mas me decepcionei muito com eles, não porque achava que eles eram santos e iriam resolver todos os problemas, mas sim porque também achava que era possível algo diferente, com trabalho, honestidade e ética....acho que são sonhos de jovens que querem mudar o mundo, como somos, (ou erámos até pouco tempo atrás).

Apesar desta estória do "eu não sabia" não colar, também acho pior não saber, pois como é que o cara não sabe o que se passa nas "barbas" dele? Pera aí....se eu sou o chefe executivo de alguma coisa, e ele o é do país, sou o maior responsável pelos atos do meus funcionários, pois eu os recruto e tenho poder para trocá-los, se quiser. Come on!!!!

Abraços.

Edgard.